Português: Assassinos da Lua das Flores
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sábado, 15 de junho de 2024

Símbolos em Assassinos da Lua das Flores

 
1. Cobertores
 
    Mollie Burkhart costumava usar um cobertor tradicional em volta dos ombros. Embora a maioria dos membros da tribo dos Osage tenha abraçado os estilos e os valores norte-americanos que permearam a sua cultura, o facto de a personagem envergar essa peça de vestuário tradicional da tribo liga-a simbolicamente à herança cultural. Mollie evita a cultura americana de outras formas, como, por exemplo, não mudar o seu longo penteado para algo mais moderno e de acordo com o estilo dos anos 1920. A escola que foi obrigada a frequentar tenta tirar-lhe o cobertor, o que indicia uma intolerância relativamente à tradição e à identidade Osage. No início da obra, quando Mollie escolhe um cobertor que combine com a sua roupa moderna, estamos perante um aspeto que equilibra as culturas osage e norte-americana.

2. Recursos naturais
 
    Os recursos naturais proporcionam aos Osage os meios de sobrevivência, tanto antes da chegada dos colonos europeus, como após o estabelecimento dos Estados Unidos da América. A obra centra-se em três recursos concretos: o búfalo, o petróleo e o vento. Além disso, documenta o modo como os colonos, mais tarde norte-americanos, trabalham para negar aos Osage os legítimos benefícios que a natureza lhes pode proporcionar. A obra detalha pormenorizadamente como os habitantes brancos do estado do Oklahoma empregaram a violência física e a adulteração da Lei para roubar aos nativos norte-americanos os seus direitos naturais, o acesso ao reservatório mineral sob as suas terras, que os tornaram ricos e alvos da ambição desmedida. A inclusão de uma batalha legal sobre moinhos de vento na terceira crónica mostra que, embora os búfalos tenham regressado parcialmente ao território, a batalha do povo Osage para proteger os seus recursos e direitos naturais continua.

3. Tóxicos
 
    O veneno é a arma usada para levar a cabo muitas das mortes misteriosa que atingem os Osage e por uma série de doenças devastadores sem designação. Tal como a vasta conspiração que aterroriza a comunidade tribal, o veneno é difícil de detetar, especialmente quando é administrado gradualmente ao longe de muitas semanas ou meses. O uso de veneno e o facto de qualquer pessoa poder ser a próxima vítima criam um clima de terror entre os Osage.
    Neste contexto, a ironia está bem presente. Por exemplo, no caso de Mollie, o veneno está dissimulado num medicamento – a insulina – que deveria salvar a sua vida. Pelo contrário, quase a mata. Por outro lado, frequentemente, o álcool é o veículo que leva o veneno à vítima pretendida, como sucede no caso da morte de Joe Bates. Esta ligação entre o álcool e o veneno ganha contornos irónicos a partir da associação histórica do álcool com os esforços europeus para enganar as populações nativas relativamente às suas terras e direitos.

Preconceito e racismo em Assassinos da Lua das Flores

    O preconceito e o racismo perpassam toda a obra. As personagens brancas desconsideram a capacidade, e até mesmo a humanidade, dos nativo norte-americanos, o que constitui uma tendência que remonta à fundação da nação. O preconceito interfere na justiça e molda lendas nacionais, como sucede com o mito do Velho Oeste, que se baseia em larga medida na glorificação do massacre rotineiro de «selvagens», os índios.
    O livro também reflete questões como a riqueza e a propriedade, visto que determina o significado de fazer uso de coisas como o dinheiro de forma adequada, bem como pressupostos sobre normas culturais. Porém, o racismo não é a única forma de preconceito que podemos encontrar em Assassinos da Lua Cheia. Por exemplo, há diversas comparações desfavoráveis que são estabelecidas entre agentes profissionais e os homens da lei mais rudes que operam na fronteira. Não só existe discriminação de classe nesta diferença, mas também se baseia em visões preconceituosas dos modos de vida urbanos e rurais. Outra forma de discriminação é a de género, como se pode comprovar pelo facto de as mulheres possuírem menos direitos e privilégios do que os homens.

A corrupção da confiança em Assassinos da Lua das Flores

Os conspiradores manipulam as provas e evidências dos seus crimes e mentem sistematicamente, corroendo, assim, a confiança no sistema e obstaculizando a distinção entre o que é verdade e o que não passa de mera ficção. É esta situação que os Osage têm de enfrentar nos anos 20 do século passado, o que os leva a desconfiar de tudo e de todos, nomeadamente do governo norte-americano, bem como a sentir-se inseguros relativamente aos seus relacionamentos anteriores. Exemplificativa deste quadro é a crença que Mollie deposita em Hale, isto é, de que este é amigo da família e do seu povo, crença essa que advém do facto de ele ter prometido ajudar a encontrar o assassino de Anna. Pura ilusão e falsidade, como sabemos. Hale confronta-se também a questão da confiança e com a distinção entre factos e boatos para conseguir resolver os crimes que vitimam os nativos.
    Note-se, por outro lado, que a conspiração criminosa se torna mais devastadora, porque faz uso da confiança como ferramenta de controlo. Mollie demora a perceber o envolvimento de Ernest nos assassinatos, antes de mais porque o ama e também porque confia nas suas palavras e ações. Mesmo quando as evidências são claras ao apontar para a cumplicidade e a culpabilidade do esposo, Mollie tenta sempre justificar ou desculpar os seus atos. Tal como White necessita de separar os factos da ficção, a figura feminina de que se fala precisa de interiorizar o modo como a confiança que depositou no marido, entre outros, foi usada contra si. Além disso, a terceira parte da obra demonstra como tudo isto tem implicações duradouras na tribo Osage. De facto, os netos e os bisnetos das pessoas assassinadas ainda se sentem inseguros relativamente ao modo como se devem movimentar num mundo que lhes é hostil.

