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segunda-feira, 17 de outubro de 2022
Mens ag|itat mol|em - Parte III
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Que farei com este livro?
segunda-feira, 27 de dezembro de 2021
Mens ag|itat mol|em - Parte II
[episódio]
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Que farei com este livro?
segunda-feira, 13 de dezembro de 2021
sexta-feira, 12 de março de 2021
Análise de "D. Dinis"
●
D. Dinis e o pinhal de Leiria
Tradicionalmente, o rei D. Dinis
(1261-1325), o sexto de Portugal, foi cognominado de o Lavrador, pois fomentou
o desenvolvimento da agricultura (distribuiu terras, promoveu a agricultura,
mandou plantar o pinhal de Leiria, embora atualmente se pense que a iniciativa
terásido obra de Afonso III ou até de D. Sancho II).
Independentemente de quem tenha
sido, na verdade, o monarca que o mandou plantar, D. Dinis teve um papel
fundamental no reforço da área do pinhal, do qual foram extraídos a madeira e o
pez (alcatrão de origem vegetal) necessários, respetivamente, à construção e
calafetagem das naus dos Descobrimentos.
• 1.ª parte (1.ª estrofe) – O sonho visionário
de D. Dinis.
▪ Nos dois primeiros versos é
apontada a dupla faceta de D. Dinis: o poeta – o trovador
(que compôs cantigas de amigo) e o lavrador, o responsável pela plantação
do pinhal de Leiria, cuja madeira foi fundamental para a construção das
naus dos Descobrimentos (“O plantador de naus a haver” – metáfora – v.
2). Ambas as atividades se referem a atos criadores.
▪ O cantar de amigo é escrito durante
a noite. Por um lado, a noite é um tempo de silêncio, solidão e calma,
ambiente propício à reflexão, à inspiração e à escrita. Por outro lado, a noite
é o tempo da germinação, no qual se prepara o tempo futuro, ou seja, é um
período de preparação para o dia que há de nascer. É por isso que D. Dinis é
apresentado escrevendo de noite: o monarca representou (à luz da conceção
providencialista da História presente em Mensagem) a preparação dos
Descobrimentos e a origem da literatura portuguesa (que está associada ao
Quinto Império, na sua vertente cultural). Além disso, a noite é o momento de fecundação
do sonho, ao qual sucede o dia, o nascimento do império.
▪ A metáfora e a metonímia
“O plantador de naus a haver” remetem para os pinheiros mandados plantar pelo
rei, que são virtualmente as naus das Descobertas, pois foram eles que forneceram
a madeira para construir as naus usadas nas Descobertas. Projeta-se em D. Dinis
o sonho de navegações futuras, realizadas em naus construídas com a madeira
dessas árvores, iniciando-se assim a criação de um mito em torno da
figura do rei, que, involuntariamente, preparou o futuro.
▪ Com efeito, os três versos iniciais
do poema apresentam-nos D. Dinis como um visionário, um homem de
génio que tem a capacidade de antever o futuro.
▪ O oxímoro do verso 3 sugere
que o som que D. Dinis ouve (que, na realidade, não existe) é uma prefiguração
do futuro: é o som produzido por um pinhal que, futuramente, será extenso e de
um mar que será dominado graças à madeira dele extraída. Ou seja, realça a
atitude meditativa do rei, que, ao compor o seu cantar, profetiza já a epopeia
das Descobertas.
▪ A comparação e a metáfora
dos versos 4 e 5 sugerem que dos pinhais sairá a madeira para a construção das naus,
que permitirão a construção de um império, isto é, que possibilitarão a expansão,
que trará riqueza suficiente (trigo) para todos os portugueses. Estes recursos
permitem-nos visionar uma imensa seara cujos frutos constituirão o alimento, o
suporte de um movimento expansionista do qual emergirá um império. O trigo é o
símbolo de alimento, de poder económico, pois as searas de trigo, de cor que
lembra o ouro, são a promessa de riqueza para o país. Note-se a presença, no
verso 4, do eco da cantiga de amigo “Ai flores, ai flores do verde pino”.
▪ Por outro lado, sugere que a
génese, a origem do futuro teve início em terra. Tal como o trigo é a base do
pão que alimenta os povos, também os pinheiros serão a base da construção dos
barcos que alimentarão as Descobertas. O trigo «ondula» ao sabor do vento, as
naus ao sabor das naus Estes recursos aproximam os pinhais semeados por D.
Dinis de uma sementeira de trigo, que germinará e dará o pão que são as naus
que contribuirão para a descoberta e construção do Império futuro.
▪ Tal como o trigo é o ingrediente
principal do pão, também a madeira fornecida pelos pinhais constitui a
matéria-prima que permitiu saciar a «fome de Império» dos portugueses.
▪ Por outro lado, a forma verbal «ondulam»
associa o movimento dos pinhais e do trigo (impulsionados pelo vento) ao das
ondas do mar, ou seja, sugere o movimento das ondas que, no futuro, serão
atravessadas pelas naus portuguesas.
▪ A expressão “sem se poder ver”
(v. 5 – metonímia) associa a D. Dinis um dos traços característicos do
herói: é um ser excecional, singular, dado que consegue percecionar, antecipar
o futuro – a aventura marítima e a construção de um império.
▪ O recurso ao presente do
indicativo contribui para a mitificação do herói, mostrando que, no seu
tempo, foi a sua ação que preparou involuntariamente o futuro dos
Descobrimentos, tornando o seu contributo intemporal.
• 2.ª parte (2.ª estrofe) – A concretização do
sonho.
▪ O sujeito poético associa o cantar
de amigo que D. Dinis está a escrever a um regato, que, como um pequeno fio de
água, corre para o mar. Esta metáfora significa que o rei, além de
precursor dos Descobrimentos (enquanto responsável pela plantação do pinhal de
Leiria), também é um precursor de toda a literatura portuguesa, visto que as
cantigas de amigo que escreveu se contam entre as primeiras composições
poéticas da língua e literatura portuguesas. O «oceano por achar» pode
constituir uma referência à epopeia portuguesa, escrita por Camões, sobre os
Descobrimentos: Os Lusíadas.
▪ Pode igualmente significar uma
visão metafórica de Portugal (uma nação «jovem» – porque recém-formada –
e «pura» – porque ainda não contaminada pela ganância e pelo materialismo
trazidos pelos Descobrimentos) como um «arroio», ou seja, um pequeno curso de
água (uma pequena nação) que corre, mal nasce, em direção ao oceano. O cantar
é, em suma, jovem, inocente e puro, e procura, de forma persistente,
determinada e contínua o «oceano por achar» (vv. 6-7).
▪ A personificação do verso 8
(“a fala dos pinhais, marulho obscuro”) sugere o caráter mítico de D.
