Português: 26/04/22

terça-feira, 26 de abril de 2022

Eleições presidenciais em França


 

Análise da cena 16 da Farsa de Inês Pereira - Monólogo de Inês



● O Moço reentra em cena trazendo uma carta para Inês que lhe foi enviada pelo seu irmão, que também se encontrava no mesmo local onde estava Brás da Mata, em Arzila.
 
Tempo
 
            Por uma fala do Moço, ficamos a saber que já passaram três meses desde que o Escudeiro partiu para África, porém, para Inês, o marido teria partido há menos tempo.
 
● Que informações traz a carta?

▪ O irmão pede a Inês que tenha coragem.

▪ O Escudeiro morreu.

▪ Foi morto por um pastor quando fugia de uma batalha, em Arzila.

 
Simbologia da carta: a missiva representa a liberdade de Inês, a possibilidade de um recomeço.
 
● Como reagem Inês e o Moço à notícia?

        O Moço sente-se triste, enquanto Inês manifesta felicidade, alegria e alívio. Esta antítese realça a oposição de sentimentos provocados pela morte do Escudeiro: a tristeza do Moço (fingida ou verdadeira, por ficar desamparado), a alegria de Inês, por se libertar do casamento que a aprisionava.

 
● Como se explicam estas reações?

        O Moço sempre criticou as atitudes do Escudeiro e denunciou a sua pobreza, decadência e falta de valores. Deste modo, podemos questionar a sinceridade da sua reação e subentender que as suas palavras encerram alguma ironia, ou seja, a pena e a tristeza podem ser fingimento, mas também se pode considerar que a sua tristeza é autêntica, por ficar desamparado.

        Por seu turno, para Inês, acabou-se o casamento (“Desatado é o nó.” – metáfora), acabou-se o cativeiro. Assim sendo, está livre e pode recomeçar a vida.

 
● Inês manda o Moço embora (“Dai-me cá essa chave / e ide buscar vossa vida.”) e expressa toda a sua alegria: “Mas que nova tão suave!”. De seguida, decide não pôr luto e salienta o seu caráter: forte com uma mulher frágil e fraco e cobarde na guerra. Além disso, manifesta-se desiludida, frustrada, revoltada e arrependida de ter casado com um homem arrogante, desrespeitador, fingido, dissimulado e hipócrita. Tudo em Brás da Mata era fingido e falso: começou por se apresentar como um homem bem-falante, cortês e que prometia um casamento feliz a Inês. Depois de casado, mostrou que a primeira impressão era falsa, pois comportou-se e fez o contrário do que tinha prometido. A sua fuga do campo de batalha mostrou que também a sua coragem era falsa.
 
● A cena termina com o desejo de Inês: ela deseja um «muito manso marido», ou seja, alguém que seja calmo, de temperamento fácil, que lhe faça todas as vontades, “pera boa vida gozar”.
 
● O casamento com o Escudeiro serviu-lhe de lição. Ela aprendeu com a experiência: “Não no quero já sabido, / pois tão caro há de custar”.
 
● Pela cena, podemos verificar que o conceito de «liberdade» se alterou ao longo da peça para Inês:
→ inicialmente: sinónimo de casamento com um homem da corte;
→ após o casamento: consciência de que o casamento pode ser sinónimo de cativeiro, subjugação;
após a notícia da morte do Escudeiro: opção por um “muito manso marido” como forma de emancipação / libertação.
 
● Este passo da farsa relembra a cantiga de escárnio e maldizer “Dom Foão, que eu sei que há preço de livão”, dado que, tanto o dito D. Foão como Brás da Mata se revelam fracos e cobardes na guerra – Brás da Mata morre às mãos de um pastor ao fugir da batalha e a figura da cantiga foge para Portugal assim que vê os cavaleiros inimigos.
 
 
● A crítica:
-» a ironia de Inês quando recebe a carta de Arzila:
. “Já ele partiu de Tavila?” (v. 896);
. “Para mim era valente
E matou-o um mouro só!” (vv. 926-927);
-» o cómico de caráter: o contraste entre a aparência e a realidade do carácter do Escudeiro Personagem pobre e covarde, mas dissimulando, na elegância do seu discurso, na variedade das suas prendas – tocar, cantar – e na fanfarronice solene todas as suas fraquezas e misérias), culminando com a notícia da sua morte e da forma como ocorreu, ou seja, morto por um pastor quando fugia da batalha.
 
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