quarta-feira, 12 de junho de 2024

A questão da justiça em Assassinos da Lua das Flores

    Um dos temas fulcrais da obra é a justiça, encarada como um sistema e como um conjunto de valores filosóficos respeitantes ao modo de tratar as pessoas. Uma das primeiras questões que emerge é a certeza de que o povo Osage não foi tratado de forma justa, desde logo porque foi vítima de um racismo encardido que é apresentado como parte do seu relacionamento com o governo dos Estados Unidos e como um traço associado aos assassinatos de que são vítimas. Todo este bolo cria um caldinho que os envolve em desigualdades que os forçam a lutar pelos seus direitos básicos e pela sua dignidade enquanto seres humanos. Embora o sofrimento da tribo constitua um aspeto central na obra, a questão da justiça, ou da sua ausência, é generalizada. O próprio autor observa, de forma profundamente irónica, o problema quando constata que, no início da década de 1920, o Departamento de Justiça norte-americano era conhecido como Departamento da Virtude Fácil, expressão que se refere tanto à imodéstia sexual(o conceito de ser «fácil») quanto à prática de escolher aquilo que é fácil ou conveniente, o que leva, por exemplo, ao encobrimento de escândalos ou fazer vista grossa a uma série de factos e acontecimentos, em detrimento da adoção de princípios como a honestidade e a integridade.
    A secção central da obra foca-se na questão da Justiça, visto que a ação se centra no sistema de justiça criminal, evoluindo da fase da investigação para a acusação e, por último, a punição. Tom White é um homem íntegro que se dedica à busca da verdade, à captura dos criminosos e a levá-los à Justiça. Não é suficiente reunir provas que levem à condenação dos prevaricadores, embora White o consiga em parte, mas é também fundamental saber navegar pelos caminhos intrincados do sistema de justiça, escancarado à manipulação e à corrupção, traços exemplificados pela adulteração do júri e da intimidação de testemunhas da acusação. Deste modo, para que White consiga levar William Hale e os seus acólitos a tribunal, necessita de proteger este da corrupção que caracteriza o sistema. Em simultâneo, tem de combater o racismo para que se faça justiça, pois aquele leva os homens brancos a acreditar que é injusto condenar outra pessoa branca por matar um nativo americano, considerado um ser inferior.
    A ideia de que as pessoas têm valores e aptidões intrínsecas diferentes, ironicamente, faz parte de um modelo de Justiça mais antigo, que vigorou durante séculos e que moldou a política do governo dos EUA relativamente às populações indígenas e que foi usado amplamente para justificar a escravatura, bem como o tratamento desigual de mulheres e de outros grupos. De acordo com esta forma de pensar, era injusto conceder às pessoas direitos e responsabilidades que elas não seriam capazes de gerir. Ora, é precisamente este «princípio» que está base da tutela forçada dos Osage. Tudo isto, em suma, escancara a fragilidade das instituições encarregadas de salvaguardar e proteger os direitos humanos mais básicos.

Análise de Assassinos da Lua das Flores

 I. Biografia da David Graan


II. Obras de David Graan


III. Resumo da ação


IV. Análise sumário da ação


V. Análise da obra

    1. Primeira crónica - A mulher marcada

        1.1. 1.ª parte: O desaparecimento

            . Resumo

            . Análise

        1.2. 2.ª parte: Um ato de Deus ou do homem?

            . Resumo

            . Análise

        1.3. 3.ª parte: Rei das colinas Osage

            . Resumo

            . Análise

        1.4. 4.ª parte: Reserva subterrânea

            . Resumo

            . Análise

        1.5. 5.ª parte: Os discípulos do Diabo

            . Resumo

            . Análise

        1.6. 6.ª parte: Olmo de um milhão de dólares

            . Resumo

            . Análise

        1.7. 7.ª parte: Esta coisa das trevas

            . Resumo

            . Análise

    2. Segunda crónica - O homem das evidências

        2.1. 8.ª parte: Departamento de virtude fácil

            . Resumo

            . Análise

        2.2. 9.ª parte: Os cowboys disfarçados

            . Resumo

            . Análise

        2.3. 10.ª parte: Eliminando o impossível

            . Resumo

            . Análise

        2.4. 11.ª parte: O terceiro homem

            . Resumo

            . Análise

        2.5. 12.ª parte: Um deserto de espelhos

            . Resumo

            . Análise

        2.6. 13.ª parte: O filho do carrasco

            . Resumo

            . Análise

        2.7. 14.ª parte: Palavras moribundas

            . Resumo

            . Análise

        2.8. 15.ª parte: A face oculta

            . Resumo

            . Análise

        2.9. 16.ª parte: A melhoria da repartição

            . Resumo

            . Análise

        2.10. 17.ª parte: O artista Quick-Draw, o Yegg e o Soup Man

            . Resumo

            . Análise

        2.11. 18.ª parte: A situação do jogo

            . Resumo

            . Análise

        2.12. 19.ª parte: Um traidor do seu próprio sangue

            . Resumo

            . Análise

        2.13. 20.ª parte: Assim Deus o ajude

            . Resumo

            . Análise

        2.14. 21.ª parte: A casa quente

            . Resumo

            . Análise

    3. Terceira crónica - O repórter

        3.1. 22.ª parte: Terras fantasmas

            . Resumo

            . Análise

        3.2. 23.ª parte: Um caso não encerrado

            . Resumo

            . Análise

        3.3. 24.ª parte: Dois mundos

            . Resumo

            . Análise

        3.4. 25.ª parte: O manuscrito perdido

            . Resumo

            . Análise

        3.5. 26.ª parte: O sangue grita

            . Resumo

            . Análise


VI. Personagens - Caracterização

    1.ª) Mollie Burkhart

    2.ª) Tom White

    3.ª) William K. Hale

    4.ª) Outras personagens

            a) Da tribo Osage

            b) Ligadas ao Bureau of Investigation

            c) Associadas associadas ao condado de Osage


VII. Temas

    1. A ganância e os ideais americanos

    2. A justiça

    3. A corrupção da confiança

    4. Preconceito e racismo


VIII. Símbolos


sexta-feira, 31 de maio de 2024

A ganância e os ideais norte-americanos em Assassinos da Lua Cheia

    Deste os primórdios dos Estados Unidos, os norte-americanos valorizam histórias que se centram em indivíduos que se fizeram a si mesmos (“self made men”), admirando a sua ambição, tenacidade e a fluidez social que permitiram às pessoas fugir da miséria e alcançar a riqueza. Porém, como Assassinos da Luz Cheia deixa claro, estas qualidades nunca foram inalienáveis e, no caso dos acontecimentos que aborda, deram origem a um sentimento de que era direito do indivíduo cometer assassínios se esses fossem do seu interesse. Além disso, deparamos com uma ganância tóxica que teve consequências mais do que nefastas para os nativos indígenas e outros grupos não europeus. O exemplo mais evidente disto é a figura de William Hale, que sugeriu, após a sua condenação, que o seu comportamento era meramente profissional. A sua infância constitui uma prova da sua ética, mas os mesmos princípios conduziram-no aparentemente a crer que tinha o direito de fazer o que quer que fosse para promover os seus interesses particulares. J. Edgar Hoover evidencia traços semelhantes e as duas personagens possuem aspetos paralelos entre si. De facto, tal como Hale, Hoover começou por ter ambições louváveis, porém, com o tempo, foi-se tornando-o um indivíduo cada vez mais egoísta, acabando por usar a sua posição para cometer uma série de crimes bárbaros. O fim do mandato de Hoover à frente do FBI é brevemente mencionado na obra de Graan, mas as características que os dois homens partilhavam indicam a complexidade do problema.
    Por outro lado, a obra de Graan contém referência a relatos de jornais da época, através dos quais os leitores podem constatar que a crença de que a riqueza dos Osage não era merecida – e, portanto, problemática – era amplamente partilhada. Outra crença construída em torno da tribo é a de que ela não sabe gerir a sua riqueza e que é perdulária, o que sustenta o argumento egoísta a favor dos acordos de tutela. Em toda a tragédia, está presente o ciúme de alguns indivíduos por essa riqueza, bem como o racismo, que alimenta uma ideia supostamente partilhada por todo o país de que é necessário fazer algo para controlar essa riqueza. Nas queixas respeitantes à sorte dos Osage, não é mencionada a forma como foram anteriormente defraudados, nem a pobreza e as dificuldades que suportaram antes de ter sido descoberto nas terras que escolheram para se instalarem e escaparem à ganância do homem branco. Com a história da apropriação de terras no Cherokee Outlet, tal como na história dos Osage, Graan revela como o direito e a ambição desmedida moldaram a relação entre os nativos e os americanos brancos.

