Português: 2012

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Mensagem de Passos Coelho no «facebook»

Amigos,

Este não foi o Natal que merecíamos. Muitas famílias não tiveram na Consoada os pratos que se habituaram. Muitos não conseguiram ter a família toda à mesma mesa. E muitos não puderam dar aos filhos um simples presente.

Já aqui estivemos antes. Já nos sentámos em mesas em que a comida esticava para chegar a todos, já demos aos nossos filhos presentes menores porque não tínhamos como dar outros. Mas a verdade é que para muitos, este foi apenas mais um dia num ano cheio de sacrifícios, e penso muitas vezes neles e no que estão a sofrer.

A eles, e a todos vós, no fim deste ano tão difícil em que tanto já nos foi pedido, peço apenas que procurem a força para, quando olharem os vossos filhos e netos, o façam não com pesar mas com o orgulho de quem sabe que os sacrifícios que fazemos hoje, as difíceis decisões que estamos a tomar, fazemo-lo para que os nossos filhos tenham no futuro um Natal melhor.

A Laura e eu desejamos a todos umas Festas Felizes.

Um abraço,
Pedro.

     Oferecem-se alvíssaras a quem deslindar (muito difícil...) os diversos erros da prosa.

Figuras de 2012: LeBronJames


domingo, 23 de dezembro de 2012

Educação Sexual

Pergunta do jovem aluno: «Um pénis de 20 cm é considerado grande?»

Resposta: «Antigamente era, hoje em dia com o uso de alimentos geneticamente modificados, 20 cm é considerado abaixo da média, o normal é entre 35 e 40 cm, com raio de 3, 085 cm. Quando totalmente ereto, drena do resto do corpo, cerca de 1, 26 litros de sangue, para preenchimento do corpo cavernoso, o que leva muitas vezes o indivíduo ao desmaio, impossibilitando desta forma o coito e a reprodução, pela via natural.»

Gaspar, o Rei Mago

(cAnterozóide

Manifesto Anti-Dantas

     O Manifesto Anti-Dantas é «poema satírico de José de Almada-Negreiros, publicado em 1916. Júlio Dantas, o alvo da obra, afastou-se das posições de vanguarda da literatura coetânea, situando-se "entre um sub-romantismo remanescente e um parnasianismo de segundo plano" (no dizer do crítico José Carlos Seabra Pereira), nomeadamente nas páginas da Renascença, revista literária e crítica por ele lançada, e chamando "tarados originais" a todos aqueles que não se identificassem com a sua atitude. Mas o Manifesto visava toda uma geração literária, cujo expoente máximo, e porventura mais talentoso, era Júlio Dantas: "Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi! É um coio d'Indigentes, d'indignos e de vendidos e só pode parir abaixo do zero!".

     O Manifesto relaciona-se radicalmente com o Futurismo. Realiza essa corrente versilibristicamente, não só através da sua oralidade cultivada com onomatopeias, exclamações e o abuso de maiúsculas, mas também através da negação destrutiva das convenções do presente a revolucionar: o culto do convencionalismo, da solenidade, da frase feita, do lugar-comum, em suma, de um verbalismo oco dirigido a um público frívolo que procurava na literatura o mero divertimento. Como tal, é uma obra marcada pelo espírito do seu tempo, com paralelo nos manifestos futuristas do italiano Marinetti, e é esse mesmo tempo que lhe explica o sentido profundo e a violência da linguagem.»

