Por
outro lado, a felicidade constitui a razão de ser do tempo, a qual, por ser tão
“precária e veloz”, “obrigou” o ser humano a medir o tempo e a inventar as
horas, para que esses momentos fossem medidos e valorizados: “Foste tu que
ensinaste aos homens que havia tempo, / e, para te medir, se inventaram as
horas.”
Na
segunda estrofe, o sujeito poético designa a felicidade como “coisa”, o que
significa que é muito difícil compreender a sua natureza, defini-la. Esta ideia
é frisada quando o «eu» qualifica a felicidade com o adjetivo «estranha»,
sugerindo, assim, que é algo que não se pode explicar (estranha), apenas
sentir. No entanto, apesar de ser um sentimento bom, pode tornar-se muitas
vezes “doloroso”, dado que são tristes as horas subsequentes quando comparadas
aos momentos em que ela se fez sentir.
A
felicidade, tal como o tempo, é transitória, passageira, o que torna a vida do
homem mais triste, uma vez que, após a passagem dos momentos felizes, resta ao
homem uma realidade monótona porque rotineira, pelo que aquele inventou as horas,
porque, desse modo, saberá dar valor ao tempo em que está feliz: “Porque um dia
se vê que as horas todas passam, / e um tempo, despovoado e profundo, persiste.”
O
sujeito poético, no último verso, enfatiza, de forma melancólica, a
transitoriedade da vida, “porque um dia se vê que as horas todas passam”. Como
tudo é passageiro, a felicidade também é transitória e passa, razão pela qual o
«eu» lírico se refere a “um tempo, despovoado e profundo, persiste”.
Esta
tristeza que brota após a passagem da felicidade não é individual; pelo
contrário, é expressa em nome dos homens que sofrem quando a perdem ou passam
por momentos de felicidade, facto que lhe ensina o valor do tempo e da sua
existência, bem como a importância do significado da felicidade, visto que o
sujeito poético é alguém que já experimentou o sabor da felicidade, pelo que
conhece o quão importante é e o que há a esperar dela.