Dinis, uma espécie de intérprete de uma vontade superior, que anunciava aos
ouvidos do rei um novo ciclo de conquistas. O som dos pinhais que D. Dinis
imaginava ouvir era um prenúncio secreto (“obscuro”) do ruído da epopeia
marítima dos portugueses.
▪ O mar a cumprir no futuro já pode
ser adivinhado no rumor dos pinhais: “E a fala dos pinhais, marulho obscuro, / É
o som presente desse mar futuro” (paradoxo e personificação – vv.
8-9). A fala dos pinhais manifesta o seu desejo de serem navios e de atingirem
o mar, mas, nos últimos três versos, é a terra que anseia pelo mar. Trata-se da
atração que o oceano sempre exerceu um povo que se distinguiu como uma nação de
navegadores. Por outro lado, o último verso do poema traduz a ideia de união,
isto é, a ideia de que o mar, após a sua conquista no futuro pelos portugueses,
já não separará, antes ligará povos, culturas, civilizações.
▪ Os dois últimos versos da segunda
estrofe indiciam os dois ciclos da História de Portugal: numa primeira
fase, a expansão por terra, mais tarde o domínio do mar. D. Dinis mandou
plantar o pinhal de Leiria para impedir que as terras à beira-mar fossem
destruídas pela ação da areia do mar e do vento, no entanto, anos mais tarde, a
madeira por ele produzida seria utilizada para construir as naus em que
partiram os navegadores portugueses. A terra é, por isso, a voz presente que
chama pelo futuro, o mar.
D. Dinis
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↓
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↓
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Trovador
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Plantador
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Poeta:
criador de poesia |
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Plantador
do pinhal de Leiria: criador |
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Autor
de cantigas de amigo (e de amor) |
|
“é
som presente desse mar futuro” |
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↓
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Prenúncio
dos Descobrimentos: “o oceano por achar” |
●
Integração do poema na estrutura de Mensagem
“D. Dinis” faz parte de “Brasão”, a
primeira parte de Mensagem, sendo o sexto poema da secção “Os Castelos”.
D. Dinis foi o sexto rei de Portugal
e antecede o ciclo das Descobertas. Trata-se do monarca de preparar o futuro,
criando, no [seu] presente, condições para a construção do Império, que será
cantado na segunda parte da obra.
●
Valor simbólico de D. Dinis
D. Dinis é o herói apresentado como
um instrumento de uma vontade transcendente que está ao serviço da missão que
Portugal tem a cumprir: a construção de um império cultural, o Quinto Império.
O rei foi um trovador, porque compôs
poemas (cantigas de amigo e de amor), alguns dos quais tinham como cenário o
mar.
Foi o Lavrador, visto que
desenvolveu a agricultura, dado que muitas terras tinham sido abandonadas e era
necessário fomentar o setor, para alimentar a população.
Foi ainda o plantador, isto porque
mandou plantar o pinhal de Leiria, cuja madeira foi utilizada, posteriormente,
para construir as naus das Descobertas.
●
Recursos poético-estilísticos
A
nível
fónico, o poema é constituído por duas quintilhas. Os versos são irregulares quanto à métrica e ao ritmo. O
segundo verso de cada estrofe possui 8 sílabas, enquanto os restantes são
decassílabos.
A
rima é cruzada, emparelhada e
interpolada, segundo o esquema ABAAB; é consoante (“amigo”/”consigo”), pobre
(“haver”/”ver”) e rica (“amigo”/”consigo”), grave (“amigo”/”consigo”) e aguda
(“haver”/”ver”).
O
verso decassílabo, de ritmo largo, é
próprio para a expressão de uma mensagem que traduz o meditar repousado de um
poeta que é rei e vai ao leme de um povo que quer ser grande.
No
poema convivem os sons fechados e
semifechados, que remetem para o sonho e para o impossível, e o som aberto [a],
que remete para a expansão, para a realização do sonho.
O
poema é ainda rico em aliterações
(“na noite”) e em assonâncias e onomatopeias, sugerindo o ruído do rio
ou da água que corre: “E o rumor dos pinhais – marulho obscuro”.
A
nível
morfossintático, são de destacar os seguintes recursos:
. Verbos:
- As formas verbais
evocam o movimento, a flexibilidade sugerida na imagem da espiga de trigo ao
vento, numa união entre o movimento e o sonho, como constatação de um destino
que, numa primeira fase, é dado de uma forma indistinta.
- O “rumor dos
pinhais”, o som, reaparece no último verso do poema, na expressão “a voz da
terra”. A terra, por seu lado, é símbolo de fecundidade – é como se a ação de
D. Dinis, cujas consequências se desconheciam ainda, se anunciasse no som
indistinto.
- O mar funciona como
o elemento fecundador do elemento feminino: a terra.
- Os verbos
encontram-se no presente do indicativo, não apenas o presente histórico
ou narrativo, mas sobretudo o presente de aspeto durativo. As formas verbais (“escreve”,
“ouve”, “busca”) traduzem ações que perduram, que se prolongam no tempo.
Por outro lado, fazem a interseção temporal
passado/presente. De facto, o presente, no modo indicativo, aponta, ao nível
mítico, para o futuro; ou seja, não
só a época dos Descobrimentos surge como um tempo futuro em relação ao momento
em que viveu D. Dinis, mas a própria dimensão do seu ato, que se projetará
ainda num período que está para vir, que a expressão “mar futuro” anuncia. Para
Pessoa, o ato criador do passado é a promessa de um futuro grandioso que se
cumprirá sob a égide de Portugal.
. Nomes:
-
O ato criador de D. Dinis é apresentado de forma analógica, constituindo-se em
unidades duplas:
.
cantar (de amigo) / arroio;
.
plantador / Império;
.
pinhais / trigo;
.
terra / mar: remete para a ideia de união.
- O nome “noite”,
no início do poema, encontra o seu duplo na totalidade do discurso, ou seja, o
dia, cuja luz é o momento da própria fecundação, que dá origem ao nascimento do
Império (quer no período dos Descobrimentos quer na era que, segundo Pessoa,
constituirá o Quinto Império).
. Os adjetivos,
sobretudo presentes na segunda estrofe, unem os princípios passividade/atividade,
assim como dois momentos temporais distintos, que apontam para um tempo
posterior às épocas referidas no poema.
A
nível
semântico, deparamos com:
. Metáforas:
- “O plantador de naus a haver” (v. 2) – também metonímia, pois as naus são construídas
com a madeira do pinhal, isto é, tomou-se o produto pela matéria de que é
feito: sugerem a preparação longínqua da matéria-prima de que se fabricariam as
naus para a epopeia marítima dos portugueses;
- “É o rumor dos pinhais...”: o rumor dos pinhais
(ainda confuso como um marulhar) é já a semente de algo que frutificará, graças
às possibilidades materiais (a madeira com que serão construídas as naus) e às
capacidades psicológicas dos portugueses que sonharam sulcar os oceanos
desconhecidos e conseguiram construir o nosso império ultramarino. A ação
dinâmica do sonho da demanda do oceano reforça-se com a visão e audição do mar
que nos chama para a nossa grande aventura épica e nos sagrará como heróis
míticos. A nossa identidade nacional afirmou-se pela importância concedida ao
sonho, à poesia e ao mar;
- “Arroio, esse cantar, jovem e puro, / Busca o
oceano por achar...”:
. exprime a forma como os portugueses, começando
quase do nada (“arroio”), foram engrossando o caudal das suas forças, até
conquistarem o mar;
. por outro lado, a associação do canto a um rio,
cuja água corre, simboliza que a ação de D. Dinis se perpetuará no tempo,
ecoando no futuro.