Fonte: Infopédia


TEXTO

Basta pum basta!!!
Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!
Abaixo a geração!
Morra o Dantas, morra! Pim!
Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!
Uma geração com um Dantas ao leme é uma canoa em seco!
O Dantas é um cigano!
O Dantas é meio cigano!
O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!
O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!
O Dantas é um habilidoso!
O Dantas veste-se mal!
O Dantas usa ceroulas de malha!
O Dantas especula e inocula os concubinos!
O Dantas é Dantas!
O Dantas é Júlio!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas fez uma soror Mariana que tanto o podia ser como a soror Inês ou a Inês de Castro, ou a Leonor Teles, ou o Mestre d'Avis, ou a Dona Constança, ou a Nau Catrineta, ou a Maria Rapaz!
E o Dantas teve claque! E o Dantas teve palmas! E o Dantas agradeceu!
O Dantas é um ciganão!
Não é preciso ir pró Rossio pra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!
Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta escrever como o Dantas! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Dantas!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!
O Dantas é um autómato que deita pra fora o que a gente já sabe o que vai sair... Mas é preciso deitar dinheiro!
O Dantas é um soneto dele-próprio!
O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.
O Dantas nu é horroroso!
O Dantas cheira mal da boca!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas é o escárnio da consciência!
Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!
O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa!
O Dantas é a meta da decadência mental!
E ainda há quem não core quando diz admirar o Dantas!
E ainda há quem lhe estenda a mão!
E quem lhe lave a roupa!
E quem tenha dó do Dantas!
E ainda há quem duvide que o Dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!
Vocês não sabem quem é a soror Mariana do Dantas? Eu vou-lhes contar:
A princípio, por cartazes, entrevistas e outras preparações com as quais nada temos que ver, pensei tratar-se de soror Mariana Alcoforado a pseudo autora daquelas cartas francesas que dois ilustres senhores desta terra não descansaram enquanto não estragaram pra português, quando subiu o pano também não fui capaz de distinguir porque era noite muito escura e só depois de meio acto é que descobri que era de madrugada porque o bispo de Beja disse que tinha estado à espera do nascer do Sol!
A Mariana vem descendo uma escada estreitíssima mas não vem só, traz também o Chamilly que eu não cheguei a ver, ouvindo apenas uma voz muito conhecida aqui na Brasileira do Chiado. Pouco depois o bispo de Beja é que me disse que ele trazia calções vermelhos.
A Mariana e o Chamilly estão sozinhos em cena, e às escuras, dando a entender perfeitamente que fizeram indecências no quarto. Depois o Chamilly, completamente satisfeito, despede-se e salta pela janela com grande mágoa da freira lacrimosa. E ainda hoje os turistas têm ocasião de observar as grades arrombadas da janela do quinto andar do Convento da Conceição de Beja na Rua do Touro, por onde se diz que fugiu o célebre capitão de cavalos em Paris e dentista em Lisboa.
A Mariana que é histérica começa a chorar desatinadamente nos braços da sua confidente e excelente pau de cabeleira soror Inês.
Vêm descendo pla dita estreitíssima escada, várias Marianas, todas iguais e de candeias acesas, menos uma que usa óculos e bengala e ainda toda curvada prá frente o que quer dizer que é abadessa.
E seria até uma excelente personificação das bruxas de Goya se quando falasse não tivesse aquela voz tão fresca e maviosa da Tia Felicidade da vizinha do lado. E reparando nos dois vultos interroga espaçadamente com cadência, austeridade e imensa falta de corda... Quem está aí?... E de candeias apagadas?
- Foi o vento, dizem as pobres inocentes varadas de terror... E a abadessa que só é velha nos óculos, na bengala e em andar curvada prá frente manda tocar a sineta que é um dó d'alma o ouvi-la assim tão debilitada. Vão todas pró coro, mas eis que, de repente, batem no portão sem se anunciar nem limpar-se da poeira, sobe a escada e entra plo salão um bispo de Beja que quando era novo fez brejeirices com a menina do chocolate.
Agora completamente emendado revela à abadessa que sabe por cartas que há homens que vão às mulheres do convento e que ainda há pouco vira um de cavalos a saltar pla janela. A abadessa diz que efectivamente já há tempos que vinha dando pela falta de galinhas e tão inocentinha, coitada, que naqueles oitenta anos ainda não teve tempo pra descobrir a razão da humanidade estar dividida em homens e mulheres. Depois de sérios embaraços do bispo é que ela deu com o atrevimento e mandou chamar as duas freiras de há pouco com as candeias apagadas. Nesta altura esta peça policial toma uma pedaço d'interesse porque o bispo ora parece um polícia de investigação disfarçado em bispo, ora um bispo com a falta de delicadeza de um polícia d'investigação, e tão perspicaz que descobre em menos de meio minuto o que o público já está farto de saber - que a Mariana dormiu com o Noel. O pior é que a Mariana foi à serra com as indiscrições do bispo e desata a berrar, a berrar como quem se estava marimbando pra tudo aquilo. Esteve mesmo muito perto de se estrear com um par de murros na coroa do bispo no que se mostrou de um atrevimento, de uma insolência e de uma decisão refilona que excedeu todas as expectativas.
Ouve-se uma corneta tocar uma marcha de clarins e Mariana sentindo nas patas dos cavalos toda a alma do seu preferido foi qual pardalito engaiolado a correr até às grades da janela gritar desalmadamente plo seu Noel. Grita, assobia e rodopia e pia e rasga-se e magoa-se e cai de costas com um acidente, do que já previamente tinha avisado o público e o pano cai e o espectador também cai da paciência abaixo e desata numa destas pateadas tão enormes e tão monumentais que todos os jornais de Lisboa no dia seguinte foram unânimes naquele êxito teatral do Dantas.
A única consolação que os espectadores decentes tiveram foi a certeza de que aquilo não era a soror Mariana Alcoforado mas sim uma merdariana-aldantascufurado que tinha cheliques e exageros sexuais.
Continue o senhor Dantas a escrever assim que há-de ganhar muito com o Alcufurado e há-de ver que ainda apanha uma estátua de prata por um ourives do Porto, e uma exposição das maquetes pró seu monumento erecto por subscrição nacional do "Século" a favor dos feridos da guerra, e a Praça de Camões mudada em Praça Dr. Júlio Dantas, e com festas da cidade plos aniversários, e sabonetes em conta "Júlio Dantas" e pasta Dantas prós dentes, e graxa Dantas prás botas e Niveína Dantas, e comprimidos Dantas, e autoclismos Dantas e Dantas, Dantas, Dantas, Dantas... E limonadas Dantas- Magnésia.
E fique sabendo o Dantas que se um dia houver justiça em Portugal todo o mundo saberá que o autor de Os Lusíadas é o Dantas que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a glória do seu pseudónimo Camões.
E fique sabendo o Dantas que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.
Mas julgais que nisto se resume literatura portuguesa? Não Mil vezes não!
Temos, além disto o Chianca que já fez rimas prá Aljubarrota que deixou de ser a derrota dos Castelhanos pra ser a derrota do Chianca.
E as pinoquices de Vasco Mendonça Alves passadas no tempo da avózinha! E as infelicidades de Ramada Curto! E o talento insólito de Urbano Rodrigues! E as gaitadas do Brun! E as traduções só pra homem do ilustríssimos excelentíssimo senhor Mello Barreto! E o frei Matta Nunes Moxo! E a Inês Sifilítica do Faustino! E as imbecelidades do Sousa Costa! E mais pedantices do Dantas! E Alberto Sousa, o Dantas do desenho! E os jornalistas do Século e da Capital e do Notícias e do Paiz e do Dia e da Nação e da República e da Lucta e de todos, todos os jornais! E os actores de todos os teatros! E todos os pintores das Belas-Artes e todos os artistas de Portugal que eu não gosto. E os da Águia do Porto e os palermas de Coimbra! E a estupidez do Oldemiro César e o Dr. José de Figueiredo Amante do Museu e ah oh os Sousa Pinto hu hi e os burros de cacilhas e os menos do Alfredo Guisado! E (o) raquítico Albino Forjaz de Sampaio, crítico da Lucta a quem Fialho com imensa piada intrujou de que tinha talento! E todos os que são políticos e artistas! E as exposições anuais das Belas-Arte(s)! E todas as maquetas do Marquês de Pombal! E as de Camões em Paris; e os Vaz, os Estrela, os Lacerda, os Lucena, os Rosa, os Costa, os Almeida, os Camacho, os Cunha, os Carneiro, os Barros, os Silva, os Gomes, os velhos, os idiotas, os arranjistas, os impotentes, os celerados, os vendidos, os imbecis, os párias, os ascetas, os Lopes, os Peixotos, os Motta, os Godinho, os Teixeira, os Câmara, os diabo que os leve, os Constantino, os Tertuliano, os Grave, os Mântua, os Bahia, os Mendonça, os Brazão, os Matos, os Alves, os Albuquerques, os Sousas e todos os Dantas que houver por aí!!!!!!!!!
E as convicções urgentes do homem Cristo Pai e as convicções catitas do homem Cristo Filho!...
E os concertos do Blanch! E as estátuas ao leme, ao Eça e ao despertar e a tudo! E tudo o que seja arte em Portugal! E tudo! Tudo por causa do Dantas!
Morra o Dantas, morra! Pim!
Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mas atrasado da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!
Morra o Dantas, morra! Pim!

