Português: 16/01/21

sábado, 16 de janeiro de 2021

Variedades sociais ou diastráticas

 
2.4. Variedades sociais ou diastráticas (do grego dia = através de + do latim stratu = camada estrato)

 
● As variedades sociais são as variedades da língua usadas por falantes que pertencem à mesma classe social.

 
● Os fatores sociais de variação (as chamadas variáveis extralinguísticas) são a classe social, o nível de instrução, a educação, a idade, o sexo, a origem étnica, entre outros. Um adolescente não fala como um adulto, nem uma pessoa que possua um elevado grau de escolaridade fala como alguém que possua um grau de instrução baixo.

 
● Delas fazem parte os seguintes registos:

 
a) Registo técnico / linguagem técnica: uso de vocabulário específico e rigoroso relativo a determinada profissão, área técnica ou da ciência, e usado nesse contexto.

 
b) Gíria: uso de vocabulário e expressões próprios de determinados grupos (pescadores, estudantes, médicos, etc.).

 
c) Calão: uso de vocabulário grosseiro, nomeadamente por parte de populações com pouca instrução e de baixo nível sociocultural.

 
NOTA: Num mesmo momento, é possível coexistirem diferentes variantes – uma arcaizante e outra que já apresenta o resultado de uma mudança linguística. A estas dá-se o nome de mudança em curso. Exemplo: toiro touro.

 

Variedades situacionais ou diafásicas

 
2.3. Variedades situacionais ou diafásicas (do grego dia = através de + phásis = expressão)

 
● São as variedades da língua que dependem das diferentes situações de comunicação, isto é, o falante adapta o registo de língua às diferentes situações de comunicação em que interage. Um falante expressar-se-á de maneira muito diferente num estádio de futebol, num tribunal, num consultório médico ou numa roda de amigos.

 
● Assim, a língua usada por um falante varia consoante o contexto (local em que se encontra, situação de trabalho, de convívio ou familiar…), o grau de cultura e a idade do interlocutor ou até na sua relação com o mesmo, que pode ser mais ou menos informal.

 
● Em situação formal, o falante recorre a um registo cuidado, de acordo com as exigências dos seus interlocutores (pessoas, instituições, empresas).

 
● Em situação informal, o falante pode fazer uso de um registo de língua mais espontâneo, menos controlado.

 
● Neste âmbito, o falante pode, portanto, socorrer-se dos seguintes registos de língua:

 
▪ Registo literário: uso de recursos especiais ao nível do significante, da estrutura frásica; de linguagem conotativa.

 
▪ Registo cuidado: uso de vocabulário cuidado, frases bem estruturadas/construídas. É mais usado em situações formais (discursos, conferências, crónicas…).
 
▪ Registo corrente: uso de vocabulário corrente, de fácil compreensão, claro e correto. É usado quotidianamente nos meios de comunicação social (rádio, televisão, conversas…).

 
▪ Registo familiar: uso de vocabulário pouco variado, simples, de fácil compreensão, claro e espontâneo. É o mais usado diariamente em situações coloquiais, entre a família e os amigos.

 
▪ Registo popular: uso de vocabulário mais pobre, simples e espontâneo, denotando muitas vezes pouca instrução por parte dos seus falantes. É usado, principalmente, em contextos de oralidade, e é muito expressivo.

 

Variedades africanas

 
2.2.3. Variedades africanas

 
● As variedades africanas correspondem ao português falado em África, nomeadamente em Luanda (Angola) e Maputo (Moçambique), as variedades mais estudadas.

 
● Os países que falam português são Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau.

 
● As variedades africanas, além de possuírem diferenças entre si, divergem também relativamente à variante europeia.


Variedade brasileira

 
2.2.2. Variedade brasileira

 
● A variedade brasileira consiste no português falado no Brasil, apresentando muitas influências de outras línguas.

 
● A língua padrão corresponde à variedade dos falantes cultos do Rio de Janeiro e de São Paulo.

 
● Tal como sucede com a europeia, a variedade brasileira apresenta igualmente diferentes tipos de variação.
 

