Português: 30/08/19

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Resumo do capítulo XVIII de Admirável Mundo Novo


            Bernard e Helmholtz despedem-se de John. Bernard pede desculpas pela cena feita no escritório de Mond. John pergunta a Mond se pode ir com eles para as ilhas, mas este recusa, porque quer continuar a "experiência". Mais tarde, John escolhe isolar-se num farol abandonado no deserto. Planta o seu próprio jardim e realiza rituais de autopunição para se purificar da contaminação da civilização.
            Um dia, alguns funcionários Delta-Menos veem John chicoteando-se. No dia seguinte, repórteres vêm entrevistá-lo. Ele pontapeia um repórter e exige, com raiva, que respeitem a sua solidão. Os jornais publicam o incidente e mais repórteres se dirigem à sua casa. John reage a essa presença com crescente violência. Um dia, pensa ansiosamente em Lenina e corre para se chicotear. Um homem filma a cena e produz um filme sensorial muito popular.
            Os fãs do filme visitam John e cantam: "Queremos o chicote". Enquanto a multidão canta, Lenina sai de um helicóptero e caminha na sua direção, de braços abertos. John chama-lhe prostituta e começa a chicoteá-la, dizendo: “Oh, a carne! . . . Mata-a, mata-a!”. Fascinada pelo espetáculo, a multidão imita os seus gestos, dança e canta o hino: “Orgia, Orgia.”. Depois da meia-noite, os helicópteros partem e John cai, sob os efeitos de soma e pelo “frenesi da sensualidade”. Quando acorda no dia seguinte, lembra-se de tudo com horror. Depois de ler sobre a "orgia da expiação" nos jornais, um enxame de visitantes desce ao farol de John, descobrindo que ele se enforcou.

Resumo do capítulo XVII de Admirável Mundo Novo


            Quando Helmholtz sai para verificar se Bernard, John e Mustapha Mond mantêm o seu argumento filosófico. Enquanto a conversa no capítulo 16 abordou experiências e instituições humanas que o Estado Mundial aboliu, no capítulo 17 eles discutem a religião e a experiência religiosa, que também foram eliminadas da sociedade do Estado Mundial. Mond mostra a John a sua coleção de escritos religiosos proibidos e lê em voz alta longas passagens do teólogo católico do século XIX, cardeal Newman, e do filósofo francês do século XVIII, Maine de Biran, no sentido de evidenciar que o sentimento religioso é essencialmente uma resposta à ameaça da perda, velhice e morte. Mond argumenta que, numa sociedade jovem e próspera, não há perdas e, portanto, não há necessidade de religião. John pergunta-lhe se é natural sentir a existência de Deus. Ele responde que as pessoas acreditam no que foram condicionadas a acreditar: "A providência segue a sugestão dos homens".
            John protesta que, se o povo do Estado Mundial acreditasse em Deus, não seria degradado pelos seus vícios agradáveis. Teria um motivo para a abnegação e a castidade. Deus, afirma John, é a razão de "tudo nobre, fino e heroico". Mond diz que ninguém no Estado Mundial está degradado; as pessoas apenas vivem de acordo com um conjunto diferente de valores do do Selvagem. A civilização do Estado Mundial não exige que ninguém suporte coisas desagradáveis. Se, por acidente, algo negativo ocorre, a soma está lá para tirar a picada. Soma, ele diz, é o "cristianismo sem lágrimas".
            John declara que deseja Deus, poesia, perigo real, liberdade, bondade e pecado. Mond responde-lhe que os seus desejos conduzi-lo-ão à infelicidade. John concorda, mas não renuncia aos seus desejos.