O
poema referencia duas fases da nossa história: o ciclo da terra (“plantador de naus”, “pinhais”, “trigo”) e o ciclo do mar (“arroio”, “naus”, “mar”).
A terra e o mar são dois pólos entre os quais se balouçou continuamente o povo
português, sem nunca ter encontrado uma distância equilibrada entre esses dois
pólos, de acordo com o ditado “Nem tanto ao mar, nem tanto à terra”.
. Oxímoro: “... ouve um silêncio murmuro consigo” ® realça a atitude meditativa de D. Dinis que,
como um mago rei-poeta, ao escrever o seu cantar de amigo, estava já a
profetizar a epopeia marítima dos portugueses.
. Personificações:
- “É o rumor dos pinhais como um Trigo / De
Império” (também comparação). porquê
os pinhais, trigo de Império? O trigo (o pão) não é só a base da alimentação, é
também o símbolo dos alimentos (ganhar o pão de cada dia é ganhar todos os
alimentos). Por outro lado, não há império sem poder económico: o trigo é a
promessa da riqueza de um país. Daí a ligação “pinhais” – “Trigo de Império”. Os pinhais contribuíram para a expansão
portuguesa e esta criará a riqueza do nosso império; a palavra trigo pode ter o sentido de abundância,
ausência de fome, riqueza, sobrevivência, alargamento do território, construção
do Império.
- “E a fala dos pinhais...” e
- “É a voz da terra ansiando pelo mar”: os
pinhais parecem falar e inspiram o próprio cantar do rei-poeta, porque anunciam
qualquer coisa de grandioso, ainda envolvida em mistério.
. Conjunto de expressões que se congregam para dar a sugestão de um mistério do
domínio futuro dos mares: “Na noite...”, “... silêncio murmuro...”, “... rumor
dos pinhais...”, “... marulho obscuro...”.
Este
poema, como todos os de Mensagem, está imbuído de sensibilidade épica. A grandeza dos feitos de Portugal é
inseparável da sua grandeza literária: o cantar nascido do marulhar dos
pinheiros prenuncia a grandeza épica de Portugal. Não nos esqueçamos que
Fernando Pessoa concebeu na Mensagem um super-Portugal de que ele seria
o super-Poeta.
●
A organização da mensagem no plano espácio-temporal
O
sujeito poético imagina D. Dinis, “O plantador de naus a haver” (seria dos pinhais
semeados por este rei que viria a madeira para os navios das descobertas), a
compor uma cantiga de amigo, inspirado pelo rumor dos pinhais. O poeta recua no
tempo até ao presente de D. Dinis (passado para o poeta) e escuta, com o rei, “a
fala dos pinhais... o som presente desse mar futuro”. Assim, o poeta recorre ao
presente, enquanto no poema “D. Sebastião” utiliza o passado. Neste caso, é
Pessoa quem traz D. Sebastião para o seu tempo, isto porque este rei é uma
figura lendária que está fora do seu tempo, porque é simultaneamente uma figura
do passado, do presente e do futuro (sebastianismo).
Por
outro lado, notemos que a mensagem de "D. Dinis" está basicamente centrada
no futuro, dado que, se a perspetiva temporal do poeta é a de D. Dinis e este
rei preparava as glórias futuras da sua pátria, é óbvio que a mensagem se
centra sobretudo no futuro: "O plantador de naus a haver...", "...É
o som presente desse mar futuro...".
No
que diz respeito à questão espacial, há um conjunto de expressões que remetem
claramente para a época anterior aos Descobrimentos: "O plantador de
naus...", "... o rumor dos pinhais...", "É o som presente
desse mar futuro...". Mas, por outro lado, surgem outras
expressões que projetam Portugal através do mundo: "... como um Trigo / De
Império...", "Busca o oceano por achar...", "... desse mar
futuro...", "... ansiando pelo mar...".
Se
relacionarmos o espaço com o tempo, constatamos que ao futuro corresponde a
projeção de Portugal através dos mares.
●
Conclusões
1.ª) D. Dinis aparece caracterizado
pelo cantar de amigo (o poeta) e como o plantador de naus (o lavrador).
Assim, conciliam-se na sua personalidade poética o sonho providencialista de um
império que se estenderá por longes terras e mares desconhecidos.
O primeiro elemento caracterizador
reporta-se ao rei trovador / poeta que compôs cantigas de amigo e de amor, na
época trovadoresca. Ligado ao segundo, mostra como a poesia tem forte
importância na construção do mundo. Como poeta, D. Dinis foi capaz de revelar
estados psicológicos gerados pelo amor ausente, mas o seu poder criador
consumou-se também no feito político de ter mandado plantar o pinhal de Leiria,
lançando assim a semente das navegações e descobertas portuguesas. Portanto, de
noite e no meio do seu próprio silêncio, o rei trovador percepcionou no rumor
dos pinhais a nossa aventura oceânica.
2.ª) De facto, Pessoa aponta D. Dinis
não só como o rei trovador, mas também como o criador “genético” dos
Descobrimentos. Se, por um lado, foi conhecido como o “Lavrador”, seu cognome,
pela plantação do pinhal de Leiria, por outro lado, ele foi o grande
responsável pela abundância de matéria-prima que proporcionou aos portugueses a
expansão e a construção de um vastíssimo império, que se concretizou com o sonho
do Infante D. Henrique.
3.ª) São também evidentes no poema os
elementos que evidenciam o destino mítico de Portugal:
.
os pinhais plantados por D. Dinis;
.
o rumor dos pinhais;
.
esse cantar;
.
o som presente;
.
a voz da terra.
Os
pinhais plantados por D. Dinis, agitados pelo vento, prefiguram o marulho das
ondas que as “naus a haver” hão de sulcar. O destino de Portugal cumpriu-se,
porque este poeta / trovador pressentiu, a seu tempo, a nossa ânsia de
perscrutar o desconhecido e distante, criando as condições favoráveis para o
lançamento dessa aventura.
4.ª) Em suma, D. Dinis é retratado como
o rei capaz de antever futuros, justamente porque poeta visionário, em cujo
cantar de amigo se fundam o rumor – a “fala dos pinhais” – e o mar futuro. Por
isso ele é visto como “plantador de naus a haver”, as naus / cantar de amigo
que desvendarão, no futuro que ele sonha, o “oceano por achar”. No poema, os
pinhais plantados pelo rei-poeta-visionário são “um trigo de império” e “ondulam
sem se poder ver” (porque futuros – só acessíveis aos sonhadores).
