segunda-feira, 1 de maio de 2023
O cómico de linguagem, situação e carácter em A Farsa de Inês Pereira
terça-feira, 25 de abril de 2023
quarta-feira, 12 de abril de 2023
segunda-feira, 26 de dezembro de 2022
sexta-feira, 25 de novembro de 2022
terça-feira, 25 de outubro de 2022
terça-feira, 11 de outubro de 2022
Análise de Os Lusíadas: Canto IX, estâncias 88-95
A Ilha constitui o prémio (“O prémio lá no fim, bem merecido” – est. 88, v. 7) pelos “feitos grandes” e pela ousadia (“Porque dos feitos grandes, da ousadia” – est. 88, v. 5) da “forte e famosa” (est. 88, v. 6) gente portuguesa e o reconhecimento pelos “trabalhos tão longos” (“Os trabalhos tão longos compensando” – est. 88, v. 4), que garantirão aos heróis lusitanos “fama grande e nome alto e subido” (est. 88, v. 8), honra, fama e glória (“Aquelas preminencias gloriosas, / Os triunfos, a fronte coroada / De palma e louro, a glória e maravilha: / Estes são os deleites desta Ilha.”).
▪ A fama: “Com fama grande…” (est. 88,
v. 8).
▪ A mitificação: “nome alto e subido”
(est. 88, v. 8).
▪ A imortalidade: o contacto dos humanos com as ninfas
confere-lhes um estatuto divino.
▪ Os prazeres da Ilha são os sucessos, as vitórias alcançadas
por mérito próprio (estância 89).
Trata-se,
em suma, do reconhecimento pelos “feitos grandes”, pela “ousadia” e pelo
esforço. Esta simbologia significa que a fama e a glória estão ao alcance de
qualquer ser humano que se destaque pelos seus feitos e conduta virtuosa.
|
• Que prémio era esse?
A
imortalidade: os homens subiam ao Olimpo, tornavam-se, assim, deuses,
imortais: “Que as imortalidades que fingia / A antiguidade, que os Ilustres
ama, / Lá no estelante Olimpo, aquém subia / Sobre as asas ínclitas da Fama”.
Os
dois versos iniciais da estância 90 são muito expressivos, pois significam que,
à semelhança do que sucede com a Ilha dos Amores, os deuses da Antiguidade eram
apenas representações simbólicas do prémio que é sempre atribuído àqueles que
norteiam a sua existência pela virtude – a possibilidade de serem imortalizados
pela fama.
Os homens que realizavam feitos ilustres, grandes ações;
aqueles que percorriam um caminho árduo, difícil, cheio de perigos: “Por obras
valerosas que fazia, / Pelo trabalho imenso que se chama / Caminho da virtude,
alto e fragoso…”. Assim, encontravam o prazer, o deleite, a satisfação: “Mas,
no fim, doce, alegre e deleitoso”.
Atribuir a imortalidade.
A estância 91 serve como confirmação desta ideia: a
imortalidade era um prémio dado aos homens, devido aos “feitos imortais e
soberanos” (“Não eram senão prémios que reparte, / Por feitos imortais e
soberanos, / O mundo cos varões que esforço e arte / Divinos os fizeram, sendo
humanos”). Por isso, obtiveram nomes divinos: “Que Júpiter, Mercúrio, Febo e
Marte, / Eneas e Quirino e os dous Tebanos, / Ceres, Palas e Juno com Diana, /
Todos foram de fraca carne humana.”.
É uma estratégia para convencer os homens do seu tempo a
seguirem o exemplo dos clássicos. De facto, as figuras da Antiguidade citadas
(Júpiter, Mercúrio, etc.) surgem como argumento do Poeta para convencer os
contemporâneos a alterar a sua atitude, combatendo os vícios, bem como para
conferir importância ao caminho a percorrer para atingir a imortalidade.
A enumeração de nomes próprios dos versos 5 a 8 da
estância 91 indica-nos que antes de serem deuses, logo imortais, todos foram
humanos e mortais. De facto, as divindades começaram por ser humanos, tendo
ascendido ao patamar divino por “esforço e arte” e “feitos imortais e
soberanos”, o que lhes valeu a imortalidade. Assim, o Poeta sugere que os Portugueses
podem e merecem passar pelo mesmo processo de mitificação.