José de Almada Negreiros
Poeta d'Orpheu
Futurista E Tudo
1915

sábado, 22 de dezembro de 2012

Loucura total no Ministério da Educação e Ciência


     «A saída de professores do quadro para a reforma levou a que a meta de redução de funcionários públicos acordada com a troika para este ano fosse largamente ultrapassada, indica-se no relatório da sexta avaliação da implementação do programa de ajustamento, divulgado nesta sexta-feira.
     Portugal comprometera-se a reduzir em 2% o número de funcionários públicos mas, na prática, e “devido principalmente às saídas no sector educativo,” a redução foi de 5,1%, explicita-se no relatório.
     A avaliação decorreu entre 12 e 19 de Novembro. No balanço agora divulgado refere-se que até ao final do ano o Ministério da Educação e Ciência (MEC) deve apresentar uma fórmula de cálculo que permita avaliar o custo por estudante em cada escola, um dos compromissos assumidos no âmbito do programa de ajustamento. No documento acrescenta-se que na altura o relatório do grupo de trabalho nomeado pelo MEC com este objectivo ainda não estava concluído.Este relatório foi divulgado a 20 de Novembro. O grupo de trabalho nomeado pelo MEC, presidido pelo ex-ministro da Cultura, Pedro Roseta, só avaliou o custo médio por turma e não por aluno nas escolas públicas. Ao contrário da auditoria sobre o custo médio por aluno divulgada em Outubro pelo Tribunal de Contas, o grupo de trabalho teve em conta, para o seu cálculo, os efeitos dos cortes de salários na função pública, da supressão de um dos subsídios em 2013 e da revisão curricular que entrou em vigor este ano.O custo médio por turma no ensino básico a que chegou foi de 70.256 euros, inferior aos 85.200 euros por turma que o Estado está a pagar aos colégios com contratos de associação. No secundário, o custo por aluno no ensino público sobe para 88.995 euros. Grande parte das 1846 turmas actualmente com contratos de associação é do 2.º e 3.º ciclo do ensino básico.

Mais contratos de autonomia

     No relatório de avaliação da troika revela-se, por outro lado, que está a ser preparada uma forma de monitorizar os resultados das escolas a nível nacional, que incluirá relatórios mensais sobre os objectivos fixados para as escolas públicas e privadas que tenham contratos de associação.
     “Com o objectivo de avaliar a sua performance, os resultados de cada escola serão comparados com um ‘valor esperado’ desenvolvido com base nos dados socioeconómicos existentes por escola”, explica-se. “Será um instrumento valioso para adaptar as políticas educativas às necessidades actuais de cada escola, incluindo medidas de poupança”, conclui-se.
     Este ano, pela primeira vez, o MEC acompanhou a divulgação das bases de dados com os resultados dos exames nacionais com dados de contexto socioeconómicos dos agrupamentos escolares, que incluíam a percentagem de alunos beneficiários da Acção Social Escolar, habilitações literárias e profissões dos pais.
     Com base nesta informação, uma equipa da Universidade Católica do Porto elaborou para o PÚBLICO um novo mapa das escolas, organizando-as por contexto socioeconómico. Foram definidos quatro e, para cada um deles, foi calculado o seu valor esperado de contexto, que o PÚBLICO comparou depois com os resultados obtidos nos exames.
     Entre os objectivos fixados no programa de ajustamento figura também o alargamento dos contratos de autonomia. No balanço indica-se que já foram assinados 40, esperando-se que sejam assinados mais de 80 até ao final de 2013/2014.
     Em estado descrito como avançado pela troika está já o plano de acção para o alargamento do ensino vocacional e também para o reforço do sistema de aprendizagem dual. Como exemplo aponta-se o objectivo definido pelo Governo de ter, em 2012, 100 mil jovens neste sistema, onde a componente de formação em contexto de trabalho tem um peso de 40%. O Governo tinha fixado para este ano chegar aos 30 mil, um número que ainda não foi alcançado.
     Empresários ouvidos pelo PÚBLICO questionaram a exequibilidade da expansão prevista, lembrando que o tecido empresarial português não tem capacidade de resposta para garantir a formação nas empresas de mais 100 mil jovens