Personagens associadas aos acontecimentos do condado de Osage

 William K.Hale
 
    Hale foi o cérebro que esteve por trás de muitos dos assassinatos que vitimaram os Osage. Era um pecuarista popular, cuja história de vida constitui uma estrada da pobreza à riqueza. Apresentava um rosto gentil, o que lhe facilitou ser confiável junto dos Osage; no entanto, como provou a investigação, dirigiu uma rede criminosa dedicada a enganar e a matar o povo Osage por causa dos seus direitos a terras que continham petróleo. Acabou por ser julgado e condenado por ter estado por trás de múltiplos assassinatos e passou duas décadas na prisão.
 
Ernest Burkhart
 
    Ernest era o marido branco de Mollie e sobrinho de William Hale. Nascido no seio de uma família pobre do Texas, veio para Oklahoma para fazer fortuna. Apesar de se casar com Mollie e ter três filhos com ela, participou nas conspirações para matar a família dela, conspirações que incluíram a sua esposa e os seus próprios filhos. Acabou por confessar os seus crimes, aparentemente atormentado pela culpa, mas as décadas passadas atrás das grades não o regeneram.

Bill Smith
 
    Bill Smith era o marido de Rita, que morreu após a explosão da sua casa em 1923. Bill casou-se pela primeira vez com Minnie e, depois de esta ter morrido, desposou a irmã dela. Por vezes, era violento com Rita, mas também estava entre os primeiros a suspeitar que os seus parentes estão a ser assassinados.

Bryan Burkhart
 
    Trata-se do sobrinho de Hale e do irmão mais novo de Ernest. Esteve envolvido no assassinato de Anna Brown e mais tarde fingiu lamentar a sua morte e procurar o seu assassino. Mais tarde, Bryan testemunhou contra Kelsie Morrison para obter imunidade durante o julgamento.
 
Kelsie Morrison

    Kelsie era um contrabandista e traficante de droga com um extenso cadastro criminal. Um importante capanga de Hale, trabalhou como informante para a investigação de Tom White, mas mais tarde descobriu-se que disparou sobre Anna. Grann supõe que ele também possa ter cometido outros assassinatos.

John Ramsey

    Ramsey era um ladrão de vacas, capanga de Hale e sócio de Henry Grammer. Foi responsável pelo assassinato de Henry Roan, e acabou por ser condenado por assassinato em primeiro grau.
 
Asa Kirby

    Asa foi um fora-da-lei com dentes de ouro e sócio de Henry Grammer. Era um especialista em explosivos. Durante uma operação gizada Em por Hale, foi baleado ao assaltar uma joalheria.

W. W. Vaughan

    Vaughan era um ex-promotor que foi assassinado por tentar ajudar os Osage. Justo e decente, Vaughan correu para o leito do seu cliente doente, George Bigheart, mas não antes de fornecer à sua esposa, Rosa, detalhes para o apoio da sua família caso algo acontecesse com ele. Desapareceu do interior de um comboio antes de poder compartilhar o que Bigheart lhe contara. O seu assassinato nunca foi resolvido, mas Grann reúne um caso tardio e convincente contra o guarda-costas de Bigheart, HG Burt.

James Shoun

    Shoun foi o médico que realizou a autópsia de Anna e ex-proprietário da casa destruída de Bill Smith. James e seu irmão David, que eram próximos de Hale, estavam ativamente envolvidos na conspiração contra a tribo Osage, falsificando informações e até administrando veneno. James foi nomeado guardião dos filhos sobreviventes de Bill Smith.

David Shoun

    Este foi o médico que realizou a autópsia de Anna. Tal como o seu irmão James, participou ativamente na conspiração contra os Osage, administrando veneno sob o pretexto de prestar cuidados de saúde. Esteve envolvido na conspiração contra a vida de Mollie e provavelmente de muitos outros, incluindo Bill Smith.

HG Burt

    Burt foi o presidente do Osage County Bank e guardião de vários membros da tribo Osage. As investigações de Grann revelam que Burt foi provavelmente responsável por vários assassinatos, incluindo o de W. W. Vaughan.

Oda Brown

    Oda Brown foi o ex-marido branco de Anna, suspeito de assassinar a sua ex-mulher no início da investigação.

Irvin “Blackie” Thompson

    De ascendência Cherokee, era um gangster conhecido como “Blackie”. Em 1923, foi libertado da prisão para trabalhar disfarçado no Bureau of Investigation, para encontrar os assassinos dos Osage. Ele escapou da vigilância e cometeu outros crimes, para desgosto do Bureau. White interrogou-o em 1925, e ele admitiu que foi abordado por Ernest sobre o assassinato de Bill e Rita.

Al Spencer

    Um gangster notório e violento, também conhecido como Terror Fantasma. Ele se torna uma figura criminosa proeminente no imaginário popular e foi supostamente contatado por Hale para cometer os assassinatos de Bill e Rita Smith. 

Dick Gregg

    Gregg era um jovem assaltante que pertencia ao gangue de Spencer que, enquanto estava preso por roubo, se tornou um informante importante no contexto da investigação de White.

Frank “Jelly” Nash

    “JellY” era um membro do gangue de Spencer e foi um dos condenados que acabou por ser transportado durante o Massacre de Kansas City.

Xerife Harve M. Freas

    Era o xerife do condado de Osage em 1921. Embora tivesse a reputação de ser duro com o crime, Freas também era conhecido por permitir que contrabandistas e jogadores operassem na sua jurisdição.

Scott Mathis
 
    Mathis era o proprietário da Bill Hill Trading Company e empresário local. Foi o gerente financeiro de Anna Brown.

William J. Burns

    Burns foi um detetive particular proeminente, conhecido pela sua predisposição para violar a lei. Os detetives que trabalhavam para si investigaram o assassinato de Anna. Em 1921, foi nomeado diretor do Bureau of Investigation, mas seu mandato corrupto foi breve.

A. W. Comstock

    Comstock era um advogado local e guardião de vários membros da tribo Osage. Ele teve um bulldog inglês branco. Inseriu-se na investigação, mas Necia Kenny acusou-o de estar envolvido na conspiração.

Necia Kenny

    Necia Kenny era uma mulher branca casada com um membro da tribo Osage. Kenny destacou que o advogado A. W. Comstock, guardião de vários osages, provavelmente estava envolvido na conspiração. Apesar do seu histórico de doença mental, Hoover sentiu que podia ter a chave do caso como informante para obter pistas e possivelmente como testemunha.

Curley Johnson

    Curley era um homem que Gregg acreditava ter informações sobre o assassinato dos Smiths.

