O quadro Intervenção Romântica
é da autoria do pintor surrealista português António Pedro (1909 – 1966) e foi
pintado em 1940, em plena Segunda Guerra Mundial.
Na pintura, vemos uma paisagem
surreal, desolada, quase lunar, mas contendo algo de orgânico, concretamente
uma mão e um corpo de mulher sem cabeça, em vez de árvores, paisagem essa que é
palco de várias cenas.
Em primeiro plano, à direita, quatro
soldados matam-se uns aos outros pelas costas, configurando uma situação que funciona
como denúncia do absurdo da guerra. Ao fundo, outro par de soldados funciona
como demonstração da generalização da guerra. Ainda em primeiro plano, mas à
esquerda, uma mulher vestida de branco – a cor que simboliza a paz – parece voar
e mergulhar nas raízes da árvore-mulher. Atrás, num plano mais elevado, uma
outra figura feminina, nua sobre um cavalo, transporta uma bandeira branca, a
bandeira da paz. A olhar para ela, um homem que voa com a cabeça nas mãos – é um
autorretrato do pintor.
Face ao exposto, podemos concluir
que existe um contraste entre os elementos masculinos, violentos, escuros, e os
femininos, claros, simbolicamente associados à paz. O pintor, elemento masculino,
direcionado para os soldados, inverte a sua posição, violentamente, opta por
outro rumo, olhando para a mulher-paz.
Ao centro, no plano superior, um pássaro
gigante segura uma chave enorme nas patas, provavelmente a chave do
conhecimento, que decifra o enigma do futuro da Humanidade num mundo assolado
pela guerra.
No que diz respeito às cores e à
luz, as tonalidades dominantes são os castanhos dourados da paisagem. O céu,
arroxeado, com tonalidades plúmbeas e amareladas, está carregado, denso. Ao
longo de um clarão de luz – o clarão das bombas? Tudo isto, conjugado com o
contraste claro-escuro, confere um intenso dramatismo à pintura.