Português: Mário Cesariny de Vasconcelos
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quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Análise de "Pastelaria", de Mário Cesariny Vasconcelos

             Este poema de Cesariny de Vasconcelos é constituído por oito dísticos e um terceto. Nele, o «eu» poético, socorrendo-se da anáfora e da ironia, tece uma crítica a vários comportamentos do indivíduo em sociedade. Estes recursos insinuam, de forma subtil, que as opiniões apresentadas pertencem a outros que não o sujeito poético, e através deles este exprime o seu desencanto e a crítica a um quotidiano limitado e superficial.

            Que aspetos da vida humana não têm importância? Não importam a literatura, a crítica de arte e o cinema (?) / a fotografia (?) [“a câmara escura”], isto é, a expressão através das artes; o negócio, uma vida profissional bem-sucedida, a riqueza e o ócio / a falta de uma ocupação; a juventude e ser galante, dado que se «fabricam»; gente com fome, isto é, problemas sociais.

            E o que importa? O que tem importância é não ter medo / ser corajoso, cair no vício verticalmente (ou seja, atual impulsivamente e ter comportamentos autodestrutivos?; existirá na referência ao vício uma alusão à homossexualidade do poeta, que lhe valeu perseguição policial?); ser-se destemido e arrogante (“não ter medo de chamar o gerente”); ser-se cínico, superior e desprezar os outros (“rir de tudo” – v. 17). Para os outros, representados pelo «rapaz» do verso 9, a vida prossegue: “E amanhã há bola [futebol], madame blanche [bordel] e parola” [conversa e má-língua]. Porém, o que realmente importaria seria “não ter medo / de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente: / Gerente! Este leite está azedo!” (vv. 13 a 15), ou seja, questionar o regime, contestá-lo, denunciá-lo publicamente.

            São visíveis no poema várias preocupações sociais (por exemplo, com a pobreza) e críticas (por exemplo, à mediocridade e ao egoísmo, à superficialidade e à valorização das aparências – v. 19 – em detrimento da essência das coisas, à indiferença com os problemas sociais – como a fome –, à arrogância e à soberba, à vaidade e ao desprezo pelos outros – vv. 16-17).

            Relativamente ao título, uma pastelaria é um lugar onde se patenteiam comportamentos fúteis e superficiais por parte de determinados grupos sociais.

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