Português: 13/06/20

sábado, 13 de junho de 2020

Características do romance histórico

▪ O romance histórico é caracterizado pela presença da História e pela oscilação entre a verdade e a verosimilhança.

▪ O romance histórico é marcado pela reconstituição histórica, que implica a recriação de determinados ambientes, conseguidos pelo recurso ao efeito da cor local e/ou da época. Este efeito é conseguido pelo recurso a várias estratégias:
-» evocação, o mais fiel possível, da linguagem da época e dos diferentes grupos sociais;
-» descrição pormenorizada do vestuário das personagens;
-» reconstituição de espaços físicos/geográficos (cidades, castelos, monumentos, etc.), com especial destaque para os aspetos arquitetónicos;
-» recriação de grandes movimentações das personagens (saraus, torneios, manifestações populares), com o objetivo de criar a ilusão da fidelidade ao tempo narrado.

▪ A presença de personagens referenciais (personagens pertencentes a um determinado contexto histórico e/ou mítico, que condicionam a leitura e a interpretação, mesmo que não possuam uma existência real – por exemplo, D. João V ou Scarlatti).

▪ As personagens ficcionais (persona → ideia de “ficção”) ocupam, geralmente, os papéis principais do romance, visto que proporcionam ao autor/narrador liberdade criativa, o que não acontece com as personagens referenciais, dotadas de características próprias e de personalidade conhecida que interessa respeitar.

▪ O romance histórico recorre também a fontes (verdadeiras ou apócrifas), desde “documentos antigos” a “velhos livros”, bem como “memórias” e “manuscritos que só o narrador conhece”, com a finalidade de atestar a veracidade dos acontecimentos narrados.

O conceito de romance histórico


O conceito de romance histórico, tal como hoje o entendemos, surge com o Romantismo, no século XIX, desde logo porque foi com este movimento que se deu um grande destaque, até aí desconhecido, ao passado. Antes, existiam romances que se centravam em tempos passados (por exemplo, Princesse de Clèves, de Madame de Lafayette), mas não se podem classificar como tal dada a inexistência de rigor ou factualidade histórica, a ausência de preocupações reais com a reconstituição de um determinando momento histórico, visto que apresentavam personagens, conceitos e mentalidades contemporâneos do respetivo autor.
O primeiro romance histórico considerado como tal é Waverley, de Walter Scott, publicado em 1814, o qual define os traços gerais do género: respeito pelos factos históricos, ênfase em determinados acontecimentos, etc.

Análise do poema "Palavras caras", de Adília Lopes

Em minha casa, detestávamos pessoas bem-
-falantes, palavras caras. De uma vez, apareceu a
prima Maria Lucília a dizer já não sei porquê:
       – Fiquei muito confrangida.
Passámos a chamar-lhe “a confrangida”.
Sempre que aparecia alguém na televisão a
declamar poesia ou a falar de poesia, desligáva-
mos a televisão.

O sujeito poético e a sua família (“Em minha casa”, “detestávamos”) têm aversão profunda a pessoas bem-falantes e ao emprego a despropósito de “palavras caras”. As pessoas bem-falantes são aquelas que fazem uso de palavras, de uma linguagem “cara” de forma inapropriada, na tentativa de se superiorizarem intelectualmente aos outros.
De seguida, apresenta, como exemplo do que acabou de dizer, o caso da sua prima Maria Lucília, que personifica a pretensa eloquência, com o verso em discurso direto em que usa uma palavra “cara”: “– Fiquei muito confrangida.”. Note-se que o nome da prima – Maria Lucília – é, também ele, exemplificativo dessa pretensão, dado o seu caráter composto. Por causa disso, o sujeito poético e a sua família deram-lhe uma alcunha, pela qual a passaram a tratar: “a confrangida”.
Nos últimos versos, refere o facto de ele e a família desligarem a televisão sempre que aparecia alguém a declamar ou a falar de poesia nela. Parece haver aqui uma associação entre as tais pessoas bem-falantes e aquelas que declamam ou falam de poesia na televisão. Note-se como a linguagem confirma a aversão do sujeito poético. De facto, nos três versos finais, a linguagem é bastante simples e caracterizada pela repetição do vocabulário, o que se opõe à das pessoas bem-falantes (de que a prima é um exemplo), do seu pretensiosismo e pomposidade, que muitas pessoas pretendem também atribuir à poesia.
As palavras usadas pelos bem-falantes constituem frequentemente uma forma de fugir à verdade; de forma semelhante, a eloquência em exagero é inimiga da boa poesia. Declamar ou falar de poesia de modo pretensioso, numa atitude de superioridade intelectual e de sobranceria é o contrário daquilo que o sujeito poético defende. Observe-se, por último, o tom sarcástico que domina todo a composição poética.

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