Português: 03/05/23

quarta-feira, 3 de maio de 2023

Análise do poema "Epigrama N.º 2", de Cecília Meireles


                 No primeiro verso, o «eu» poético apresenta a felicidade escrita em maiúscula, personificada, e caracteriza-a como algo efémero: “És precária e veloz”. Por outro lado, é algo difícil de acontecer, que “custa a vir e, quando vens, não se demora”. A velocidade com que os momentos de felicidade acontecem está relacionada com o tempo e a sua transitoriedade, visto que tudo no universo gira em torno do tempo e da ação dele sobre os seres.

                Por outro lado, a felicidade constitui a razão de ser do tempo, a qual, por ser tão “precária e veloz”, “obrigou” o ser humano a medir o tempo e a inventar as horas, para que esses momentos fossem medidos e valorizados: “Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo, / e, para te medir, se inventaram as horas.”

                Na segunda estrofe, o sujeito poético designa a felicidade como “coisa”, o que significa que é muito difícil compreender a sua natureza, defini-la. Esta ideia é frisada quando o «eu» qualifica a felicidade com o adjetivo «estranha», sugerindo, assim, que é algo que não se pode explicar (estranha), apenas sentir. No entanto, apesar de ser um sentimento bom, pode tornar-se muitas vezes “doloroso”, dado que são tristes as horas subsequentes quando comparadas aos momentos em que ela se fez sentir.

                A felicidade, tal como o tempo, é transitória, passageira, o que torna a vida do homem mais triste, uma vez que, após a passagem dos momentos felizes, resta ao homem uma realidade monótona porque rotineira, pelo que aquele inventou as horas, porque, desse modo, saberá dar valor ao tempo em que está feliz: “Porque um dia se vê que as horas todas passam, / e um tempo, despovoado e profundo, persiste.”

                O sujeito poético, no último verso, enfatiza, de forma melancólica, a transitoriedade da vida, “porque um dia se vê que as horas todas passam”. Como tudo é passageiro, a felicidade também é transitória e passa, razão pela qual o «eu» lírico se refere a “um tempo, despovoado e profundo, persiste”.

                Esta tristeza que brota após a passagem da felicidade não é individual; pelo contrário, é expressa em nome dos homens que sofrem quando a perdem ou passam por momentos de felicidade, facto que lhe ensina o valor do tempo e da sua existência, bem como a importância do significado da felicidade, visto que o sujeito poético é alguém que já experimentou o sabor da felicidade, pelo que conhece o quão importante é e o que há a esperar dela.

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