a) Descrição do quadro;
b) Simbologia;
c) Crítica;
d) Relação com o Sermão de Santo António.
Pieter Bruegel, o Velho, de origem holandesa, foi o maior
pintor flamengo do século XVI, nascido provavelmente em 1525, na cidade de
Breda, e falecido a 5 de setembro de 1569, em Bruxelas. Uma das suas obras, “Os
peixes grandes comem os pequenos”, é uma pintura a tinta de 22 X 29 cm, datada
de 1556, encerra uma alegoria profundamente crítica: note-se que os homens e os
peixes se misturam, pelo que a alegoria é dirigida a ambos.
O quadro é dominado por um enorme peixe morto numa margem de
um curso de água. O animal está a ser esventrado por dois homens, um deles com
uma faca enorme, maior do que ele mesmo, e o outro, suspenso numa escada
segurando um tridente. De dentro do grande peixe, saem muitos outros mais
pequenos, que aquele engoliu. Pela boca, aberta, saem-lhe vários desses peixes,
o que poderá indiciar uma espécie de “indigestão”, resultado do facto de ter
comido tantos que teve de os vomitar. Da boca desses peixes engolidos pelo maior
saem outros mais pequenos.
Na imagem, observamos diversos homens à pesca, barcos, uma
ilhota em segundo plano e o que parece ser uma localidade piscatória bem em
fundo, entre outros elementos. Na água, são visíveis também peixes que comem
outros mais pequenos. No barco, encontram-se três homens, estando um deles, de
faca na boca, com a qual esventrou um peixe grande, a retirar outro mais
pequeno do seu interior. Em terra, vislumbramos outros homens, ocupados com
diversas tarefas (pendurar peixes numa árvore, pesca, etc.), bem como figuras
com pernas humanas e corpo de peixe, simbolizando que estes peixes e os seus
vícios são também, ou afinal, praticados pelos seres humanos. No céu, é visível
um peixe voador que se precipita, de boca aberta, sobre o grande, o que pode
representar a voracidade exagerada destes animais (alegoricamente, dos homens),
pelos mais diversos motivos: poder, bens materiais, etc.
A leitura simbólica da imagem sugere que, embora
possamos ser predadores, isto é, explorar, dominar, etc.) dos mais fracos,
podemos acabar por ser presas de outros mais agressivos ou poderosos.
Se relacionarmos o quadro com o Sermão de Santo António,
é possível verificar que existe uma sintonia entre as duas obras, desde logo
porque o texto é alegórico e, enquanto tal, representa características do ser
humano nos peixes. Tal como estes se comem uns aos outros e os grandes comem os
pequenos, também os homens o fazem (ou seja, também os indivíduos se exploram e
os mais fortes, os mais fracos), podendo ser predadores dos seus semelhantes, e
servir de presas para outros, uma espécie de cadeia alimentar simbólica.