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terça-feira, 9 de abril de 2024
Análise do capítulo I de Memorial do Convento
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José Saramago
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Memorial do Convento
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sábado, 13 de junho de 2020
Características do romance histórico
▪ O romance
histórico é caracterizado pela presença da História e pela oscilação entre a
verdade e a verosimilhança.
▪ O romance
histórico é marcado pela reconstituição histórica, que implica a recriação de
determinados ambientes, conseguidos pelo recurso ao efeito da cor local e/ou da
época. Este efeito é conseguido pelo recurso a várias estratégias:
-» evocação,
o mais fiel possível, da linguagem da época e dos diferentes grupos sociais;
-» descrição
pormenorizada do vestuário das personagens;
-»
reconstituição de espaços físicos/geográficos (cidades, castelos, monumentos,
etc.), com especial destaque para os aspetos arquitetónicos;
-» recriação
de grandes movimentações das personagens (saraus, torneios, manifestações
populares), com o objetivo de criar a ilusão da fidelidade ao tempo narrado.
▪ A presença
de personagens referenciais (personagens pertencentes a um determinado contexto
histórico e/ou mítico, que condicionam a leitura e a interpretação, mesmo que não
possuam uma existência real – por exemplo, D. João V ou Scarlatti).
▪ As
personagens ficcionais (persona → ideia de “ficção”) ocupam, geralmente,
os papéis principais do romance, visto que proporcionam ao autor/narrador
liberdade criativa, o que não acontece com as personagens referenciais, dotadas
de características próprias e de personalidade conhecida que interessa
respeitar.
▪ O romance
histórico recorre também a fontes (verdadeiras ou apócrifas), desde “documentos
antigos” a “velhos livros”, bem como “memórias” e “manuscritos que só o
narrador conhece”, com a finalidade de atestar a veracidade dos acontecimentos
narrados.
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Romance histórico
O conceito de romance histórico
O conceito de romance histórico,
tal como hoje o entendemos, surge com o Romantismo, no século XIX, desde logo
porque foi com este movimento que se deu um grande destaque, até aí
desconhecido, ao passado. Antes, existiam romances que se centravam em tempos passados
(por exemplo, Princesse de Clèves, de Madame de Lafayette), mas não se
podem classificar como tal dada a inexistência de rigor ou factualidade
histórica, a ausência de preocupações reais com a reconstituição de um
determinando momento histórico, visto que apresentavam personagens, conceitos e
mentalidades contemporâneos do respetivo autor.
O primeiro romance histórico
considerado como tal é Waverley, de Walter Scott, publicado em 1814, o
qual define os traços gerais do género: respeito pelos factos históricos,
ênfase em determinados acontecimentos, etc.
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Romance histórico
segunda-feira, 16 de julho de 2018
quinta-feira, 14 de dezembro de 2017
Cronobiografia de José Saramago
1922
Nasce a 16 de Novembro na Rua da Alagoa de Azinhaga
(Ribatejo, Golegã, Portugal) no seio de uma família de camponeses. Os seus pais
são José de Sousa, jornaleiro, e Maria de Jesus, doméstica.
1924
Muda-se para Lisboa com a família, onde o pai irá trabalhar
na Polícia de Segurança Pública.
Em Dezembro morre o seu irmão Francisco, com quatro anos de
idade.
1929
Aquando da sua inscrição na escola primária da Rua Martens
Ferrão descobre-se que um funcionário do Registo Civil da Golegã incluiu como
apelido na sua certidão de nascimento a alcunha familiar, Saramago. Desta
forma, torna-se no primeiro Saramago da família Sousa. Se assim não tivesse
acontecido, o seu nome seria José de Sousa.
1930
Muda-se para a escola primária do Largo do Leão.
Durante estes anos e os seguintes a família Sousa tem uma
vida difícil, morando em quartos alugados e em várias ruas de Lisboa: Quinta do
Perna-de-Pau, Rua E (hoje Rua Luís Monteiro), Rua Carrilho Videira, Rua dos
Cavaleiros, Rua Padre Sena Freitas.
1932
Matricula-se no Liceu Gil Vicente, onde inicia estudos
secundários, frequentando dois cursos (liceal e técnico).
1935
A falta de recursos económicos da família obriga-o a
transferir-se para a Escola Industrial de Afonso Domingues, onde estudará até
1940.
Durante toda a infância e adolescência passa longos períodos
na Azinhaga com os avós maternos.
1936
O primeiro livro que possui é-lhe oferecido pela mãe: A
Toutinegra do Moinho, de Émile de Richebourg.
1938
A família Sousa passa a viver num andar só para ela na Rua
Carlos Ribeiro, n.º 15, no Bairro da Penha de França.
1940
Conclui os estudos de Serralharia Mecânica no Escola
Industrial de Afonso Domingues. Consegue o seu primeiro emprego como serralheiro
mecânico nas oficinas dos Hospitais Civis de Lisboa.
À noite frequenta a biblioteca municipal do Palácio das
Galveias, «lendo ao acaso de encontros e de catálogos, sem orientação, sem
ninguém que me aconselhasse, com o mesmo assombro criador do navegante que vai
inventando cada lugar que descobre», nas palavras do próprio Saramago.
1942
Passa a ocupar um lugar nos serviços administrativos dos
Hospitais Civis de Lisboa.
1943
Trabalha na Caixa de Abono de Família do Pessoal da
Indústria de Cerâmica, de onde foi afastado em 1949 em consequência do seu
apoio à campanha eleitoral de Norton de Matos, o candidato da oposição à
Presidência da República.
1944
Casa-se com a pintora Ilda Reis.
1947
Publica Terra do Pecado, o seu primeiro romance, intitulado
inicialmente A Viúva.
Nasce a sua filha, Violante.
Até 1953 e durante a segunda metade dos anos cinquenta
escreve numerosos poemas, contos – alguns dos quais são publicados em revistas
e jornais – e esboça a redação de pelo menos quatro romances, dos quais apenas
conclui um.
1948
Morre o seu avô, Jerónimo Melrinho.
1950
Começa a trabalhar na Caixa de Previdência do Pessoal da
Companhia Previdente, fazendo cálculos de subsídios e de pensões, graças à
mediação do seu antigo professor Jorge O´Neil.
1953
Termina Clarabóia,
romance inédito, com que encerra uma série de infrutíferas tentativas
narrativas que aborda sob títulos como O
Mel e o Fel, Os Emparedados e Rua.
1955
A convite de Nataniel Costa enceta colaboração com a editora
Estúdios Cor, no sector de produção. O seu nome começa a ser conhecido no campo
da literatura e da cultura. Inicia a sua atividade como tradutor, cifrada em
mais de sessenta títulos, até meados da década de oitenta. Na segunda metade da
década de cinquenta traduz cerca de dezasseis livros, entre eles de autores
como Colette e Tolstoi.
1959
Abandona a Companhia Previdente para trabalhar
exclusivamente na editora Estúdios Cor.
1964
Em 13 de Maio morre o seu pai, no Hospital dos Capuchos, aos
sessenta e oito anos de idade.
1966
É editado o seu primeiro livro de poesia, Os Poemas
Possíveis.
Ao longo desta década continua a sua atividade de tradutor,
se bem que com mais moderação. Traduz, entre outros, Colette, Cassou, Audisio,
Maupassant e Bonnard.
1967-1968
Colabora como crítico literário na revista Seara Nova. Nesta condição, escreve
sobre vinte e três livros de ficção, entre eles títulos de Jorge de Sena,
Agustina Bessa-Luís, Júlio Moreira, Alice Sampaio, Augusto Abelaira, Urbano
Tavares Rodrigues, José Cardoso Pires, Rentes Carvalho, Nelson de Matos, Manuel
Campos Pereira…
Publica crónicas no jornal A Capital, nas secções «Rua Acima, Rua Abaixo» e «Deste Mundo e do
Outro».
1969
Filia-se no Partido Comunista Português.
Faz a sua primeira viagem ao estrangeiro (Paris).
Continua a publicar crónicas jornalísticas n’A Capital, na secção «Deste Mundo e do
Outro».
1970
Divorcia-se de Ilda Reis.
Muda-se para Lisboa, depois de viver doze anos na Parede.
Inicia uma relação com a escritora Isabel da Nóbrega, que
durará até 1986.