Análise do capítulo XVI de Admirável Mundo Novo

            A conversa entre Mond e John é o coração intelectual de Admirável Mundo Novo. É aqui que as questões implícitas no resto do romance são explicitadas e discutidas de forma abstrata.
            A lógica que Mond fornece para suprimir o amado Shakespeare de John dá-nos uma chave crucial para entender o remanescente da conversa. O simples facto de Shakespeare ser velho significa que ele não contribui para o comportamento do consumidor. (Huxley, é claro, ignora o facto de as pessoas comprarem novas edições de Shakespeare, dos cursos universitários de Shakespeare, etc.). Embora esse motivo pareça superficial em comparação com os argumentos mais desenvolvidos de Mond, chama a nossa atenção para o fato de o consumismo ser central para o mundo de Admirável Mundo Novo. Como outras distopias, este romance não mostra apenas um mundo diferente do nosso, mostra um mundo que é um espelho nosso, com as piores características do nosso mundo desenhadas e exageradas. Uma das facetas centrais do romance de Huxley é direcionada contra o valor cada vez maior que é atribuído ao consumismo.
            Ao mostrar um mundo que suprime instituições e experiências que são sagradas no nosso próprio mundo, a fim de abrir caminho para o desenvolvimento dos valores do consumidor, Huxley demonstra um conflito de valores que existe na nossa própria sociedade. O "valor" que impulsiona o consumidor é simplesmente a satisfação dos apetites. Em Admirável Mundo Novo, esse valor foi desenvolvido a tal ponto que as pessoas são "adultas durante o horário de trabalho", mas são bebés nos momentos de lazer e nos relacionamentos. Portanto, a primeira crítica de Huxley ao consumismo é que ele é infantil – os adultos devem ser capazes de outras coisas.
            Se o consumo é a "felicidade" a que Mond se refere na sua descrição do Estado Mundial, o outro valor em que a sua sociedade se baseia é a "estabilidade". No pensamento de Mond, felicidade e estabilidade dependem uma da outra. A estabilidade da qual está a falar é a estabilidade económica, o ciclo ininterrupto de produção e consumo. Mas a(s) estabilidade(s) emocional, psicológica e social também são importantes, porque todas elas contribuem para o primeiro tipo de estabilidade.
            O argumento de Mond sobre as coisas que devem ser sacrificadas para criar uma sociedade "estável e feliz" pode ser lido, ironicamente, como um argumento segundo o qual os nossos valores são incompatíveis com o comportamento do consumidor e a estabilidade económica. Esses valores que ele sacrifica podem ser resumidos da seguinte forma:
Sentimentos, paixões, compromissos e relacionamentos. Os cidadãos do Estado Mundial não têm pais, mães, maridos, esposas, filhos ou amantes, porque esses relacionamentos produzem instabilidade emocional (e, portanto, social), contenda e infelicidade. Embora seja fácil pensar em maneiras pelas quais os relacionamentos tornam as pessoas infelizes, pode ser difícil para o leitor entender porque Mond acha que esses relacionamentos criam fundamentalmente instabilidade, quando o bom senso e a tradição ditam exatamente o oposto, que a família é uma das instituições estabilizadoras da nossa sociedade. Uma resposta pode ser encontrada no capítulo 3, na palestra que Mond dirige aos alunos. Aí ele argumenta que a parte mais perigosa dos compromissos amorosos com outras pessoas é a força do sentimento envolvido. Além disso, sustenta que todos os sentimentos e paixões surgem de impulsos presos, como o desejo que se experimenta quando não se pode ter imediatamente o amante que se deseja. Essa é provavelmente a base para sua ideia de que a necessidade de gratificação imediata do consumidor está em desacordo com os compromissos humanos de longo prazo.