Fonte: Público

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Portugal não é a Grécia


América desarmada pelo gatilho fácil

Por Ferreira Fernandes

A MATANÇA na escola de Newtown já teve três respostas fulminantes. A primeira, mais um belo discurso de Barack Obama, como só ele, e até com sinceras lágrimas. A segunda, de Mike Huckabee, ex-candidato a candidato republicano à presidência e atual comentador da Fox, que explicou as causas do tiroteio assim: "Expulsámos Deus das nossas escolas, agora..." E a terceira, com a campanha de assinaturas para que - sentem-se, por favor - para que se acabe não com as armas, mas com a proibição das armas nas escolas. Lógica da Gun Owners of America, a associação de defensores de armas que começou já a recolher assinaturas: se os professores estivessem armados teriam impedido Adam Lanza de atirar. 
Resumindo as três respostas: a América está tramada e só lhe resta esperar pelo ataque seguinte. Se as próximas vítimas forem às centenas e num berçário - isto é, com um salto quantitativo significativo de horror - talvez, mas só talvez, haja uma mudança no maioritário pensar retorcido dos americanos sobre as armas. 
Newtown, 27 mil habitantes, tem uma loja de armas, fica num país com 9369 mortos por tiro, em 2010 (Canadá: 144) e é terra de Adam, 20 anos, que se passeava com duas pistolas, Sig Sauer e Glock, e um rifle de calibre 223 (para caça pesada), legalizadas pela sua mãe, que trabalhava na escola. 
Segundo o desejo da Gun Owners of America, os futuros Adam podem ir buscar as armas ao cacifo da mamã, na própria escola a chacinar. 
Diário de Notícias, 16 de dezembro de 2012

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Victoria Soto


     Victoria Soto, ou simplesmente Vicky, foi uma das vítimas da barbárie ocorrida em NewTon.
     Mas foi muito mais do que isso. Quando se apercebeu da tragédia que se avizinhava, fechou os seus 17 filhos num armário da sala de aula, pedindo-lhes que se mantivessem em silêncio como se de um jogo se tratasse.
     Depois foi entregar-se ao algoz. Antes disse-lhe que as 17 crianças tinham ido para uma aula de ginástica. E, assim, ofereceu a sua vida em troca de 17.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Reação do MEC aos resultados do TIMSS e PIRLS

     Confrontado com os resultados avançados nos «posts» infra, o MEC produziu um comunicado, em forma de vómito, que, como muito bem assinalou Paulo Guinote (aqui), desrespeita o trabalho de professores, alunos e pais / encarregados de educação.

     O comunicado é o seguinte: 
«2012-12-11 às 10:09

ESTUDOS INTERNACIONAIS MOSTRAM NECESSIDADE DE MELHORAR CONHECIMENTOS DOS ALUNOS EM MATEMÁTICA E CIÊNCIAS

Foram divulgados os resultados dos estudos Tendências Internacionais no Estudo da Matemática e das Ciências (Trends in International Mathematics and Science Study [TIMSS]) e Progressos no Estudo Internacional de Leitura e Literacia (Progress in International Reading Literacy Study [PIRLS]), realizados pela  Associação Internacional para a Avaliação das Realizações Educacionais (International Association for the Evaluation of Educational Achievement [IEA]). Ambos os estudos foram realizados por alunos do 4.º ano em matemática e ciências e em leitura, respetivamente. O TIMSS foi também aplicado a alunos do 8.º ano, mas Portugal não participou nesta avaliação.
Foi a primeira vez que Portugal participou no PIRLS. Quanto ao TIMSS, Portugal já tinha participado em 1995, numa altura em que a avaliação externa era muito mais reduzida do que é hoje. O País participou nos 3.º, 4.º, 7.º e 8.º anos, e ficou sempre entre os 5 últimos colocados à exceção de ciências no 8.º ano, em que ficou entre os 9 últimos colocados. O País não voltou a participar até 2011.
Nesta edição do TIMSS & PIRLS 2011, no 4.º ano de escolaridade participaram 50 e 45 países, respetivamente. Portugal ficou em 15.º lugar em matemática e em 19.º em ciências e leitura. A pressão por uma maior exigência por parte da sociedade civil, a introdução de uma avaliação continuada, através de provas de aferição no primeiro ciclo, e um maior controle sobre os manuais escolares não foram de certeza indiferentes para estes resultados. 
Ainda assim, em todos os estudos mais de metade dos alunos portugueses não ultrapassam o nível intermédio de benchmark (melhores práticas), o segundo mais baixo em quatro níveis. Quer isso dizer que em ciências estes alunos têm quando muito conhecimentos e compreensão elementares sobre situações práticas, mas não têm domínio suficiente desses conhecimentos; em matemática, podem conseguir aplicar conhecimentos básicos em situações de resolução imediata, mas não têm domínio desses conhecimentos suficiente para resolver problemas; e em leitura, podem ser capazes de fazer inferência direta, mas não tem fluência suficiente de fazer inferências e interpretações baseando-se no texto. Ainda há, portanto, a necessidade de melhorar significativamente estes conhecimentos.
A avaliação externa é um fator fundamental para o progresso de qualquer sistema de ensino. Esta avaliação deve ocorrer sempre em dois níveis: nacional, através da realização de provas finais e exames, e internacional, através da participação em estudos como estes. Em 2012/2013, pela primeira vez os alunos de todos os ciclos de ensino realizam provas finais e exames, que permitem ter um melhor conhecimento do sistema.»