Publica o livro de poemas Provavelmente Alegria.
1971
Deixa a editora Estúdios Cor.
Sob o título Deste
Mundo e do Outro, reúne as crónicas publicadas no jornal A Capital (1968-1969), cujo suplemento
«A Semana» coordenou.
Continua a publicar crónicas nos jornais A Capital e Jornal
do Fundão, na secção Deste Mundo e do Outro.
1972
Publica numerosas crónicas no Jornal do Fundão.
Trabalha como editorialista no Diário de Lisboa.
Nasce a sua primeira neta, Ana.
1973
Continua como editorialista no Diário de Lisboa.
Publica O Embargo.
Dá à estampa A Bagagem
do Viajante, segundo volume das crónicas jornalísticas publicadas nos
jornais diários A Capital e Jornal do Fundão (1971-1972).
Dirige o suplemento literário do Diário de Lisboa.
1974
Colabora com a revista Arquitectura.
Após a Revolução do 25 de Abril coordena uma equipa do Fundo
de Apoio aos Organismos Juvenis (FAOJ), sob dependência do Ministério da
Educação.
Colabora como assessor do Ministério da Comunicação Social.
Edita o seu primeiro volume de crónicas políticas, As Opiniões Que o DL Teve, onde colige
os editoriais que publicou anonimamente no Diário
de Lisboa em 1972 e 1973.
1975
Publica no Diário de Notícias
o «Primeiro e Segundo Poema dos Mortos».
É nomeado diretor-adjunto do Diário de Notícias. Acusado de radicalismo marxista, vive um
tumultuoso momento de crise, paralelo à evolução política moderada da
Revolução, que o afasta do jornal, sem sequer receber apoio do seu partido.
Ao ficar desempregado no 25 de Novembro, decide não procurar
outro trabalho e dedicar-se exclusivamente à escrita e à tradução. Os seus
únicos rendimentos provêm das traduções, e intensifica esta atividade, a partir
deste ano, vertendo para português, entre 1976 e 1979, cerca de vinte e sete
obras, muitas delas de carácter político: Frémontier, Jivkov, Moskovichov,
Pramov, Grisnoni, Poulantzas, Bayer, Hegel, Romain…
Faz parte do Movimento Unitário de Trabalhadores Intelectuais
para a Defesa da Revolução (MUTI).
Publica o livro de poemas O Ano de 1993.
1976
Faz uma recompilação das crónicas escritas no Diário de Notícias, que publica com o
título Apontamentos.
Em Dezembro publica o romance Manual de Pintura e Caligrafia.
1977
No início do ano transfere-se durante uns meses para Lavre,
Montemor-o-Novo, onde convive com trabalhadores da Unidade Coletiva de Produção
Boa Esperança, com o objetivo de preparar o seu romance Levantado do Chão , que será publicado no ano de 1980.
1978
Publica Objecto Quase
(contos).
1979
Publica a peça de teatro A
Noite, que recebe o Prémio da Associação Portuguesa de Críticos.
Publica-se Poética dos
Cinco Sentidos, livro de contos em que vários autores escrevem sobre os
sentidos. A colaboração de José Saramago intitula-se O Ouvido.
O Círculo de Leitores encarrega-o de escrever um livro de
viagens sobre Portugal.
1980
Surge Levantado do
Chão, que marca o início do estilo saramaguiano. É-lhe atribuído o Prémio
Cidade de Lisboa.
Publica a peça de teatro Que
Farei com Este Livro?, representada nesse ano no Teatro de Almada. Entre
esta data e 1985 traduz cerca de dez títulos de vários autores: Bautista,
Honoré, Jivkov, Duby, Hikmet…
1981
É publicada Viagem a Portugal.
1982
Em Agosto morre a sua mãe, Maria da Piedade, aos 81 anos.
Publica Memorial do
Convento, que o consagra internacionalmente.
Dá à estampa a segunda edição, revista e corrigida, de Provavelmente Alegria.
1983
Atribuição a Memorial
do Convento do Prémio Pen Club 1983 e do Prémio Literário Município de
Lisboa.
1984
Publica O Ano da Morte
de Ricardo Reis.
Preside à Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de
Autores.
Nasce o seu neto, Tiago.
1985
É nomeado Comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada
pelo Presidente da República, Mário Soares.
Prémio Pen Club 1985 pelo título O Ano da Morte de Ricardo Reis.
Prémio da Crítica 1985, pela Associação Portuguesa de
Críticos.
1986
Termina a relação com Isabel da Nóbrega.
Publica A Jangada de
Pedra.
Prémio Dom Dinis (Fundação Casa de Mateus) 1986, pela obra O Ano da Morte de Ricardo Reis.
Começa a escrever as crónicas «A Letra da Tabuleta» no JL (Jornal
de Letras, Artes e Ideias).
Conhece Pilar del Río.
1987
Publica peça de teatro A
Segunda Vida de Francisco de Assis, levada à cena posteriormente no Teatro
Aberto.
Recebe o Prémio Grinzane-Cavour (Alba, Itália) 1987
atribuído a O Ano da Morte de Ricardo
Reis.
1988
Casa-se com a jornalista Pilar del Río.
1989
Publica História do
Cerco de Lisboa.
1990
Estreia no Teatro Alla Scalla de Milão a ópera Blimunda, com libreto do músico italiano
Azio Corghi baseado no romance Memorial
do Convento.
1991
Publica O Evangelho
Segundo Jesus Cristo, obra galardoada com o Grande Prémio de Romance e
Novela da Associação Portuguesa de Escritores e com o Prémio Brancatti
(Zafferana, Itália).
É nomeado Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Turim
e Sevilha.
O governo francês concede-lhe o título de Cavaleiro da Ordem
das Artes e Letras.
A Lello Editores publica a sua obra completa em três tomos.
1992
O governo português veta a candidatura de O Evangelho Segundo Jesus Cristo ao
Prémio Literário Europeu.
Em Itália, recebe o Prémio Internacional Ennio Flaiano
(Pescara, Itália) atribuído ao romance Levantado
do Chão.
É-lhe concedido o Prémio Literário Internacional Mondello
(Palermo, Itália).
1993
Transfere a sua residência para Lanzarote.
Publica a sua quarta peça de teatro, In Nomine Dei, que é distinguida com o Grande Prémio de Teatro da
Associação Portuguesa de Escritores.
Torna-se membro do Parlamento Internacional de Escritores,
com sede em Estrasburgo.
Atribuição do The Independent Foreign Fiction Award
(Inglaterra) a O Ano da Morte de Ricardo
Reis (tradução inglesa).
Recebe o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de
Escritores.
Estreia no teatro de Münster (Alemanha) da ópera Divara, com música de Azio Corghi e
libreto baseado na peça In Nomine Dei.
1994
Publica-se o primeiro volume de Cadernos de Lanzarote.
Ingressa na Academia Universal das Culturas (Paris).
Ingressa na Academia Argentina de Letras.
Ingressa no Patronato de Honra da Fundação César Manrique
(Lanzarote).
É nomeado Presidente Honorário da Sociedade Portuguesa de
Autores.
1995
Publica Ensaio sobre a
Cegueira.
Publica o segundo volume de Cadernos de Lanzarote.
É-lhe atribuído o Prémio Camões.
É nomeado Doutor Honoris Causa pela Universidade de
Manchester (Inglaterra).
Estreia de A Morte de
Lázaro, com música de Azio Corghi e libreto baseado nas obras In Nomine Dei, O Evangelho Segundo Jesus Cristo e Memorial do Convento.
Recebe o Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade
Portuguesa de Autores.
1996
Viaja para o Brasil a fim de receber o Prémio Camões.
Publica o terceiro volume de Cadernos de Lanzarote.
1997
Sai o quarto volume de Cadernos
de Lanzarote.
Publica o romance Todos
os Nomes.
É nomeado Filho Adoptivo de Lanzarote.
Publica o Conto da
Ilha Desconhecida.
Doutor Honoris Causa, Universidade de Castilha-la-Mancha
(Espanha).
1998
Recebe o Prémio Nobel da Literatura «… pela sua capacidade
de tornar compreensível uma realidade fugidia, com parábolas sustentadas pela
imaginação, pela compaixão e pela ironia», segundo a Academia Sueca.