Foi
ele quem lançou a semente das navegações e dos Descobrimentos.
5.ª) O poema insere-se na primeira
parte de Mensagem, intitulada «Brasão»,
alusiva à constituição da nação. Remete, assim, para um tempo longínquo, que funciona
como paradigma da construção do reino. Trata-se, porém, agora, de um reino espiritual,
do Quinto Império, uma época de fraternidade universal, sem fronteiras definidas
no espaço, sob a hegemonia dos portugueses.
sábado, 27 de fevereiro de 2021
Análise de "Ulisses"
Análise do poema aqui: Ulisses.
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Classificação de Mensagem
A Mensagem não se presta a uma classificação unívoca; pelo contrário, é possível detectar na obra marcas de diferentes tipologias.
Desde logo, é possível referenciá-la como uma obra lírica (sobretudo na terceira parte):
» é um livro de poemas;
» a forma é fragmentária (ao contrário, por exemplo, de Os Lusíadas);
» o sujeito lírico evidencia uma atitude introspectiva;
» o sujeito lírico exprime os seus sentimentos, sonhos, desejos, crenças
(relativamente ao presente, ou ao futuro da Pátria);
» há uma postura de interiorização e de contemplação da alma humana;
» o simbolismo;
» a inquietação, a ânsia, o constante interrogar-se («'Screvo meu livro à beira-
mágoa»);
» o presente de sofrimento e mágoa;
» o tom menor;
» a visão subjectiva do enunciador.
Contudo, especialmente na segunda parte, a obra é também de carácter épico:
» os poemas, juntos, formam um todo integrado;
» os heróis portugueses do passado possuem um valor simbólico e mitológico;
» há um apelo à glorificação lusíada no século XX e demais;
» o heroísmo:
. os heróis (os marinheiros que percorreram os mares e se imortalizaram)
agem pelo instinto, sem terem a visão do sentido e alcance dos seus actos
Desde logo, é possível referenciá-la como uma obra lírica (sobretudo na terceira parte):
» é um livro de poemas;
» a forma é fragmentária (ao contrário, por exemplo, de Os Lusíadas);
» o sujeito lírico evidencia uma atitude introspectiva;
» o sujeito lírico exprime os seus sentimentos, sonhos, desejos, crenças
(relativamente ao presente, ou ao futuro da Pátria);
» há uma postura de interiorização e de contemplação da alma humana;
» o simbolismo;
» a inquietação, a ânsia, o constante interrogar-se («'Screvo meu livro à beira-
mágoa»);
» o presente de sofrimento e mágoa;
» o tom menor;
» a visão subjectiva do enunciador.
Contudo, especialmente na segunda parte, a obra é também de carácter épico:
» os poemas, juntos, formam um todo integrado;
» os heróis portugueses do passado possuem um valor simbólico e mitológico;
» há um apelo à glorificação lusíada no século XX e demais;
» o heroísmo:
. os heróis (os marinheiros que percorreram os mares e se imortalizaram)
agem pelo instinto, sem terem a visão do sentido e alcance dos seus actos
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
Título: Mensagem
A explicação em torno do título dado por Pessoa à sua única obra em língua portuguesa publicada em vida não é consensual, daí que não seja de estranhar que existam diversas teorias acerca do tema.
. Título inicial: Portugal:
- foi alterado, a conselho do seu amigo Cunha Dias;
- razão: o nome da pátria estava muito associado a textos publicitários, que promoviam, por exemplo, marcas de sapatos e marcas de hotéis;
- exemplo de um slogan da época: «Portugalize os seus pés».
. 1.ª explicação:
- o título é constituído por 8 letras:
- 8 é o número do equilíbrio cósmico que simboliza a palavra criadora;
- 8 é o símbolo da ressurreição, da mudança e do anúncio de um novo tempo.
. 2.ª explicação:
- mensagem = comunicação, missiva;
- o vocábulo pressupõe a existência de um emissor e de um recetor, desde logo sugeridos na epígrafe da obra - «Benedictus Dominus Deus Noster qui dedit nobis Signum» («Bendito Deus Nosso Senhor que nos deu o Sinal»);
- emissor da mensagem: Deus;
- recetor: o Poeta, que, pelo seu génio, foi eleito por Deus, para dar conhecimento da mensagem à tribo de que será guia e profeta, transformando-se também, em emissor.
. 3.ª explicação:
- o título Mensagem teria tido origem na afirmação feita por Anquises, personagem da Eneida, quando explica a Eneias, descido aos Infernos, o sistema do Universo - Mens agitat molem = a mente move a matéria;
- Mensagem será, assim, um anagrama da afirmação mens + ag(itat mol) + em;
- o objetivo da obra seria mover as «moles» (a matéria) humanas através da poesia;
- simbologia da descida aos Infernos:
- poder associado às ideias de decadência e subsequente renascimento, sendo esse o processo cíclico apontado como condição necessária ao ressurgimento da pátria num estado ideal;
- aceitando a morte do passado, o poder fecundador do mito trará um futuro perfeito.
. 4.ª explicação:
- o título poderá ainda estar ligado à expressão «ens gemma», isto é, ente em gema, ovo;
- tal significaria Portugal em essência, gema;
- associação à ideia de encantamento, de magia: para os alquimistas, o ovo filosófico é o embrião da vida espiritual, do qual eclodirá a sabedoria;
- no ovo, concentram-se todas as possibilidades de criar, recriar, renovar e ressurgir. Ele é a prova e o recetáculo de todas as transmutações e metamorfoses.
. 5.ª explicação:
- a palavra mensagem pode ser «recortada» e construir as expressões mea gens ou gens mea, isto é, «minha gente» ou «gente minha», remetendo para a raça de heróis nomeados ao longo da obra;
- outra hipótese remete para mensa gemmarum, isto é, o altar ou mesa onde repousam as gemas portuguesas - Portugal é onde se procede ao sacrifício necessário à realização do sagrado;
- Portugal seria, assim, o altar onde os sacrifícios em nome do divino foram realizados.
Enquadramento cultural de Mensagem
● Em ruptura com a tradição, os artistas optam por uma abordagem mais irónica e provocatória;
● Na Literatura, os protagonistas passam de heróis a seres vulgares;
● Enaltecido pelas correntes literárias anteriores, o indivíduo perde a sua identidade e unidade, criando «outros eus» (fragmentação do «eu»);
● Maior liberdade na linguagem, atribuindo sentidos metafóricos novos às palavras;
● Reinventam-se as formas, usam-se técnicas novas e experimentam-se caminhos desconhecidos;
● Movimentos:
► Modernismo: diversidade e pluralidade, caminho pessoal de questionação e reinvençãodos valores;
► Futurismo: movimento, velocidade, energia explosiva e máquinas como demonstração
da força do indivíduo;
► Cubismo: fraccionamento da realidade;
► Abstraccionismo: recusa de representação do real;
► Surrealismo: apelo à imaginação, ao sonho e à loucura; escrita automática.