Resultados do PIRLS 2011 - Leitura

     Portugal, com 541 pontos, encontra-se na 19.ª posição entre 45 países, com um registo igual ao da Alemanha, sendo de assinalar, também, o tombo da Suécia, que muitos veem como o modelo a seguir na introdução do cheque-ensino, liberdade de escolha, etc.


     Nesta área, não é possível estabelecer comparações, dado que o nosso país participou unicamente em 2011.

Resultados do TIMSS 2011 - Ciências

     Relativamente às Ciências, Portugal situa-se 22 pontos acima da média, com 522.


     Comparativamente, os alunos portugueses encontram-se, tal como a Matemática, entre o grupo das nações que melhoraram o seu desempenho: + 70 pontos (452 > 522).



Resultados do TIMSS 2011 - Matemática

     Os resultados - quer do TIMSS quer do PIRLS - são apresentados numa escala de 0-1000 com um ponto médio de referência de 500 e um desvio padrão de 100.

     Embora ambos tenham avaliado alunos do 4.º e do 8.º anos de escolaridade, Portugal participou no estudo centrado nos alunos do primeiro ciclo.

     No que diz respeito à Matemática, Portugal obteve 532 pontos, o que o coloca entre os 15 países com melhor desempenho, superando, entre outros, a Alemanha, que a equipa do atual MEC encara como modelo para a introdução do chamado ensino dual entre nós.


     Comparando os resultados de 1995 (data da nossa única participação) com os de 2011, verifica-se que Portugal se encontra no grupo dos que melhoraram o seu desempenho: + 90 pontos (442 > 532).




TIMSS e PIRLS 2011


     Desde o final do século passado que Portugal participa em estudos internacionais que avaliam o desempenho dos alunos em áreas fulcrais do Ensino, como leitura, matemática e ciências.
     O estudo mais conhecido e que tem servido de base para a produção de inúmeros considerandos sobre a qualidade do ensino português é o PISA, programa dirigido a alunos com 15 anos de idade e que tem uma periodicidade de três anos. Os resultados dos alunos portugueses no último PISA - datado de 2009 - podem ser encontrados aqui.
     Outros estudos de âmbito internacional são o TIMSS - Trends in International Mathematics and Science Study -, que se realiza de quatro em quatro anos, e o PIRLS - Progress in International Reading Literacy Study -, com uma periodicidade de 5 anos, tendo ambos como «alvo» os alunos do ensino básico (4.º e 8.º anos).
     Há poucos dias, foram divulgados os dados dos últimos TIMSS e PIRLS, aplicados aos alunos do 4.º ano de escolaridade, que contêm os resultados seguintes:
  • Leitura: 541 pontos - 19.º lugar em 45 países;
  • Matemática: 532 pontos - 15.º lugar em 50 países;
  • Ciências: 541 pontos - 19.º lugar em 50 países.
     A última vez que Portugal tinha integrado estes programas data de 1995. Comparando a variação de resultados de então com os de 2011, verifica-se que o nosso país foi o que mais melhorou a Matemática, passando de 442 para 532 pontos. Na área das Ciências, a melhoria cifrou-se nos 70 pontos.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Da miséria: trabalhar a 43 cêntimos à hora

     A Associação Empresarial de Penafiel contratou quatro desempregados para se vestirem de Pai Natal por 43 cêntimos à hora. Operários da construção civil, trabalham de segunda-feira a domingo e permanecem seis horas e meia por dia em casinhas natalícias espalhadas pelas ruas da cidade, distribuindo balões a quem passa.
     Os sortudos distribuem também afeto, algo que não será fácil para quem recebe 83 euros por 30 dias de trabalho, além dos subsídios de transporte e alimentação e do subsídio de desemprego (que mantêm).
     Parece que, finalmente, vamos ser capazes de competir com as chinas deste mundo.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A relação Homem / Deuses / Destino

     A relação entre Homem, a divindade e o Destino, na poesia de Ricardo Reis, ocupa um lugar central e é uma relação de subordinação:
          . Homem:
                    » a sua liberdade é condicionada, tem limites;
                    » sente-se fraco e inútil;
          . Deuses:
                    » paganismo;
                    » conceito de deuses;
                    » sobrepõem-se ao ser humano;
          . Destino / Fatum:
                    » é uma ameaça implacável e inexorável que paira sobre o Homem;
                    » situa-se acima do Homem e dos próprios deuses;
                    » dita todas as leis do Universo;
                    » conduz à morte;
                    » é inútil resistir-lhe ou procurar contrariá-lo.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Futurismo