Sai o quinto volume de Cadernos
de Lanzarote.
É-lhe atribuído o Prémio Scanno/Universidade G. D’Annunzi
pelo livro Objecto Quase.
1999
Publica Folhas
Políticas.
É nomeado Filho Adoptivo de Tías (Lanzarote).
Visita e permanece durante alguns dias no México, com os
Zapatistas.
Doutor Honoris Causa, Universidade de Évora (Portugal).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Nottingham
(Inglaterra).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Porto Alegre (Brasil).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Minas Gerais (Brasil).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Santa Catarina
(Brasil)
Doutor Honoris Causa, Universidade de Rio de Janeiro
(Brasil).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Massachusetts (EUA).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Las Palmas de Gran
Canaria (Espanha).
Doutor Honoris Causa, Universidade Pontifícia de Valência
(Espanha).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Rio Grande do Sul
(Brasil).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Fluminense (Brasil).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Michel de Montaigne
(França).
2000
Publica A Caverna.
Recebe a Medalha de Ouro que lhe é outorgada pelo Governo de
Canárias.
Doutor Honoris Causa, Universidade de Salamanca (Espanha).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Santiago do Chile
(Chile).
Doutor Honoris Causa, Universidade do Uruguai (Uruguai).
2001
Publica A Maior Flor
do Mundo.
Recebe o Prémio Canárias Internacional concedido pelo
Governo de Canárias.
Doutor Honoris Causa, Universidade de Granada (Espanha).
Doutor Honoris Causa, Universidade Carlos III (Espanha).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Roma (Itália).
2002
Publica O Homem
Duplicado.
Doutor Honoris Causa, Universidade de Stranieri de Siena (Itália).
2003
Doutor Honoris Causa, Universidade Autónoma do México
(México).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Tabasco (México).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Buenos Aires
(Argentina).
2004
Publica Ensaio sobre a
Lucidez.
Doutor Honoris Causa, Universidade Charles de Gaulle
(França).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Alicante (Espanha).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Coimbra (Portugal).
Doutor Honoris Causa, Universidade de Brasília (Brasil).
2005
Publica Don Giovanni
ou o Dissoluto Absolvido.
Don Giovanni ou o
Dissoluto Absolvido é traduzido para italiano.
Doutor Honoris Causa, Universidade de Edmonton (Canadá).
Doutor Honoris Causa, Universidade Nacional de El Salvador
(El Salvador).
Doutor Honoris Causa, Universidade Nacional de São José da
Costa Rica (Costa Rica).
Em fins de Julho a Companhia
de Teatro O Bando estreia uma adaptação teatral de Ensaio sobre a Cegueira no Teatro da Trindade. A dramaturgia e a
encenação são de João Brites.
Doutor Honoris Causa, Universidade de Estocolmo (Suécia).
Compra uma casa em Lisboa, no Bairro do Arco do Cego, que a
partir de finais de Outubro lhe servirá de residência durante as suas
permanências na capital.
Publica As
Intermitências da Morte. No Teatro Nacional de São Carlos tem lugar uma
iniciativa inédita: a apresentação conjunta das edições portuguesa, brasileira,
catalã, italiana e espanhola (de Espanha e da América falante do castelhano),
com leituras de excertos da obra em todas estas línguas, num ato de homenagem à
diversidade cultural. A edição foi impressa em papel «amigo das florestas», por
acordo entre José Saramago, editores e a Greenpeace. A música de Bach foi o
fundo musical do evento.
2006
É nomeado Filho Predileto da Província de Granada.
Em fevereiro começa a escrever As Pequenas Memórias, concluindo o livro em Agosto. Trata-se de um
projeto concebido e amadurecido durante mais de vinte anos.
No Verão inaugura-se a biblioteca de sua casa em Tías,
Lanzarote, numa festa cultural com a bailarina María Pagés e os cantores Luis
Pastor e Pasión Vega, e à qual assistem numerosos amigos de Espanha e de
Portugal.
Publica As Pequenas
Memórias. O lançamento é feito na Azinhaga, coincidindo com a passagem do
seu 84.º aniversário.
É-lhe atribuído o Prémio Dolores Ibarruri.
Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Dublin no
Bloomsday (Irlanda).
Em Guadalajara, México, procede-se à leitura teatral de As Intermitências da Morte com Gael Diaz
Bernal.
Petras, Gracia: Concerto A
Maior Flor do Mundo.
Lisboa: estreia de Don
Giovanni ou o Dissoluto Absolvido, no Teatro Nacional de São Carlos.
Milão: estreia no Teatro Alla Scalla de Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido.
2007
A 17 de janeiro Luís Pastor apresenta o CD Nesta Esquina do Tempo, em que são
musicados poemas de Saramago.
A 3 de fevereiro são apresentadas As Pequenas Memórias em Tías, Lanzarote.
Em fevereiro começa a escrever A Viagem do Elefante. Até maio escreve cerca de quarenta páginas,
mas depressa o interrompe por problemas de saúde. Só voltará a pegar-lhe em fevereiro
de 2008.
A 28 de fevereiro é nomeado Filho Predileto da Andaluzia.
A 7 de março é levado à cena, em Nova Iorque, o seu romance Ensaio sobre a Cegueira, pela mão do
diretor artístico da Godlight Theater Company.
A 15 de março é nomeado Doutor Honoris Causa pela
Universidade Autónoma de Madrid.
A 20 de março apresenta-se na Corunha La flor más grande del mundo, uma curta-metragem de animação
baseada no conto de Saramago A Maior Flor
do Mundo, realizada por Juan Pablo Etcheverry e com música de Emilio
Aragón.
Em março estreia-se em Helsínquia Baltasar e Blimunda, espetáculo musical realizado sobre textos do Memorial do Convento e música de
Domenico Scarlatti. Na obra, criada e dirigida por Lisbeth Landefort, intervêm,
além de uma voz recitante, a cravista Elina Mustonen, a soprano Sirkka
Lampimäki e a bailarina Lili Dahlberg. O espetáculo estrear-se-á em Madrid a 16
de novembro, para celebrar o 85.º aniversário do escritor; em Lisboa, a 18 de
novembro; em Lanzarote, a 13 de janeiro de 2008.
Em abril termina o texto «As Sete Palavras do Homem» [«Las
siete palabras del hombre»]. É uma encomenda de Jordi Savall para acompanhar a
sua gravação da versão orquestral de As
Sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz de Joseph Haydn, à frente da
orquestra Le Concert des Nations. O texto de Saramago reproduz-se no folheto
que acompanha o CD. As Sete Palavras de
Cristo na Cruz é uma partitura encomendada ao compositor vienense pela
Hermandad da Santa Cueva de Cádiz, em 1785. Constitui um desafio, pois tratava-se
de criar um «oratório sem palavras», em sete movimentos lentos (sonatas), que
servissem de contraponto musical às palavras lidas dos evangelhos.
Em junho começa a escrever A Viagem do Elefante, que interromperá em Outubro por motivo de uma
doença grave. Saramago explicaria a origem do romance: «Foi há uns dez anos, em
Salzburgo. Num restaurante chamado precisamente O Elefante, vi um friso de pequenas esculturas que representavam a
caminhada de um elefante desde Lisboa até Viena.» Numa folha de agradecimentos,
no início do livro, o autor precisa as circunstâncias que favoreceram o
nascimento da obra, a propósito de um jantar no referido restaurante, depois de
proferir uma conferência na Universidade de Salzburgo: «Foi necessário que os
ignotos fados se tivessem situado na cidade de Mozart para que este escritor
pudesse perguntar: «Que figuras são essas?» As figuras eram umas pequenas
esculturas de madeira postas em fila, e a primeira delas, da direita para a esquerda,
era a Torre de Belém em Lisboa. A seguir vinham representações de vários
edifícios e monumentos europeus que manifestamente anunciavam um itinerário.