Circunstâncias de produção de Mensagem
● Influenciado pela poética saudosista e pelos ideais lusitanistas do poeta Teixeira de Pascoaes, que intuíra e profetizara uma futura civilização lusitana, Fernando Pessoa publica uma série de artigos na revista A Águia (em Abril de 1912), em que exprime o seu entusiasmo e o forte sentimento de patriotismo, o desejo de regeneração nacional e visiona um movimento poético (e um consequente movimento social e civilizacional) grandioso e exaltante.
● A Mensagem terá tido origem no projecto de um livro cujo título seria Gládio, do qual resultou apenas um poema com esse nome, integrado na obra, surgido em 1913.
● A ideia de um livro de poemas de inspiração nacional terá surgido, pela primeira vez, por volta de 1917-1918, na época em que governou Sidónio Pais.
● O intervalo de elaboração dos poemas vai de 21 de Julho de 1913 a 26 de Março de 1934.
● Em 1922, foi publicado um conjunto de poemas, sob o título de «Mar Português», que acabaria por constituir a segunda parte de Mensagem.
● O trabalho de produção dos poemas é acompanhado de um trabalho exaustivo de leitura, de investigação e de estudo de temática patriótica presente em vários textos da sua autoria.
● A estrutura definitiva da Mensagem é concebida entre Janeiro e Março de 1934, tendo alguns poemas sido reescritos.
● A obra é publicada (a única em língua portuguesa em vida do poeta), propositadamente, em 1 de Dezembro de 1934, um ano após Salazar ter assumido a chefia do governo do país, instaurando o Estado Novo. A data foi escolhida em razão da carga simbólica que encerra, dado tratar-se do dia da Restauração. De facto, Pessoa pretendia, com este gesto, dar nota das intenções patrióticas que o dominavam.
● A publicação da Mensagem suscitou algumas reservas no poeta, «acusado» de contribuir, com ela, para reforçar a ideologia fascista do Estado Novo.
● Registe-se, a título de curiosidade, que Fernando Pessoa colaborou com o regime salazarista entre 1933 e 1934, no entanto esta situação foi sol de pouca dura, visto que o poeta, que não suportava a ausência de liberdade e a opressão, se tornou opositor do regime.
● A obra foi proposta para o Prémio Antero de Quental, que se destinava a distinguir "poesia nacionalista", mas tal acabou por não acontecer por não possuir o número de páginas estipulado (100). António Ferro, amigo de Pessoa dos tempos da revista Orpheu e responsável pelo Secretariado de Propaganda Nacional, improvisou um prémio de segunda categoria para distinguir Mensagem.
● A obra integra-se na corrente modernista, transmitindo uma visão épico-lírica do destino português, nela se salientando um conjunto vasto de símbolos e de mitos, como, por exemplo, o Sebastianismo, o Quinto Império, as Idades, etc.
● De acordo com o próprio Pessoa (Páginas Íntimas), a obra é um livro «abundantemente embebido em simbolismo templário e rosacruciano», ao mesmo tempo marcado por tonalidades épicas e messiânicas.
● Na Mensagem, Pessoa assume-se como o cantor do fim do império português (Camões foi o cantor do seu início e auge). De facto, a Pátria, no tempo do poeta, encontrava-se num estado de decadência e desagregação, circunstância que faz despertar nela a ânsia de renovação e regeneração que procura plasmar na sua obra. Ele acreditava que, através dos seus textos, poderia despertar as consciências e fazê-las acreditar e desejar a grandeza de outrora. Por isso, as duas partes iniciais de Mensagem assinalam o passado histórico e grandioso de Portugal, enquanto a terceira descreve o presente decadente e anuncia a vinda do Encoberto, representado na figura mítica de D. Sebastião, o pilar do Quinto Império.
● O projecto de Fernando Pessoa relaciona-se, em parte, com o ideal da Renascença Portuguesa, antevendo o «ressurgimento assombroso de Portugal, um período de criação literária e social como poucos o mundo tem tido, em que a alma portuguesa encerraria a alma recém-nascida da futura civilização europeia, que será uma civilização lusitana.»
● Pessoa preconizava para Portugal a construção de um novo império, já não de carácter material, como o fora o dos descobrimentos, mas de natureza espiritual, capaz de elevar os Portugueses ao lugar de destaque que outrora tinham ocupado a nível mundial. Seria, assim, um império da língua e da cultura portuguesas, um império do modo de ser português, do culto da liberdade e da solidariedade, da capacidade de adaptação às situações mais imprevistas.
● Em várias ocasiões, o poeta designou esse seu desígnio de «nova Índia», uma «Índia que não há» ("E a nossa grande raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo que os sonhos são feitos. E o seu verdadeiro e supremo destino, de que a obra dos navegadores foi o obscuro e carnal anterremedo, realizar-se-á..." - in A Nova Poesia Portuguesa) e que seria projectada / cantada por um Super-Poeta, um Super-Camões (provavelmente, o próprio Pessoa), que cantará a genialidade do seu povo e a espalhará por todo o mundo. No fundo, considera-se investido no cargo de anunciador do tal novo império (na sequência dos textos do Padre António Vieira), o Português.
● O conteúdo enaltecedor da maioria dos poemas contrasta com o contexto em que foram produzidos:
» acompanham alguns dos factos principais da História de Portugal;
» retratam as suas figuras centrais;
» recuperam os seus símbolos, as suas lendas e o essencial da sua mitologia;
» criam o destino de uma super-nação mítica que faltaria cumprir.
● Intencionalidade comunicativa da obra:
» regenerar o orgulho português;
» cantar o passado histórico glorioso de Portugal de uma forma emblemática e simbólica,
transformando-a num mito, a partir do qual seja possível reinventar o futuro;
» anunciar o renascer de uma pátria grandiosa, um novo império civilizacional, uma
Super-Nação mítica.
● A obra integra-se na corrente modernista, transmitindo uma visão épico-lírica do destino português, nela se salientando um conjunto vasto de símbolos e de mitos, como, por exemplo, o Sebastianismo, o Quinto Império, as Idades, etc.
● De acordo com o próprio Pessoa (Páginas Íntimas), a obra é um livro «abundantemente embebido em simbolismo templário e rosacruciano», ao mesmo tempo marcado por tonalidades épicas e messiânicas.