Sargent Prentiss Freeling

    Freeling foi o advogado de Hale e ex-procurador-geral de Oklahoma.

Jim Springer

    Advogado de John Ramsey, foi contratado por Hale. Springer era um “consertador”, um advogado com influência interna no sistema jurídico.

Burt Lawson

    Lawson foi um prisioneiro da prisão estadual de McAlester, que confessou falsamente ter estado envolvido na conspiração para assassinar Bill e Rita Smith.

George Getty

    Advogado de Minneapolis, alugou o lote 50 no território Osage. O seu filho, Jean Paul Getty, fundará a Getty Oil Company.

Boxcar

    Boxcar foi o preso de Leavenworth que disparou sobre White durante uma tentativa de fuga de prisioneiros da penitenciária.

Clyde Tolson

    Tolson foi o diretor associado do FBI e companheiro de Hoover.

LeRoy Smitherman
 
    Este foi o segundo marido de Hattie Whitehorn. Grann encontra evidências de que o homem pode ter conspirado com Hattie e outra mulher para matar Charles Whitehorn.

JJ Faulkner

    Faulkner foi uma personagem sem escrúpulos, que tentou chantagear Hattie Whitehorn. Grann encontra evidências convincentes de que ele também a tentou envenenar, porém a mulher sobreviveu.

Dennis McAuliffe Jr.

    Editor de jornal que pesquisou a morte da sua avó, Sybil Bolton, publicou um livro de memórias, The Deaths of Sybil Bolton (1994), sobre o caso.

Governador Walton

    Walton foi governador do estado de Oklahoma e acabou por sofrer um impeachment em 1923 por ter abusado do sistema de perdão e aceitado contribuições ilícitas de petróleo.

Horace Burkhart

    Irmão de Ernest e Bryan, era o bom irmão. Horace não esteve envolvido nos crimes.

Ernie Pyle

    Pyle foi um repórter famoso que entrevistou White em 1939.

Fred Grove

    Fred Grove foi um escritor de faroestes que trabalhou com White para escrever um livro sobre o caso Osage.

Personagens ligadas ao Bureau of Investigation e/ou Washington DC

 J. Edgar Hoover
 
    J. Edgar Hoover é o diretor do Bureau of Investigation. Hoover usa o caso Osage para estabelecer a necessidade de uma agência mais poderosa e influente e, através dela, acumula um vasto poder em Washington, DC. Figura enigmática e a quem é difícil agradar, nem sempre apoia os seus agentes, especialmente quando decide que eles pode acarretar uma imagem negativa para si enquanto diretor ou para a agência.
 
Charles Curtis
 
    Estamos na presença de um senador dos EUA, eleito pelo estado do Kansas, com ascendência Osage e Kaw. Hoover teme a sua influência.
 
William B. Pine

    William Pine é outro senador dos EUA, neste caso eleito pelo estado do Oklahoma, defensor do sistema de tutela.
 
JC “Doc” White
 
    JC é o irmão mais novo de Tom. Mais rude e ousado do que o mano mais velho, também havia sido Texas Ranger antes de ingressar no Bureau. Ambos faziam parte de um grupo de agentes conhecido como Cowboys.
 
Harlan Fiske Stone
 
    Harlan Stone é nomeado procurador-geral em 1924 e acaba por selecionar J. Edgar Hoover para dirigir o Bureau, primeiro com caráter temporário e depois permanentemente.
 
John Burger
 
    Burger é um agente que participou na investigação inicial de 1923, tendo sido mantido por White na equipa que tomou conta do caso em 1925.
 
Frank Smith
 
    Frank Smith é um Texas Ranger, incluído na equipa de White. O agente foi ferido no Massacre de Kansas City, mas sobreviveu.
 
John Wren

    Wren é um agente com ascendência nativa americana (Ute) que foi reintegrado como investigador para trabalhar na equipa de White.

John Leahy

    Leahy é promotor no julgamento de Ernest, contratado pelo Conselho Tribal Osage.
 
Flint Moss
 
    Moss é o advogado de Ernest Burkheart.
 
Dudley White
 
    Dudley é o irmão mais velho de Tom, que também acaba por se tornar Ranger. Morreu no cumprimento do dever em 1918.
 
Coley White
 
    É o terceiro irmão de Tom, que se torna xerife do condado de Travis.
 
Bessie Patterson
 
    É a esposa de Tom White.

quinta-feira, 16 de maio de 2024

Personagens da tribo Osage

Anna (Wah-hrah-lum-pah) Marrom
 
    Anna é a irmã mais velha de Mollie, desaparecida em 21 de maio de 1921. Alegre e animada, a jovem é a filha favorita da mãe. Gosta de beber álcool e há rumores de que estaria grávida no momento do seu desaparecimento.


Minnie (Wah-sha-ela) Smith
 

    Minnie é a quarta irmã de Mollie. Apesar de se tratar de uma pessoa bastante jovem e de gozar aparentemente de boa saúde, morre súbita e celeremente de uma doença misteriosa em 1918. Embora as circunstâncias que rodeiam o seu passamento sejam suspeitas, ninguém é acusado de a assassinar. Era casada com Bill Smith.


Rita (Me-se-moie) Smith

    Rita é outra das irmãs de Mollie. Casa-se com William Smith, um homem branco, após a morte de Minnie. O casal acaba por ser assassinado quando a casa que ambos habitam explode em 1923. Estamos na presença de uma mulher inteligente e apaixonada pelo marido, não obstante a violência doméstica de que é vítima, dado que ele a agride ocasionalmente


Lizzie

    Lizzie é a mãe de Anna, Mollie, Minnie e Rita. Suspeita-se que a sua morte prematura em julho de 1921 tenha sido causada por envenenamento.


Ne-kah-e-se-y

    Ne-kah-e-se-y é o pai de Mollie. O homem prefere usar o seu nome Osage, mas os comerciantes locais chamam-no habitualmente Jimmy e é assim que é conhecido localmente. A sua morte ocorreu num tempo anterior ao retratado no livro de David Graan, ainda assim a referência à sua pessoa é importante, visto que se tratava de um membro muito importante e influente no contexto da tribo, conhecido pela seu caráter atencioso e inteligência.

 
James Big Heart

    Big Heart é um importante chefe osage multilíngue. No início da década de 1900, adiara com sucesso o esquema de distribuição do governo dos EUA e depois negociou termos que se revelaram muito mais favoráveis aos membros tribais. É tratado por alguns como “Osage Moses”.


George Big Heart

    George é sobrinho de James Bigheart. Enquanto estava no hospital, em junho de 1923, compartilhou evidências cruciais acerca dos assassinatos com W. W. Vaughan antes de morrer por suspeita de envenenamento.


John Palmer

    John é um jovem advogado que auxilia James Bigheart na negociação de verbas com o governo dos EUA. Filho de uma mulher Sioux e de um comerciante branco, Palmer é criado por uma família Osage e casa-se com uma mulher da tribo.


John Flower

    John Flower é o nativo Osage que descobre petróleo nas terras que pertencem à tribo, mais de uma década antes do acordo de regulação negociado com o governo dos EUA.