Disseram-me que se tratava da viagem de um elefante que, no século XVI, exatamente
em 1551, sendo rei D. João III, foi levado desde Lisboa até Viena. Pressenti
que aí podia haver uma história…»
Em junho cria a Fundação José Saramago, não apenas com o
objetivo de promover a conservação, o estudo e o conhecimento da sua obra mas
também de intervir social e culturalmente, de impulsionar ações a favor do
ambiente e de contribuir para a promoção ativa dos direitos humanos. Numa
declaração de princípios assinada a 29 de junho de 2007 por José Saramago,
dirigida aos patronos da sua Fundação, expõe como suas vontades:
«a ) Que a Fundação José Saramago assuma, nas suas atividades,
como norma de conduta, tanto na letra como no espírito, a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, assinada em Nova Iorque no dia 10 de Dezembro de 1948; b)
Que todas as ações da Fundação José Saramago sejam orientadas à luz deste
documento que, embora longe da perfeição, é, ainda assim, para quem se decidir
a aplicá-lo nas diversas práticas e necessidades da vida, como uma bússola, a
qual, mesmo não sabendo traçar o caminho, sempre aponta o Norte; c) Que à
Fundação José Saramago mereçam atenção particular os problemas do meio ambiente
e do aquecimento global do planeta, os quais atingiram níveis de tal gravidade
que já ameaçam escapar às intervenções corretivas que começam a esboçar-se no
mundo.» E conclui: «Bem sei que, por si só, a Fundação José Saramago não poderá
resolver nenhum destes problemas, mas deverá trabalhar como se para isso
tivesse nascido. Como se vê, não vos peço muito, peço-vos tudo.»
A 15 de julho é publicada uma entrevista de João Céu e Silva
no Diário de Notícias, em que
Saramago declara que, no seu entender, Portugal acabará por se integrar
administrativamente, embora não culturalmente, na Espanha: «Não deixaríamos de
falar português, não deixaríamos de escrever na nossa língua e certamente com
dez milhões de habitante teríamos tudo a ganhar em desenvolvimento nesse tipo
de aproximação e de integração territorial, administrativa e estrutural.» E
sugere que a Espanha provavelmente deveria mudar de nome, passando a chamar-se
Ibéria: «Se Espanha ofende os nossos brios, era uma questão a negociar.» As
suas palavras têm grande ressonância polémica na Península Ibérica e geram um
grande debate público.
Em Cartagena das Índias, Colômbia, intervém perante um fórum
de líderes da América organizado pela Fundación Carolina, para falar da
necessidade da emergência do mundo indígena na América. «O outro lado da lua»
foi o título da sua intervenção.
A 16 de julho, em Castril (Granada, Espanha), numa renovação
de votos, volta a contrair matrimónio com Pilar del Río, num ato simbólico de
homenagem à mãe de Pilar, meses após a sua morte. Nessa noite Paco Ibañez dá um
recital emocionante na praça da aldeia em memória de Carmen, mãe de 15 filhos,
da mãe de Saramago, Maria da Piedade, e também da sua própria mãe, uma corajosa
exilada que não se rendeu.
O realizador de cinema Fernando Meirelles trabalha na
adaptação cinematográfica do Ensaio sobre
a Cegueira.
Em Setembro recebe o Prémio Save the Children pela sua
contribuição na defesa dos direitos da infância, juntamente com Graça Machel,
Jane Fonda e Anne Sophie Mutter.
Em outubro viaja para a Argentina, para assistir à reunião
do júri do Prémio Clarín de romance e visitar o Memorial aos desaparecidos da
ditadura com as Mães e as Avós de Maio, que iam falando dos nomes dos seus
filhos como se os nomes fossem pessoas. Saramago acariciou as pessoas, embora
fosse em cadeira de rodas. Regressa a Espanha muito debilitado por uma
pneumonia, tendo que ingressar num hospital de Madrid.
A 23 de novembro a Fundação César Manrique (Lanzarote)
inaugura uma grande exposição, comissariada por Fernando Gómez Aguilera,
dedicada à sua vida e à sua obra literária, intitulada José Saramago. A Consistência dos Sonhos. Além de inéditos
descobertos durante o período preparatório da mostra, reúne abundantes
manuscritos, primeiras edições, material documental, agendas pessoais, jornais
e revistas, cadernos de notas, obras e documentos audiovisuais, traduções, num
total de mais de um milhar de documentos. Ao ato, que congrega autoridades
nacionais e amigos de vários países, Saramago desloca-se em cadeira de rodas e
expressa o seu agradecimento e a sua emoção: «Não sabia que tinha trabalhado
tanto.»
Depois de treze anos de afrontas e coincidindo com o 25.º
aniversário da primeira edição de Memorial
do Convento, a Câmara Municipal de Mafra concede-lhe a Medalha de Ouro
Municipal. Saramago aceita a distinção «em nome do povo de Mafra».
Em dezembro representa-se no Centro Andaluz de Teatro (CAT),
em Sevilha, a sua peça de teatro In
Nomine Dei uma crítica da intolerância e do fanatismo religiosos, encenada
por José Carlos Plaza e produzida pelo próprio CAT.
Representação da peça Que
Farei com Este Livro? pela Companhia de Teatro de Almada em Almada
(Portugal).
A 9 de dezembro a curta-metragem de animação La flor más grande del mundo (realização
de Juan Pablo Etcheverry sobre o conto de José Saramago A Maior Flor do Mundo) ganhou o prémio de melhor filme de animação
no Anchorage International Film Festival no Alaska.
A 18 de dezembro dá entrada num hospital de Lanzarote,
acometido por uma pneumonia que evoluirá, com complicações, ao ponto de pôr a
sua vida em risco. Estará hospitalizado um mês e três dias.
2008
No dia 13 de janeiro encerra, na Fundação César Manrique
(Lanzarote), a Exposição José Saramago. A
Consistência dos Sonhos.
A 22 de janeiro tem alta hospitalar e regressa a casa.
No dia seguinte a abandonar o hospital, retoma a escrita de A Viagem do Elefante, interrompida pela
doença. Os dois primeiros dias dedica-os à correção do que já estava escrito em
cerca de quarenta páginas e no terceiro já avança na história. Numa entrevista
publicada em outubro de 2008, no Brasil, comentará: «É sabido que passei por
uma doença muito grave. Tive que interromper a escrita do livro [A Viagem do Elefante]. Internaram-me num
hospital, mas vinte e quatro horas depois de regressar a casa já estava sentado
a escrever. Entre finais de fevereiro e agosto, não parei. Pode concluir-se que
retomei os meus hábitos de sempre: disciplina, trabalho regular e um pouco de obstinação.»
Um mês mais tarde insistiria: «Comecei o livro em fevereiro de 2007, e até maio
escrevi cerca de 40 páginas. Não avancei porque a minha saúde piorou. Mas, como
já me havia decidido por um certo tipo de narrativa, não se produziu nenhuma
alteração no estilo […] É como se houvesse outro que escrevesse por mim.»
Em fevereiro, foi nomeada a curta-metragem de animação La flor más grande del mundo (realização
de Juan Pablo Etcheverry sobre o conto de José Saramago A Maior Flor do Mundo) para a edição dos Prémios Goya 2008 da
Academia das Artes e Ciências Cinematográficas de Espanha. Com estas
distinções, A Maior Flor do Mundo
consegue outro grande êxito na sua passagem pelos festivais VII edição dos
Premios Mestre Mateo (Academia Galega do Audiovisual) ou 17.º Tokyo Global
Environmental Film Festival.
A 28 de fevereiro a Fundação José Saramago é reconhecida
oficialmente pelo governo português, com publicação no Diário da República desse dia.
A 1 de março inauguram-se as atividades da Fundação José Saramago
em Lanzarote com um encontro na biblioteca entre Saramago e María Kodama para
falar de Borges. A mesma atividade será organizada em Lisboa pela sua Fundação
a 20 de junho, subordinada ao título «E se falássemos de Borges?».
Primeiros ateliers
com escolas no auditório da Fundação José Saramago em Lisboa (Portugal) a
propósito da curta-metragem de animação A
Maior Flor do Mundo, disponível em DVD em versão bilingue.
A 15 de março, homenagem a José Saramago (Teatro Nacional
Dona Maria II / Companhia de Teatro de Almada mesa-redonda «O Teatro em José
Saramago» e descerramento de uma placa de homenagem ao escritor) no TNDM II em
Lisboa (Portugal).
A 29 de março o ministro da Cultura de Portugal, José
António Pinto Ribeiro, visita Saramago em Lanzarote.
