terça-feira, 16 de agosto de 2022
Análise do poema "Província", de Cecília Meireles
quinta-feira, 28 de janeiro de 2021
Análise de "Retrato", de Cecília Meireles
De
facto, o título do texto remete exatamente para o traçar do próprio
retrato, tanto físico (as feições do rosto e do corpo) como psicológico (do
qual ressalta a angústia existencial interior, motivada pela consciência da
passagem do tempo).
O
sujeito poético começa por constatar a mudança operada no seu rosto, graças à
passagem do tempo: “Eu não tinha este rosto de hoje” – v. 1. No segundo verso,
são enumeradas três características desse rosto: “calmo”, “triste” e “magro”.
Destes traços ressalta a tristeza do «eu», originada talvez pela própria mudança
e pela consciência tardia da transitoriedade da vida. O tom negativo do retrato
é acentuado nos dois versos seguintes (anafóricos), que acrescentam mais duas
características: os olhos vazios e o lábio amargo. Os olhos azuis parecem sugerir
o vazio existencial que marca o presente do «eu», enquanto o lábio (note-se o
uso do singular) evidencia a sua amargura e, por extensão, sugere a ausência do
sorriso, motivados pela perda da beleza (do próprio «eu» e da vida).
Deste
modo, a primeira quadra destaca a preocupação, a tristeza, a amargura e a
melancolia do sujeito poético por causa da passagem do tempo e do
envelhecimento, bem evidentes nas mudanças que constata terem-se operado.
Note-se, ainda, o facto de os elementos corporais servirem não tanto para a
descrição de traços físicos, mas sim psicológicos. A única característica
física que é associada ao rosto é a magreza e, ainda assim, serve como
«justificação» para a sua tristeza.
No
verso inicial da terceira estrofe, o sujeito poético prossegue o seu
autorretrato descrevendo as mãos, que representam, frequentemente, a força e o
trabalho. No caso do poema, é destacada a sua fraqueza / fragilidade (“sem
força” – v. 5) e, logo de seguida, são descritas como “Tão paradas e frias e
mortas” (polissíndeto e tripla adjetivação), enfatizando a sua degradação e
frieza. O terceiro verso foca-se no coração, que perdeu o seu vigor e os
sentimentos, pois o «eu» observa-o e constata que está escondido: “Eu não tinha
este coração / Que nem se mostra.”
Na
terceira quadra, o sujeito lírico revela que não se apercebeu da ocorrência da
mudança ao longo dos anos: “Eu não dei por essa mudança”. Que mudança foi essa?
“Tão simples, tão certa, tão fácil.”. A tripla adjetivação, a anáfora e a
reiteração do advérbio «tão» reforçam o caráter da transitoriedade, que ocorreu
tanto física quanto interiormente. A mudança ocorreu de forma rápida e cruel.
Nos derradeiros
dois versos, está presente uma metáfora e uma interrogação em forma de discurso
direto, anunciado pelos dois pontos e pelo travessão: o espelho representa um tempo
passado, onde as feições eram outras e marcavam uma outra idade, e a face é o
reflexo da passagem do tempo e da velhice, em suma, do decurso da vida. O
último verso sintetiza uma reflexão existencial profunda: onde foi que a
essência do «eu» lírico se perdeu?
Em
suma, Cecília Meireles questiona, neste texto, a mudança na vida do ser humano decorrente
da passagem do tempo no sentido do envelhecimento. Os anos passam, o aspeto
físico das pessoas altera-se, as doenças surgem, as limitações físicas
acentuam-se e tudo isso se reflete na parte psicológica.
domingo, 19 de abril de 2020
Análise de "Um adeus português"
Análise de "Autorretrato", de Alexandre O'Neill
sábado, 25 de janeiro de 2020
Análise de "Quadrilha", de Carlos Drummond de Andrade
terça-feira, 6 de agosto de 2019
Análise de "No meio do caminho", de Carlos Drummond de Andrade
quarta-feira, 31 de julho de 2019
"Fim", de Mário de Sá Carneiro
O texto
gira em torno de um tema que se pode sintetizar do seguinte modo: encontrar
sentido apenas na morte e através dela. O sujeito poético confere à sua morte e
ao seu funeral o tom grotesco que lhe rira a dignidade, como para mais
achincalhar-se.
Começando a
análise pelo título, nota-se nele uma espécie de humor satânico que se estende
a toda a composição. O sujeito poético expressa o desejo de o seu post-mortem,
o seu funeral, a sua morte, ser celebrado com grande euforia e espetáculo: marcado
pelo bater de latas, berros, pinotes e palhaços, desejo esse que sugere uma
autorridicularização. É uma sugestão irreverente que deixa escapar um profundo
autodesprezo. Por outro lado, a performance circense de palhaços e acrobatas
conota uma alegria no encontro com a morte.
As ideias
de teatralidade e representação são conferidas pela presença precisamente dos
palhaços e acrobatas, típicas figuras do espetáculo circense, que resume a
faceta de clandestinidade, de transgressão incutida na excentricidade do último
desejo, o de um funeral à moda andaluza. Esta arte de rua, marginal, constitui
também o tema de “Partida de Emigrantes”, um triplico de Almada Negreiros. Num
dos quadros, os saltimbancos de rua dominam a cena do cais representado. A sua
presença representa a transgressão, a marginalidade que pode ser ignorada,
desprezada e ostracizada, mas não suprimida, porque existe. No poema em
análise, o sujeito lírico, na última jornada da sua existência, transforma o
que deveria ser um cerimonial triste e pesaroso, de acordo com as convenções
ocidentais, numa festa de rua, dominada pelo clima de festa, provocatória. O
fim é celebrado e transformado numa comemoração de vida, a pretexto da morte, e
acompanhado por artistas marginais com quem comunga o mesmo sentido
transgressor. Isto significa que o conceito tradicional de funeral não é o
enunciado no texto: um funeral é uma cerimónia caracterizada por uma atmosfera
grave e de pesar, mas neste caso é manifesto o desejo do «eu» de que o seu seja
um momento de festa e de folia.
O ato caricato
de transportar o caixão sobre um burro sugere a irreverência diante da morte e
traduz também uma ideia de escárnio pelo próprio fim. Além disso, tem os
enfeites à moda da Andaluzia, que devem ser vibrantes, vistosos.
Quanto ao
burro, no texto simboliza a obscuridade. Note-se que, na Índia, o animal serve
de montaria para divindades funestas, como Nairrita, guardião da região dos
mortos, o que só confirma a ideia de que o poema aponta para a figura do fim.
A figura do
palhaço, para Chevalier e Gheerbrant, é a representação do rei assassinado.
Simboliza a inversão da compostura régia nas suas palavras e atitudes. A
majestade é substituída pela irreverência; a soberania pela ausência de toda a
autoridade; o temor pelo riso; a vitória pela derrota; as cerimónias sagradas
pelo ridículo; a morte pela zombaria. O palhaço é como o reverso da medalha, o
contrário da realeza, a paródia encarnada.
A nota final é clara: esta é a sua vontade expressa, pois a um morto nada se recusa.
segunda-feira, 8 de julho de 2019
Análise de "José", de Carlos Drummond de Andrade
quarta-feira, 26 de junho de 2019
"Presságio"
https://www.culturagenial.com/poema-pressagio-de-fernando-pessoa/