Igualdade. Mond é bastante franco sobre o facto de a estabilidade social depender da desigualdade. A maior parte da sociedade terá de executar tarefas desinteressantes na maioria das vezes. Essa característica da sociedade do Estado Mundial não é de modo algum peculiar ao Estado Mundial. De facto, provavelmente é verdade para todas as sociedades que já existiram. Pode até ser possível argumentar que a nossa própria sociedade tem tanta desigualdade quanto o Estado Mundial, e que Mond é apenas mais honesto sobre isso, recusando-se a prestar atenção ao ideal de que todos os seres humanos são criados iguais. No entanto, o completo abandono do ideal de igualdade leva a resultados terríveis. A maioria dos embriões humanos no Estado Mundial é alterada para que o seu potencial de excelência ou crescimento seja atrofiado. Quando a comparação é feita entre o mundo do romance e o nosso, surgem em nós perguntas preocupantes, em vez de conclusões distintas. Dado que a estabilidade económica e social depende de uma distribuição desigual do trabalho, criará isso contradições destrutivas com o nosso ideal democrático de que os indivíduos são iguais? (Este tema está claramente em dívida com os escritos de Karl Marx, cujas ideias fazem parte do contexto intelectual deste romance. Não é por acaso, por exemplo, que o sobrenome do dissidente Bernard seja Marx.).
Verdade. Mond diz que a ciência deve ser suprimida, porque uma sociedade baseada na busca da felicidade também não pode estar comprometida com a verdade. Ele pode querer dizer que a ciência, e a busca da verdade de maneira mais geral, tem uma tendência irresistível para derrubar formas antigas e estabelecidas de encarar as coisas. A autoridade e a sabedoria convencional contribuem ambas para a estabilidade da sociedade e, na busca da verdade, ambas são passíveis de serem interrogadas.
Arte. A arte não é um produto de consumo e a grande arte extrai o seu objeto de sentimentos, paixões, compromissos e relacionamentos, acima discutidos.
▪ Uma última categoria de experiências sacrificadas no Estado Mundial pode ser simplesmente rotulada de "problemas". Huxley pode argumentar que valorizamos os problemas (velhice, morte, dúvida, até sofrimento), porque valorizamos as respostas que elas produzem nos seres humanos. Mond, porém, descarta-os por os considerar a "sobrecompensação para a miséria".
            Uma crítica que se pode dirigir à linha argumentativa de Mond é que os princípios do Estado Mundial o beneficiam, dado que ele está no topo da classe dominante e goza de isenção das leis que faz. Poderíamos facilmente descartar tudo o que ele diz, com base no facto de que o seu verdadeiro interesse é a estabilidade de sua própria posição, e não a estabilidade e a felicidade da sociedade como um todo. Por outro lado, seria um erro simplesmente descartar o seu argumento de imediato, porque ele possui considerável poder e subtileza, desafiando o leitor a contestá-lo nos seus próprios termos.