Charles Whitehorn
 

    Charles desapareceu em 14 de maio de 1921, uma semana antes de o mesmo suceder com Anna, mais tarde descoberta assassinada. David Grann investiga o crime e sugere que a viúva do homem, Hattie, poderá estar envolvida no seu desaparecimento.


Henry Roan

    Henry é um homem de 40 anos, casado e com dois filhos, assassinado em 1923. Desposou Mollie na juventude numa cerimónia tradicional dos Osage, facto que ambos esconderam quando atingiram o estado de adultez.


Rose Osage

    Rose, como o nome indicia, é uma mulher nativa que terá confessado o assassinato de Anna por tentar seduzir o seu namorado, Joe Allen. Mais tarde, foi inocentada das suspeitas.


William Stepson
                
    Pais de dois filhos, foi assassinado por uma injeção de veneno em fevereiro de 1922.


Bacon Rind

    Bacon foi um chefe Osage na década de 1920 que lamentou a ironia de que os colonos brancos terem expulsado os Osage para as terras aparentemente mais pobres e indesejadas dos emergentes Estados Unidos, porém terem ficado extremamente interessados nelas quando perceberam o quão valiosas eram.


Katherine Cole

    Estamos na presença de uma mulher Osage e ex-eposa de Kelsie Morrison. Ela concorda em testemunhar pela acusação e quase morre em virtude de tal. Felizmente para si, o assassino decide não disparar sobre ela no último segundo.


John Cobb

    John é o segundo marido de Mollie, depois de terminado o enlace com Ernest. Parte Creek e parte branco, ele e Mollie mantiveram um relacionamento amoroso que redundou em casamento em 1928.


Kathryn Red Corn


    Kathryn é a diretora do Museu da Nação Osage. Trata-se de uma mulher mais velha e culta, cuja família recebeu um headright em 1906.


Margie Burkhart

    Margie é neta de Mollie e Ernest e está casada com um membro da Creek Seminole Nation. Desempenhou um papel de uma personagem não dançante no balé que representou o Reinado do Terror.


Martha Vaughan

    Martha é neta de W. W. Vaughan e auxiliou o autor da obra a conhecer detalhes da vida e da morte do seu avô.


Melville Vaughan

    Melville é primo de Martha Vaughan. Tem um conhecimento apreciável sobre a vida do avô, que acaba por partilhar com David Graan.

 
Hlu-ah-to-me


    Hlu é um membro do julgamento Osage, que morre de tuberculose quando o seu tutor lhe nega acesso a cuidados médicos.


Eves Tall Chief


    Eves morre também em circunstâncias misteriosas, tendo sido a bebida apontada como a causa da sua morte, o que é posto em causa por múltiplas testemunhas, que afirmaram que o homem não bebia.


Maria Elkins

    Maria é uma figura trágica, como tantas outras, neste caso por ser torturada pelo marido, tortura a que, no entanto, consegue sobreviver.


Sybil Bolton
 
    Sybil é uma bela jovem que morre com um ferimento de bala nopeito.


Marvin Stepson


    Marvin é o neto de William Stepson, que compartilha igualmente informações com Grann.


Mary Jo Webb

    Mary é uma professora aposentada, ansiosa para saber o que aconteceu com o seu avô, Paul Peace, falecido em 1927, por isso pede a Grann que investigue o caso.


Wah'Kon-Tah

Wah é a força vital que envolve tudo e todos no sistema de crenças Osage.

terça-feira, 7 de maio de 2024

Caracterização de William Hale

    William Hale é um criador de gado que está por trás de muitos dos assassinatos ocorridos no seio dos Osage. Trata-se de um homem que evolui da pobreza para a riqueza e que, com o seu rosto gentil, consegue ganhar a confiança da tribo, no entanto, como a investigação liderada por White demonstrará, dirige uma rede criminosa dedicada a enganar, roubar e assassinar o povo nativo. Por causa destes crimes, acaba por ser julgado e condenado por assassínio, passando duas décadas preso.
    Aparentemente, William Hale encarna os ideais americanos tradicionais. De facto, através do trabalho árduo e da sua determinação, sai da pobreza até chegar a uma posição de destaque na região. No início da sua carreira, sofre um revés que o poderia ter levado a desistir (o fracasso do primeiro empreendimento), porém a sua determinação e persistência conduzem-no ao sucesso. Ascende socialmente, casa com uma professora, de quem uma filha que lhe é profundamente devota. Por outro lado, é bastante generoso com a sua família, ajudando, por exemplo, os sobrinhos, Ernest e Bryan, e apoiando, aparentemente, os Osage. Por exemplo, quando Anna Brown é assassinada, promete ajudar Mollie a resolver o crime e chega mesmo a contratar detetives privados para o investigarem.
    Contudo, tudo isto não passa de uma monumental fachada para encobrir a sua atividade criminosa, no sentido de usufruir da riqueza dos Osage, através do mero roubo, da manipulação e do assassinato, em última análise. Hale faz acordos com um contrabandista local para envenenar bebidas alcoólicas, uma das formas preferenciais para assassinar pessoas. Anna Brown, com quem poderia ter tido um relacionamento amoroso, foi morta por ordem sua. Assim sendo, a promessa feita a Mollie e a contratação de detetives privados para investigar esse crime evidenciam todo o seu cinismo e maquiavelismo. Além disso, tenta encontrar repetidamente alguém disposto a fazer explodir a casa de Rita e Bill Smith. Outro exemplo: Henry Roan crê que Hale é o seu melhor amigo, porém este planeja cuidadosamente a sua morte, para, tal como sucede com os outros assassinatos, lucrar com ela. Todos estas casos demonstram que é um homem violento e cruel, em suma, um indivíduo mau. A confirmar estes dados, já depois de preso, Hale escreve uma carta aos Osage, na qual se afirma grande amigo da tribo, uma mentira macabra.
    Ocasionalmente, William Hale é chamado «Rei» do Condado de Osage, um epíteto que releva outro traço do seu caráter: não tem qualquer compromisso real com os princípios da justiça e da democracia. Quando é preso, mostra-se arrogante e confiante na sua não condenação. Graças à sua vastíssima rede de influência pessoal, está convicto de que não será condenado. Aparentemente, tem razão, pois o seu primeiro julgamento resulta num impasse. O seu longo braço chega até ao Senado dos Estados Unidos: o senador William Pine, do estado do Oklahoma, pressiona o Bureau of Investigation para despedir White e a sua equipa, sob a acusação falsa de terem torturados os réus durante os interrogatórios. Por tudo isto, a surpresa de Hale é enorme quando é considerado culpado e condenado, pois os jurados ficam convencidos pelo depoimento de Ernest. Porém, isto não significa que a sua influência tenha terminado: ele pode ter sido punido por todos os seus crimes, porém os Osage continuam a sentir na pele os efeitos nefastos e persistentes das suas ações. De facto, no museu tribal, a figura de Hale foi recortada de uma imagem da época. Com efeito, tinha ficado no centro da mesma e foi removido porque, para os nativos americanos, se trata da encarnação do Mal.

