Português: 11/07/11

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sofia Faustino recria um poema de Torga

Que desgraça, meu Deus!

Tenho o livro de português aberto à minha frente,
Tenho a memória cheia de poemas,
Tenho as respostas que encontrei
Que todo o santo dia me rasguei
À procura não sei
De que palavra, síntese ou imagem!
Que desespero dentro de mim
Não sei analisar poemas!
E sempre o mesmo trágico desejo
De ver passado o teste de português!
Sempre a mesma vontade de gritar,
Embora de antemão a duvidar
Da exactidão das respostas que guardei!

"A Canalha", Jorge de Sena

              Como esta gente odeia, como espuma
          por entre os dentes podres a sua baba
          de tudo sujo nem sequer prazer!
          Como se querem reles e mesquinhos,
          piolhosos, fétidos e promíscuos
          na sarna vergonhosa e pustulenta!
          Como se rabialçam de importantes,
          fingindo-se de vítimas, vestais,
          piedosas prostitutas delicadas!
          Como se querem torpes e venais
          palhaços pagos da miséria rasca
          de seus cafés, popós e brilhantinas!
          Há que esmagar a DDT, penicilina
          e pau pelos costados tal canalha
          de coxos, vesgos, e ladrões e pulhas,
          tratá-los como lixo de oito séculos
          de um povo que merece melhor gente
          para salvá-lo de si mesmo e de outrem.

                                        Jorge de Sena, 07/12/1971
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