Manifesto de Marinetti

. Origem:
  • Publicação do manifesto «Fundação e Manifesto do Futurismo», na primeira página do jornal Le Figaro, a 20 de fevereiro de 1909, da autoria de Marinetti.
. Linguagem:
  • excessiva, agressiva e violenta, com intuito provocatório.
. Objetivos e ideais:
  • reação à permanência de valores considerados obsoletos;
  • edificação de um futuro caraterizado pela exaltação da técnica e do dinamismo, pela simultaneidade de espaços, de tempos e sensações, pela fusão de expressões artísticas e pela adoção de formas artísticas, particularmente as literárias, que combatem as convenções vigentes.


                O futurismo é um movimento artístico e literário que teve origem no início do século XX e que foi desencadeado pela publicação do texto “Fundação e Manifesto do Futurismo”, na primeira página do jornal Le Figaro, a 20 de fevereiro de 1909, da autoria do poeta italiano Fillipo Tommaso Marinetti, que estudara em Paris e adotara a forma do manifesto do “Manifesto Comunista” de Karl Marx e Engels, datado de 1848. Depois deste texto, foram publicados outros nos anos seguintes que contribuíram para o alastramento das ideias futuristas por toda a Europa.

                O original de Marinetti contém as seguintes premissas:

1. Queremos cantar o amor do perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia e a rebelião serão elementos essenciais da nossa poesia.
3. Até hoje a literatura tem exaltado a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono. Queremos exaltar o movimento agressivo, a insónia febril, a velocidade, o salto mortal, a bofetada e o murro.
4. Afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um carro de corrida adornado de grossos tubos semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de Samotrácia.
5. Queremos celebrar o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada a toda velocidade no circuito de sua própria órbita.
6. O poeta deve prodigalizar-se com ardor, fausto e munificência, a fim de aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.
7. Já não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que não tenha um carácter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças ignotas para obrigá-las a prostrar-se ante o homem.
8. Estamos no promontório extremo dos séculos!... Por que haveremos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Vivemos já o absoluto, pois criamos a eterna velocidade omnipresente.
9. Queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo da mulher.
10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de todo o tipo, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.
11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos a maré multicor e polifônica das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas elétricas: as estações insaciáveis, devoradoras de serpentes fumegantes: as fábricas suspensas das nuvens pelos contorcidos fios de suas fumaças; as pontes semelhantes a ginastas gigantes que transpõem as fumaças, cintilantes ao sol com um fulgor de facas; os navios a vapor aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de amplo peito que se empertigam sobre os trilhos como enormes cavalos de aço refreados por tubos e o voo deslizante dos aviões, cujas hélices se agitam ao vento como bandeiras e parecem aplaudir como uma multidão entusiasta.

                Inicialmente, o futurismo era um movimento puramente literário que pretendia «libertar-se das regras da gramática e da sintaxe na celebração dos sons e sensações de um mundo tecnológico futuro». De facto, Marinetti apelava a uma rutura com o passado e com a tradição e, em simultâneo, exaltava um novo estilo de vida, em consonância como dinamismo dos tempos modernos. E procurou fazê-lo através de uma linguagem chocante pela sua agressividade e pelo seu caráter iconoclasta, num tom violento, interpelativo e provocatório presente nos textos futuristas que se fundia num ultimato lançado com fúria a um passado que vigora ainda no presente nas formas estéticas, ideias, crenças e atitudes dominantes, por vezes simbolizadas numa figura pública que urge abater espiritualmente. É o que acontece, em Portugal, com o ManifestoAnti-Dantas, da autoria de Almada Negreiros.
                A partir de 1910, pintores e escultores italianos aderiram ao movimento futurista: Umberto Boccioni, Carlo Carrà, Giacomo Balla, Luigi Russolo e Gino Severini. Nesse mesmo ano, surgiram dois outros manifestos que estabeleceram as bases da estética futurista, exaltando as sensações dinâmicas do mundo moderno, as máquinas, o automóvel, o comboio, o aeroplano, a guerra e a força física, a velocidade, a luz elétrica, etc. Os pintores procuraram expressar, por linhas de força e planos fragmentados e entrecruzados, impressões sensoriais subjetivas e objetivas. Na sua fase inicial, o futurismo apresentava influências do pontilhismo, do cubismo e do orfismo. O simultaneísmo era utilizado para a representação de fases sucessivas do movimento: «Um cavalo em corrida não tem quatro patas mas vinte». Nesse mesmo ano, tiveram início as «Soirées Futuristas», que eram saraus de agitação e propaganda de cunho anarquista, envolvendo diversas formas de arte, durante os quais os futuristas insultavam o público e se agrediam mutuamente, originando tumultos que eram habitualmente encerrados pela polícia e noticiados posteriormente nos jornais.
                Outra das formas de arte influenciadas pelo futurismo foi o cinema, visto então, nos seus primórdios, como uma nova arte de grande alcance expressivo. Marinetti chegou a sugerir a realização de um filme futurista, que viu a luz do dia em 1916, com o título «Vida Futurista», no qual se levantavam questões de âmbito social e psicológico.
                Em fevereiro de 1911, liderado sempre por Marinetti, o grupo de futuristas apresentou-se em Paris, ruidoso, violento e agressivo, onde expôs a sua obra e adquiriu notoriedade internacional. Entre 1911 e 1912, Boccioni e Balla produziram obras totalmente abstratas, procurando, deste modo, representar o movimento e a luz.
                Nos anos seguintes, os futuristas publicaram múltiplos manifestos sobre as várias formas de arte (literatura, pintura, escultura, cartaz e composição tipográfica, música (cujo teórico foi Balilla, que fez tábua rasa da harmonia, defendendo o uso de gritos e barulhos expressivos), cinema, teatro, moda, fotografia, arquitetura e urbanismo (Sant’Elia publicou o «Manifesto Futurista da Arquitetura em 914, onde advogava a segregação dos fluxos pedonais e de trânsito na cidade e onde propunha uma estética visionária e utopista de centrais elétricas e arranha-céus em betão armado que influenciará o Movimento Moderno na arquitetura).
                O movimento futurista chegará ao fim por alturas da Primeira Guerra Mundial (1918), mas as suas características e princípios influenciarão outros movimentos, nomeadamente o dadaísmo suíço e o cubo-futurismo, o suprematismo e o construtivismo na Rússia.