domingo, 28 de abril de 2024

Caracterização de Tom White

    Tom White é o agente responsável pela investigação respeitante aos Osage e, posteriormente, o diretor da penitenciária de Leavenworth. Um investigador cuidadoso e um diretor corajoso e determinado, White é o protagonista da obra e a sua bússola ética, mesmo que a investigação que lidera deixe muitas mortes por solucionar.
    O modo como Graan descreve White aproxima-o da figura de um pistoleiro do Antigo Oeste, um homem do passado. Ele mesmo parece ter consciência disso e é por essa razão que se junta ao Bureau of Investigation em 1917. O romance do Velho Oeste, muitas vezes associado ao caso Osage, é pouco apelativo para o agente, que sabe que a realidade difere imenso dos mitos. Criado no Texas juntamente com três irmãos, o seu pai era o xerife do condado de Travis e, como a família morava nas instalações que compreendiam a prisão, Tom cresceu fazendo perguntas sobre a justiça. Desde bastante jovem, acreditava que a pena capital era um homicídio judicial, o que revela desde logo muito do seu caráter.
    Face ao que foi exposto, é fácil concluir que White não corresponde à imagem de agente ideal do Bureau, porém estamos na presença de um investigador cuidadoso e persistente. Na década de 1920, os agentes não tinham autorização de porte de arma, todavia, familiarizado com os perigos típicos dos condados rurais remotos, White ignorava regularmente essa proibição, não obstante preferir evitar empregar a violência. Do progenitor herdou a noção de que era importante tratar as pessoas com igualdade, o que coloca em prática durante a investigação que lidera, desde logo selecionando uma equipa que inclui um agente nativo americano e trabalhando diligentemente para resolver o caso. Além disso, dá instruções à sua equipa para destrinçar os factos da ficção e procurar evidências que possam sustentar acusações e levar a condenações efetivas. A sua tenacidade e determinação acabam por produzir resultados. Outro traço relevante que mostra o seu caráter é o facto de não ceder ao suborno ou a qualquer forma de corrupção. É um homem íntegro, honesto, sério.
    Estas qualidades acompanham-no quando deixa o Bureau e se torna diretor de prisão, primeiro em Leavenworth, uma penitenciária federal, e depois em La Tuna, no Texas. A atestá-lo estão os depoimentos de presidiários, que o recordam como um homem que procurava o melhor nas pessoas, incluindo os criminosos mais empedernidos, buscando sempre a sua reabilitação e redenção. Isto não significa, porém, que se tratava de um homem mole ou brando: a sua coragem e a sua bravura levaram-no a acalmar sozinho um motim na prisão e, com prejuízo para si mesmo, salvou vários reféns durante uma fuga da penitenciária.
    Além disso, apesar do seu comportamento heroico em diversas situações, não era narcisista ou egocêntrico, evitando chamar a atenção para a sua pessoa. Também não passava informações sobre os presos para a imprensa e empenhou-se em dar destaque aos agentes que trabalharam consigo no caso dos Osage. Quando se deu conta de que os Estados Unidos estavam a esquecer a provação a que a tribo nativa tinha sido sujeita, procurou escrever um livro sobre o problema, no entanto viu-se confrontado com a falta de colaboração de J. Edgar Hoover, que, ao contrário de White, tinha um ego bastante inflado e desejava que a atenção ficasse centrada na própria pessoa ou na agência, por isso não lhe forneceu qualquer material, pelo que a obra ficou na gaveta.

sábado, 27 de abril de 2024

Análise das 24.ª, 25.ª e 26.ª partes da crónica 3 de Assassinos da Lua das Flores

    Estes três capítulos, chamemos-lhes assim, estabelecem que a arte da dança – primeiro uma peça tradicional e depois ballet – é um elemento fundamental da cultura osage, algo que já partilharam com o mundo, visto que duas irmãs nativas, Maria e Marjorie Tallchief, foram bailarinas excecionais. De facto, Maria, nascida em 1925, tornou-se a primeira bailarina da Ópera de Paris, bem como a primeira bailarina norte-americana a alcançar o estatuto de estrela internacional, destacando-se pelo seu desempenho excecional em papéis principais de balés clássicos como O Lago dos Cisnes e o Quebra-Nozes. Além disso, foi uma das fundadoras e principal bailarina do New York City Ballet, onde trabalhou de perto com o coreógrafo George Balanchine, que foi seu esposo durante alguns anos.
    Uma das temáticas centrais do final da obra de Graan é a questão de como viver entre culturas, que molda a experiência vivida pelo povo Osage no século XXI, que continua a lutar contra os efeitos do trauma histórico e contra sentimentos de alienação. Ao longo das décadas, a tribo sofreram diversas perdas sobretudo por causa da migração forçada e da destruição de práticas tradicionais, através da eliminação das manadas de búfalos que viviam nas planícies centrais, os desafios contemporâneos pelos Osage são, simultaneamente, semelhantes e diferentes dos que os seus antepassados enfrentaram. Com efeito, atualmente continuam a ter de lutar para proteger e assegurar os seus direitos, como é exemplificado pela ação judicial que colocam à Enel, uma empresa italiana do ramo energético que é acusada de violar a sua soberania tribal, bem como pela ação contra o governo norte-americano, tendente ao ressarcimento dos danos sofridos pelo povo. Profundas mudanças culturais, englobando regulamentação atinente à extração de petróleo, bem como a migração, têm vindo a esvaziar cidades anteriormente prósperas. No entanto, como uma mulher idosa Osage proclama nas derradeiras páginas do livro de Graan, alguns osage continuam ligados à sua terra porque, saturada com o sangue dos seus antepassados, ela ainda grita por justiça.
    Obter justiça para todas as vítimas é impossível, pois o tempo, no seu imparável curso, eliminou evidências e ocultou conexões, desde logo em razão do falecimento de descendentes de testemunhas e criminosos. O autor, afirma nas páginas finais, que a história é implacável, mas também falível, pois depende do ser humano para a construção do seu conteúdo e para a sua continuação. Se anteriormente os assassinatos tinham sido amplamente conhecidos, em pleno século XXI estavam praticamente esquecidos ou perdidos graças à indiferença ou ao preconceito racial, ou simplesmente abafados pela erupção de outros acontecimentos, tidos como mais importantes. Assim sendo, é necessária vigilância para manter a história viva e permitir que ela faça o seu trabalho.
    Outro dos motivos que impede a obtenção de justiça plena pelos crimes cometidos há um século é o desconhecimento do número real de assassinatos. Embora o período do Reinado do Terror tenha sido circunscrito à década de 1920, Graan descobre que há outros crimes, ocorridos na anterior e na subsequente, que se enquadram no padrão dos anos 20. A contagem oficial de vítimas – vinte e quatro – está inequivocamente errada e, muito provavelmente, representa apenas uma pequena percentagem do número real de pessoas mortas, ou deixadas morrer, durante esse período de crime organizado e sistemático. Assim sendo, a figura de William Hale pode ser vista como a vilã central do livro, porém o leitor tem de tomar consciência de que ele é apenas um dos muitos assassinos. Dos outros, alguns eram maridos e esposas que envenenaram lentamente os seus cônjuges ou companheiros; outros eram tutores que negavam cuidados médicos aos doentes. A ambição desmedida que norteou as ações de Hale enquanto orquestrava uma vastíssima conspiração motivou igualmente outras pessoas, cujos crimes talvez não tenham sido tão bem delineados, mas não foram menos letais. A terra do Condado de Osage pode continuar a clamar por justiça e reparação, no entanto o livro conclui tristemente que é improvável que receba uma resposta adequada.

