Português: Assassinos da Lua das Flores
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domingo, 21 de abril de 2024

Resumo da 23.ª parte - 3.ª crónica: Um caso não encerrado

    A pesquisa de Graan mostra que a investigação do Bureau contém lacunas, e o autor questiona-se se Hale foi mesmo o responsável por todas as mortes que ocorreram durante o período conhecido como o Reinado do Terror. De facto, o escritor não encontra quaisquer evidências de que os assassinos que trabalharam para Hale tenham liquidado McBride ou Vaughan, por exemplo. Investigando o caso deste último, Graan encontra-se com Martha e Melville Vaughan, que possuem informações sobre a sua morte. Há que atender ao facto de William Hale já se encontrar atrás das grades no momento em que Vaughan foi morto; contudo, Marta e Melville acreditam que o homem deseja Vaughan morto e sugerem que Grann investigue H. G. Burt, o presidente do banco, que desviou dinheiro das contas de Rose.
    Deste modo, Graan visita os Arquivos Nacionais dos EUA no Texas no sentido de pesquisar informações sobre Burt e descobre o processo que Rose moveu ao diretor do banco em 1923 no valor de dez mil dólares, o qual foi inicialmente rejeitado (a mulher ganha eventualmente cinco mil). O escritor encontra conexões entre Vaughan, Burt e George Bigheart. Nos documentos analisados nos Arquivos Nacionais e noutros locais, Grann descobre que Burt concedeu empréstimos aos Osage a taxas exorbitantes e que se envolveu em fraudes de seguros e outras transações financeiras ilegais. Como é que o indivíduo conseguiu tal? Relativamente aos nativos, socorreu-se de um meio legal – a tutela – para cometer fraude contra eles. Grann descobre ainda que Burt era o tutor da filha de Bigheart, o que lhe permitiu ter acesso à fortuna do pai da rapariga. Antes de deixar os Arquivos, Graan encontra uma última pista importante. Um informador secreto disse a um agente do Bureau of Investigation que Burt era o responsável pelo assassinato de Vaughan. Na posse dessas e de outras evidências, o escritor comunica a Martha que talvez tenha solucionado o assassinato do seu avô. Ela chora, mas fica agradecimento pelo caso ter encontrado finalmente uma solução.

Resumo da 22.ª parte - 3.ª crónica: Terras fantasmas

    Na terceira parte, David Graan desvela que a memória dos acontecimentos dos anos 20 do século XX se foram dissipando ao longo do tempo. Como parte da sua pesquisa sobre os assassinatos dos Osage, em 2012, visita o Osage Nation Museum para se encontrar com Kathryn Red Corn, a sua diretora. A mulher mostra-lhe as exposições disponíveis no museu, que retratam a tribo Osage na época da onda de crimes, nas quais se destaca uma fotografia que ostenta um buraco no centro onde outrora figurava William Hale, o «diabo». A diretora admite que a dor resultante dos acontecimentos de há quase um século ainda é muito real para vários nativos. Durante uma visita subsequente, Graan participa em danças cerimoniais da tribo, conhecidas por I’n-Lon-Schka. O escritor encontra-se com Margie Burkhart, neta de Mollie e Ernest e filha de James Cowboy Burkhart, que lhe revela as memórias afetuosas que o pai possuía sobre a sua mãe. Porém, as lembranças de James sobre o pai são marcadas pela melancolia. Margie revela que, após ter sido agraciado com a liberdade em 1937, Ernest regressara ao condado de Osage, porém o seu estado de homem livre é efémero, dado que foi novamente capturado em razão de um furto que praticara, motivo por que lhe foi negado o regresso a Oklahoma.

    Por sua vez, em 1947, vinte anos após o encarceramento, William Hale é libertado por causa da sua idade avançada – 72 anos – e pelo comportamento exemplar enquanto detido no cárcere. Quando a Ernest, após conhecer de novo a liberdade, suplica o perdão de Oklahoma e, apesar das inúmeras vozes que se fazem ouvir contra essa possibilidade, o seu apelo é atendido e o homem regressa ao condado de Osage. Após o seu falecimento em 1986, James Burkhart não atende ao último desejo do pai, o de ter as suas cinzas espalhadas pelo condado, descartando-as a partir da ponte.

    Na infância de Margie, a riqueza do petróleo esvai-se e tempos árduos  aproximam-se. No entanto, surgem novas fontes de renda, nomeadamente casinos e reparações financeiras que o governo federal é compelido a restituir à tribo. Guiando o escritor pelas vastidões da pradaria, Margie leva-o até ao local onde Anna foi alvejada. Além disso, a mulher revela a Graan que Mollie e os seus filhos deveriam ter estado na residência de Rita e Bill na fatídica noite em que se deu a explosão, porém uma dor de ouvido de James Cowboy Burkhart, forçou-os a ficar em casa, salvando-os inadvertidamente da morte. Deste modo, o pai de Margie cresceu sabendo que o seu próprio pai havia conspirado conta a sua vida.

Análise das 20.ª e 21.ª partes da crónica 2 de Assassinos da Lua das Flores

    William White, John Ramsey e Bryan Burkhart não são condenados à primeira, mas tal não se deve a falta de provas. De facto, a equipa liderada por White construiu um caso convincente porque sustentado em evidências, nomeadamente a confissão de Ernest, mas a questão a questão racial interfere em todo o processo. Desde o início do julgamento, os agentes receiam que jurados caucasianos não condenem um homem branco por matar uma pessoa nativa americana e, de facto, os seus temores concretizam-se. Com efeito, seja por puro e simples racismo, seja por causa da forte influência de Hale, o primeiro julgamento termina num impasse, com um júri indeciso. A realidade da época era chocante: assassinar uma pessoa não brancanão era considerado um crime muito grave, daí que Ramsey tivesse conseguido assassinar membros da tribo Osage enquanto sob a proteção das consequências e da punição resultantes desse ato. De facto, a surpresa que o homem evidencia a propósito da sua eventual condenação exemplifica a sensação de segurança que ele sentia possuir.

