Este tema do poema é, como em tantos outros, a infância, mais concretamente a saudade de uma infância feliz que, na realidade, nunca existiu. Esse tema é suscitado por um facto da
realidade que despertou as reflexões do sujeito poético: a observação / audição das brincadeiras
das crianças.
No que diz respeito à estrutura interna, o poema pode ser dividido em duas partes: a primeira, constituída pelas duas
primeiras estrofes e a segunda, pela última.
Na primeira parte, o
sujeito poético exprime a alegria que lhe despertam as crianças (“Qualquer coisa em minha alma / Começa a se
alegrar” e “Numa onda de alegria”
– vv. 3-4 e 7) e a saudade (sentimento) de uma infância de brincadeiras (“E toda aquela infância / […] me vem” –
vv. 5 e 6), apesar de nunca ter, de facto, vivido essa alegria quando era criança
(“E toda aquela infância / Que não tive
me vem, / […] / Que não foi de ninguém.” – vv. 5-6 e 8).
Na
segunda, o «eu» lírico começa por considerar o seu passado um enigma (“Se quem fui é enigma” – v. 9),
sugerindo, de seguida, que o futuro é imprevisível (“E quem serei visão” – v. 10), reclamando de si mesmo o dever de se
alegrar com a evocação de um tempo feliz, sempre associado à ideia de infância
(“Quem sou ao menos sinta /: Isto no meu
coração.” – vv. 11-12).
Esta segunda parte é introduzida pelo
marcador discursivo “Se”, que possui um valor condicional,
sugerindo as condições necessárias (a consciência de um passado que o sujeito
poético não entende e a incapacidade de prever o futuro) para existir um estado
de espírito marcado pela alegria. Porém, o valor semântico desse marcador
aproxima-se mais da ideia de causalidade (“Já
que quem fui é enigma, / E quem serei visão.”).
Estas circunstâncias levam a que o «eu» se sinta perdido, algo de que ele tem plena consciência, como se pode verificar pelo verso 9: "Se quem fui é enigma".
Estas circunstâncias levam a que o «eu» se sinta perdido, algo de que ele tem plena consciência, como se pode verificar pelo verso 9: "Se quem fui é enigma".
Ao longo do texto, predominam três
tempos verbais: o presente, o pretérito perfeito e o
futuro, todos do indicativo.
Na primeira estrofe e no verso 11, o
sujeito poético refere-se ao presente e, por isso, utiliza as formas verbais no
presente (“brincam”, “oiço”,
“começa”, “sou”). Já na segunda e terceira estrofes, quando recorda o passado,
utiliza o pretérito perfeito (“tive”, “foi”,
“fui”) e, por fim, no verso 10, recorre ao futuro para se
referir ao porvir (“serei”).
A forma como o sujeito poético encara o futuro é aparentemente contraditória, já que ele o olha com ceticismo e, simultaneamente, esperança, ideia visível pelo recurso à expressão “ao menos” (verso 11), a qual
implica a consciência da necessidade de fazer um esforço (esperança), embora
assuma simultaneamente um tom de falta de convicção (ceticismo).