Resumo do capítulo XVI de Admirável Mundo Novo

            A polícia deixa Bernard, Helmholtz e John no escritório de Mond. Este chega e diz a John: "Então você não gosta muito de civilização, Sr. Selvagem.". John concede, mas admite que gosta de algumas coisas, como o som constante da música. Mond responde com uma citação de A Tempestade, de Shakespeare: "Às vezes, mil instrumentos de zumbido zumbem nos meus ouvidos e às vezes vozes." John fica agradavelmente surpreendido ao descobrir que Mond leu Shakespeare.
            Mond faz notar que Shakespeare é um autor proibido. Em resposta ao questionamento de John, ele explica que essa literatura é proibida por vários motivos. Em primeiro lugar, coisas bonitas, como boa literatura, tendem a durar. As pessoas continuam a gostar mesmo quando envelhecem. Uma sociedade baseada no consumismo, como o Estado Mundial, precisa de cidadãos que desejem coisas novas. A novidade é, portanto, mais importante que o valor intrínseco, e a arte de valor deve ser suprimida para dar espaço ao novo. Em segundo lugar, os cidadãos do Estado Mundial não seriam capazes de entender Shakespeare, porque as histórias que escreve são baseadas em experiências e paixões que não existem no Estado Mundial. Grandes lutas e emoções avassaladoras foram sacrificadas em favor da estabilidade social e foram substituídas pelo que Mond chama "felicidade", referindo-se à gratificação infantil de apetites.
            John está inclinado a pensar que esse tipo de felicidade cria seres humanos monstruosos e repulsivos. Ele desafia o diretor, perguntando se os cidadãos não poderiam ao menos ser criados como alfas. Mond responde que o Estado Mundial precisa de ter cidadãos felizes a desempenhar as funções que lhes foram atribuídas, e, como os alfas se sentem felizes unicamente quando realizam o trabalho alfa (ou seja, intelectual), a vasta maioria da população realmente precisa de ser degradada e feita estúpida, para que seja feliz com o seu lugar na vida. Ele exemplifica com uma experiência em que uma ilha inteira foi povoada por alfas, tendo ocorrido rapidamente uma guerra civil, porque nenhum dos cidadãos ficou satisfeito com a distribuição de tarefas.
            Embora o Estado Mundial seja uma tecnotopia, o que significa que é tornado possível graças a tecnologias muitas mais avançadas do que a nossa, Mond explica que mesmo a tecnologia precisa de ser mantida sob controles rigorosos para que a sociedade feliz e estável seja possível. A partir de certo ponto, mesmo as tecnologias de poupança de trabalho tiveram de ser suprimidas para manter um equilíbrio entre trabalho e lazer. Para conservar os cidadãos felizes, é necessário mantê-los a trabalhar durante um certo período de tempo.
            A ciência também teve de ser suprimida para criar uma sociedade feliz e estável, o que é particularmente irónico, porque os cidadãos do Estado Mundial são ensinados a reverenciar a ciência como um dos seus valores mais fundamentais. No entanto, nenhum deles – nem mesmo os Alfas, como Helmholtz e Bernard – realmente possui qualquer treino científico, portanto nem sabem o que é ciência. Mond também não explica o que é, embora faça alusão à sua própria carreira como jovem cientista que se envolveu em problemas ao desafiar a sabedoria convencional. Pode inferir-se daqui que, por “ciência”, Mond se refere à busca de conhecimento por meio do método experimental. Em suma, a ciência não pode existir no Estado Mundial porque a busca da "verdade" entra em conflito com a felicidade. Isto é muito sugestivo, porque implica que toda a sociedade é de alguma forma construída sobre mentiras, mas ele é tentadoramente pouco ou nada claro sobre a quais verdades e quais mentiras se está a referir.
            Mond diz a Helmholtz e Bernard que eles serão exilados. Este começa a implorar a Mond que mude a sua sentença. Três homens arrastam-no para o sedar com soma. Mond diz que Bernard não sabe que o exílio é realmente uma recompensa, dado que as ilhas estão cheias das pessoas mais interessantes do mundo, indivíduos que não se encaixavam na comunidade do Estado Mundial. Diz mesmo a Helmholtz que quase o inveja. Este pergunta por que razão, se tem tanta inveja, não escolheu o exílio quando lhe foi oferecida a possibilidade. Mond explica que prefere o trabalho que realiza a gerir a felicidade dos outros.

            Mond acredita que as ilhas são boas para se ter à mão, pois dissidentes como Helmholtz e Bernard provavelmente teriam de ser mortos se não pudessem ser exilados. Ele pergunta a Helmholtz se gostaria de ir para uma ilha tropical, ao que este responde que prefere uma com um clima mau, pois isso poderá ajudá-lo a escrever, acabando por acatar a sugestão de Mond de que vá para as Ilhas Falkland.