    A presença de Mollie no tribunal pode ter desempenhado um papel importante na imposição de limites ao poder da discriminação e do racismo. Embora não existam testemunhos diretos que possam esclarecer como a mulher se sentiu na ocasião, isto é, enquanto ouvia as evidências apresentadas contra pessoas em quem confiava e amava, Graan observa que ela se envolveu numa teia de silêncio, especialmente quando Ernest, o seu marido, admitiu em tribunal que toda a sua família havia sido morta, deixando-a sozinha, sem ninguém para a confortar ou partilhar do seu sofrimento. Por outro lado, se é verdade que Mollie influenciou os jurados que estavam dispostos a condenar as pessoas que mataram os seus familiares, também não o deixa de ser que a sua postura oferece um poderoso testemunho de como as ações de um indivíduo podem moldar o mundo.

    O desfecho da lamentável história leva White de regresso à prisão. De facto, o ex-agente tinha vivido na penitenciária do condado de Travis enquanto criança e, no final do caso Osage, aceita o cargo de diretor da penitenciária federal de Leavenworth, o que acarreta diversas questões à sua esposa, nomeadamente no que toca ao facto de criar os filhos naquele ambiente, porém o caráter e a determinação do marido parecem afastar esses receios. As suas inúmeras qualidades enquanto investigador adequam-se perfeitamente ao seu novo papel, pois trata todos com respeito e em igualdade, incluindo Hale e Ramsey, que chegam àquela prisão alguns meses após ter iniciado o seu novo cargo enquanto diretor prisional. Grann socorre-se das palavras de ex-presos, segundo os quais White, no papel de diretor, considerava a reabilitação dos prisioneiros o fulcro da sua ação. Embora fosse contrário à pena de morte, cumpria igualmente essa feição da sua atividade profissional, supervisionando execuções conforme exigido pela lei.

    Não obstante ter abandonado o FBI, White continua preocupado com a sorte da equipa de agentes que o assistiu durante as investigações no condado de Osage, procurando que sejam tratados de forma justa e recebam o crédito que merecem. Todavia, esse desejo conflitua com o investimento de Hoover na questão da sua própria reputação, que é descrito pelo autor da obra como um homem que se foi tornando um ditador ao longo das cinco décadas em que foi diretor do FBI. Avarento, ambicioso e calculista, não agradece aos agentes e recusa a White o acesso a materiais que lhe permitiriam escrever uma história dos assassinatos de Osage. Até ao fim da sua vida, White permaneceu um defensor do coletivo, mostrando-se sempre disposto a defender aqueles que eram ignorados e esquecidos, em suma, para aqueles que não tinham voz.

Resumo da 21.ª parte - 2.ª crónica: A casa quente

    Na penitenciária de Leavenworth, entre muros que testemunham segredos e silêncios, a família de White vive nas instalações da prisão, o que deixa a esposa de White bastante incomodada. As instalações estão sobrelotadas e, no calor abrasivo de agosto de 1929, eclode um motim, que o próprio recém-diretor aplaca. Com diligência, ele semeia a esperança de redenção, trabalhando com afinco no sentido de melhorar as condições de vida e oferecer aos presos oportunidades de se reabilitarem. No desempenho da sua função, tem pouco contacto com Hale, que trabalha na fazenda do estabelecimento prisional, e recusa-se apassar informações aos repórteres que continuam a manter interesse no caso. Apesar de julgado, condenado e encarcerado, o prisioneiro nunca admite a participação na onda de crimes, mas afirma ironicamente que tudo o que fez foi uma simples oportunidade de negócio.

    No Condado de Osage, a vida, como um rio após a tempestade, procura o seu curso: as pessoas procuram reconstruir as suas vidas, incluindo Mollie, mulher resiliente que se volta a casar, desta vez com um homem chamado John Cobb e, com a força de uma guerreira, reclama o direito de ser senhora do seu destino financeiro.

    Em 1931, desenrola-se novo drama: membros do gangue Spencer, num ato de desespero, fazem White refém e fogem da prisão. Um detido chamado Boxcar dispara sobre White, atingindo-o no peito, mas o destino, caprichoso, permite que ele sobreviva e, mesmo gravemente ferido, salva a vida dos outros reféns. Os fugitivos são contidos e White decide assumir uma função menos extenuante e perigosa da prisão de La Tuna, no Texas.

    A segunda crónica termina como começou, isto é, com Hoover e o Bureau, afora designado como Federam Bureau of Investigation – FBI. Hoover, ansioso por garantir queo seu nome seja diretamente associado ao sucesso do FBI, tece a sua narrativa e nega a White e aos seus agentes o reconhecimento merecido por toda a investigação a que procederam. Assim, limita-se a redigir um conjunto de notas educadas, mas frias e distantes. Quando White o procura em busca de informações destinadas à escrita de um livro sobre o caso Osage, o diretor do FBI mostra-se pouco cooperante e prestativo. Fred Grove, a pena que se oferece para auxiliar White, escreve uma obra ficcionada sobre os eventos, mas o texto histórico que este planeara nunca é acabado.

    White passa os seus últimos anos no rancho da família no Texas, sobrevivendo a todos os seus irmãos. Despede-se da vida em dezembro de 1971, aos 90 anos, deixando atrás de si um legado de coragem e resiliência.

Resumo da 20.ª parte - 2.ª crónica: Assim Deus o ajude

    Chegados a julho de 1926, o tribunal prepara-se para decidir o destilo de William Hale e Ramsey. As provas, aparentemente inequívocas e esmagadoras, levantam uma questão: será que o júri estará disposto a condenar homens brancos pelos assassinos de nativos americanos?

    O primeiro ato deste drama judicial prende-se com o julgamento de Hale. E chamamos-lhe drama, porque o evento chega a um impasse, o que leva White e os promotores a optarem por uma nova abordagem no que diz respeito às acusações contra Hale e Ramsey, procurando blindar os jurados contra as garras do suborno e as presas das ameaças. Por outro lado, a entrada de Mollie no tribunal assemelha-se a um sussurro do vento que acalma a tempestade, quando Ernest confessa que, além dos dois filhos, ela não possui mais ninguém.