▪ Combater a preguiça: “Despertai já do sono do ócio ignavo”
(est.92, v. 7).
▪ Evitar a cobiça e a ambição: “E ponde na cobiça um freio duro,
/ E na ambição também…”.
▪ Evitar a tirania: “… e no torpe e escuro / Vício da tirania
infame e urgente.”.
▪ Promover a igualdade perante a lei, garantindo a
imparcialidade e a justiça: “Ou dai na paz as leis iguais, constantes”.
▪ Impedir a exploração dos mais fracos: “Que aos grandes não
deem o dos pequenos” (antítese).
▪ Combater contra os muçulmanos: “Ou vos vesti nas armas
rutilantes, / Contra a lei dos imigos Sarracenos”.
i) As “honras vãs, esse ouro puro”, obtidas
sem espaço e sem mérito, não dão “Verdadeiro valor” às pessoas.
ii) É melhor merecer a honra e os bens
materiais sem os ter, do que tê-los e não os merecer.
- Justiça;
- Igualdade;
- Fraternidade;
- Lealdade;
- Vontade;
- Honestidade.
i) O reino será maior e poderoso: “Fareis
os Reinos grandes e possantes”;
ii) Haverá igualdade na distribuição
dos bens: “E todos tereis mais e nenhum menos”;
iii) Todos terão honra e fama: “Possuireis
riquezas merecidas, / Com as honras que ilustram tanto as vidas.”;
iv) O Rei será mais ilustre e
esclarecido, devido ao apoio, aos conselhos sensatos e à lealdade: “E fareis
claro o Rei que tanto amais, / Agora cos conselhos bem cuidados, / Agora co as
espadas, que imortais”;
v) Tornar-se-ão imortais como os seus
antepassados: “Vos farão, como os vossos já passados”;
vi) Serão eternamente reconhecidos
como heróis: “Sereis entre os Heróis esclarecidos / E nesta «Ilha de Vénus»
recebidos.”
▪ Através da submissão das Ninfas aos navegantes, juntamente
com o tratamento concedido a Vasco da Gama, incluindo as revelações que lhe são
feitas acerca das consequências da viagem (est. 10 e seguintes).
▪ Pela comparação dos «varões» (incluindo os nautas) com os
deuses (Júpiter, Mercúrio, etc.) que, antes de serem divindades, foram também
humanos. Isto significa que também os homens podem ascender ao estatuto de
deuses, desde que o mereçam.
▪ Assim, é legítimo aspirar à Fama, se ela for conseguida pelo
esforço e pela superação do «ócio ignavo» (est. 92, v. 7).
▪ A procura da Fama não se coaduna com determinados comportamentos,
nomeadamente a ambição desmedida, a tirania, o culto da injustiça, etc., e que
caracterizam os homens do tempo do Poeta.
▪ O serviço prestado ao Rei (“fareis claro o Rei que tanto
amais”, est. 95, v. 1) tem de ser, então, a preocupação daqueles que, na paz ou
na guerra santa contra os infiéis, merecem ser recebidos na Ilha dos Amores.
terça-feira, 26 de abril de 2022
Análise da cena 16 da Farsa de Inês Pereira - Monólogo de Inês
▪ O irmão pede a Inês que tenha coragem.
▪ O Escudeiro morreu.
▪ Foi morto por um pastor quando fugia de uma
batalha, em Arzila.
O Moço sente-se triste, enquanto Inês
manifesta felicidade, alegria e alívio. Esta antítese realça a oposição
de sentimentos provocados pela morte do Escudeiro: a tristeza do Moço (fingida
ou verdadeira, por ficar desamparado), a alegria de Inês, por se libertar do
casamento que a aprisionava.
O Moço sempre criticou as atitudes do
Escudeiro e denunciou a sua pobreza, decadência e falta de valores. Deste modo,
podemos questionar a sinceridade da sua reação e subentender que as suas
palavras encerram alguma ironia, ou seja, a pena e a tristeza podem ser
fingimento, mas também se pode considerar que a sua tristeza é autêntica, por
ficar desamparado.
