segunda-feira, 25 de setembro de 2017
Protótipos textuais: texto narrativo
1.1. Definição:
o texto narrativo é um texto ou sequência textual em que se relata um evento, um
facto ou acontecimentos ou uma cadeia dos mesmos.
1.2. Géneros (ou tipos de textos
narrativos):
- romance
- conto
- lenda
- mito
- banda desenhada
- fábula
- parábola
- (auto)biografia
- notícia
- reportagem
- crónica
- relatório
- relatos históricos
- relatos orais
- etc.
1.3. Traços básicos da narração
O texto narrativo possui cinco
características específicas: uma ação
ou ações, localizada(s) no tempo e no espaço, protagonizada(s) por uma pessoa ou personagem, que confere unidade à ação ou atravessa toda a
narrativa, e contada por um narrador,
que pode ser, ou não, uma das personagens.
Por outro lado, os eventos
representados encadeiam-se de forma lógica e orientam-se para um desenlace,
desenvolvendo-se ao longo de três momentos, sobretudo no de texto de índole
literária:
. Situação
inicial: situação de estabilidade, em que se apresentam as personagens,
situadas no tempo e no espaço. Habitualmente, são frequentes as sequências
descritivas neste momento inicial.
. Complicação / problema: é o
conjunto de eventos que geram um conflito, desequilibrando a situação inicial,
e que constituem o núcleo da narração. Frequentemente, há textos narrativos que
alternam situações de equilíbrio e desequilíbrio, correspondendo à ocorrência
de vários episódios ou capítulos de uma obra.
. Resolução: é a solução do conflito
e o regresso a uma situação de equilíbrio.
1.4. Características
. o uso
predominante de verbos de ação;
. o
predomínio do pretérito perfeito do indicativo (também o imperfeito, o
mais-que-perfeito e o futuro marcam presença) ou do presente histórico;
. o uso do
pretérito imperfeito para iniciar a narrativa;
. a
abundância de marcadores e conectores temporais e espaciais (“quando”,
“depois”, “um dia”, etc.);
. o recurso
a advérbios de valor locativo e temporal, conjunções, locuções e expressões
temporais, especiais e causais;
. o uso de
marcadores discursivos explicativos e conclusivos (“assim”, “porque”, “por esse
motivo”, etc.);
. marcas
linguísticas que indicam o ponto de vista:
- deíticos de primeira pessoa (pronomes pessoais,
possessivos e demonstrativos, formas verbais e advérbios) no relato de
enunciação de primeira pessoa;
- referências lexicais e anafóricas no relato de
terceira pessoa.
Bibliografia:
. Domínios, de Zacarias Nascimento et alii;
. Gramática da Língua Portuguesa, de Clara Amorim;
. Itinerário Gramatical, Olívia Figueiredo e Eunice de
Figueiredo;
. Nova Gramática Didática de Português, Santillana.
Protótipos textuais I - Correção (G 44)
1.
Excerto textual
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Protótipo textual
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Então,
rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço
de marfim, atirou-o para o pobre berço de verga – e tirando o seu filho do
berço servil, entre beijos desesperados, deitou-o no berço real […]
|
narrativo
|
Sobre
literatura preciso de saber várias coisas.
Preciso
de saber que a literatura não se reduz aos textos escritos: para além deles,
a literatura foi e em certos momentos ainda é oral, ou seja, palavra dita,
declamada e cantada, independentemente da fixação escrita.
|
expositivo
|
Moço
– Co dinheiro que leixais
não
comerei eu galinhas…
Escudeiro
– Vai-te tu per essas vinhas.
Que
diabo queres mais?
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conversacional (ou dialogal)
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Dose
recomendada:
Adultos
e crianças com idade superior a 12 anos: tome 1 ou 2 comprimidos, 1 a 3 vezes
por dia.
Colocar
os comprimidos dispersíveis num copo com água, agitar e beber em seguida.
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instrucional (diretivo ou injuntivo)
|
Por
outro lado, a televisão exerce uma influência negativa, ao exibir modelos
cujas características são inatingíveis pelas crianças e jovens em geral. As
suas qualidades físicas são ampliadas, os defeitos físicos esbatidos,
criando-se a imagem do herói / heroína perfeitos. Esta construção gera
sentimentos de insatisfação e frustração do eu consigo mesmo e de menosprezo
pelo outro.
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argumentativo
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Virgem
Plano
amoroso: você terá uma semana rica em desafios que o levarão constantemente a
aferir possibilidades e a escolher caminhos.
Plano
material: haverá evoluções políticas e sociais que poderão ter implicação
direta na sua vida.
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preditivo
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Maria
era uma senhora de idade avançada, de cabelos brancos e pele coberta de
rugas. Os seus olhos castanhos e cansados perdiam-se no vazio. Vestia uma
saia e um casaco azuis da cor do céu primaveril.
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descritivo
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. Ficha.
"Amigo Frei João, cuidas que é barro"
5
10
|
Amigo Frei João, cuidas que é
barro
O fumoso tabaco por que berro?