Em abril viaja até Lisboa, onde no dia 23 se inaugura, com a
presença do primeiro-ministro do seu país, a Exposição José Saramago. A Consistência dos Sonhos, organizada, na Galeria de
Pintura do Rei D. Luís, no Palácio Nacional da Ajuda, pelo Ministério da
Cultura português (Instituto dos Museus e Conservação IMC, Biblioteca Nacional
de Portugal BNP e Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas DGLB). Durante a
sua permanência de três meses em Lisboa, continua escrevendo A Viagem do Elefante.
A 26 de abril a curta-metragem de animação La flor más grande del mundo (realização
de Juan Pablo Etcheverry sobre o conto de José Saramago A Maior Flor do Mundo) ganhou o prémio de melhor filme de animação
no Festival Contraplano 08 em Segovia.
A 14 de maio, o Festival de Cinema de Cannes abre com o
filme Blindness, uma adaptação do
romance Ensaio sobre a Cegueira
transposta para os ecrãs pelo realizador brasileiro Fernando Meirelles. Quatro
dias mais tarde, Meirelles e os produtores do filme exibem-no em Lisboa num visionamento
privado a que assiste José Saramago. Na capital lusa, o filme estreará em outubro.
Apesar das suas reticências a que os seus romances sejam transpostos para
cinema, Saramago sente-se satisfeito com o trabalho do cineasta: «O resultado
da adaptação de Fernando Meirelles é mais que satisfatório. Considero-o mesmo
brilhante. O essencial da história está ali, como seria de esperar, mas
sobretudo encontrei, na narrativa cinematográfica, o mesmo espírito e o mesmo
impulso humanístico que me levaram a escrever o livro.»
A 31 de maio inaugura-se uma extensão local da Fundação José
Saramago em Azinhaga. Nesse mesmo dia, a sua aldeia natal gemina-se com os
municípios de Tías (Lanzarote) e Castril (Granada), reunindo-se assim,
simbolicamente, três municípios vinculados à história sentimental de Saramago.
Homenagem a Pilar del Río com descerramento de placa toponímica em Azinhaga.
Lançamento do livro Memórias da Terra de
José Saramago Azinhaga, de José Henriques Dias, primeiro título editado
pela Fundação José Saramago, em Azinhaga.
Realização de ateliers
com escolas, a propósito da curta-metragem de animação A Maior Flor do Mundo, em Azinhaga (Ribatejo, Portugal), no âmbito
das comemorações do Dia Mundial da Criança.
Representação única da peça Que Farei com Este Livro? pela Companhia de Teatro de Almada no
Teatro Municipal de Almada, em Almada (Portugal).
The Biggest Flower in
the World (realização de Juan Pablo Etcheverry sobre o conto de José
Saramago A Maior Flor do Mundo) vence
o Prémio de Melhor Argumento no Chicago Short Film Festival (Festival de
Curtas-Metragens de Chicago).
A 20 de junho, palestra-colóquio E Se Falássemos de Borges? com María Kodama e José Saramago na
Biblioteca Nacional, em Lisboa.
Concerto executado pelo Quarteto Vianna da Motta, com
interpretação do Quarteto n.º 9, op. 117, de D. Shostakovich na Galeria de
Pintura do Rei D. Luís I no Palácio Nacional da Ajuda (Lisboa).
A 10 de julho a Fundação José Saramago realiza no Teatro
Nacional de São Carlos, em Lisboa, uma homenagem a Jorge de Sena subordinada ao
título «Jorge de Sena Um regresso», com a presença e participação do ministro
da Cultura português, José António Pinto Ribeiro, e intervenções de José
Saramago, Eduardo Lourenço, Vítor Aguiar e Silva, Jorge Fazenda Lourenço, António
Mega Ferreira e Jorge Vaz de Carvalho, que procedeu à leitura de poemas do
homenageado, acompanhado ao piano por António Rosado.
Curso Livre em torno da obra de José Saramago, organizado
pelo IMC e pela DGLB no âmbito da exposição José
Saramago. A Consistência dos Sonhos (10 e 11 de julho), na Galeria de
Pintura do Rei D. Luís I, Palácio Nacional da Ajuda (Lisboa).
A 16 de julho, a Câmara Municipal de Lisboa aprova a
cedência da Casa dos Bicos à Fundação José Saramago por um período de 10 anos
para que ali se instale a sua sede. No dia seguinte é assinado o protocolo de
cedência entre a Câmara e a Fundação.
A 18 de julho voa de Lisboa para Lanzarote.
Lançamento do sítio da Fundação José Saramago na Internet.
A 22 de agosto acaba na sua casa em Lanzarote A Viagem do Elefante. A obra parte de um
episódio histórico localizado em 1551, a oferta de um elefante asiático por
parte do rei D. João III de Portugal a seu primo, o arquiduque Maximiliano de
Áustria. Saramago reinventa a viagem que, por terra e por mar, o paquiderme
realiza desde Belém (Lisboa) a Viena. A ironia, o sarcasmo e o humor formam uma
amálgama com a compaixão para oferecer, como o próprio autor assinalou, «uma
metáfora da vida humana»: «O que me levou a este livro foi o destino do elefante,
no sentido em que, depois de morrer, lhe cortaram as patas para as colocarem na
entrada do palácio para porem nelas os guarda-chuvas, as bengalas e as
sombrinhas. Sem esse destino, tão grotesco, tão absurdo, talvez não tivesse
escrito o livro. Em qualquer caso, excluindo esse final, o livro é uma metáfora
da vida humana.» Mas o alcance metafísico da narração não exclui a dimensão
crítica da metáfora mediante a qual o escritor, amparado no seu célebre
pessimismo, censura a estupidez do homem e investe duramente contra a Igreja, a
nobreza e o estatuto militar, em suma, contra o poder, desmitificando as
instituições para sublinhar o valor do marginal e do aparentemente menor, do
ponto de vista histórico. Saramago assume uma posição cervantina e presta tributo
à língua portuguesa, ao gosto pelo idioma e à invenção narrativa.
Em fins de agosto dá-se início ao blog da Fundação José
Saramago.
Coincidindo com a festa anual (Seixal, Portugal) do jornal Avante!, o Partido Comunista Português
presta-lhe uma homenagem.
A 15 de setembro inicia «O Caderno de Saramago» no blog da
Fundação José Saramago, onde publicará regularmente os seus textos, por norma
cinco artigos por semana.
A 22 de novembro viaja de Lisboa para o Brasil.
A 26 de novembro A
Viagem do Elefante será apresentado, pela primeira vez, na Academia
Brasileira das Letras, no Rio de Janeiro, e no dia seguinte, na Sesc Pinheiros,
em São Paulo. A 3 de dezembro o mesmo sucederá no Centro Cultural de Belém, em
Lisboa. As edições portuguesa, brasileira, espanhola e catalã saem em
simultâneo.
A 29 de novembro é inaugurada a Exposição José Saramago. A Consistência dos Sonhos
no Instituto Tomie Ohtake de São Paulo.
A 1 de dezembro regressa a Lisboa.
Em coedição com a Fundação José Saramago, a Editorial
Caminho imprime una edição especial limitada e numerada de A Viagem do Elefante, que inclui 15 ilustrações de Pedro Proença.
Edita-se e é apresentada uma edição especial de Levantado do Chão ilustrada por Armando
Alves e coordenada por José da Cruz Santos, da editora Modo de Ler. O livro
apresenta-se numa caixa com gravação e tem um prólogo de Pilar del Río.
A 5 de dezembro escreve, na sua casa de Lisboa, a primeira
página do seu novo livro, obra que conclui no dia 16 de março em Lanzarote.
Cinco dias antes anunciara no Brasil que começaria um novo livro.
A 10 de dezembro, coincidindo com o 10.º aniversário da
atribuição do Prémio Nobel, a Fundação José Saramago realiza uma homenagem à
literatura portuguesa na Casa do Alentejo em Lisboa, na qual 25 escritores, atores
e jornalistas emprestam a sua voz a autores já desaparecidos. Saramago lê
Fernando Namora. A Fundação distribui nesse dia na imprensa portuguesa um
folheto com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a propósito do seu
60.º aniversário.
A 11 de dezembro, também na Casa do Alentejo, o juiz
Baltasar Garzón, em colóquio com Saramago, explica o processo de Pinochet e os
atos judiciais que se estão levando a cabo na América contra os crimes das
ditaduras.