Análise dos capítulos XIII a XV de Admirável Mundo Novo

            O tumulto dramático incitado por John é o clímax do romance. A crescente repulsa da personagem por tudo no Estado Mundial leva-o finalmente a um confronto direto com ele, e as autoridades são forçadas a intervir. Os eventos que precedem imediatamente a revolta revelam as forças conflituantes que culminam na explosão de John.
            A luta de John com os seus desejos físicos, introduzida pela primeira vez na Reserva, continua quando Lenina tenta seduzi-lo. Ele insiste em a ver como uma mulher pura e virginal, possuidora de completa modéstia sexual. Para John, Lenina é apenas uma representação abstrata de todas as mulheres virtuosas sobre as quais ele leu nas obras de Shakespeare. Ele luta com o lado físico da sexualidade a ponto de querer reprimi-la completamente. Quando a jovem o critica, chama-a de prostituta por violar as regras de um código moral que ela nem conhece. "Prostituta" é a única outra categoria que ele tem para entender Lenina. É significativo que, quando se afasta da rapariga, John escolhe ler Otelo, uma peça sobre a relação condenada entre um homem negro africano e uma mulher branca veneziana. Como John, Otelo oscila entre os extremos de perceber a sua amada como uma estátua casta e como uma prostituta. É essa perceção errónea que leva Otelo a assassinar a sua esposa, não uma incompatibilidade entre as duas culturas.
            A experiência de John no Hospital para os Mortos demonstra a lógica desumanizante que o Estado Mundial aplica à experiência da morte. Qualquer tolerância que possa ter sentido pelas práticas e pessoas do Estado Mundial desaparece. Ele pensa nos gémeos Bokanovsky como larvas que contaminam o seu processo de luto. Infelizmente para John, a sua mãe não ajuda. Drogada com soma, confunde-o com Popé. A fúria e a agonia do filho refletem a crescente angústia que sente quando não é reconhecido no Estado Mundial, nem mesmo pela sua própria mãe. A sociedade do Estado Mundial chama-o "Selvagem", associando-o a um conjunto de características estereotipadas. Quando John visita Eton, observa um grupo de crianças rindo de "selvagens" numa reserva realizando rituais cerimoniais de purificação de autoflagelação. Ele vê-se refletido nas suas risadas como um espetáculo curioso e cómico, não como um ser humano. Por seu turno, Bernard usa-o como um curioso espécime de "selvageria" para atrair pessoas importantes para o seu próprio círculo social. O riso de Helmholtz em Romeu e Julieta faz John reconhecer que a sua luta com a atração física por Lenina é um espetáculo cómico e ofensivo, mesmo para um dos poucos não conformistas do Estado Mundial. Pior ainda é o facto de ele considerar Helmholtz um amigo com quem pode discutir os seus sentimentos por Lenina. O resultado final de todos esses episódios separados é que John reconhece que ele, como indivíduo, não pode existir na sociedade do Estado Mundial. Assim, é forçado a ser um representante estereotipado do "selvagem" ou a sucumbir à moral distorcida do Estado Mundial.
            A tentativa de John de levar os trabalhadores da Delta à rebelião atirando fora a soma simboliza a sua luta contra a felicidade como o objetivo final. Ele prefere ver a verdade e os relacionamentos humanos reais – mesmo os dolorosos – do que a quase escravidão da soma. A morte da sua própria mãe por soma é outro fator que contribui. Linda e os deltas usam soma para escapar a toda a dor e responsabilidade. Isso torna-os infantis, algo que John aponta quando pergunta aos deltas por que eles querem ser “bebés… choramingando e vomitando.”. O clamor de John descreve a lógica essencial que produz a “estabilidade” que o Estado Mundial tanto ama. A grande maioria dos seus cidadãos permanece infantil durante toda a vida através do uso de condicionamento, reforço social e soma.
            Helmholtz lança-se na briga quando ele e Bernard chegam ao hospital, mas o segundo hesita, hesitação essa que é causada pelo conflito entre o seu desejo de se encaixar na máquina social do Estado Mundial e o seu desejo de mudar a maneira como funciona. Ele tem medo de se associar à blasfémia inconformada do grito revolucionário de John e ao apoio de Helmholtz às ações do Selvagem. Bernard sabe que a sua participação o marcará para sempre como um subversivo perigoso.

Resumo do capítulo XV de Admirável Mundo Novo

            No vestíbulo do hospital, John encontra dois grupos Bokanovsky de gémeos Delta pegando as suas rações soma após o seu turno. Com ironia amarga, recorda as frases: “Quantas criaturas boas existem aqui! Quão bela é a humanidade! Oh admirável mundo novo.”. Com a apóstrofe “Oh admirável mundo novo” ecoando na mente, ele grita-lhes que parem de tomar as rações de soma. Diz que é um veneno destinado a escravizá-los e pede que escolham a liberdade. O homem que distribui soma liga para a casa de Bernard. Helmholtz atende o telefone e transmite as notícias sobre as declarações de John a Bernard. Eles correm juntos para o hospital.

            Os rostos não compreensivos dos trabalhadores Delta enfurecem John, que atira as doses de soma pela janela. Os deltas correm para ele furiosos. Helmholtz, que acaba de chegar, entra na luta para ajudar a defender John. Bernard hesita. Ele sabe que John e Helmholtz podem ser mortos se não ajudar, mas tem medo de ser morto enquanto tenta ajudá-los. Sente vergonha por causa da sua indecisão, mas nada faz. A polícia chega, pulverizando vapor soma e um poderoso anestésico. Enquanto isso, uma voz gravada pergunta por que razão os manifestantes não são felizes juntos. Em pouco tempo, os deltas estão chorando, beijando-se e desculpando-se. As doses de soma são rapidamente restauradas. A polícia pede que Helmholtz e John os acompanhem em silêncio. Bernard tenta escapar pela porta sem ser observado, mas é apanhado antes que possa escapar.

Resumo do capítulo XIV de Admirável Mundo Novo


            John corre para o hospital Park Lane para a área dos moribundos. Ele sussurra, impacientemente, a uma enfermeira que quer ver a sua mãe. Corando furiosamente com o uso da palavra “mãe”, ela leva-o até à cama de Linda. John senta-se ao seu lado em lágrimas, tentando lembrar-se dos bons momentos que passaram juntos. Um grupo de meninos Bokanovsky de oito anos reúne-se em torno de Linda, perguntando por que razão ela é tão gorda e feia. O Selvagem bate numa das crianças, particularmente ofensiva, gesto que irrita a enfermeira, que o critica por interferir no condicionamento John irrita a enfermeira quando atinge uma criança particularmente ofensiva. Ela critica-o por interferir no condicionamento das crianças no que respeita à morte e leva-as embora.
            No leito de morte, Linda confunde John com Popé e ele sacode-a com raiva, exigindo que ela o reconheça como seu filho. A mãe diz o nome do filho, principia a recitar uma frase hipnótica da infância e depois começa a engasgar. Ele corre para a enfermeira desesperado para pedir ajuda, mas Linda está morta quando chegam à enfermaria. John soluça incontrolavelmente enquanto a enfermeira se preocupa com os danos causados ao condicionamento da morte das crianças. Ela distribui então doces de chocolate pelos gémeos Bokanovsky, um gémeo aponta para o corpo de Linda e pergunta a John: "Ela está morta?". Este empurra-o para o chão e sai da enfermaria a correr.

Resumo do capítulo XIII de Admirável Mundo Novo


            Henry convida Lenina para uma festa, mas ela recusa. Ele percebe que a jovem está zangada e sugere que talvez precise de um "substituto de paixão violenta" ou V.P.S. Mais tarde, ela reclama com Fanny que ainda não sabe como é dormir com um selvagem. A amiga avisa que é impróprio ficar obcecado por um homem e que ela deve encontrar alguém para o tirar da mente. Lenina responde que quer apenas John. Outros homens simplesmente não podem distraí-la.
            Lenina toma soma e visita John, com a intenção de seduzi-lo. Ela observa que ele não parece satisfeito em vê-la. O Selvagem ajoelha-se e começa a citar Shakespeare para expressar a sua adoração. Fala sobre casamento e declara-lhe o seu amor. A jovem pergunta-lhe porque não disse nada se a queria desde sempre. No entanto, a sua conversa sobre compromissos ao longo da vida e envelhecer juntos horroriza-a.
            Lenina pressiona o seu corpo contra o dele e começa a tirar a roupa. John fica furioso e aterrorizado; chama-a prostituta e esbofeteia-a. Ela fecha-se na casa de banho, enquanto o Selvagem revive o discurso repugnante do rei Lear contra a humanidade e a geração biológica (Rei LEAR, IV.vi.120-127). O telefone toca e ele atende. Lenina ouve-o sair do apartamento e aproveita para fugir para a rua.

Análise dos capítulos XI e XII de Admirável Mundo Novo


            Nesta parte da obra, John obtém uma introdução completa à sociedade do Estado Mundial, que, na maior parte, o repugna. Ele considera a cultura do Estado Mundial superficial, desumana e imoral.
            A relação entre John e Bernard dramatiza os principais temas de A Tempestade. Aquele, que originalmente acreditava que desempenharia o papel de Miranda, aprendendo a amar o novo mundo que lhe fora revelado, fica conhecido como "o Selvagem" e assume um papel semelhante ao de Caliban; Bernard, por ter exposto John à civilização e esperando ganhar a eterna gratidão dele por isso, interpreta o Prospero do Caliban de John.
            O destino de Linda demonstra o que Mustaph Mond quis dizer ao sugerir que verdade e felicidade são incompatíveis. Todos, menos John, se contentam em permitir ela abuse do soma, mesmo sabendo que isso a matará dentro de um mês ou dois. A explicação do médico a John demonstra a atitude insensível do Estado Mundial, para o qual os seres humanos são coisas que devem ser "usadas até que se desgastem". Assim como acontece com os produtos manufaturados, quando as pessoas envelhecem e se desgastam, elas tornam-se descartáveis. Linda passa férias sombrias permanentes, vivendo o pouco que lhe resta de vida numa névoa feliz de alucinações e fantasias.
            As razões pessoais de Bernard para permitir que Linda sucumbisse ao soma são ainda mais desagradáveis. Todos em Londres clamam por ver John, mas estão igualmente determinados a não ver Linda. Com esta fora do caminho, Bernard é livre para usar o Selvagem para os seus próprios propósitos. Através da exploração de John, ele demonstra que a sua insatisfação anterior com o Estado Mundial se ficou mais a dever ao desejo de gozar de mais privilégios do que a um verdadeiro desejo de viver como um "adulto" (foi assim que ele apresentou o assunto a Lenina no primeiro encontro). Quando se torna bem-sucedido e começa a aproveitar os benefícios de seu status Alfa, perde a amizade com Helmholtz, um inconformista com uma reputação cada vez mais ruim, pois este ameaça o novo sucesso de Bernard.
            O filme sensorial a que John e Lenina assistem envolve alguns velhos estereótipos racistas, mas é bastante complicado na sua ironia. Começa com uma cena em que um "negro gigantesco" copula com uma mulher loira. Essa cena por si só seria altamente chocante e tabu para o público branco, de classe média e do início do século XX de Huxley, mas de momento os espectadores consideram-no perfeitamente convencional. Eles até se surpreendem com os efeitos especiais realistas. O que a audiência referida no livro considera chocante é quando o negro, após um golpe na cabeça que apaga o seu condicionamento, sequestra a loira para uma cena sexual monogâmica de três semanas num helicóptero. É chocante para os espectadores por causa da monogamia. Finalmente, três machos alfa resgatam-na e a ordem é restaurada.
            Esta cena lembra o leitor de um recurso dos filmes ainda mais antigo que o romance de Huxley. Os espectadores de teatro adoram ver as personagens dos filmes transgredir as regras que os próprios espectadores devem respeitar. Esse gozo vicário recebe uma fina camada de respeitabilidade por meio de um final decoroso que restaura o status quo. Mas o facto é que o público gosta de fantasiar sobre a transgressão. Em parte, toda esta cena é uma piada de Huxley, mas também é possível que a monogamia não seja uma fantasia tão incomum no Estado Mundial como fomos levados a acreditar.
            A cena em que John lê Romeu e Julieta demonstra o poder do condicionamento. Embora Helmholtz seja bastante pouco ortodoxo, ele ainda é um produto do condicionamento do Estado Mundial. Aprecia o valor artístico da linguagem de Shakespeare, mas não aprecia o drama dos pais de Julieta tentando convencê-la a casar-se com Paris. Como John identifica o seu desejo por Lenina com o amor entre Romeu e Julieta, o riso de Helmholtz insulta os seus valores culturais e os seus próprios sentimentos mais íntimos. Porém, este último não pode evitar o riso, pois as situações e emoções expressas na peça significam algo muito diferente para ele do que significam para John.

