● O Moço reentra em cena trazendo uma carta
para Inês que lhe foi enviada pelo seu irmão, que também se encontrava no mesmo
local onde estava Brás da Mata, em Arzila.
● Tempo
Por uma fala do Moço, ficamos a
saber que já passaram três meses desde que o Escudeiro partiu para África,
porém, para Inês, o marido teria partido há menos tempo.
● Que informações traz a carta?
▪ O irmão pede a Inês que tenha coragem.
▪ O Escudeiro morreu.
▪ Foi morto por um pastor quando fugia de uma
batalha, em Arzila.
● Simbologia da carta: a missiva
representa a liberdade de Inês, a possibilidade de um recomeço.
● Como reagem Inês e o Moço à notícia?
O Moço sente-se triste, enquanto Inês
manifesta felicidade, alegria e alívio. Esta antítese realça a oposição
de sentimentos provocados pela morte do Escudeiro: a tristeza do Moço (fingida
ou verdadeira, por ficar desamparado), a alegria de Inês, por se libertar do
casamento que a aprisionava.
● Como se explicam estas reações?
O Moço sempre criticou as atitudes do
Escudeiro e denunciou a sua pobreza, decadência e falta de valores. Deste modo,
podemos questionar a sinceridade da sua reação e subentender que as suas
palavras encerram alguma ironia, ou seja, a pena e a tristeza podem ser
fingimento, mas também se pode considerar que a sua tristeza é autêntica, por
ficar desamparado.
Por seu turno, para Inês, acabou-se o
casamento (“Desatado é o nó.” – metáfora), acabou-se o cativeiro. Assim
sendo, está livre e pode recomeçar a vida.
● Inês manda o Moço embora (“Dai-me cá essa
chave / e ide buscar vossa vida.”) e expressa toda a sua alegria: “Mas que nova
tão suave!”. De seguida, decide não pôr luto e salienta o seu caráter: forte
com uma mulher frágil e fraco e cobarde na guerra. Além disso, manifesta-se
desiludida, frustrada, revoltada e arrependida de ter casado com um homem
arrogante, desrespeitador, fingido, dissimulado e hipócrita. Tudo em Brás da
Mata era fingido e falso: começou por se apresentar como um homem bem-falante,
cortês e que prometia um casamento feliz a Inês. Depois de casado, mostrou que a
primeira impressão era falsa, pois comportou-se e fez o contrário do que tinha
prometido. A sua fuga do campo de batalha mostrou que também a sua coragem era
falsa.
● A cena termina com o desejo de Inês: ela
deseja um «muito manso marido», ou seja, alguém que seja calmo, de temperamento
fácil, que lhe faça todas as vontades, “pera boa vida gozar”.
● O casamento com o Escudeiro serviu-lhe de
lição. Ela aprendeu com a experiência: “Não no quero já sabido, / pois tão caro
há de custar”.
● Pela cena, podemos verificar que o conceito
de «liberdade» se alterou ao longo da peça para Inês:
→ inicialmente: sinónimo de casamento com um
homem da corte;
→ após o casamento: consciência de que o
casamento pode ser sinónimo de cativeiro, subjugação;
→
após a notícia da morte do Escudeiro: opção por um “muito manso marido” como forma
de emancipação / libertação.
● Este passo da farsa relembra a cantiga de
escárnio e maldizer “Dom Foão, que eu sei que há preço de livão”, dado que,
tanto o dito D. Foão como Brás da Mata se revelam fracos e cobardes na guerra –
Brás da Mata morre às mãos de um pastor ao fugir da batalha e a figura da
cantiga foge para Portugal assim que vê os cavaleiros inimigos.
● A crítica:
-»
a ironia de Inês quando recebe a
carta de Arzila:
. “Já
ele partiu de Tavila?” (v. 896);
. “Para
mim era valente
E
matou-o um mouro só!” (vv. 926-927);
-» o cómico
de caráter: o contraste entre a aparência
e a realidade do carácter do Escudeiro Personagem pobre e covarde, mas dissimulando,
na elegância do seu discurso, na variedade das suas prendas – tocar, cantar – e
na fanfarronice solene todas as suas fraquezas e misérias), culminando com a
notícia da sua morte e da forma como ocorreu, ou seja, morto por um pastor
quando fugia da batalha.