A 12 de dezembro inaugura em Lisboa, com María Kodama, o
Memorial a Jorge Luis Borges.
A 16 de dezembro apresenta a edição espanhola de A Viagem do Elefante na Casa de América,
Madrid.
A 28 de dezembro regressa a Lanzarote, depois de passar o
Natal em Granada. Escreve para o blog a entrada «Cunhados», que reflete o que
significa para ele, filho único, estar com tantos cunhados, os 14 irmãos e
irmãs de Pilar e seus respetivos pares.
2009
Durante o mês de janeiro, dedica-se a escrever o seu novo
livro.
No início de fevereiro participa numa homenagem a Jorge
Sampaio, em Lisboa.
A 5 de fevereiro visita as obras de remodelação da Casa dos
Bicos, futura sede da fundação que leva o seu nome.
A 1 de março estreia em Madrid o filme A ciegas, de Fernando Meirelles, adaptação cinematográfica de Ensaio sobre a Cegueira. Saramago
participa, juntamente com Meirelles, na sua apresentação.
A 4 de março inaugura-se em Albacete (Espanha) a Casa da
Cultura José Saramago, com a presença do ministro da Cultura espanhol.
A 16 de março, em Lanzarote, conclui o seu novo livro. A sua
publicação só acontecerá no mês de Outubro.
A 26 de março encerra, em Arrecife de Lanzarote, as II
Jornadas sobre Legalidade Urbanística, organizadas pelo presidente do município
de Lanzarote.
A 5 de abril, dá entrada numa clínica de Lanzarote afetado
por problemas de saúde. Permanece hospitalizado quinze dias.
A 13 de abril, abandona por umas horas a clínica para
participar na mesa-redonda, «Experiência de Um Sequestro», organizada
conjuntamente pela Fundação César Manrique e pela Fundação José Saramago, com o
política colombiano Sigifredo López, primeiramente sequestrado e libertado oito
anos depois pelas FARC. A 20 de Abril deixa o hospital.
A 16 de abril recebe em Granada (Espanha), juntamente com
Dario Fo, o XI Prémio Caja Granada de Cooperación Internacional, nos atos
preliminares do Hay Festival Alambra, em «reconhecimento do esforço e da
dedicação de ambos na procura de uma maior justiça social no mundo». No valor
de cinquenta mil euros, o dinheiro será utilizado para construir um Centro
Cultural Sete Sóis Sete Luas na Ribeira Grande (Ilha de Santo Antão), em Cabo
Verde. Saramago, ainda internado, não pode assistir à entrega do prémio e envia
uma gravação.
A 23 de abril, coincidindo com o Dia Mundial do Livro, a
Fundação José Saramago e a Editorial Caminho publicam conjuntamente O Caderno, uma compilação dos textos
diários que Saramago, desde Setembro de 2008 até meados de março de 2009, foi
publicando no seu blog O Caderno de
Saramago, incorporado na página web
da sua Fundação e difundido por internet. A sua primeira entrada a 17 de setembro
, intitulada «Palavras para uma cidade», dedicou-a a Lisboa. Sobre os seus
comentários confessou: «Disseram-me que tinham reservado para mim um espaço no
blog [da Fundação José Saramago] e que tinha que escrever nele o que fosse,
comentários, reflexões, simples opiniões sobre isto e aquilo, enfim, o que
viesse ao caso.» A última entrada deste tomo, 15 de março, intitula-se «Presidenta»
e é uma declaração de intenções do que quer que seja a Fundação e o papel de
Pilar, sua mulher, na organização do trabalho atual e na projeção que venha a
ter no futuro.
A 24, lançamento do livro Uma longa viagem com Saramago, da autoria de João Céu e Silva,
publicado pela Porto Editora, e apresentado por Ricardo Araújo Pereira.
A 23 de maio, no município de Almada (Portugal), inaugura-se
a Biblioteca Municipal José Saramago, integrada no complexo arquitetónico do
Centro Cívico do Feijó. As instalações incorporam um grande mural de catorze
mil azulejos criado por Querubim Lapa. Em começos de Junho de 2008 fez-se o
anúncio da atribuição do nome do escritor à biblioteca, coincidindo com a
visita do Prémio Nobel a Almada para assistir à representação da peça teatral Que Farei com Este Livro?, escrita por
Saramago para a Companhia de Teatro de Almada e estreada em 1980.
No mesmo dia 23, a curta-metragem de animação La flor más grande del mundo (realização
de Juan Pablo Etcheverry sobre o conto de José Saramago A Maior Flor do Mundo) ganhou o prémio de melhor curta-metragem de
ficção ou de animação no Festival Internacional de Cine Ecológico e Natureza de
Canarias.
A Editora Einaudi, que habitualmente edita em Itália a obra
de Saramago, recusa a publicação de O
Caderno, pelas referências críticas dedicadas ao primeiro-ministro
italiano, Silvio Berlusconi, proprietário da empresa editora no post
«Berlusconi & Cia». A Einaudi justificou a sua decisão de não publicar o
livro «porque, entre muitas outras coisas, no mesmo se diz que Berlusconi é um
delinquente. Quer se trate dele ou de qualquer outro expoente político, de
qualquer segmento ou partido, a Einaudi defende a liberdade de criticar, mas nega-se
a fazer sua uma acusação que qualquer tribunal condenaria [&] A Einaudi é
propriedade de Berlusconi. E seria grotesco que esta casa editora fosse levada
a tribunal por difamação ao seu dono, com a certeza de que seria condenada». O
Prémio Nobel, para além de recusar a prática da censura, comentou à imprensa:
«A verdade é que a situação que foi criada poderia definir-se como pitoresca,
não fosse o facto de um político acumular tanto poder que faz temer a qualidade
da democracia.» E juntou: «Deve ser duro viver quando o poder político e o
empresarial se reúnem. Não invejo a sorte dos italianos, mas no final depende
da vontade dos eleitores manter este estado de coisas ou mudá-lo». Em
declarações ao diário El País, precisou: «O que digo dele é mais ou menos o que
todo o mundo pensa, à exceção dos seus votantes. Dizemos que a democracia é o
melhor dos sistemas, e é certo. Mas a sua fragilidade é enorme. Quando aparece
um senhor assim, que utiliza os piores métodos e consegue milhões de votos, o
que acho estranho não é que se levantem vozes indignadas que protestem, mas que
não se produza um movimento social de recusa pelo simples facto de que arruína
o prestígio do seu país.»
A 23 de maio viaja para Lisboa.
A 31 de maio participa, em Azinhaga (Ribatejo, Portugal), na
celebração do primeiro aniversário da extensão local da Fundação que leva o seu
nome. Por tal motivo, inaugura-se uma estátua de bronze sua, de um metro e
oitenta de altura, obra do artista Armando Ferreira, que o retrata sentado num
banco público com um livro na mão aberto numa página que diz: «A aldeia
chama-se Azinhaga.» A peça com a qual a aldeia natal do escritor o homenageia
está instalada na praça da aldeia Largo da Praça, frente ao edifício da
Fundação José Saramago. A escultura, impulsionada pelo presidente da Junta de
Freguesia de Azinhaga, Vítor Guia, foi custeada por um grupo de leitores
portugueses, cuja comissão foi coordenada por José Miguel Noras, membro do
grupo «Mais Saramago».
A 3 de junho, sob a designação Narrar, recordar, participa
num encontro com o escritor Manuel Rivas organizado em La Coruña pela Fundação
Casares, a propósito da sexta edição dos «Diálogos Literários de Mariñán».
A 15 de junho, na Casa do Alentejo, a Fundação José Saramago
promove uma jornada de estudo e de homenagem ao escritor português José
Rodrigues Miguéis (1901-1980), intitulada «Vamos ouvir José Rodrigues Miguéis»
e inserida no ciclo inaugurado um ano antes com Jorge de Sena. No ato,
coordenado pelo Professor da Universidade de Brown (Boston) Onésimo Teotónio de
Almeida, intervêm, além do próprio Saramago, os Professores David Brookshaw,
Duarte Barcelos, José Albino Pereira e Teresa Martins Marques.
A 18 e 19 de junho realiza a rota portuguesa percorrida por
Salomão em A Viagem do Elefante.