    Para espanto de Hale e Ramsey, o júri, qual coro grego, profere o veredicto de culpados. Os meses passam e Bryan é novamente julgado pelo homicídio de Anna e, desta vez, a justiça marca-o com o ferrete da culpa. Mollie, a testemunha silenciosa desta tragédia, terminado o julgamento, desfaz os laços matrimoniais com Ernest.

    O desfecho de todo o processo deixa J. Edgar Hoover bastante contente e contribuem para tecer a tapeçaria da reputação do Bureau. White, navegando em mares nunca dantes navegados, como diria Luís de Camões, decide abandonar o Bureau e aceita o leme da prisão de Leavenworth, exatamente o presídio que se prepara para acolher dois prisioneiros seus conhecidos: Hale e Ramsey.

sábado, 13 de abril de 2024

Análise de Assassinos da Lua das Flores

 I. Biografia da David Graan


II. Obras de David Graan


III. Resumo da ação


IV. Análise sumário da ação


V. Análise da obra

    1. Primeira crónica - A mulher marcada

        1.1. 1.ª parte: O desaparecimento

            . Resumo

            . Análise

        1.2. 2.ª parte: Um ato de Deus ou do homem?

            . Resumo

            . Análise

        1.3. 3.ª parte: Rei das colinas Osage

            . Resumo

            . Análise

        1.4. 4.ª parte: Reserva subterrânea

            . Resumo

            . Análise

        1.5. 5.ª parte: Os discípulos do Diabo

            . Resumo

            . Análise

        1.6. 6.ª parte: Olmo de um milhão de dólares

            . Resumo

            . Análise

        1.7. 7.ª parte: Esta coisa das trevas

            . Resumo

            . Análise

    2. Segunda crónica - O homem das evidências

        2.1. 8.ª parte: Departamento de virtude fácil

            . Resumo

            . Análise

        2.2. 9.ª parte: Os cowboys disfarçados

            . Resumo

            . Análise

        2.3. 10.ª parte: Eliminando o impossível

            . Resumo

            . Análise

        2.4. 11.ª parte: O terceiro homem

            . Resumo

            . Análise

        2.5. 12.ª parte: Um deserto de espelhos

            . Resumo

            . Análise

        2.6. 13.ª parte: O filho do carrasco

            . Resumo

            . Análise

        2.7. 14.ª parte: Palavras moribundas

            . Resumo

            . Análise

        2.8. 15.ª parte: A face oculta

            . Resumo

            . Análise

        2.9. 16.ª parte: A melhoria da repartição

            . Resumo

            . Análise

        2.10. 17.ª parte: O artista Quick-Draw, o Yegg e o Soup Man

            . Resumo

            . Análise

        2.11. 18.ª parte: A situação do jogo

            . Resumo

            . Análise

        2.12. 19.ª parte: Um traidor do seu próprio sangue

            . Resumo

            . Análise

        2.13. 20.ª parte: Assim Deus o ajude

            . Resumo

            . Análise

        2.14. 21.ª parte: A casa quente

            . Resumo

            . Análise

Análise da 19.ª parte da crónica 2 de Assassinos da Lua das Flores

O ritmo narrativo da seção mediana da obra intensifica-se, desviando-se da investigação — marcada pelos seus inúmeros impasses e arranques ilusórios — em direção ao processo judicial. Tal condensação narrativa salvaguarda a centralidade de Tom White, ainda que figuras como os promotores judiciais assumam, porventura, um papel preponderante na dinâmica subsequente. A representação de White, imune ao racismo endémico daquela era e devotado ao ideal de justiça, é posta à prova quando Ernest, Hale e Ramsey o incriminam, bem como à sua equipa, acusando-os de recorrer à tortura para extrair a sua confissão. O leitor é instigado a questionar tais acusações, contudo, a magnitude da influência de Hale manifesta-se quando um senador dos Estados Unidos por Oklahoma pleiteia a sua exoneração do Bureau. Estas acusações infundadas delineiam, com maior acuidade, o contraste entre o inescrupuloso Hale, disposto a propagar difamações abjetas, e o íntegro White.

    A problemática das jurisdições, que determina os locais onde os julgamentos transcorrerão, reincorpora à narrativa a histórica valoração e subversão da soberania indígena americana. A soberania tribal, essência e razão pela qual as tribos indígenas americanas são denominadas nações, radica no direito ao autogoverno. Embora os Estados Unidos nem sempre tenham honrado este princípio com a devida veemência, tal direito implica que delitos perpetrados em terras tribais sejam julgados em cortes federais, em detrimento das estaduais. Em Assassinos da Lua das Flores, os limites da soberania tribal são delineados à medida que tanto o governo estadunidense quanto o estado de Oklahoma intentam manter sua ascendência sobre a nação Osage.

    As vicissitudes em torno da figura de Ernest são o motor da trama deste capítulo, visto que ele, primeiramente, abjura a sua confissão para, posteriormente, a reafirmar, alterando a sua declaração de inocência para culpa. No capítulo antecedente, Ernest emergira como o elo mais frágil da conspiração — e essa fragilidade coloca-o como o primeiro a ser submetido a julgamento. No entanto, quando o julgamento já está em andamento, Hale logra exercer uma influência indevida sobre o sobrinho, mas, após o óbito do seu filho caçula, algo se altera em Ernest. Ele dispensa o advogado contratado por Hale e reconhece a sua culpabilidade. A mudança do lado da lealdade surpreende, talvez até mesmo Hale, mas revela-se tardia para Mollie, que começa a conceber o inconcebível: a possibilidade de que o esposo almejasse sua morte. Ernest é o único dentre os conspiradores que voluntariamente assume responsabilidade por seus atos, ansiando por confessá-los publicamente. Com tal ato, ele parece experimentar um despertar moral, embora atitudes subsequentes venham a demonstrar as limitações de tal transformação. Não obstante, se uma conspiração se nutre do sigilo e da falsidade, a decisão de confessar em juízo aberto sugere o declínio do seu poder. Considerando a ênfase inicial no papel da imprensa na divulgação dos julgamentos, a confissão de Ernest não se restringe ao tribunal, mas estende-se à nação inteira.