Um nigromante me transforme em
perro,
Se há coisa para mim como o
cigarro!
Ele me arranca pegajoso
escarro,
Que nas fornalhas deste peito
encerro;
O frio, as aflições de mim
desterro,
Quando lhe lanço mão, quando
lhe agarro.
De vício, se é vício, não me
corro,
E só tomo rapé, simonte ou
esturro,
Quando quero zangar algum
cachorro.
Amigo Frei João, não sejas
burro;
Dize bem do cigarro; senão,
morro;
Traze-me lume já, ou dou-te um
murro.
(I, 116)
|
Este
soneto aborda o vício do tabaco através de uma situação cómica: estando o autor
na cela do seu amigo Frei João de Pousafoles, sucedeu apagar-se-lhe um cigarro,
pelo que pediu lume, que ele lhe recusou. É por aí que o soneto se inicia: o sujeito
poético refere o pormenor de pedir lume ao amigo Frei João, porque o cigarro se
lhe tinha apagado. O amigo da cela, porém, nega-lhe o lume, querendo com isso
talvez não favorecer o vício.
Reconhecendo
os malefícios do tabaco, como o catarro do fumador (vv. 5-6), o sujeito poético
confessa, porém, que não lhe consegue resistir. Daí a formulação do desejo
hiperbólico dos versos 3 e 4: que um bruxo ou pessoa dedicada à arte de evocar
os mortos para predizer o futuro (“nigromante”) o transforme num cão (“perro”, palavra
de origem castelhana, usada frequentemente no sentido pejorativo de “tratante”).
O prazer do tabaco não tem paralelo. O gozo insubstituível de fumar, descrito
com humorado ênfase (v. 8), permite-lhe esquecer, ainda que momentaneamente, a
miséria e o sofrimento (v. 7).
Seguidamente,
faz a distinção entre o tabaco de fumo (cigarro), referido no verso 2, de
conhecidas consequências para os pulmões do sujeito poético (v. 6), e o tabaco
de cheirar, referido enfática mas depreciativamente no verso 10 (rapé, simonte,
esturro). Estes tipos de tabaco moído para degustar através de aspirações
nasais distinguem-se pela qualidade, sendo o simonte um tabaco da primeira
folha, e o esturro ou esturrinho um tipo de tabaco torrado, ambos usados para
cheirar, como o rapé.
O
fecho coloquial do soneto encerra admiravelmente o tom cómico que o perpassa
desde o início: “Traze-me
lume já, ou dou-te um murro!” (v. 14).
A
nível estilístico, repare-se no trocadilho com as palavras homónimas barro e
berro (vv. 1 e 2), ou no uso continuado da vibrante /r/, a estruturar toda a
rima alternada do soneto, que nos sugere, foneticamente, o nefasto efeito do
catarro típico do homem fumador.
"Certo enfermo, homem sisudo"
Certo enfermo, homem sisudo,
5
10
|
Deixou por condescendência
Chamar um doutor, que tinha
Entre os mais a preferência.
Manda-lhe o fofo Esculápio
Que bote a línguas de fora,
E envia dez garatujas
À botica sem demora.
«Com isto (diz ao paciente)
A sepultura lhe tapo.»
Replica o pobre a tremer:
«Aposto que não escapo».
(IV, 143)
|
Outro
grande tema da sátira epigramática de Bocage são os erros dos médicos, ou dos
falsos cirurgiões da sua época.
No
caso deste texto, eis que um homem adoece e decide recorrer, com temor e
hesitação (“Deixou
por condescendência...”), aos serviços da medicina. Na 2.ª estrofe,
Bocage apresenta ironicamente a figura do pretensioso médico (designado, com ironia,
por “fofo
Esculápio” – Esculápio era o deus da Medicina) observando o doente,
mandando-lhe deitar a língua de fora, e aviando uma receita ilegível (“dez garatujas”),
actos que consubstanciam a sua pretensiosa ciência/sabedoria. Finalmente, na
última estrofe, atente-se na irónica ambiguidade da afirmação do médico. Ao dizer
que tapa a sepultura ao doente, tanto afirma que o vai salvar da morte certa,
como pode significar que o mata definitivamente. E é nesta segunda acepção que
o pobre e desenganado paciente entende a declaração do médico. Em suma, a
sátira caricatural de que esta figura-tipo é alvo, incide sobre o tema dos
doentes que morrem mais depressa por causa dos erros da classe médica do que
por causa da própria doença e que, em alguns textos, leva Bocage a afirmar que
a Medicina é filha da própria Morte. Como diz a sabedoria popular, se não
morrem da doença, morrem da cura.
Por
vezes, como é o caso do texto em análise, Bocage serve-se de um breve mas
cómico diálogo entre médico e paciente, dando assim maior vivacidade e graça ao
cómico de situação ou de linguagem. Também é comum referir-se, algo jocosa e
metaforicamente, aos médicos como os descendentes de Galeno (anatomista grego),
os filhos de Esculápio (deus da Medicina) ou alunos de Hipócrates (médico
célebre).
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