Acompanhado pelos colaboradores da Fundação José Saramago e por alguns
jornalistas, vai em autocarro desde Belém (Lisboa) até à fronteira em Figueira
de Castelo Rodrigo, seguindo um itinerário cujos objetivos fundamentais são:
Constância, Castelo Novo, Belmonte, Sortelha, Cidadelhe e Castelo Rodrigo.
A 25 de junho é apresentado em Lisboa O Caderno, livro em que se recolhem as entradas do autor
publicadas, desde setembro de 2008, no blog da Fundação que leva o seu nome. O
ato, transmitido em direto por internet e realizado numa das salas do Tiara
Park Atlantic Hotel, em Lisboa, consistiu numa conversa do autor com os jovens
jornalistas Isabel Coutinho e José Mário Silva, responsáveis por alguns dos
mais lidos blogs culturais em Portugal.
A 28 de unho Saramago visita as obras da Fundação na Casa
dos Bicos, acompanhado pelos arquitetos responsáveis pela remodelação, e
declara-se satisfeito com o trabalho realizado.
A 9 de Julho, é nomeado Sócio Correspondente da Academia
Brasileira de Letras.
De 15 a 18 de outubro, realiza-se a segunda edição de
«Escritaria», uma iniciativa que traz a criação literária para as ruas de
Penafiel, mobilizando os seus habitantes e quem visita a cidade por esses dias.
A Fundação José Saramago colaborou na organização deste encontro que promete
continuar a fazer de Penafiel um local de discussão e de partilha em torno dos
livros e dos seus autores. O tema da edição de 2009 foi dedicado a José
Saramago que aí se deslocou, participando diariamente em diversos eventos em
torno da sua obra, tendo sido objeto de destaque na sessão de encerramento o
seu romance mais recente, Caim.
A 21 tem lugar uma conferência de imprensa com José Saramago
a propósito de Caim, promovida pela
sua editora, Caminho, na sede das instalações do Grupo Leya em Lisboa.
No dia 30, lançamento de Caim
na Fundação Caixa Geral de Depósitos – Culturgest, em Lisboa, com a presença do
autor.
Apresentação de Caim
em conferência de imprensa, no dia 3 de novembro, na Casa de América, em
Madrid, com José Saramago, e editado pela sua editora espanhola, Alfaguara.
Nos dias 14 e 15, a curta-metragem A Maior Flor do Mundo, adaptada do conto infantil homónimo de José
Saramago, dirigida por Juan Pablo Etcheverry (Continental Producciones), foi
distinguida com o Prémio FNAC para a Melhor Curta-Metragem Espanhola por
votação do público infantil (a mesma distinção foi atribuída a O Soldadinho de Chumbo, adaptação do
conto infantil de H. C. Andersen dirigido por Virginia Curiá e Tomás Conde).
Para além deste prémio, a banda sonora de A
Maior Flor do Mundo, composta por Emilio Aragón, foi distinguida com o
Prémio Amigos da Música de Badalona para a Melhor Música Original.
A 22, na sequência da proibição da entrada em Marrocos de
Aminatu Haidar (defensora incondicional dos Direitos Humanos e destacada ativista
pela independência do Sahara Ocidental), José Saramago escreve-lhe uma carta de
solidariedade, já no decorrer da greve de fome encetada por Aminatu e que
duraria 32 dias.
A 1 de dezembro, visita-a no aeroporto de Guacimeta em
Lanzarote onde esta permanecia ainda em greve de fome.
2010
No dia 29 de janeiro, na sequência do sismo que abalou o
Haiti, dá-se início a uma campanha de solidariedade para com o povo haitiano
dando vida às palavras de José Saramago, a propósito da tragédia, “Porque todos
temos uma obrigação”. Esta campanha traduziu-se no lançamento de uma edição
especial do livro A Jangada de Pedra,
cujas vendas reverteram integralmente a favor das vítimas do sismo, através
Fundo de Emergência da Cruz Vermelha, e foi promovida pela Fundação José
Saramago, Grupo Leya e Editorial Caminho.
No dia 5 de fevereiro, lançamento de Biografia de José Saramago, da autoria de João Marques Lopes e
publicada em coedição pela Guerra e Paz e pelas Edições Pluma. Esta biografia
não contou com a participação de José Saramago.
No dia 17, lançamento de O
Caderno 2 com prefácio de Umberto Eco, uma compilação dos textos diários
que José Saramago publicou no seu blog O
Caderno de Saramago, desde Setembro de 2008 até Novembro de 2009.
A 3 de março, exibição do filme Embargo, de António Ferreira, adaptado do conto homónimo de José Saramago,
incluído na obra Objeto Quase. O
filme fez parte da seleção oficial do Festival Fanstaporto 2010.
Nos dias 14 e 15 de abril, Juan Gelman (poeta e jornalista
argentino, Prémio Cervantes 2007) visita Lisboa. Do programa constou uma
conferência de imprensa no Instituto Cervantes, uma Aula Aberta na Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa, e uma sessão na Casa
do Alentejo com leitura de poemas por Juan Gelman e Nuno Júdice, acompanhada de
trechos musicais de Astor Piazzola, interpretados por Gonçalo Pescada. José
Saramago interveio na sessão por videoconferência desde Lanzarote. O poeta e
jornalista fez-se acompanhar pelo seu editor Alejandro Schnetzer, da editora
Libros del Zorro Rojo que, a par da Fundação José Saramago, Embaixada da
Argentina, Instituto Cervantes e Casa da América Latina, também promoveu esta
visita.
No dia 3 de maio, na Sala José Saramago em Arrecife, no
âmbito do ciclo “El Autor y Su Obra – Encuentros com creadores”, realizou-se um
colóquio com Ángeles Mastretta (jornalistas e escritora mexicana) e Pilar del
Río. O evento foi organizado pela Fundação César Manrique e pela Fundação José
Saramago.
No dia 18 de junho, às 12h30m, José Saramago faleceu na sua
casa em Lanzarote, acompanhado por sua família e amigos mais próximos.
Às 17h, na sala da Biblioteca da Fundação José Saramago, em
Lanzarote, o seu corpo ficou em câmara-ardente até às 2h da madrugada, para que
todos os que assim o desejassem lhe pudessem prestar uma última homenagem.
Em simultâneo, a Sala José Saramago da Fundação César
Manrique em Arrecife (Lanzarote) recebia leitores anónimos para uma leitura
espontânea de excertos de obras de José Saramago.
No dia 19 de junho, pelas 13h30m, o seu corpo regressou a
Lisboa num avião do Estado Português, acompanhado pela família, pela Ministra
da Cultura, Gabriela Canavilhas, e por amigos íntimos. Posteriormente, o seu
corpo ficou em câmara-ardente no Salão Nobre da Câmara Municipal de Lisboa onde
até à meia-noite mais de 20 mil pessoas se deslocaram para lhe prestar
homenagem.
No dia 20 de junho, no Salão Nobre da Câmara Municipal de
Lisboa, às 11h, realizou-se uma cerimónia, que contou com a presença do
Primeiro-Ministro José Sócrates e com participação de António Costa, Presidente
da Câmara Municipal de Lisboa, Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral do Partido
Comunista Português, Carlos Reis, em representação da Fundação José Saramago,
Gabriela Canavilhas, Ministra da Cultura em representação do Governo Português,
María Teresa de la Vega, Vice-Presidenta do Governo Espanhol, em representação
do Governo Espanhol. A cerimónia foi encerrada pela violoncelista Irene Lima,
que interpretou El Cant dels Ocells (O Canto dos Pássaros), de Pau Casals, e
uma peça de Bach. Irene Lima envergou para esta ocasião o vestido vermelho que
Pilar del Río usou na cerimónia de entrega do Prémio Nobel, em 1998, e que
tinha escrita pelo seu punho (e posteriormente bordada) uma frase de O Evangelho segundo Jesus Cristo:
“Olharei a tua sombra se não quiseres que te olhe a ti, Quero estar onde a
minha sombra estiver, se lá é que estiverem os teus olhos.”.
Às 12h30m o seu corpo foi cremado no Cemitério do Alto de
São João, em Lisboa, onde foi recebido por uma imensa multidão que se despediu
de José Saramago levantando livros, como ele levantou do chão uma obra que tanto
nos tem enriquecido.
