Português: 28/04/24

domingo, 28 de abril de 2024

Análise do poema "Água suja", de Bruna Beber

    O título do poema aponta, desde logo, para algo desagradável. De facto, o grupo nominal «água suja», nomeadamente o adjetivo, sugere sujidade, impureza, poluição, uma imagem visualmente desagradável que constitui uma metáfora da degradação da vida e/ou do ambiente. Note-se que a água, tradicionalmente, representa a pureza ou a purificação. Basta pensar no simbolismo do batismo cristão ou da lavagem de roupa ou outros objetos. No entanto, nesta composição poética perde esse significado, essa essência.
    Apesar de se tratar de um poema muito breve (o título, seguido de quatro versos), a sua interpretação está longe de ser «fácil». O primeiro verso aponta para o futuro («Ano que vem»), mas com que sentido? Algo que vai acontecer ou que se espera que aconteça? Ou estaremos perante a ideia do adiamento de algo? Ou, ainda, sugerirá a esperança depositada em algo ou alguém?
    O segundo verso não é menos complexo: «fantasia de carne». O nome «fantasia» aponta para a ideia de imaginação, ilusão, mas o que significa aqui o outro nome («carne)? Tratar-se-á de uma imagem representativa do corpo humano? Ou será da realidade crua e visceral? Por outro lado, essa «fantasia de carne» é «de sol temperada». Temperar carne ao sol significa curá-la ou secá-la ao sol. Se assim for, estaremos na presença de uma alusão a uma tradição cultural, algo que não é incomum na poesia de Bruna Beber. Porém, o último verso acrescenta outro tempero: o ódio. Deste modo, temos uma fantasia de carne, temperada de sol com ódio. Ou seja, há aqui um contraste entre o simbolismo do sol – vida, energia, calor – e do ódio, um sentimento carregado de negatividade, porém, a estrela e o sentimento surgem associados. Convém também ter presente que o ódio é um sentimento poderoso e extremamente destrutivo.
    Associando o verso final ao título, podemos inferir que o poema aborda a deterioração de algo que é / era puro, ou que o tempo transforma ou afeta as nossas experiências e perceção das coisas e do mundo que nos rodeiam.

Caracterização de Tom White

    Tom White é o agente responsável pela investigação respeitante aos Osage e, posteriormente, o diretor da penitenciária de Leavenworth. Um investigador cuidadoso e um diretor corajoso e determinado, White é o protagonista da obra e a sua bússola ética, mesmo que a investigação que lidera deixe muitas mortes por solucionar.
    O modo como Graan descreve White aproxima-o da figura de um pistoleiro do Antigo Oeste, um homem do passado. Ele mesmo parece ter consciência disso e é por essa razão que se junta ao Bureau of Investigation em 1917. O romance do Velho Oeste, muitas vezes associado ao caso Osage, é pouco apelativo para o agente, que sabe que a realidade difere imenso dos mitos. Criado no Texas juntamente com três irmãos, o seu pai era o xerife do condado de Travis e, como a família morava nas instalações que compreendiam a prisão, Tom cresceu fazendo perguntas sobre a justiça. Desde bastante jovem, acreditava que a pena capital era um homicídio judicial, o que revela desde logo muito do seu caráter.
    Face ao que foi exposto, é fácil concluir que White não corresponde à imagem de agente ideal do Bureau, porém estamos na presença de um investigador cuidadoso e persistente. Na década de 1920, os agentes não tinham autorização de porte de arma, todavia, familiarizado com os perigos típicos dos condados rurais remotos, White ignorava regularmente essa proibição, não obstante preferir evitar empregar a violência. Do progenitor herdou a noção de que era importante tratar as pessoas com igualdade, o que coloca em prática durante a investigação que lidera, desde logo selecionando uma equipa que inclui um agente nativo americano e trabalhando diligentemente para resolver o caso. Além disso, dá instruções à sua equipa para destrinçar os factos da ficção e procurar evidências que possam sustentar acusações e levar a condenações efetivas. A sua tenacidade e determinação acabam por produzir resultados. Outro traço relevante que mostra o seu caráter é o facto de não ceder ao suborno ou a qualquer forma de corrupção. É um homem íntegro, honesto, sério.
    Estas qualidades acompanham-no quando deixa o Bureau e se torna diretor de prisão, primeiro em Leavenworth, uma penitenciária federal, e depois em La Tuna, no Texas. A atestá-lo estão os depoimentos de presidiários, que o recordam como um homem que procurava o melhor nas pessoas, incluindo os criminosos mais empedernidos, buscando sempre a sua reabilitação e redenção. Isto não significa, porém, que se tratava de um homem mole ou brando: a sua coragem e a sua bravura levaram-no a acalmar sozinho um motim na prisão e, com prejuízo para si mesmo, salvou vários reféns durante uma fuga da penitenciária.
    Além disso, apesar do seu comportamento heroico em diversas situações, não era narcisista ou egocêntrico, evitando chamar a atenção para a sua pessoa. Também não passava informações sobre os presos para a imprensa e empenhou-se em dar destaque aos agentes que trabalharam consigo no caso dos Osage. Quando se deu conta de que os Estados Unidos estavam a esquecer a provação a que a tribo nativa tinha sido sujeita, procurou escrever um livro sobre o problema, no entanto viu-se confrontado com a falta de colaboração de J. Edgar Hoover, que, ao contrário de White, tinha um ego bastante inflado e desejava que a atenção ficasse centrada na própria pessoa ou na agência, por isso não lhe forneceu qualquer material, pelo que a obra ficou na gaveta.

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