● Na Mensagem, Pessoa assume-se como o cantor do fim do império português (Camões foi o cantor do seu início e auge). De facto, a Pátria, no tempo do poeta, encontrava-se num estado de decadência e desagregação, circunstância que faz despertar nela a ânsia de renovação e regeneração que procura plasmar na sua obra. Ele acreditava que, através dos seus textos, poderia despertar as consciências e fazê-las acreditar e desejar a grandeza de outrora. Por isso, as duas partes iniciais de Mensagem assinalam o passado histórico e grandioso de Portugal, enquanto a terceira descreve o presente decadente e anuncia a vinda do Encoberto, representado na figura mítica de D. Sebastião, o pilar do Quinto Império.
● O projecto de Fernando Pessoa relaciona-se, em parte, com o ideal da Renascença Portuguesa, antevendo o «ressurgimento assombroso de Portugal, um período de criação literária e social como poucos o mundo tem tido, em que a alma portuguesa encerraria a alma recém-nascida da futura civilização europeia, que será uma civilização lusitana.»
● Pessoa preconizava para Portugal a construção de um novo império, já não de carácter material, como o fora o dos descobrimentos, mas de natureza espiritual, capaz de elevar os Portugueses ao lugar de destaque que outrora tinham ocupado a nível mundial. Seria, assim, um império da língua e da cultura portuguesas, um império do modo de ser português, do culto da liberdade e da solidariedade, da capacidade de adaptação às situações mais imprevistas.
● Em várias ocasiões, o poeta designou esse seu desígnio de «nova Índia», uma «Índia que não há» ("E a nossa grande raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo que os sonhos são feitos. E o seu verdadeiro e supremo destino, de que a obra dos navegadores foi o obscuro e carnal anterremedo, realizar-se-á..." - in A Nova Poesia Portuguesa) e que seria projectada / cantada por um Super-Poeta, um Super-Camões (provavelmente, o próprio Pessoa), que cantará a genialidade do seu povo e a espalhará por todo o mundo. No fundo, considera-se investido no cargo de anunciador do tal novo império (na sequência dos textos do Padre António Vieira), o Português.
● O conteúdo enaltecedor da maioria dos poemas contrasta com o contexto em que foram produzidos:
» acompanham alguns dos factos principais da História de Portugal;
» retratam as suas figuras centrais;
» recuperam os seus símbolos, as suas lendas e o essencial da sua mitologia;
» criam o destino de uma super-nação mítica que faltaria cumprir.
● Intencionalidade comunicativa da obra:
» regenerar o orgulho português;
» cantar o passado histórico glorioso de Portugal de uma forma emblemática e simbólica,
transformando-a num mito, a partir do qual seja possível reinventar o futuro;
» anunciar o renascer de uma pátria grandiosa, um novo império civilizacional, uma
Super-Nação mítica.
Enquadramento histórico de Mensagem
● Início do século XX;
● Período de ressaca da questão do Mapa Cor-de-Rosa e do «Ultimatum» inglês, que provocou um sentimento de humilhação no povo português;
● Período de avanços tecnológicos e científicos, contrastando com as más condições de trabalho dos operários;
● I Guerra Mundial (1914-1918);
● Revolução russa (1917);
● Necessidade de repensar a sociedade e o próprio Homem:
► Nietzsche põe em causa os fundamentos de então e sugere uma reavaliação dos
valores para viver a vida na sua plenitude;
► Freud demonstra a complexidade do Homem e o seu lado inconsciente;
► Einstein põe em causa grande parte do conhecimento científico.
valores para viver a vida na sua plenitude;
► Freud demonstra a complexidade do Homem e o seu lado inconsciente;
► Einstein põe em causa grande parte do conhecimento científico.
quarta-feira, 13 de setembro de 2017
Comparação Os Lusíadas - Mensagem (VI)
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12.º Ano
,
Camões
,
Fernando Pessoa
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Mensagem
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terça-feira, 12 de setembro de 2017
Comparação Os Lusíadas - Mensagem (V)
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Comparação Os Lusíadas - Mensagem (IV)
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Comparação Os Lusíadas - Mensagem (III)
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Os Lusíadas
quinta-feira, 11 de abril de 2013
Análise de "O Mostrengo"
. Assunto: Chegados ao Cabo das Tormentas, os portugueses encontram um monstro
voador, o «mostrengo», que pretende atemorizá-los para que não prossigam a
viagem. Porém, o marinheiro português (o «homem do leme»), embora de início o
receie e hesite, enfrenta-o, neutralizando-o, pois está imbuído da vontade de
um rei e de um povo que não abdica da
sua missão.
2. Título
1.º) A palavra «mostrengo» é derivada por sufixação («monstro + engo»). O
sufixo «-engo», de origem germânica, tem um valor pejorativo. «Mostrengo»
significa, assim, «ente fantástico, geralmente considerado perigoso e
assustador, dotado de uma configuração fora do normal e desagradável» (in
manual Entre Margens 12).
2.º) Por outro lado, «mostrengo» está relacionado com o verbo «mostrar».
Neste sentido, «mostrengo» é aquele que mostra o que não é ainda conhecido.
3. Retrato do «mostrengo»:
. situa-se no desconhecido, na lonjura, no local que se julgava ser o fim
(«está no fim do mar / Na noite de breu…») – vv. 1-2), ligado a um tom de
mistério, de enigma;
. é o senhor dos mares e dos seus segredos: «Nas minhas cavernas que não
desvendo, / Meus tetos negros do fim do mundo» (vv. 6-7) ‑ o mar é apresentado
fechado no sentido de espaço e sem fim no sentido da profundidade, indiciando
mistério; por outro lado, representa o desconhecido («Nas minhas cavernas que
não desvendo»; «fim do mundo»);
. tem um aspeto semelhante ao de um morcego:
‑ voa (v. 2) – notar a intenção de exprimir a voz do morcego e o seu
nervosismo, por ver os seus domínios ameaçados, através da musicalidade de sons
como /u/, /ô/, /ê/, /i/, /a/;
‑ chia;
‑ habita cavernas e tetos negros;
‑ roça nas velas da nau;
‑ vê as quilhas de alto (v. 11);
‑ é imundo e grosso ‑ tem um aspeto medonho, horrível (v. 13);
. é ameaçador e arrogante (as suas falas);
. defende os seus domínios perante a ousadia dos portugueses, que ousam
invadir e desvendar esses domínios;
. tem atitudes intimidatórias, ameaçadoras, aterrorizadoras, de força e
poder:
‑ os movimentos circulares que tece em roda da nau (vv. 3, 4, 12, 13,
25) parecem querer «asfixiar» os portugueses;
‑ roça nas velas;
‑ chia;
‑ etc.