“Não nos pediste muito, damos-te tudo” (Fundação José Saramago)
Com base na investigação realizada por Fernando Gómez
Aguilera para José Saramago: A
Consistência dos Sonhos – Cronobiografia (Editorial Caminho, Lisboa, 2008)
Adaptado daqui: Fundação José Saramago.
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terça-feira, 31 de maio de 2011
Estrutura da ação de Memorial do Convento
A contracapa do romance, elaborada pelo próprio Saramago, define, desde logo, as suas linhas temáticas: «Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento. Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes. Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido. Era uma vez.»
In Memorial do Convento
De facto, a intriga do romance gira à volta da construção do convento de Mafra - que poderemos designar como acção principal - e das personagens referenciais e/ou ficcionais ligadas a essa construção, mas dela derivam outras linhas de acção, como a relação entre Baltasar e Blimunda, a construção da passarola e a epopeia dos trabalhadores.
De qualquer forma, costuma apontar-se a existência de três linhas de acção centrais em Memorial do Convento:
- A construção do Convento de Mafra, resultante da promessa feita por D. João V aos frades franciscanos, segundo a qual aquele seria edificado caso a rainha desse à luz, no prazo de um ano, um herdeiro para o trono português. Esta linha de acção, por outro lado, serve os intuitos críticos do narrador, que aproveita para denunciar o sacrifício e a morte de inúmeros trabalhadores - muitos deles fizeram-no contra a sua vontade - durante a realização das obras. E tudo isto para satisfazer a vaidade do rei.
- A relação de amor entre Baltasar e Blimunda, personagens que se envolveram quer nas obras do convento quer na construção da passarola, através, respectivamente, do seu esforço muscular e dos seus poderes mágicos.
- A construção da passarola pelo padre Bartolomeu de Gusmão, símbolo do desejo eterno do Homem de voar.
Por outro lado, podemos considerar a existência de quatro momentos na acção do romance:
-» 1.ª parte - Capítulos I a VIII (ano de 1711):
- A promessa de construção do convento;
- A gravidez da rainha, da qual resultaria a futura princesa D. Maria Francisca Bárbara;
- A apresentação de Baltasar, Blimunda e Bartolomeu de Gusmão;
- A menção ao projecto da passarola;
- O nascimento do segundo filho do casal real, o infante D. Pedro, que morrerá com dois anos de idade;
- O cumprimento da promessa real, com a escolha do local de construção do convento.
-» 2.ª parte - Capítulos IX a XVI (anos de 1713 a 1722):
- A construção da passarola;
- A construção do Convento de Mafra, na qual participa a família de Baltasar Mateus;
- A doença de Blimunda e os poderes curativos da música do cravo de Domenico Scarlatti;
- A tentativa de destruição da passarola pelo seu criador;
- O desaparecimento do padre Bartolomeu de Gusmão.
-» 3.ª parte - Capítulos XVII a XXIV (anos de 1723 a 1730):
- Baltasar participa na construção do convento;
- Morte de Bartolomeu de Gusmão, anunciada por Domenico Scarlatti;
- Sagração do convento (22 de Outubro de 1730, data do quadragésimo primeiro aniversário do rei);
- Desaparecimento de Baltasar na passarola.
-» 4.ª parte - Epílogo (Capítulo XXV):
- Errância de Blimunda em busca de Baltasar, que acaba por encontrar, passados nove anos, num auto-de-fé.
sexta-feira, 20 de maio de 2011
Espaço social em 'Memorial do Convento'
O espaço social do Memorial concentra-se em torno de dois locais - LISBOA e MAFRA - e procura recriar a sociedade portuguesa - cortesã e popular - dos primeiros decénios do século XVIII, focando aspectos como a Inquisição, as festividades, a corte, a escravatura, as injustiças, a feitiçaria, os autos-de-fé, os rituais religiosos e cortesãos, as epidemias, etc.
1. LISBOA
Citando Auxília Ramos e Zaida Braga, responsáveis intelectuais pela colecção RESUMOS, da Porto Editora, «Lisboa aparece descrita através de uma série de sensações auditivas (pregões, vozes alteradas, toques dos sinos, das trombetas, rufos de tambores, salvas de tiros anunciando a chegada ou a partida das naus, o som monocórdico das rezas, das ladainhas e da sineta dos frades mendicantes) que constroem a imagem de uma cidade - apesar de, na voz do narrador, parecer 'tão quieta' - em constante movimento.» (pág. 23).
Em Lisboa, são vários os ambientes que constroem a visão epocal da capital do reino:
1.1. O Paço
- A subserviência e o vazio dos gestos repetidos e inúteis por parte do enxame de cortesãos que rodeiam o rei e a rainha;
- Os aspectos caricaturais que definem a relação conjugal dos monarcas (o cerimonial, a ausência de afectividade, intimidade, amor, etc.).
1.2. O Entrudo e a Procissão da Quaresma
- A religião enquanto pretexto para a prática de excessos e desvarios (a satisfação de prazeres carnais) e brincadeiras carnavalescas (as pessoas comem e bebem em demasia, dão «umbigadas pelas esquinas», atiram água à cara umas das outras, batem nos mais desprevenidos, tocam gaitas, espojam-se nas ruas...);
- A penitência física dos pecados da carne (o jejum e o açoite - pág. 28) e a mortificação da alma (o jejum e o açoite - pág. 28) e a mortificação da alma após o desregramento do Entrudo (é tempo de «mortificar a alma para que o corpo finja arrepender-se...»);
- As manifestações de fé caracterizadas pela histeria, pelo sadomasoquismo e pelo primitivismo: as pessoas arranham-se, arrastam-se pelo chão, puxam os cabelos, esbofeteiam-se, autoflagelam-se para gáudio das mulheres e amantes que assistem à procissão a partir das janelas;
- Os comportamentos das mulheres que reclamam mais violência e vigor na «actuação» do seu «servidor» e obtêm prazer dos actos de autoflagelação dos penitentes (sadismo: obtenção de prazer a partir do sofrimento de outrem);
- A alteração dos comportamentos femininos: as mulheres, nesta época, são livres de percorrer sozinhas as ruas e de frequentar as igrejas, comportamento que facilita o adultério;
- A alteração periódica da mentalidade machista masculina: os homens «fecham» os olhos» aos
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Obras de José Saramago
. Romance
. Teatro
. Poesia
. Crónicas
. Contos
. Ensaio
. Viagens
. Diário
. Discursos
- Terra do Pecado (1947)
- Manual de Pintura e Caligrafia (1977)
- Levantado do Chão (1980)
- Memorial do Convento (1982)
- O Ano da Morte de Ricardo Reis (1986)
- A Jangada de Pedra (1986)
- História do Cerco de Lisboa (1989)
- O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991)
- Ensaio sobre a Cegueira (1995)
- Todos os Nomes (1997)
- A Caverna (2000)
- O Homem Duplicado (2002)
- Ensaio sobre a Lucidez (2004)
- As Intermitências da Morte (2005)
- A Viagem do Elefante (2008)
- Caim (2009)
. Teatro
- A Noite (1979)
- Que Farei com Este Livro? (1980)
- A Segunda Vida de Francisco de Assis (1987)
- In Nomine Dei (1993)
- Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido (2005)
. Poesia
- Os Poemas Possíveis (1966)
- Provavelmente Alegria (1970)
- O Ano de 1993 (1975)
- Poesia Completa (2005)
. Crónicas
- Deste Mundo e do Outro (1985)
- A Bagagem do Viajante (1973)
- As Opiniões que o DL teve (1974)
- Os Apontamentos (1976)
- Folhas Políticas (1976-1998) (1999)
. Contos
- Objecto Quase (1978)
- O Conto da Ilha Desconhecida (1998)
- A Maior Flor do Mundo (2001)
. Ensaio
- Poética dos Cinco Sentidos (O Ouvido) (1979)
. Viagens
- Viagem a Portugal (1980)
. Diário
- Cadernos de Lanzarote I (1994)
- Cadernos de Lanzarote II (1995)
- Cadernos de Lanzarote III (1996)
- Cadernos de Lanzarote (1993-1995) (1997)
- Cadernos de Lanzarote IV (1998)
- Cadernos de Lanzarote V (1998)
. Discursos
- Discursos de Estocolmo (1999)
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