Resumo da 19.ª parte - 2.ª crónica: Um traidor do seu próprio sangue

    A cobertura sensacionalista da imprensa das prisões e do julgamento dos acusados inflama o imaginário dos leitores caucasianos, que se deleitam com episódios que remetem para as narrativas melodramáticas do Oeste americano. Essa cobertura mediática não obstrui a diligência dos Osage na busca por justiça, nem tampouco obscurece a perceção de White acerca da inumerável série de homicídios não elucidados que marcaram o período conhecido como o Reinado do Terror. Com efeito, o líder da investigação, plenamente consciente da corrupção que infesta o sistema judiciário, acata as apreensões do promotor público quanto à impossibilidade de um julgamento imparcial para Hale em instâncias estaduais. O caso Roan emerge como uma via potencial para fazer com que o julgamento transponha o âmbito federal, dado que o homicídio ocorrera numa reserva indígena. A meio dos preparativos para o julgamento, a trama de conspirações persiste, como é demonstrado pelo plano frustrado de assassinar Katherine Cole, testemunha da acusação. Ernest, alvo primordial de Hale, permanece oculto sob a proteção da equipe de White. A despeito das evidências acumuladas, Mollie mantém-se hesitante em acreditar na culpabilidade do marido, Ernest.

    Em março de 1926, o juiz, alinhando-se com a defesa, decreta que o julgamento se desenrole sob a égide do tribunal estadual. O xerife Freas, num gesto de prudência, recaptura Hale e Ramsey, prevenindo assim a sua liberdade condicional enquanto o recurso jurídico percorre os meandros do sistema de justiça. Durante a audiência preliminar subsequente, um dos defensores de Hale proclama Ernest como seu constituinte e manifesta o desejo de entabular diálogo com o mesmo. A despeito dos veementes protestos da parte da promotoria, é permitido a Ernest que conferencie com os seus advogados.

    No alvorecer do dia seguinte, Ernest renega integralmente a sua confissão. À medida que o alicerce da sua argumentação se desmorona, a promotoria opta por submeter Ernest a julgamento em primeiro instância, almejando consolidar a sua posição. Com o início do julgamento no mês de maio, Hale, Ernest e Ramsey declaram unanimemente ter sido submetidos a torturas pelos agentes do Bureau como meio de extrair a sua colaboração e confissão; contudo, tais alegações são prontamente refutadas. A promotoria convoca, então, Kelsie Morrison, cujo depoimento, embora egocêntrico, se revela devastador, implicando Hale, Ramsey e os irmãos Burkhart nos crimes. No decorrer do julgamento, Mollie é assolada pela notícia da enfermidade grave da sua filha mais nova, Anna, que acaba por falecer por causas naturais. O luto da mãe é profundo e avassalador.

    Dias após o infausto passamento da filha, Ernest solicita um encontro com o advogado da acusação, John Leahy. Durante o encontro, declara estar exausto da tessitura de falsidades e roga ao causídico que providencie a representação legal de Flint Moss. Na sessão judicial subsequente, Ernest altera novamente a sua declaração de inocente para culpado, procedimento este desprovido de qualquer expectativa de clemência ou imunidade. Mais do que isso, ele expressa ao tribunal o seu desejo de confessar. O juiz, após certificar-se de que Ernest jamais fora submetido a torturas pelos agentes do Bureau, acolhe a alteração da declaração. No vigésimo primeiro dia do mês de junho do ano de 1926, Ernest é condenado à pena de prisão perpétua, a ser cumprida em regime de trabalhos forçados.

Análise da 18.ª parte da crónica 2 de Assassinos da Lua das Flores

    Este é um capítulo crucial, pois é nele que White desvenda o caso ao penetrar a fachada de Ernest Burkhart. Ironicamente, é uma inverdade que lhe permite tal desenlace. De facto, como é recorrente ao longo da investigação, White e a sua equipa são desviados do caminho da verdade por alguém que apresenta uma confissão falsa. Embora o método da equipa se baseie na distinção entre realidade e ilusão, é uma ilusão que, em última instância, revela a verdade do caso. A declaração de Lawson — de que Ernest lhe solicitou que instalasse o explosivo — concede a White provas suficientes que lhe permitem deter os irmãos Burkhart, Bryan e Ernest, bem como o tio deles. Entre os três, White deduz que Ernest é o mais suscetível a quebrar durante um interrogatório, tendo em conta a sua ligação afetiva a Mollie. É digno de nota que, mesmo estando Ernest implicado na contratação de indivíduos para perpetrar homicídios, ele jamais seja mencionado como um executor. Isso proporciona um vislumbre de esperança a White de que ele possa ser persuadido a revelar a verdade. Para triunfar, um detetive deve ser capaz de investigar não somente os fatos, mas também as psiques.

    O interrogatório de Ernest desvela a imensa influência que o tio exerce sobre o sobrinho. White e Smith conseguem suscitar no homem um sentimento de pesar pelas mortes dos familiares de Mollie, emoções que se esvaecem sempre que a conversa se direciona para William Hale. Claramente, Ernest encontra-se num dilema entre as obrigações para com sua família caucasiana, Bryan e Hale, e a família indígena americana à qual se uniu ao casar-se com Mollie. Os leitores podem ter dificuldade em compreender por que a última é menos preponderante para Ernest do que a primeira — afinal, Mollie é a mãe dos seus filhos —, mas uma observação de um dos asseclas de Hale, John Ramsey, elucida a postura de Ernest. Com efeito,Ramsey aponta que não há grande discrepância entre 1724 e 1924, pois, a despeito do avanço temporal, ainda é fácil para um homem caucasiano assassinar um nativo americano. As premissas sobre barbárie e civilização que nortearam os primeiros colonizadores europeus permanecem vigentes no Condado de Osage. Contudo, Ramsey desumaniza as suas vítimas ao não se lhes referir pelos nomes próprios.

    A decisão de Ernest em colaborar salva a vida de Mollie. Com os direitos de propriedade da família concentrados nela, o passo subsequente dos conspiradores seria o seu assassinato, um desfecho que eles logravam alcançar através da insulina envenenada fornecida pelos Shouns que lhe administravam. Caso ela viesse a falecer, seus filhos herdariam os direitos de propriedade e Ernest, como progenitor, controlaria o capital. Considerando a influência que Hale detinha sobre seu sobrinho, isso significaria, na prática, que ele administraria a fortuna de Mollie. Mesmo que Ernest admita a sua culpa e Mollie comece a recuperar-se assim que é afastada dos cuidados dos Shouns, a dificuldade da mulher em aceitar que o seu esposo poderia estar envolvido em acontecimentos tão macabros demonstra o quão intensas podem ser os sentimentos. Em suma, ao longo do capítulo, a narrativa de Grann explora o modo complexo como a lealdade pessoal molda o comportamento, em escalas variadas.

Resumo da 18.ª parte - 2.ª crónica: A situação do jogo

    Em outubro de 1925, White recebe uma notícia surpreendente e que lhe permite avançar na investigação: Burt Lawson, um sujeito preso na prisão McAlester, afirma possuir informações sobre o caso. Lawson apresenta-se como um ex-funcionário de Bill Smith que abandonou o emprego quando soube que o patrão estava a manter um caso com a sua esposa. Passado aproximadamente um ano, Ernest questionou-o sobre a sua disponibilidade para assassinar Smith. Perante a recusa deste, foi o próprio Hale a procurá-lo, tendo sido confrontado com nova nega. Entretanto, Lawson acabou por ser detido por assassinato, porém, ainda assim, Hale voltou a contactá-lo, prometendo-lhe livrá-lo das acusações. Deste modo, o homem acabou por ser libertado e, na sequência, colocou a bomba em casa dos Smith.

    A 24 de outubro, White telegrafa a Hoover, informando-o de que tinha resolvido o caso. A sua preocupação e da restante equipa centra-se em retirar os irmãos Burkhart e Hale das ruas. A preocupação do agente está centrada especialmente em Mollie, que, entrementes, deixara de frequentar a igreja. Um facto curioso parece estar a afastá-la da morte: enquanto diabética, não pode beber álcool, que costumava ser o meio usado para envenenar as vítimas. No entanto, a insulina usada para manter a doença sob controle não funciona e a mulher fica cada vez mais doente.

    Embora haja pontas soltas na investigação, White não tem tempo a perder e, munido de mandados de prisão, prender os Burkhart e Hale no início de janeiro de 1926. Quando são interrogados, Hale mostra-se confiante e irredutível, o que leva White a concluir que Ernest será o elo mais fraco na cadeia da conspiração. White, Frank Smith e Ernest passam horas numa sala claustrofóbica de interrogatório. Este último por vezes parece demonstrar remorsos, todavia qualquer referência a Hale altera o seu comportamento. Exaustos, os agentes recorrem, em desespero, a Blackie Thompson, o homem que antes havia envergonhado o Bureau, e que agora confessa que Ernest lhe havia pedido para assassinar Bill e Rita. O triunfo de White parece claro, pois conseguiu que ele repetisse a confissão na presença de Ernest. Algumas horas mais tarde, o estratagema revela-se frutuoso: Ernest está pronto para falar.

    Assim, o homem expõe toda a operação, explicando que seguira o tio em todas as decisões e denuncia a mentira de Lawson acerca do seu papel. Como uma fonte ininterrupta, acrescenta que Asa Kirby fora o responsável pela explosão da casa e envolve também John Ramsey no caso Smith e no assassinato de Henry Roan. Quando Ramsey recebe a confissão assinada de Ernest, procura justificar-se, afirmando que Hale ordenara que ele assassinasse, e defende-se suas, dizendo que matar um nativo americano não era mais significativo na década de 1920 do que em 1724. Ernest identifica ainda o informante do escritório, Kelsie Morrison, como o terceiro envolvido no caso de Anna e como o autor do assassinato.

    White envia os seus homens para deter Morrison e para verificar o estado de saúde de Mollie, que se encontra muito doente, mas a sua saúde melhora assim que deixa de ser tratada pelos Shouns. Em entrevistas com os promotores, Mollie tem dificuldades em compreender o envolvimento de Ernest na conspiração, ressaltando que ama o marido. Ao concluir a sua investigação, White descobre mais um detalhe perturbador: Hale tivera um caso com Anna e provavelmente era o pai do filho dela, ainda não nascido. Contudo, nada altera o comportamento calmo e até alegre de Hale. Independentemente das provas, este mantém-se confiante de que sairá imune de toda a situação.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Análise das 15.ª, 16.ª e 17.ª partes da crónica 2 de Assassinos da Lua das Flores

    Nestes três capítulos, assistimos à aproximação gradual de White do cabecilha da conspiração: William Hale. Além disso, parece ter detetado um padrão nos crimes de que foi vítima a família de Mollie. De facto, os assassinatos, aparentemente, parecem ter ocorrido de forma aleatória, contudo White apercebe-se de que a ordem por que eles ocorreram possibilitou a concentração de toda a riqueza na pessoa de Mollie Burkhart. Ora, sucede que esta era casada com o sobrinho de Hale, o que indicia que os crimes tinham sido perpetrados de forma a que este último acabasse por ter acesso a uma enorme fortuna. O facto de Bill ter sobrevivido à explosão não estava no programa e introduziu uma pequena areia na engrenagem, porém não impediu que o padrão se tornasse claro ao olhar do agente. Seja como for, todos estes indícios apontavam igualmente para o envolvimento do marido de Mollie na morte dos familiares da própria esposa. No entanto, uma possível acusação ou julgamento ainda estão bem longe de acontecer, pois o responsável pela investigação carece de provas que lhe permitam tal.

    O decurso da investigação e o envolvimento do seu nome na mesma não passam despercebidos a Hale, no entanto tal não o preocupa, por isso continua a passear-se despreocupadamente pela cidade. Por seu turno, White passe à fase seguinte e tenta encontrar pessoas que estejam dispostas a testemunhar a favor da sua teoria. Apesar de os conspiradores pertencerem à elite da região, na realidade a sua atividade está sempre dependente de uma rede de peixe menos graúdo para consumar os crimes: ladrões, traficantes de droga, contrabandistas, muitos dos quais já não se contam entre o número dos vivos. Curiosamente, White apercebe-se de que há mais nobreza entre os pequenos criminosos do que entre os mentores. De facto, durante a investigação do atentado à bomba a casa dos Smith, descobre que os esbirros de Hale abordaram várias pessoas para o concretizar, todavia estas recusaram-se a colocar a bomba na habitação, especialmente porque não queriam ser associados ao assassinato de uma mulher, ainda por cima quando ela se encontrava entregue aos braços de Morfeu.

