O poema, constituído por cinco estrofes de versos heptassílabos / em redondilha maior (o que o associa ao folclore popular brasileiro), coloca-nos face a um objeto inanimado que existe em quase todas as casas do mundo e que faz parte do dia a dia de qualquer um de nós.
De facto, a porta é feita de um
material sem vida e está imóvel, aparentando, à primeira vista, não ter grande
utilidade. No entanto, ela adquire vida pelo uso, pelo seu movimento e dinamismo
(abre e fecha) e pela serventia que tem, além de servir como proteção. De
facto, uma porta é uma passagem que permite a entrada e a saída de pessoas:
está em constante movimento e a própria porta favorece essa movimentação.
Note-se que, atentando no título, o
«eu» poético não se refere a uma qualquer porta, mas a “a porta”, como o
indicia a presença do determinante artigo definido a anteceder o nome. Ela
indica várias passagens, vários caminhos, e escolhe quem ou o que deixa passar:
o menininho, o namorado, a cozinheira e o capitão.
Porém, como se trata de uma porta
muito inteligente (a personificação do objeto estende-se por todo o poema), é
capaz de distinguir o bem do mal, por isso protege a casa, impede que o mal
entre nela: “Eu fecho a frente da casa / Fecho a frente do quartel / Fecho tudo
no mundo”.
O último verso do texto reafirma a
ideia da abertura da porta para o bem, para a liberdade: “Só vivo aberta no céu!”