Variedade brasileira

Variedade europeia

F

o

n

é

t

i

c

a

. pronúncia de vogais fechadas como abertas: «náriz», «levar»;

. pronúncia das vogais tónicas como médias: «Antônio»;

. supressão ou velarização do /r/ final: «mudá», «falarr»;

. semivocalização do /l/ final de sílaba ou de palavra: «auguma», «Brasiu»;

. palatalização do /t/ e /d/ antes de /i/ tónico e átono e de /e/ pós-tónico: «pondj;

. introdução de /i/ entre duas consoantes que não formam grupo consonântico em português: «rapito».

. pronúncia de vogais fechadas como tal: «nariz», «levar»;

. pronúncia das vogais tónicas mais baixas: «António»;

. realização do /r/ simples em final de palavra: «mudar», «falar»;

. velarização do /l/ final de sílaba ou de palavra: «alguma», «Brasil»;

. não palatalização dessas consoantes;

 

. conservação da sequência das consoantes: «rapto».

M

o

r

f

o

s

s

i

n

t

a

x

e

. uso do gerúndio na construção aspetual: «estou comendo»;

. uso do pronome pessoal átono antes do verbo: «Me dê esse livro.»;

. omissão do determinante artigo definido (por exemplo, antes do possessivo): «todo sábado», «seu pai»;

. substituição do pronome pessoal átono “o”, “a” pelo tónico “ele”, com função sintática de complemento direto: «Vi ela na escola.»;

. uso diferente das preposições: «Fui no supermercado.»;

. uso do verbo “ter” em vez de “haver”: «Tem gente burra na sala.»;

. uso do pronome pessoal átono “lhe”, com função sintática de complemento direto: «Eu lhe beijei no sábado.».

. uso do infinitivo pessoal antecedido de preposição: «estou a comer»;

. uso do pronome pessoal átono após o verbo: «Dê-me esse livro.»;

. uso do determinante artigo: «todo o sábado», «o seu pai»;


. uso do pronome pessoal átono “o”, “a” com a função sintática de complemento direto: «Vi-a na escola.»;

. uso das preposições: «Fui ao supermercado.»;

. uso do verbo “haver”: «Há gente burra na sala.»;

. uso do pronome pessoal átono “o”, “a”, com função sintática de complemento direto: «Eu beijei-a no sábado.».

Formas de tratamento

. tratamento familiar: «você»;

. tratamento formal: «o senhor», «a senhora», o cargo, o título.

. tratamento familiar: «tu», «você»;

. tratamento formal: «o senhor», «a senhora», nome próprio, cargo, título ou grau de parentesco.

L

é

x

i

c

o

. “banheiro”

. “café da manhã”

. “ónibus”

. etc.

. “casa de banho”

. “pequeno-almoço”

. “autocarro”

. vocábulos de origem africana: «xingar», «samba»;

. vocábulos de origem tupi: «pipoca», «capim».

 

Variedade europeia: regionalismos e mirandês

 
2.2.1. Variedade europeia

 
● A variedade europeia corresponde ao português falado em Portugal Continental e nos arquipélagos da Madeira e dos Açores.

 
● A língua padrão ou norma (isto é, a língua usada e compreendida pela generalidade dos falantes) é a variante falada no eixo (imaginário) Coimbra – Lisboa. Há quem considere, no entanto, que a norma da língua portuguesa corresponde à utilizada pelos falantes cultos de Lisboa.

 
● A variedade europeia apresenta, contudo, diferenças dialetais. Ou seja, um habitante do continente e um açoriano ou madeirense falam de forma diferente, tal como um de Lisboa e outro do Porto.

 
● Ou seja, a língua portuguesa apresenta (além de variações continentais) também variedades geográficas que diferem de região para região, dentro do mesmo país. As suas especificidades podem manifestar-se ao nível da pronúncia, da entoação, do vocabulário e da sintaxe. Estamos a falar dos dialetos ou regionalismos.

 
Dialetos regionais ou regionalismos (de dia = meio de + lecto = fala)

 
▪ São expressões e palavras típicas de cada região ou local do país.