    Outro braço da investigação – o da morte de Henry Roan – suporta as conclusões de White, ao mesmo tempo que desvenda outra faceta do crime em torno dos Osage: a fraude relativamente aos seguros. O autor da obra revela o modo como Hale não se poupou a esforços no sentido de se tornar o beneficiário da apólice do seguro de vida de Roan, sendo que assassinar índios parece ter-se tornado uma espécie de jogo para aquele, que chega mesmo a admitir que o seu plano é eliminar este último. Ora, um homem tão ganancioso, determinado e dotado de tamanha desfaçatez que lhe permite confessar ocasionalmente os seus crimes, certamente não se irá deter tão cedo no seu trajeto de violência e crime. Assim sendo, torna-se evidente para White que tem de o parar o mais rápido possível. Nesta fase do processo, por outro lado, o contraste entre White e o seu chefe, J. Edgar Hoover, fica nítido como nunca: este deseja o encerramento do caso para reforçar a sua reputação no seio do Bureau, enquanto aquele quer proteger os Osage e impedir que continuem a ser vítimas do terror e da morte.

quinta-feira, 14 de março de 2024

Resumo da 17.ª parte - 2.ª crónica: O artista Quick-Draw, o Yegg e o Soup Man

    O tempo passa. No outono, encontramos o agente White esforçando-se por assegurar a J. Edgar Hoover que possui provas inequívocas da culpabilidade de William Hale e seus comparsas. Para tal, foi colocado um agente no rancho de Hale, no sentido de assegurar a identificação de evidências. Convém ter presente que a ação de White não só está sob a pressão de Hoover, como também do sofrimento continuado do povo osage. Ambos os aspetos pressionam o líder da investigação, despertando em si um grande sentido de urgência em chegar ao fim e prender os culpados. Além disso, ele está consciente de que a elite do condado tudo fará para proteger Hale, pelo que cabe-lhe fazer o mesmo relativamente à tribo. Neste contexto, destaca-se a ação de Dick Gregg, que decide auxiliar White em troca de uma redução da pena a que foi condenado por roubo. De acordo com o condenado, Hale tentou contratar Spencer e o seu bando de criminosos para assassinar um homem e a sua esposa nativa americana. O crime só não se deu porque o assassino contratado se recusou a matar uma mulher.

    Gregg não está disposto, porém, a correr grandes riscos, pelo que diz a White que procure Curley Johnson, no entanto rapidamente se descobre que o homem faleceu há cerca de um ano. Nada disto demove o agente, que continua a investigar e chega a outro nome: Henry Grammer, que conhecia Hale há vários anos, mas também ele está morto. De Grammer, White chega a Asa Kirby, um especialista em explosivos. Surpresa: morreu em circunstâncias suspeitas que, de algum modo, apontavam para Hale.

    Com todas as possíveis testemunhas mortas, White parece ter chegado a um beco sem saída, quando fica a saber, através de um informante de nome Morrison, que Hale estava a par do estado da investigação e que se pavoneava pela cidade como se fosse intocável e dono do mundo. O desejo de White de o prender é cada vez maior.

Resumo da 16.ª parte - 2.ª crónica: A melhoria da repartição

    Os progressos da investigação são inquestionáveis, todavia escasseia o essencial: evidências que possam levar o caso a tribunal e a obter condenações dos culpados. Além disso, os agentes enfrentam outra montanha: a vasta influência de William Hale e a corrupção que grassa na região, que, certamente, tornariam inviável a sua condenação. Outro problema tem que ver com J. Edgar Hoover e as suas expectativas de resultados rápidos, que levam o agente White a ter especial cuidado na gestão de todo o processo. Ele é um homem meticuloso, preciso e exigente, no entanto a pressão do chefe do Bureau no sentido de lhe serem fornecidos relatórios breves da evolução da investigação geravam pressão extra e uma certa frustração.

Resumo da 15.ª parte - 2.ª crónica: A face oculta

    O agente White e a sua equipa descobrem que William Hale controla o condado de Osage, pelo que focam nele a sua investigação, nomeadamente no que toca ao modo como ele se tornou beneficiário da apólice de seguro de Henry Roan. Os investigadores estão convictos de que aquele fabricou provas e documentos e manipulou os irmãos médicos para obter a apólice para si. Mais, Hale planeou o assassinato de Roan e teve o desplante de carregar o seu caixão durante as exéquias fúnebres, para manter as aparências de ser bom amigo do defunto. A tenacidade de White permitem vislumbrar a existência de um padrão criminoso: a obtenção dos direitos dos mortos. O exemplo dado prende-se com os Burkhart. De facto, após as mortes ocorridas na família, verificou-se uma transferência dos direitos de propriedade para Mollie, os quais seriam, efetivamente, controlados pelo seu tutor e, simultaneamente, marido, isto é, Ernest Burkhart, sobrinho de William Hale. É caso para dizer que está tudo ligado. Ao líder da investigação restam as perguntas a duas questões: Ernest quis casar com Mollie para iniciar a investigação? Seria capaz de encontrar provas que provassem a conspiração?

quarta-feira, 13 de março de 2024

Análise das 13.ª e 14.ª partes da crónica 2 de Assassinos da Lua das Flores

    O autor faz uma pausa na narrativa no momento em que White identifica o principal suspeito, para, através de nova analepse, recuar à sua juventude com o objetivo de esclarecer o modo como se tornou naquele indivíduo «presente». Este passo da obra permite estabelecer um contraste entre o agente e Hale: aquele é um homem atento ao papel que a lei pode desempenhar no controlo das paixões humanas, que está comprometido com a justiça e com a proteção de uma comunidade ameaçada, enquanto este é um sujeito dominado pela ganância e pelo sucesso material, que norteia a sua vida e as suas ações. Por outro lado, esta passagem permite destacar o modo como a natural ambição e a determinação facilmente descambam e cedem à corrupção, processo exemplificado tanto por Hale como por J. Edgar Hoover.