. tem poder sobre o mar: «o que só eu posso» (v. 14);
. identifica-se com o mar tenebroso e desconhecido: «moro onde nunca
ninguém me visse / E escorro os medos do mar sem fundo» (vv. 15-16) ‑ notar a
expressividade do verbo «escorrer», sugerindo que o «mostrengo» simboliza o
mar, bem como a aliteração em /m/ e o pretérito imperfeito do conjuntivo
«visse», sugerindo o desejo do «mostrengo» em continuar desconhecido;
. sente-se desafiado;
. infunde medo e terror;
. manifesta revolta, indignação e desejo de vingança perante a ousadia
dos portugueses («Quem é que ousou entrar…», «Escorro os medos do mar sem
fundo…»);
. os argumentos de autoridade que evoca têm como objetivo infundir nos
marinheiros o medo e levá-los a retroceder, a desistir da sua viagem;
. na 3.ª estrofe, apaga-se e já não fala, facto que denota o triunfo dos
marinheiros. De facto, à medida que o poema vai avançando, o «mostrengo» perde
força, acabando por se anular.
. Retrato do marinheiro:
. 1.ª resposta: -
pelo tom aterrador das suas palavras;
‑ medroso / receoso - pelas
atitudes intimidatórias;
‑ intimidado -
pelo ambiente sinistro que o rodeia;
‑ treme e
fala em simultâneo;
‑ invoca a
autoridade de que foi investido: «El-Rei D. João segundo!» (v. 9);
‑ é o agente, o representante do rei e, na pessoa do soberano, todo o
povo português.
. 2.ª resposta:
‑ mostra um crescendo de coragem e valentia, pois se, na 1.ª estrofe,
fala a tremer, nesta fala depois de tremer.
. 3.ª fala do marinheiro ‑ clímax da tensão dramática:
‑ as suas atitudes contraditórias [desprender (desistência) e prender as
mãos ao leme, tremer e deixar de tremer] revelam ainda certa dúvida,
insegurança, hesitação e receio;
‑ de facto, o marinheiro está dividido interiormente entre o terror e a
coragem, acabando por vencer esta última;
‑ consciencializa-se de que ali não se representa a si mesmo («Aqui ao
leme sou mais do que eu« ‑ v. 22), mas a vontade do rei e do seu povo, e
enfrenta o «mostrengo», vencendo e prosseguindo a sua missão, uma atitude que
revela coragem, convicção, força e determinação.
Estas
reações do marinheiro ao discurso do «mostrengo» mostram que há uma espécie de
gradação ascendente nas suas atitudes que contrasta com as do monstro. De
facto, se, da primeira vez que lhe respondeu, se mostrou medroso e timorato
(«disse, tremendo, isto é, falou e tremeu ao mesmo tempo, e apenas respondeu
«El-rei D. João Segundo» ‑ vv. 8-9), da segunda vez, embora tenha dado a mesma
resposta, já se nota uma evolução, pois os dois atos estão dissociados (tremeu,
depois deixou de tremer e falou, o que revela um ganho de coragem); da terceira
vez, o marinheiro ainda se sentiu tentado a erguer as mãos do leme, a desistir
da sua missão, mas logo tomou consciência do que estava em causa ‑ o seu rei e
o seu povo: «E disse ao fim de tremer três vezes» (v. 21). É o recuperar
definitivo da coragem, o assumir das responsabilidades de que se encontra
investido: o tremer deixou de interferir com a sua fala.
. Atmosfera tenebrosa e medonha:
. Ambiente:
‑ Sensações
visuais, que carregam o ambiente de tons tenebrosos:
- «noite de
breu»;
- tetos
negros»;
- «trevas
do fim do mundo»;
- «as
quilhas que vejo»;
‑ Sensações
auditivas, que acentuam a horribilidade do quadro:
- «voou
três vezes a chiar»;
- «as
quilhas que ouço»;
. Personagem: «mostrengo» e não «monstro»;
. Atitudes e os movimentos circulares, sitiantes e ameaçadores do
«mostrengo»:
‑ «À roda
da nau voou três vezes»;
‑ «Voou
três vezes a chiar»;
‑ «onde me
roço»;
‑ «Três
vezes rodou imundo e grosso».
. Relação eu (o «mostrengo») / tu (o marinheiro), criadora de um clima
de sem cerimónia e agressividade entre os interlocutores;
. Abundância de formas verbais que sugerem movimento: «ergue», «voou»,
«tremer», «rodou», «ata»;
. Localização espácio-temporal:
‑ «à roda
da nau»;
‑ «no fim
do mar»;
‑ «nas
minhas cavernas que não desvendo, / Meus tetos negros do fim do mundo!»;
‑ «onde
nunca ninguém me visse»;
‑ « mar sem
fundo».
. Simbolismo das personagens:
. O mostrengo simboliza ‑ o mar desconhecido
‑ os
segredos ocultos
‑ o medo
dos navegadores que enfrentam o desconhecido
‑ os
perigos que tiveram de enfrentar
. O homem do leme
‑ simboliza
a coragem e a ousadia do povo português;
‑ é o herói mítico, símbolo do seu povo e que, por isso, passa de herói
individual a coletivo, com uma missão a cumprir.
. Tom dramático do poema
. Alternância discurso direto / discurso direto.
. Grande tensão entre as duas personagens ao longo do diálogo e ao longo
de todo o texto:
- o
mistério que rodeia o «mostrengo»;
- o
mistério patenteado pelo número 3;
-
expressões carregadas de mistério e terror;
- as formas
verbais que traduzem movimentos súbitos, violentos.
. Ambiente de terror:
- a linguagem
visualista;
- as
atitudes do «mostrengo»;
- a
localização espácio-temporal.
. Os recursos estilístico-poéticos:
- a função
expressiva / emotiva;
- as
exclamações e interrogações;
- a
reiteração;
- as
metáforas;
- o refrão.
. O contraste entre o «mostrengo» e o marinheiro: o crescendo de
irascibilidade do monstro e o seu progressivo apagamento, o crescendo de
coragem do marinheiro, que culmina na sua última fala, quando se compenetra de
que representa o povo português e de que tem de prosseguir a sua empresa.
. O drama interior do marinheiro, dividido entre o terror e a coragem.
. Tom épico do poema
. Verso decassílabo.
. Harmonia imitativa.
. Aliterações.
. Sons fechados e nasais.
. O espírito cavaleiresco de exaltação patriótica já existe n’Os Lusíadas: o marinheiro representa
todo um povo que deseja conquistar o mar e que não se deixa vergar pelo
monstro, símbolo dos medos e perigos do mar.
. A luta desigual, heroica, entre o monstro aparentemente invencível que
é o mar e a insistência, a coragem heroica dos portugueses. Estamos, portanto,
no mundo dos heróis.
