Afinal de
contas, é bem verdade que a história dos "blockbusters" está recheada
de maravilhas. Começando logo por "Tubarão" (1975), precisamente o
título que, em termos industriais e comerciais, inaugurou o tipo de exploração
comercial (cada vez mais salas, rentabilização cada vez mais acelerada) que os
caracteriza. E, sem qualquer preocupação exaustiva, poderíamos citar
"Regresso ao Futuro" (1985), "O Rei Leão" (1994), "O
Sexto Sentido" (1999)... São todos "blockbusters" e todos são excelentes
espetáculos.
Resta saber
se o "género" não está a fabricar a sua própria agonia, de tal modo
se vai ficando com a sensação de que a maioria destes filmes passaram a
resultar mais de uma gestão "tecnológica" do que propriamente de um
desejo de construir personagens e encenar aventuras. "Homem de Ferro
3", dirigido por Shane Black, de novo com Robert Downey Jr. no papel
principal, aí está como penosa ilustração disso mesmo.
Ben Kingsley,
compondo a personagem de um terrorista condenado à sua própria caricatura, será
a única variação que nos pode levar a pensar que talvez pudesse existir aqui,
ao menos, algum sentido de autoironia. Mas não. A proliferação gratuita de
cenas ditas de ação, incluindo o "obrigatório" duelo final, vai-se
reduzindo a uma acumulação de proezas mais ou menos digitais que,
estranhamente, já nem conseguem rentabilizar o valor dramático do espaço.
Do ponto de
vista da gestão industrial, estamos perante mais um exemplo de ocupação da
produção pelos grandes conglomerados da banda desenhada (Marvel, neste caso).
Não vem mal ao mundo por causa dessa aliança económica. Resta saber se nela, e
através dela, ainda se procura alguma coisa que tenha a ver com o cinema. E com
o gosto tão primitivo (mas tão essencial) de contar histórias.
Fonte: RTP on-line
Análise do texto
●
Título:
▪ expressivo e apelativo;
▪ antecipa a tese do autor do
texto → o fim (previsível) dos “blockbusters”.
●
Abertura:
▪ identificação sumária do objeto
de crítica: terceiro capítulo da saga “Homem de Ferro”;
▪ tese do autor: os realizadores
atuais preferem mostrar efeitos especiais em vez de contar histórias.
●
Desenvolvimento:
‑ Argumento favorável aos “blockbusters”:
alguns são “excelentes espetáculos” (2.º par.);
- Exemplos: filmes “Tubarão”,
“Regresso ao Futuro”, “O Rei Leão”, “O Sexto Sentido”.
- Argumentos que sustentam
a tese e exemplos (3.º par.):
1.º) os filmes valorizam a exibição
de tecnologia, desvalorizando a ação credível e a construção de personagens
coesas;
Exemplo: filme “Homem de Ferro 3”;
2.º) a ação do filme consiste numa acumulação
de cenas “ditas de ação” (ex.: o obrigatório duelo final), que consistem numa
mostra de habilidades digitais, não explorando categorias como o espaço (4.º
par.);
Exemplo: filme “Homem de Ferro 3”.
● Conclusão (5.º
parágrafo): reforço da tese inicial → este tipo de realização
cinematográfica nega o cinema enquanto arte de narrar histórias ‑ interrogação.