                No plano literário, os traços definidores do futurismo concentram-se «no dinamismo, na exaltação da técnica, na simultaneidade de espaços, de tempos e de sensações, na fusão de expressões artísticas, na dessacralização das poéticas convencionais». A escrita é encarada como um meio de representar a velocidade, a violência, que exprimem o dinamismo da vida moderna, em oposição a formas tradicionais de expressão. Deste modo, rompe-se com a estética literária aristotélica, contesta-se o sentimentalismo e exalta-se o homem de ação. Procura-se, com afã, a originalidade, que Marinetti entrevê no elogio ao progresso, à máquina, ao motor, a tudo o que represente o que é moderno e imprevisto.
                Os poemas de índole futurista caracterizam-se por um conjunto de recursos destinados a abalar o leitor: profusão de exclamações, de apelos, de neologismos criados pela associação inédita de palavras, pelo emprego de termos insultuosos, pela autonomia concedida ao significante linguístico, procurando explorar os efeitos visuais e fónicos das palavras, através da introdução de grafismos no poema, da rutura com a lógica sintática tradicional: longas enumerações de frases nominais, uso do verbo no infinitivo, uso aleatório da pontuação e de maiúsculas. É o que Marinetti defende no «Manifesto Técnico da Literatura de 1912, bem como a abolição de adjetivos, advérbios e conjunções, a supressão do “eu” na literatura e o uso de símbolos matemáticos.

                Por outro lado, o futurismo não esteve, de modo algum, alheado da política. Marinetti, por exemplo, colaborou com Mussolini e o fascismo italiano e fomentou o esplendor da guerra, do militarismo, do nacionalismo e do patriotismo.


                O futurismo português

                O futurismo não se limitou à França e à Itália. No caso português, terá sido o jornal «Diário dos Açores» o único meio de comunicação social a reproduzir o manifesto inicial de Marinetti e a publicar uma entrevista com o autor.
                Posteriormente, Portugal contactou com o futurismo graças a intelectuais lusos que residiam em Paris, concretamente o poeta Mário de Sá-Carneiro, Amadeo de Souza-Cardoso e Santa-Rita Pintor, tendo-se este último assumido como o líder do movimento em solo nacional.
                Os principais textos portugueses de índole futurista são «A Cena do Ódio» (1915), de Almada Negreiros, «Manucure e Apoteose» (195), de Mário de Sá-Carneiro, «Ode Marítima» e «Ode Triunfal» (1915), de Álvaro de Campos, e «O Manifesto Anti-Dantas», de Almada Negreiros, estando muitos deles ligados à publicação da revista “Orpheu”.
                Em 1917, materializou-se o fugaz momento de apoteose do futurismo português, com (1) a primeira Conferência Futurista, realizada a 14 de maio desse ano, onde Almada Negreiros leu o seu «Manifesto Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX», com (1) a formação do Comité Futurista de Lisboa ‑ iniciativa de Almada e Santa-Rita – e com (3) o lançamento, em novembro, da revista “Portugal Futurista”, que continha textos de Apollinaire, Almada e Álvaro de Campos e que foi apreendida pela polícia após a publicação do número inaugural por causa do seu caráter provocatório e da polémica e escândalo que gerou.

                Com a morte prematura de Amadeo de Souza-Cardoso e de Santa-Rita Pintor, em 1918, e com a dispersão de outras figuras de proa do futurismo, este movimento acabou por se dissipar.



Fontes:

     » http://www.unknown.nu/futurism/manifesto.html
     » http://www.futurismo.noradar.com/index.htm
     » http://www.slideshare.net/michelepo/futurismo_1298096#btnNext

Alargamento do horário de trabalho dos professores

O Governo prepara-se para alargar o período de trabalho lectivo dos professores no âmbito do aumento do horário da Função Pública de 35 para 40 horas por semana
     O Governo prepara-se para alargar o período de trabalho lectivo dos professores no âmbito do aumento do horário da Função Pública de 35 para 40 horas por semana, a exemplo do que já aconteceu com os médicos. Actualmente, os professores do ensino básico e secundário distribuem o tempo de trabalho semanal entre as salas de aula (22 horas) e reuniões, apoio aos alunos e preparação de aulas (13 horas). A ideia é aumentar o número de horas de aulas que passarão para 27 semanais. 