Caracterização de Mollie (Wah-kon-tah-he-um-pah) Burkhart

    Mollie Burkhart é um membro da nação Osage, nascida em 1886. Ela é uma de quatro irmãs e é mãe de três filhos (James ou Cowboy, Elisabeth e Anna) e dona de uma grande fortuna, obtida graças aos direitos sobre terras no Condado de Osage, situado no estado norte-americano do Oklahoma. Embora nativa, é casada com um homem branco – Ernest Burkhart – e fala inglês. Quieta, paciente, mas determinada a bter justiça para as suas irmãs assassinadas, Mollie é uma personagem central da história da sua tribo e do livro de David Graan. Depois do julgamento, divorcia-se de Ernest e casa novamente com James Cobb. Morre de causas naturais em 1937, aos 51 anos.
    De facto, Mollie Burkhart é a protagonista da narrativa sobre os assassinatos de que foi vítima a sua tribo, desde logo porque consegue sobreviver à onda de mortes e porque está diretamente conectada com as vítimas e os vilões da história. Não obstante, não são muitas as informações conhecidas sobre a mulher. Quando Tom White assume a direção do caso, fica surpreendido por os agentes que o antecederam na investigação não tenham interrogado mais profundamente Mollie, visto que muitos dos seus parentes tinham sido vítimas do Reinado do Terror. O silêncio a que ela se submete parece constituir um reflexo do estereótipo do índio norte-americano, porém, na realidade, ele decorre essencialmente dos preconceitos de género e de raça que vigoravam na época. Seja como for, a imagem que se desprende de Mollie é a de uma mulher comprometida com a sua família e as suas tradições culturais. A sua determinação em conseguir justiça para os seus familiares não é mais do que uma extensão desse comprometimento.
    Como foi referido anteriormente, Mollie nasceu em 1886, bem antes do enriquecimento dos Osage, e foi criada de modo tradicional e de acordo com os costumes da sua tribo, até atingir a idade adulta, apesar de ter frequentado durante algum tempo a escola, o que lhe permitiu aprender os costumes norte-americanos e falar inglês. Apesar desse contacto com uma cultura exterior, Molly espera casar-se de acordo com a tradição da sua tribo e tem mesmo um breve casamento juvenil com Henry Roan, porém apaixona-se por Ernest e acaba por desposá-lo, seguindo os seus sentimentos, resultando desse matrimónio três filhos, que ama profundamente. Evidência desse amor é o facto de mandar embora a filha mais nova para o proteger, quando membros da sua família começam a morrer repentinamente e de forma suspeita.
    A imagem com que ficamos de Mollie é a de uma mulher compassiva, carinhosa e atenciosa. Confirmando esta visão, no final do livro de Graan, a sua neta, Margie, compartilha uma lembrança que o seu pai conservava da sua mãe tratando dela quando estava com dores de ouvido. Mesmo tendo consciência de que não é a filha predileta da mãe, Mollie cuida de Lizzie. Outro facto curioso prende-se com o gosto de dar festas que possui, nunca despendendo, todavia, grandes somas de dinheiro para tal, incluindo a receção de parentes do seu marido claramente racistas.
    O amor pelo marido leva-a a não acreditar, de início, nas acusações que o levam a tribunal. De facto, ela continua comprometida com o esposo, mesmo após a sua prisão por conspirar contra a própria família. Num dos poucos momentos em que Mollie se faz ouvir, ela expressa a sua determinação de que os culpados sejam punidos, bem como a convicção profunda de que Ernest não é um deles. Assim, escreve breves cartas consoladoras ao esposo na prisão, porém a sua atitude muda radicalmente quando ele confessa a sua culpa nos crimes. Deste modo, no momento em que é levado após ouvir a sentença, a expressão da mulher é descrita como «fria».
    A vida de Mollie descrita ao longo do livro é marcada pelo sofrimento e pela dor, culminando no momento em que ganha consciência de que o marido é um criminoso que atentou contra membros da sua própria família, contudo, no final, ganha contornos de felicidade, já que se volta a apaixonar e se casa. Além disso, consegue que a sua guardianship seja removido. Quando encontra a morte, em 1937, está livre por completo da teia da conspiração.

Resumo da 26.ª parte - 3.ª crónica: O sangue grita

    David Graan regressa aos Arquivos Nacionais, onde pesquisa os tutores para descobrir quantos tutorados foram listados como falecidos, descobrindo números que o deixam chocado, sobretudo porque a maioria das mortes nunca foi investigada. Mesmo que algumas dessas pessoas tenham encontrado a morte de forma natural, o escritor vislumbra ali o padrão do assassinato generalizado. Caso após caso, um tutorado morre abruptamente, o que permite ao seu tutor branco reclamar a sua fortuna.
    Deste modo, o número oficial de vítimas do período do Reinado do Terror pode cifrar-se nas 24, todavia, de acordo com a pesquisa de Graan acerca dos tutorados que morreram durante essa época, o real supera largamente essa quantia. À mesma conclusão chegam outros investigadores, como William Stepson e Dennis McAuliffe Jr.
    A última pessoa a ser visitada por Graan é Mary Jo Webb, que mantém a esperança de descobri o que sucedeu ao seu avô, Paul Peace, o qual suspeitava estar a ser envenenado pela sua segunda esposa, uma mulher branca. Embora o homem consiga escapar às garras da mulher, acaba por ser atropelado por um carro e morrer. O escritor promete ajudá-la, e o livro termina com uma citação dela de um trecho do Génesis: a terra grita com o sangue derramado sobre si.

Resumo da 25.ª parte - 3.ª crónica: O manuscrito perdido

    Em 2015, os Osage processaram uma empresa energética italiana por violar os termos do Ato de Alocação de 1906 com as suas turbinas eólicas, pondo a nu o facto de as mudanças ocorridas, sobretudo no início do século XXI, no campo da indústria energética terem afetado profundamente a tribo. Graan vira o foco deste capítulo da sua obra para um manuscrito intitulado O Assassinato de Mary DeNora-Bellieu-Lewis, compilado pela sua neta, Mary Lewis,e que reúne diversas informações sobre a vida e o desaparecimento da mulher em 1918. O seu corpo foi descoberto em 1919, tendo um dos seus companheiros masculinos confessado tê-la assassinado com um martelo, de modo a apossar-se dos pagamentos referentes aos direitos de terra da mulher. Depois de conhecer este novo crime, Graan conclui que, se as datas tradicionalmente associadas ao Reino do terror fossem alteradas de forma a incluir as mortes de Mary Lewis, ocorrida em 1918, e a do avô de Red Corn, em 1931, o número de Osage mortos atingiria cifras bem mais assustadoras do que as oficiais.