Percebes os perceves?


Resumo do capítulo XII de Admirável Mundo Novo


            Bernard organiza uma grande festa para a qual convida pessoas importantes, prometendo-lhes a oportunidade de conhecerem o Selvagem, mas, quando elas chegam, John recusa sair de seu quarto. Bernard sente-se humilhado e envergonhado quando todos os seus convidados, incluindo o arquichantre de Canterbury, se vão embora com desprezo. Lenina está desapontada por não poder ver John novamente, para descobrir por que razão ele se comportou tão estranhamente depois da sessão de cinema sensorial. O arquichantre adverte Bernard de que deve ser mais cuidadoso com as suas críticas ao Estado Mundial.
            Bernard afunda-se novamente na sua antiga melancolia, após a evaporação do seu novo sucesso, e faz de John o seu bode expiatório. Está simultaneamente grato e ressentido por Helmholtz lhe dar a amizade de que precisa sem o criticar pela sua hostilidade anterior. Helmholtz meteu-se ele próprio em problemas por ler algumas rimas pouco ortodoxas aos seus alunos na faculdade, mas está animado por finalmente ter encontrado uma voz própria.
            John e Helmholtz encontram-se e abraçam-se imediatamente. Bernard tem inveja do afeto deles um pelo outro e deseja nunca os ter reunido e toma soma para escapar aos seus sentimentos. O Selvagem lê passagens de Shakespeare a Helmholtz, que é arrebatado pela poesia que ouve, mas, quando aquele lê uma passagem de Romeu e Julieta sobre os pais de Julieta tentando convencê-la a casar-se com Paris, Helmholtz começa a rir. O absurdo de ter mãe e pai não é a única coisa que ele acha engraçada; o facto de alguém fazer barulho sobre qual homem uma rapariga deveria ter é ainda mais engraçado. John fecha e guarda seu livro porque o riso do outro o insulta e magoa.

Resumo do capítulo XI de Admirável Mundo Novo


            O diretor, caído em desgraça, renuncia, e Bernard consegue manter o seu emprego. John, conhecido como "o selvagem", torna-se um hit instantâneo da sociedade. Linda toma soma continuamente e cai num estado de intoxicação que oscila entre o meio acordada e meio a dormir. Bernard experimenta uma popularidade sem precedentes como guardião nomeado de John e gaba-se da sua próspera vida sexual para Helmholtz, mas este responde apenas com um silêncio sombrio que o ofende. Bernard decide então parar de falar com ele. Descaradamente, desfila o seu comportamento pouco ortodoxo, pensando que a sua popularidade como descobridor e guardião do Selvagem o protegerá. Escreve a Mond para lhe dizer que John acha a "infantilidade civilizada" muito fácil e acrescenta que concorda com o veredito do Selvagem. Mond, ao ler a carta herética, pensa que talvez tenha de ensinar uma lição a Bernard.
            A visão de dezenas de gémeos idênticos numa fábrica enoja John. Com uma ironia amarga, ele repete a frase de Shakespeare: "Ó corajoso mundo novo que tem tantas pessoas nele". Recusa-se a aceitar soma e visita a mãe com frequência. Visita também Eton, onde as crianças Alfa se riem de um filme de "selvagens" espancando-se com chicotes numa Reserva.
            Lenina gosta de John, mas não sabe se ele gosta dela. Leva-o a uma sessão de cinema sensorial, para ver um filme intitulado Três Semanas num Helicóptero, que conta a história de um homem negro que sequestra uma mulher loira Beta-Mais para seu próprio prazer. John odeia o filme, mas isso revigora a sua paixão por Lenina. A sua vergonha por causa do desejo físico que sente pela rapariga domina-o. Para perplexidade desta, ele recusa fazer sexo com ela. Tranca-se no quarto e lê o Otelo de Shakespeare, enquanto Lenina volta para o seu e toma soma.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...