Por seu turno, para Inês, acabou-se o
casamento (“Desatado é o nó.” – metáfora), acabou-se o cativeiro. Assim
sendo, está livre e pode recomeçar a vida.
terça-feira, 19 de abril de 2022
Análise da cena 15 da Farsa de Inês Pereira - Monólogo de Inês
|
Inês |
→ |
Casamento
com o Escudeiro |
|
|
↓ |
|
Antes (Monólogo
dos vv. 1-36) |
Depois (Monólogo
dos vv. 834-862) |
Estado
de espírito e suas causas |
aborrecida
e irritada |
dececionada
e triste |
||
Desejo
manifestado |
libertar-se
da influência da Mãe através do casamento |
ficar
novamente solteira para poder escolher um marido diferente |
||
Modelo
de marido |
um
homem discreto, não necessariamente bonito ou rico e meigo |
um
homem honesto, pacífico, que a deixe fazer o que ela quiser |
Inês
solteira |
= |
Inês
casada |
||
Local
onde está |
Casa
da Mãe, fechada |
|
Local
onde está |
Sua
casa (que lhe foi dada pela mãe, aquando do casamento), fechada. |
Atividades
a que se dedica |
Bordado
e canto |
|
Atividades
a que se dedica |
Bordado
e canto |
Estado
de espírito |
Insatisfeita
com a vida, lamentando a sua sorte |
|
Estado
de espírito |
Insatisfeita
com a vida, lamenta-se da sua sorte |
Conteúdo
do monólogo |
Renega
o que está a fazer, queixa-se de estar fechada e deseja sair do seu
«cativeiro» casando |
|
Conteúdo
do monólogo |
Renega
o que está a fazer, queixa-se de estar fechada e espera sair do seu
«cativeiro» depois da casada, arrependendo-se da decisão que tomou |
↓ |
|
↓ |
||
Visão
que tem do futuro marido |
Homem
“avisado”, de boas maneiras, tocador de viola e versejador, que lhe
proporcione uma vida com diversão |
|
Visão
que tem do marido |
Homem
insensível e tirano, que quer mantê-la presa, não permitindo que saia de casa
ou chegue à janela |
Análise da cena 14 da Farsa de Inês Pereira
Análise da cena 13 de Farsa de Inês Pereira: Inês e o Escudeiro casados
→
proíbe Inês de cantar (“Vós cantais Inês Pereira / […] que esta seja a
derradeira”);
→
ordena-lhe que se cale (“Será bem que vos caleis”);
→ proíbe-a
de lhe responder, devendo acatar tudo quanto ele disser sem retorquir (“E mais
sereis avisada / que não me respondais nada”);
→
proíbe-a de conversar com quem quer que seja (“Vós não haveis de falar / com
homem nem molher que seja”);
→
proíbe-a de sair de casa, incluindo ir à igreja (“nem somente ir à igreja”);
→
impede-a de estar à janela (“Já vos preguei as janelas, / por que vos não
ponhais nelas”).
Em suma, Inês ficará fechada em casa, «como freira
d’Odivelas». Esta comparação mostra como o Escudeiro é um tirano que
manterá Inês presa na sua residência.
▪
cruel
▪
autoritário
▪
agressivo
▪
opressivo e tirânico, pois não permite que Inês
→
cante
→ lhe
responda
→
fale com alguém
→
saia de casa em qualquer circunstância
→
mande em casa “somente um pelo”
→ o
contrarie, tendo de concordar sempre com o que ele disser
→
ordena ao Moço que vigie constantemente Inês e a mantenha sempre fechada em
casa
▪
ambicioso: parte para Marrocos para se fazer cavaleiro na guerra;
▪
pobre:
→ não
deixa dinheiro ao Moço para se governar;
→
aconselha-o a alimentar-se percorrendo as vinhas, comendo figos, favas e
cogumelos.
.
Comparação: “Estareis aqui encerrada / Nesta casa tão fechada, /
Como freira d’Odivelas.” (vv. 801-803) ®
tirânico, o Escudeiro manterá Inês encerrada em casa, como numa prisão.
. Ironia do
Moço: