Ao longo da composição, o «eu»
repete uma ideia, como se quisesse provar uma tese: as cartas de amor são
ridículas. De facto, de acordo com a estrofe inicial, as cartas de amor são,
por natureza, ridículas. Trata-se de um facto, um dado adquirido, algo que é do
conhecimento geral.
Na terceira, clarifica que, quando
há amor verdadeiro e autêntico, as cartas de amor «têm de ser» ridículas, isto
é, caracterizadas por um tom exageradamente sentimental. É típico das missivas
amorosas repetir clichés e transbordar emoções.
A quarta estrofe clarifica o sentido
do poema. Se, nas anteriores, ressaltava a ideia de que estávamos na presença
de uma crítica ao sentimentalismo romântico, nesta o «eu» explica que, na
verdade, ridículas são as pessoas que nunca escreveram cartas de amor, isto é,
que nunca expressaram os seus sentimentos de forma tão simples, sincera e sem
barreiras. Deste modo, a crítica será dirigida àqueles que julgam os outros
porque nunca se apaixonaram, pelo menos daquela forma.
Na quinta, o «eu» assume que sente
saudades do passado inocente e esperançoso em que escrevia cartas de amor.
Nesse tempo, o sujeito lírico não teria pudor ou consciência de que escrever
cartas de amor seria algo ridículo aos olhos de outras pessoas.
Na penúltima estrofe, encontramos um
«eu» maduro e mais cínico que parece sentir vergonha das cartas de amor que
escreveu no passado, na sua juventude. Reconhece que aquilo que é realmente
ridículo é o modo como recorda esse momento e esse facto. Com o tempo, a forma
como encara e vive o sentimento amoroso mudou e ele mesmo foi-se tornando mais
fechado e incapaz de se expressar de um mondo tão intenso e genuíno.
A última estrofe está toda entre parênteses,
um sinal de pontuação que exprime, por vezes, uma explicação, o que nos faz
considerar que esta parte do texto constitui, de facto, uma explicação da
estrofe anterior ou até de todo o poema. Ela sugere que todas as palavras e os
sentimentos presentes numa carta de amor são ridículos, o que pode significar que
não é a pessoa que está apaixonada que é ridícula, ou as cartas, mas sim as
palavras e os sentimentos em si.