    Porém, como nada é simples, White descobre que a conspiração criminosa não se limita a Hale, antes inclui a maioria, se não a totalidade, das figuras proeminentes da comunidade local, que atacam a tribo osage de forma sistemática, socorrendo-se de diferentes armas, nomeadamente de caráter jurídico, financeiro e até governamental. Estamos, de facto, na presença de um grupo que se alimenta pelo racismo e pela ganância sem limites. Além disso, tem um acesso fácil ao Poder. Todo este caldinho resulta, em última análise, numa luta de classes e de uma impedida de beneficiar da sua riqueza e ascender socialmente, ou simplesmente de a usar para obter benefícios sociais ou políticos. Os Osage são obrigados a pagar preços excessivos pelos produtos que compram ou por aquilo que pedem emprestado. O exemplo mais eloquente é o de um funeral de um membro da tribo, que custa vários milhares de dólares a mais do que o de uma pessoa de pele branca. É verdade que os osage têm na sua posse os headrights, a base da sua riqueza, porém as elites brancas encontram sempre forma de a desviar para a sua posse.

                Regressada a narrativa ao presente da ação, isto é, ao ano de 1925, ela centra-se na figura de William Smith, nomeadamente no conhecimento que possuiria, bem como no modo como a sua morte teve impacto nos acontecimentos. Em simultâneo, o leitor tem acesso à revelação de que os dois irmãos médicos – James e David Shoun – são cúmplices na atividade criminosa, movendo-se pelo egoísmo e pela ambição e não pela defesa da saúde e do bem-estar dos seus pacientes. No caso de Smith, o autor dá conta da forma como ambos agiram nos momentos finais daquele, de modo a apossarem-se dos direitos de Rita. Smith não era um indivíduo de boa índole, pois agredia fisicamente Rita e já tinha sido casado com a irmã desta, Minnie, porém fica claro que não está, de forma nenhuma, envolvido nos crimes. Na verdade, foi o primeiro a suspeitar de que Lizzie talvez também tivesse sido assassinada. Por outro lado, é evidente que a cor da pele das pessoas não condiciona a sua exposição ao assassínio.

    Neste contexto, convém notar que os irmãos fornecem uma informação determinante para o prosseguimento da investigação: admitem que Smith nomeou os seus dois principais inimigos, a saber, William Hale e Ernest Burkhart, seu cunhado.

terça-feira, 12 de março de 2024

Resumo da 14.ª parte - 2.ª crónica: Palavras moribundas

    Em setembro de 1925, White centrou a sua ação na tentativa de determinar aquilo que era do conhecimento de William Smith e que pudesse ter espoletado a sua morte. Deste modo, os agentes interrogam a enfermeira que estava de plantão no hospital no dia em que Smith foi internado e ficaram a saber que a vítima tinha murmurado nomes enquanto dormia, porém ela não teria percebido nenhum. Antes da sua morte, recorda, o homem ter-se-ia encontrado com os irmãos Shoun, dois médios, e com o seu advogado. Estas informações revelam-se muito interessantes, visto que a bala referente ao caso de Anna já havia suscitado suspeitas do agente White sobre os irmãos Shoun, por isso decide questioná-los de novo. Durante esse interrogatório, os dois indivíduos juram que Bill nunca identificou o seu assassino. O advogado de Smith concorda, mas acrescenta que este tinha somente dois inimigos: Ernest, seu irmão, e Hale, o seu tio, informações corroboradas pelos Shoun. Pouco tempo depois, a enfermeira foi convocada à casa de Byran, onde Hale lhe perguntou se Bill Smith já nomeara o seu assassino.

    White descobre, entretanto, que, durante a reunião que manteve no hospital com Bill, James Shoun foi nomeado executor do rico património de Rita. Os Shouns são interrogados pelos promotores sobre a lucidez de Bill no momento em que assinou essa documentação, visto que o agente líder da investigação se apercebe de que a corrupção é um traço característico destes casos. A tutela, apelidada por vezes de «negócio indiano», proporcionou diversas oportunidades para a existência de roubos e apropriações indébitas, esquemas tão ruinosos quanto descarados. Neste contexto, a tribo osage estava plenamente consciente da sua existência, mas pouco podia fazer para os impedir. Mais do que isso, ela estava plenamente consciente de que a riqueza proporcionada pelo território onde habitavam atraía muita gente caucasiana sem escrúpulos, mas com acesso facilitado à burocracia e ao poder.

quinta-feira, 7 de março de 2024

Resumo da 13.ª parte - 2.ª crónica: O filho do carrasco

    Esta parte da obra recorre à analepse para dar conta ao leitor da vida de Tom White. O autor recua até ao momento em que o seu pai, Robert White, se mudou do Tennessee para o Texas no ano de 1870. Posteriormente, quatro anos depois, desposou Maggie, com quem teve cinco filhos e que morreu durante o parto do último, quando Tom, o terceiro da série, contava apenas seis anos.

    Robert, tido por todos como um homem íntegro, foi eleito xerife do condado de Travis, facto que teve várias consequências, desde logo a necessidade de a família passar a viver no interior da prisão do condado, que era um espaço semelhante a uma fortaleza. Outro facto resultante das novas responsabilidades de Robert prendia-se com a exposição à lei a que as crianças eram sujeitas desde tenra idade. Tom recorda que o seu pai tratava de forma semelhante todas as pessoas, independentemente da sua condição social, credo ou etnia. Além disso, lembra-se de episódios que o marcaram para sempre, como a oposição feroz do pai ao linchamento de pessoas, algo que não era estranho à cultura norte-americana do final do século XIX, ou o momento em que aplicou a pena de morte a um indivíduo condenado por estupro, tinha ele doze anos. Estas experiências fizeram com que Tom se opusesse ao que o livro chama “homicídio judicial” e a dilemas morais de vária espécie.