. Intertextualidade: o Mostrengo e o Adamastor
Mostrengo
|
Adamastor
|
SEMELHANÇAS
|
|
. Conteúdo épico semelhante:
de um lado, a forma invencível do mar; do outro, a vontade férrea e a coragem
de um marinheiro que representa a forma de um povo que quer o mar.
|
|
. Objetivo dos textos: tornar os Portugueses heróis, pela sua
coragem, valentia e determinação.
|
|
. Simbologia: personificação
dos perigos e do receio do mar desconhecido.
|
|
. Localização: ambos os
textos se situam no centro das respetivas obras, funcionando como eixos
estruturantes.
|
|
DIFERENÇAS
|
|
. Retrato: figura animalesca, semelhante a u morcego, voa.
|
. Retrato: figura terrena humana de enormes proporções e de aspeto
medonho (Adamastor).
|
. Aterroriza sobretudo pelo aspeto repugnante.
|
. Aterroriza pelas proporções gigantescas e pela forma estranha.
|
. É vencido pela determinação e pela coragem do marinheiro.
|
. É vencido pelos males de amor.
|
. O texto é mais épico-dramático, pois centra a emoção sobretudo na
pessoa do homem do leme, que evoluciona do medo para a coragem e ousadia.
|
. O caráter épico dilui-se no lirismo da segunda parte do episódio, em
que o gigante conta a sua história de amor e se considera um herói frustrado.
|
. É um ser que provoca medo e repugnância.
|
. É uma personificação que provoca medo.
|
. O terror e a repugnância que suscita vão diminuindo à medida que
cresce a força, a coragem e a determinação do homem do leme, cuja
heroicidade, na última fala, obnubila o monstro.
|
. É o Adamastor que se declara um herói vencido pelo amor. A tensão
dramática dilui-se bastante, visto que a tensão emocional é transposta do
marinheiro para o gigante.
|
. Expressão caraterizadora: «imundo e grosso».
|
. Expressão caraterizadora: «horrendo e grosso».
|
. Maior verosimilhança: a colocação do homem do leme ao serviço de D.
João II, pois foi neste reinado que se ultrapassou o Cabo das Tormentas.
|
. O interlocutor do gigante é Vasco da Gama, ao serviço do rei D.
Manuel.
|
. Texto mais curto, logo mais denso e simbolista, sendo mais importante
o que se sugere do que o que se afirma claramente.
|
. Texto mais extenso e menos denso.
|
. Conceitos de herói e heroísmo: quer este poema, quer o episódio do Adamastor
revelam o espírito aventureiro, a intrepidez e a audácia do povo português.
Por outro lado, o heroísmo do poema decorre da
capacidade de o ser humano dominar e vencer o próprio medo, exemplificada pelo
marinheiro.
. Recursos poético-estilísticos
1. Nível
fónico
. Estrofes: três estrofes de 9 versos, finalizadas por um refrão.
. Irregularidade:
‑ métrica:
. versos decassílabos;
. versos hexassílabos no refrão;
. outros versos de metro mais curto (6, 8, 9);
‑ rimática:
. esquema rimático: aabaacdcd;
. emparelhada e cruzada, sendo cada terceiro verso das três estrofes um
verso branco;
. consoante («mar» / «voar»);
. rica («mar» / «voar») e pobre («chiar» / «entrar»);
. aguda («mar» / «voar») e grave («desvendo» / «tremendo»).
. Ritmo livre, adaptado à emoção patente no poema.
. Refrão: predominam os sons nasais e
fechados (ão, un), conferindo ao poema um tom pesado e sombrio. Por outro
lado, nele ressoa a força, a vontade férrea inerentes à figura do rei D. João
II, e acentua a lealdade inabalável do marinheiro à vontade do rei.
. Harmonia imitativa (onomatopeia) produzida pela repetição
dos sons /v/, /s/, /ch/, /r/, /z/ (aliterações),
que sugerem o ruído do voo do «mostrengo».
. Aliteração em /m/ no verso 15.
. Ocorrência de outros sons nasais
(em) e fechados (ê, ô), que
emprestam ao poema o referido tom sombrio, de gravidade, de mau presságio.
. Transporte: vv. 1-2, 5-6,
24-25.
2. Nível
morfossintático
. Abundância de formas verbais
que sugerem movimentos incontroláveis, violentos, de terror e que emprestam ao
poema grande dinamismo. Os tempos verbais predominantes são o pretérito perfeito, predominante na
parte narrativa, e o presente do
indicativo, usado quase exclusivamente no diálogo entre o «mostrengo» e o marinheiro,
contribuindo para a grande força e vivacidade do poema, para o seu valor
universal e para o tom épico que culmina na última fala do marinheiro.
. Juntamente com as formas verbais, a abundância de nomes traduz a sucessão incontrolável e dramática dos
acontecimentos.
. Os adjetivos são quase
inexistentes: «negros», «imundo» e «grosso» (traduzem a noção de mistério e
terror).
. Tipos de frase:
‑
declarativo: narração e parte do discurso do «homem do leme»;
‑
interrogativo: discurso do «mostrengo»;
‑
exclamativo: discurso do marinheiro.
. Funções da linguagem: emotiva, fática e apelativa.
. Inversão, assumindo por
vezes a violência do hipérbato:
«três vezes
rodou imundo e grosso»;
«três vezes
do leme as mãos ergueu»;
«E mais que
o mostrengo que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!».
. Alternância entre a subordinação
e a coordenação (sindética ou
assindética), sendo de salientar a frequência da conjunção coordenativa /e/
(polissíndeto).
. Anáfora: «de quem (…) / De
quem…» (vv. 10-11); «Três vezes (…) / Três vezes (…) / Três vezes (…)» (vv. 13,
19 e 20).
3. Nível
semântico
. Metáforas / imagens:
- «nas
minhas cavernas que não desvendo»;
- «meus tetos negros do fim do
mundo»: estas duas primeiras sugerem o mistério impenetrável de um local
desconhecido e medonho;
- «E escorro os medos»: sugere
a ideia de terror, proveniente de algo que constitui uma fonte perene de medo;
‑ «a vontade que me ata ao
leme»: expressa a missão do marinheiro, ligada fatalmente à vontade do seu rei
e do seu povo.
. Exclamações e interrogações: traduzem a
emotividade, quer do «mostrengo» quer do marinheiro.
. A personificação de um ser
desconhecido, o «mostrengo» voador, que chia, vê, ouve e fala ameaçadora e
aterradoramente, e que corporiza todos os perigos da navegação em mares
desconhecidos.
. Reiteração do número 3 e seus múltiplos, um número
cabalístico relacionado com as ciências ocultas que remete para um triângulo
sagrado, presente em muitas religiões, como a tríade da religião egípcia, a
tríade romana, a tríade dos cristãos (Pai, Filho e Espírito Santo); em suma,
assume as conotações de um triângulo ou ciclo que se fecha (= perfeição),
contribuindo para conferir ao poema um sentido oculto e esotérico:
‑ três
estrofes;
‑ cada
estrofe tem 9 versos (3 X 3);
‑ o refrão
tem 6 sílabas (2 X 3);
‑ o
«mostrengo» e o marinheiro falam três vezes cada;
‑ o marinheiro tremeu três vezes, ergueu as mãos do leme três vezes e
três vezes as reprendeu ao leme.
. Linguagem visualista para sugerir o ambiente de terror e mistério,
fazendo-se apelo às sensações visuais e
auditivas.
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