Resumo da 24.ª parte - 3.ª crónica: Dois mundos

    Em 2013, David Graan assistiu a uma representação de Wahzhazhe, uma dança típica dos Osage que compreende uma história na nação nativa, incluindo o Reino do Terror, e enfatiza a dificuldade de viver entre dois mundos e duas culturas. Após a encenação, Graan encontrou-se com Red Corn, que o convidou a visitar o museu da tribo, no qual tomou contacto com uma carta que William Hale escreveu a partir da prisão, explicando aos Osage como ele era seu amigo. Além disso, a mulher conta também ao escritor que o seu avô morreu abruptamente em 1931 e que, antes disso, o homem tinha confessa a diversas pessoas que estava a ser envenenado pela sua segunda esposa, uma mulher branca. Red Corn acrescenta que o número de vítimas mortais do Reinado do Terror foi muito superior ao reconhecido oficialmente.
    Convém também ter sempre presente que diversas mortes não foram solucionadas. O próprio escritor estava plenamente ciente disso e decidiu investigar a de Charles Whitehorn. Apesar de a equipa de White se ter debruçado sobre a mesma, nunca ninguém foi acusado do crime, por isso manteve-se sem solução. Quando Graan se debruça sobre o caso, constata, com estupefação, que havia dados suficientes para o resolver. Com efeito, a esposa de Whitehorn, Hattie, casou-se novamente com um homem de seu nome LeRoy Smitherman, algo que os detetives acreditavam ser uma manobra para ter acesso aos bens de Charles. Aparentemente, Hattie e Smitherman planearam o crime com o auxílio de uma outra mulher, Minnie Savage. Posteriormente, Smitherman abandonou Hattie, que caiu nas garras de J. J. Faulkner, que a chantageou, acabando a mulher por ficar bastante doente e só se salvou da morte certa graças à ajuda das irmãs, que a subtraíram aos cuidados de Faulkner.

Análise das 22.ª e 23.ª partes da crónica 3 de Assassinos da Lua das Flores

    A terceira secção, ou crónica, da obra situa-se no século XXI, coincidente com o momento da investigação do seu autor. Assim sendo, a narrativa história termina e destaca-se a investigação jjornalística de Graan que levou à escrita do livro. Por outro lado, a pessoa narrativa também muda, pois agora o texto é narrado na primeira, de modo a que o escritor compartilhe com o leitor as suas conversas com membros contemporâneos da tribo Osage, bem como a sua investigação nos Arquivos Nacionais em buscas de pistas e evidências que permitam solucionar os assassinatos. Neste ponto, há uma diferença entre a postura adotada por Graan e por White, dado que este, quando tentou, sem sucesso, escrever uma obra sobre o assunto, nunca quis colocar a sua pessoa debaixo dos holofotes, pois considerava não ser o foco da história, ao contrário do primeiro, que assume o papel central na terceira parte do seu texto, nomeadamente ao dar conta do seu trabalho exaustivo em busca de elementos e dados históricos que fornecessem respostas para o que se passou cerca de um século antes.
    Outro aspeto relevante da terceira crónica prende-se com o facto de David Graan dar grande enfoque à cultura da tribo. De facto, ele visita o seu museu, onde contacta com a história ancestral, e participa numa dança tradicional, que atrai membros que vivem longe. O tempo introduziu mudanças nos costumes e cultura dos Osage, como, por exemplo, no I’n-Lon-Schka ou nas danças cerimoniais (que, agora, incluem figuras femininas), porém há elementos que se mantêm, como passos estabelecidos, trajes e tambores, permitindo assim uma simbiose cultural entre o passado e o presente. Ao compartilharem essas experiências enquanto comunidade tribal, os Osage tecem laços duradouros entre si, mesmo que as suas vidas os obriguem a viver em locais díspares e afastados da terra mãe. Muitos dos locais onde os seus ascendentes viveram na década de vinte do século anterior e onde tiveram lugar os crimes estão agora abandonados, o que enfatiza a necessidade de serem desenvolvidos esforços no sentido de o património da tribo ser protegido e conservado, para que não desapareça também. Trata-se de manter uma memória e uma herança cultural.
    Tal como sucede em muitas obras de cariz policial, há em Assassinos da Lua das Flores um protagonista e o seu antagonista, concretamente Tom White e William Hale, porém David Graan parece ter encontrado também o seu: H. G. Burt, o presidente do banco, que tinha estado fora do radar durante a investigação conduzida pelo Bureau na década de 1920, apesar de haver evidências do seu possível ou até provável envolvimento na trama. Deste modo, Graan conclui que Burt terá trabalhado ativamente contra os Osage durante todo o decénio, o que é enfatizado pelo facto de terem sido registados crimes não solucionados que ocorreram após a prisão de Hale, portanto houve outros criminosos que prosseguiram a sua atividade e permaneceram impunes. Tal como William Hale, o presidente do banco era um homem que se via como intocável, porém, ao contrário daquele, essa ilusão parece nunca ter sido beliscada. Na qualidade de diretor da instituição bancárias, usou instituições financeiros contra os nativos, frequentemente como um mero agiota. Por outro lado, a mudança de foco para Burt chama a atenção do leitor para outras vítimas que não as focadas nas duas primeiras partes, como, por exemplo, George Bigheart ou W. W. Vaughan, o que permite entender a vastidão de vítimas atingidas na época.
    Outro dado interessante consiste na consciência de que, quando consideramos as vítimas, não podemos limitá-las à época do Reinado do Terror, pois os netos e bisnetos dos que o viveram na carne também sofrem são afetados pelo que aconteceu então. De facto, há nos descendentes um sentimento de desconfiança ou de insegurança que advém do que aconteceu com os seus familiares décadas antes. Por outro lado, os diálogos encetados por Graan permitem-lhe acessar a memórias profundas, como as de Mollie e Ernest Burkhart. De facto, a neta de ambos, Margie, compartilha com o escritor as memórias carinhosas dos seus progenitores, nomeadamente o modo como a mãe acalmava ternamente quando a filha sofria dor de ouvidos. As lembranças do pai eram, todavia, menos calorosas. Depois de ter sido libertado da prisão, Ernest lutou para regressar ao Condado de Osage, o que causou nova grande dor à sua família. Tal como sucedeu com Hale, o indivíduo parecia não compreender os danos que tinha causado e procurou imiscuir-se na sociedade como se tivesse um direito inquestionável a tal. Deste modo, Ernest exemplifica o modo como os brancos sentiam ter uma espécie de direitos adquiridos, os quais faziam parte da motivação que esteve na génese dos crimes e permaneciam vivos mesmo após os anos passados atrás das grades. Parecendo compreender todos estes factos, o filho de Ernest, Cowboy, desrespeita o último pedido do pai, no sentido de espalhar as suas cinzas no Condado de Osage, optando por as atirar, ainda dentro da urna, de uma ponte, para serem levadas e esquecidas.

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