    Quando atingiu a juventude, Tom decidiu juntar-se aos Texas Rangers, juntamente com dois irmãos: Dudley e Doc, enquanto o quarto irmão, Coley, se tornou xerife do condado de Travis, numa espécie de sucessão do pai. Na qualidade de Ranger, Tom conheceu a sua futura esposa, Bessie Patterson. Sucede, porém, que a profissão de xerife não se coadunava com o casamento, pelo que, após a morte de um amigo no exercício da profissão, Tom pediu demissão para se casar com a jovem. Posteriormente, o casal estabeleceu-se em San António e Tom tornou-se detetive ferroviário. Do matrimónio resultaram dois filhos. Em 1917, Tom ingressou no Bureau of Investigation, atraído por uma vida mais ativa e excitante, todavia a morte do seu irmão Dudley em 1918 abalou-o profundamente.

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Análise das 10.ª, 11.ª e 12.ª partes da crónica 2 de Assassinos da Lua das Flores

    A investigação de White opera-se a dois níveis: o da simplificação e o da eliminação. As múltiplas teorias que circulam sobre quem teria cometido os crimes – pessoas de fora ou da região, familiares ou estranhos – criam um caos que dificulta todo o processo. Deste modo, White procura destrinçar o que é importante do que é falso ou irrelevante, concentrando-se nas evidências que existem e procurando outras que possam existir, de modo a, por exemplo, eliminar suspeitos. Neste contexto, a metodologia seguida passa por verificar os alibis apresentados por vários desses suspeitos e por verificar os depoimentos das testemunhas. Nem todo o trabalho de investigação se reveste de glamour.

    Curiosamente ou não, a investigação parece encaminhar-se no sentido de encontrar a explicação para o assassinato de Anna Brown, apontando para o envolvimento de Burkhart. Neste contexto, surge um problema adicional e não fácil de superar: o envolvimento de J. Edgar Hoover, cuja impaciência e pressa de obter resultados interfere e complica a investigação, ao introduzir prioridades conflituantes e exponenciando o caos já existente, porém o caminho delineado por White lentamente produz resultados. Ironicamente, porém, tal só é possível através do contacto expansivo e aparentemente desfocado com potenciais testemunhas, um traça característico de muitos romances policiais, que oscilam entre a luz e as sombras quando procuram recriar a sensação de tempo que a violência estilhaça. Na realidade, uma característica comum a quase todas as histórias policiais é que elas começam após o final da ação, pelo que a função de quem investiga se centra na narração dessa ação já concluída. Deste modo, David Graan socorre-se das convenções deste género literário para tornar os eventos narrados mais vivos para o leitor.

    Por outro lado, as sensações de perigo e incerteza sobre diversas questões surge reforçada nestas seções da obra através da relevação de que White está convencido de que alguém está a passar informações de dentro da investigação para o exterior, nomeadamente para quem está envolvido nos crimes. Assim sendo, o autor aproxima o processo da investigação de White do âmbito da espionagem, mais do que de uma investigação criminal pura e dura, pois ele sente-se comos e estivesse a navegar através de um deserto. A referência a esta natureza desértica e selvagem prende-se, por um lado, com o facto de o condado de Osage ser, frequentemente, associado à noção da fronteira, porém, por outro, afasta-se na ideia de que se trata de uma referência ao ambiente natural daquela área dos EUA, pois constitui uma espécie de metáfora do terreno incerto e perigoso criado pelos criminosos, ansiosos por atrapalhar as investigações e evitar, assim, a descoberta da verdade. Neste passo, Graan coloca o leitor perante a perversão da função de um detetive, concretamente quando lhe dá conta que Pike é um detetive privado contratado por William Hale para investigar a morte de Anna que, afinal, tinha como incumbência forjar provas falsas e proteger Bryan Burkhart. Além disso, expõe a White o seu principal antagonista: William Hale.

Resumo da 12.ª parte - 2.ª crónica: Um deserto de espelhos

    O agente White começa a suspeitar que há um infiltrado dentro da investigação e as suspeitas recaem sobre Kelsie Morrison. Um intermediário de Pike, outro detetive particular, aborda a equipa de White e anuncia que aquele conhece a identidade do terceiro homem que acompanharia Anna e Bryan no veículo onde viajavam em Ralston. Pike é convocado e informa que esse terceiro homem era um jogador local, mas a informação revela-se falsa. Depois desta coberta, os agentes pressionam-no até ele admitir que foi contratado para esconder as ações de Bryan na noite do assassinato de Anna e não para investigar e resolver o caso. Além disso, declara que Ernest esteve presente nas reuniões que manteve com Hale e Bryan e que aquele escondeu todas estas informações de Mollie.

Resumo da 11.ª parte - 2.ª crónica: O terceiro homem

    J. Edgar Hoover mostra-se crescentemente ansioso e impaciente pela resolução do caso e convence-se de que Necia Kenny é uma peça-chave da investigação, o que o leva a interrogá-la duas vezes em Washington, DC, apesar de ela ser mentalmente instável. Durante essas entrevistas, ela afirma que Comstock está envolvido nos crimes, algo que o agente White se mostra incapaz de comprovar.

    No final de julho de 1925, o líder da investigação concentra a sua investigação na figura de Bryan Burkhart e envia alguns agentes ao Texas no sentido de aquilatarem da veracidade da história em torno do seu paradeiro depois de ter levado Anna a casa. Além disso, White investiga um relato segundo o qual Anna foi vista na cidade de Ralston na noite em que desapareceu, por isso envia também agentes para o local. Lá, encontram um casal de idade que afirma ter visto Anna e Bryan a viajarem, juntos, num veículo automóvel. Os esforços dos agentes, após esta preciosa informação, concentram-se na descoberta do trajeto que o casal seguiu depois de passar por Ralston, mas a tarefa revela-se de extrema dificuldade. Para apimentar a situação, várias testemunhas afirmam que, com eles, viajava um segundo homem. Mais tarde, os agentes descobrem que Bryan subornou um vizinho, para que este mantivesse silêncio sobre o facto de ele ter regressado a casa ao amanhecer.

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