     O Governo engloba assim os professores na revisão da organização e tempo de trabalho da Função Pública. Uma medida que se ajusta à aproximação das condições dos funcionários do Estado daqueles que trabalham no sector privado.

     No caso dos professores, admite-se que o aumento do número de horas de trabalho lectivo redunde na redução do número de docentes contratados, estimando os sindicalistas que possam ser reduzidos 15 mil contratações. Esta medida justifica-se para toda a Função Pública e os professores não são, naturalmente, excepção. É uma forma de clarificar as necessidades de pessoal nos diferentes sectores e de racionalizar os gastos do Estado que, até aqui, tem estado a financiar com dinheiros públicos, ou seja de todos nós, postos de trabalho fictícios e ir aproximando as condições de trabalho entre o sector privado e a Função Pública. 

     A legislação laboral no nosso país para o sector privado limita o número de horas de trabalho a oito diárias e 40 por semana, mas o limite diário pode ser aumentado até quatro horas e o limite semanal pode atingir as 60 horas por períodos de tempo limitados. A aproximação do tempo de trabalho e das regalias entre os sectores públicos e privado responde à exigência constitucional de igualdade entre todos os trabalhadores.

Fonte: Económico

domingo, 9 de dezembro de 2012

Medina Carreira, ou 'Maus a investigar, bons a enlamear'

Por Ferreira Fernandes
     FRANCISCO Canas tinha um esquema de dinheiro para a Suíça, o que levou a Polícia Judiciária a investigar. Traduzido: a Judite pôs debaixo d'olho o Zé das Medalhas no caso Monte Branco. 
     À polícia dá-se a alcunha da bíblica Judite, o comerciante da Baixa lisboeta passa a ser Zé das Medalhas e a Helvécia esconde-se atrás da sua célebre montanha. E porquê esses biombos? Porque um bom caso policial precisa sempre de mistérios que apimentem a coisa. 
     Agora, sigamos um investigador português dando com o livro escondido do Zé das Medalhas, onde este apontava os seus clientes e verbas. Um livro destes seria lido por qualquer investigador como as mensagens da Rádio Londres eram ouvidas pelos nazis durante a II Guerra Mundial. Se a mensagem era "les sanglots longs des violons...", eles não diziam: "Olha, agora deu-lhes para a poesia de Verlaine!" Desconfiavam: "Aqui há gato...", mesmo não sabendo se persa ou siamês. 
     Da mesma forma, um investigador lendo o nome "Medina Carreira" no livro do Zé das Medalhas desconfiaria. Tentava traduzir aquele código. Um investigador, disse eu. Em geral. Mas se o investigador for português, aí já marra a direito: "Medina Carreira? Olha, o gajo que tem a mania de dar lições." E ia direito a buscas na casa e escritório do "indiciado". 
     Não deu em nada, claro, era mesmo código. Porém, se os investigadores portugueses marram mal, pegam de cernelha bem: os jornais ficaram logo a saber que houve buscas... 
Diário de Notícias, 9 de dezembro de 2012

Os progressos da Educação em Portugal

É igual ao litro (I)


Indecentemente roubado
ao Sorumbático

O engraçadismo e a enfermeira

Por Ferreira Fernandes
     DA AUSTRÁLIA, um duo de engraçadistas profissionais entrou no quarto do hospital londrino de Kate, a mulher do príncipe William. Gravando para uma rádio, a mulher do duo telefonou para a receção e apresentou-se como "a Rainha". A enfermeira Jacintha Saldanha, que recebeu a chamada, nem deu pela pronúncia grosseira, passou o telefonema para o quarto de Kate, onde outra enfermeira, também enganada, forneceu dados sobre a gravidez ducal ou lá o que é. 
     Os australianos gozaram que nem uns perdidos e a casa real protestou. Ontem, Jacintha Saldanha foi encontrada morta; por suicídio, julga a polícia. 
     O engraçadismo vai continuar, é um género cruel e popular, gosta-se sempre de ver gente ridicularizada; e é um género fácil, as vítimas são sempre os mais fracos, mesmo quando parece querer beliscar-se a Rainha quem sai esfolado são enfermeiras (veja-se, ainda, como os nossos "apanhados" televisivos são quase sempre imigrantes ou pobres, nunca poderosos). 
     A casa real britânica vai também continuar a filtrar as notícias pessoais que lhe interessam e a indignar-se com as outras. De novo, neste caso, só o mexilhão que não acolheu o vexame mansamente. 
     Jacintha Saldanha não suportou que se tivessem rido da forma como ela exerceu a sua profissão. É uma surpresa extraordinária, isso de haver gente com pundonor. Olha, pode ser a desculpa dos australianos: como é que engraçadistas iam adivinhar que ainda havia gente assim?

Diário de Notícias, 8 de dezembro de 2012

O ensino como negócio


sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Brasil adia obrigatoriedade do Acordo Ortográfico


Brasil vai adiar obrigatoriedade do Acordo Ortográfico para 2016

Por Agência Lusa, publicado em 7 Dez 2012 - 17:18 | Actualizado há 6 horas 16 minutos
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