domingo, 24 de setembro de 2017
"Um homem que toda a vida"
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Um homem que toda a vida 
Passou fomes por querer, 
Co’a muita debilidade 
Pôs-se em termos de morrer. 
Doutor, que de graça o via, 
E co’a doença atinava, 
Of’receu-lhe uns certos doces, 
Para ver se o melhorava. 
Obrigado (eis lhe responde 
O enfermo estendendo a mão), 
Dê cá... Bom será guardá-los 
Para maior precisão.” | 
         Outro
dos alvos predilectos da sátira epigramática de Bocage é o pecado da avareza;
neste caso concreto temos o tipo do avarento que esconde a sua riqueza, não
tirando partido dela, nem mostrando algum tipo de generosidade para com os
demais.
         Este
é o caso de um homem que, durante toda a vida, passou fome voluntariamente,
para não gastar o seu dinheiro e por isso ficou doente a ponto de estar em risco
de morrer. É então consultado gratuitamente por um médico que se apercebe de
que a causa da doença é a falta de alimentação, por isso oferece-lhe alguns
doces para o curar. O doente aceita mas – espanto dos espantos – decide
guardá-los “Para
maior precisão”.
         Em
suma, neste epigrama a sátira de Bocage incide sobre o comportamento do homem
avarento que, posto na maior necessidade e até na iminência da morte, aferrolha
tudo a que pode deitar a mão. Este homem que poupa, avaramente, o próprio alimento
que o salvaria de morte certa, só pode ser alvo do ridículo.
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