 
▪ As diferenças ocorrem:

- na oralidade:

. ditongos ei (leite) e ou (tesouro) a Norte ≠ ditongos reduzidos a Sul: ei > ê (Figueira > Figuêra) ou ou > ô (louro > loro);

- no léxico:

. à minha beira = ao pé de mim (Norte);

. albarda = sela (Alentejo);

. alcagoita = amendoim (Algarve);

. fino = copo de cerveja (Norte);

. bica = café (Centro);

. lambeca = sorvete (Madeira);

. trincar o pé = pisar o pé (Açores).

 

Mirandês: é um antigo dialeto, promovido a segunda língua de Portugal, falada na região de Mirando do Douro.

 

Variedades geográficas ou diatópicas

 
2.2. Variedades geográficas ou diatópicas (do grego «dia» = através de + «topos» = lugar)

 
● As variedades geográficas são aquelas que a língua apresenta de acordo com o local / a região onde é falada.

 
● A língua portuguesa é falada numa vasta área geográfica:

 
● Atualmente o português é falado por mais de 250 milhões de pessoas em todo o mundo, a quinta língua mais falada no globo terrestre, a quinta mais usada na Internet e a terceira nas redes sociais Facebook e Twitter.

 
● Ao longo da sua história, a língua portuguesa entrou em contacto com outras línguas, nomeadamente em razão do processo de colonização, dos Descobrimentos e da emigração, o que propiciou a sua expansão para outras regiões do globo, dando origem a diferentes variedades do português:

variedade europeia;

variedade brasileira;

variedades africanas.

 

Variação histórica ou diacrónica

 
2.1. Variação histórica ou diacrónica (do grego dia = através de + krónos = tempo)

 
● É a variação que a língua sofreu ao longo dos tempos (nela se inscrevem os processos fonológicos, os arcaísmos, etc.): um falante medieval ou contemporâneo de Camões usava uma forma de português diferente da atual.

 
● Existem três fases na História do português:

▪ Português Antigo (séculos XII – XIV);

▪ Português Clássico (séculos XVI – XVIII);

▪ Português Contemporâneo (séculos XIX – XXI).

 
● Exemplos:

. asinha depressa;

. pam pão.

 

Variação linguística

 1. Variação
 
                As línguas, apesar de unas, são organismos vivos, isto é, evoluem ao longo dos tempos (estão constantemente a «perder» e a «ganhar» palavras).

                O que é a variação linguística? É a variação (as transformações, as mudanças) que as línguas sofrem:

▪ ao longo do tempo (não falamos hoje como falávamos na época medieval, ou noutra época passada);

▪ em função da geografia (local onde são faladas) – o português falado em Lisboa não é exatamente igual ao falado no Porto ou nos Açores;

▪ dentro da sociedade (contexto em que são usadas e falantes que as utilizam, em função quer do nível social e cultural dos falantes, quer da situação de comunicação).

                Com efeito, o tempo, a geografia/ o espaço, a sociedade/o meio social e a situação discursiva constituem os fatores que justificam essa variação.

                De facto, é evidente que a língua portuguesa evoluiu ao longo dos tempos (basta ler, por exemplo, um extrato de um texto de Gil Vicente ou de Camões, etc., para compreender que o português dessas épocas era muito diverso do atual), mas é igualmente claro que um falante do Porto fala de modo diferente de um do Algarve, ou que uma criança possui um discurso diferente do de um adulto, ou ainda que falantes de diferentes extratos socioculturais, embora comuniquem entre si, o fazem recorrendo a registos distintos.

                Em suma, todas as línguas naturais:

▪ têm variação;

▪ mudam e estão sempre a mudar.

                Esta propriedade das línguas possui, pois, a designação de variação linguística.

 
 
2. Variedades
 
                A língua portuguesa apresenta, então, as seguintes variações linguísticas:

▪ variação histórica;

▪ variedades geográficas;

▪ variedades sociais;

▪ variedades situacionais.

Mangueira do Brasil

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