▪ No território encostado à fronteira
líquida do Oeste Atlântico, existiu, em tempos e espaços diferentes, uma
unidade administrativa e política. A mais duradoura e a que mais influenciou o etnos,
a língua, lo desenho das estradas, a estrutura das cidades, a articulação da
via marítima da costa foi a Lusitânia romana. Durante muitos séculos, marcou a
realidade política e social; uniu o território desde a margem esquerda do Douro
ao mar do Algarve e engordou um pouco na fronteira leste. Mérida era a cabeça
regional e política.
▪ A
ocidente, o reino suevo constituiu uma segunda construção política. A sua
capital era a Braga romana, envolveu a Galiza e, durante um século, o
território português até ao Mondego.
▪ A
terceira construção política, efémera, ocorreu com o estabelecimento do Reino e
Condado da Galiza. Surgiu pela primeira vez com Ordonho de Leão no início do
século X e tinha Viseu como uma das capitais. Anos mais tarde, o conde Raimundo
de Borgonha, casado com D. Urraca, filha de Afonso VI e futura rainha de Leão e
Castela, manteria esta unidade, sob a forma de condado, entre 1093 e 1096. O
reino da Galiza assentava numa realidade sociológica e cultural muito própria,
ainda hoje visível no terreno situado a norte do rio Douro, e bem expressa na
língua galaico-portuguesa.
▪ A
última construção é a que se refere ao Condado Portucalense, que reunia os
territórios entre os rios Minho e Mondego e que remonta a 1096 e ao conde
Henrique de Borgonha. Iniciada em 718, a reconquista cristã só
viria a terminar em 1492 com a conquista do reino de Granada. Para
auxiliar os povos peninsulares nesta empresa, chegaram à Península Ibérica, a
partir do século XI, muitos cruzados vindos da Europa. Numa dessas vagas veio
D. Henrique, a quem o rei Afonso VI de Leão e Castela concedeu, como gratidão
pelos favores prestados, a mão da sua filha ilegítima, D. Teresa, e o Condado
Portucalense (1096). Com este casamento, Henrique reuniu dois condados:
o Portucalense propriamente dito, que remontava a Vímara Peres, no século IX, e
o condado de Coimbra, organizado por Sisnando Davides de Tentúgal, após a
conquista da cidade de 1604. De fora ficava a Galiza. Com a morte do marido, D.
Teresa assumiu o governo do condado, mas seu filho, Afonso Henriques, vendo o
perigo de o território portucalense se aliar à Galiza, combateu-a e, em 1143,
foi aceite como rei de Portugal na Conferência de Zamora pelo rei de
Leão, Afonso VII, mas o reconhecimento do papa só chegou em 1179, com a
bula “Manifestis Probatum”, de Alexandre III.