Português: 12.º Ano
Mostrar mensagens com a etiqueta 12.º Ano. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta 12.º Ano. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Análise do poema "Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia", de Ricardo Reis

    O poema encontra-se organizado no respeito pelo processo usado em determinadas odes de Horácio; quer dizer, constitui-se como um símile de valor parenético (ou seja, que encerra uma moralidade), tomando por base um exemplum.


    Relativamente à estrutura interna, o poema divide-se (pelo que acima foi referido) em duas partes: o exemplum (vv. 1 a 64) e a moralidade (vv. 65 a 105).


  
         1.ª parte: Exemplum (vv. 1 - 64)

    Embora seja um texto em verso (decassílabos e hexassílabos brancos), por isso com características evidentes do género lírico, é possível também detetar no poema alguns aspetos característicos do género narrativo, concretamente a presença de uma ação, narrador, tempo, espaço e personagens.

    A história (ação) narrada no texto prende-se com factos ocorridos durante a invasão de uma cidade da Pérsia. Tais factos, apesar da sua brutalidade e sanguinolência, foram incapazes de, por mais do que um leve e passageiro instante, desviar a atenção de dois jogadores de xadrez que, indiferentes a tudo o que os rodeava, prosseguiram serenamente o seu jogo.

    O narrador é o próprio...


    A análise completa do poema pode ser encontrada aqui: análise-de-ouvir-contar-que-outrora.

 

sábado, 20 de janeiro de 2024

Análise do poema “Presságio” ou “O amor, quando se revela”

    O poema “Presságio” foi escrito por Fernando Pessoa em 24 de abril de 1928, já na fase final da sua vida (13 de junho de 1888 – 30 de novembro de 1935).

    O tema da composição poética é o amor, mais concretamente a dificuldade em o revelar à pessoa amada (em última análise a impossibilidade de viver um amor correspondido), abordado em cinco quadras de redondilha maior (bem ao gosto popular), com rima cruzada, segundo o esquema rimático ABAB.

    Na primeira quadra, o sujeito poético apresenta o mote do texto, isto é, o tema que vai ser desenvolvido, bem como o seu posicionamento face...


    Podes encontrar a análise completa do poema aqui: análise-do-poema-presságio.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Análise do poema "Ao entardecer, debruçado pela janela"


    Este poema é o terceiro da obra O Guardador de Rabanhos, um livro escrito entre 1911 e 1912, caracterizado por um estilo livre, sem rima nem métrica.

    O início da composição apresenta-nos um sujeito poético, debruçado pela janela, a ler O Livro de Cesário Verde. Ora, a leitura é uma atividade solitária por excelência e que exige concentração, introspeção, e Caeiro admitia que lia debruçado na janela, ao entardecer, o momento do dia que parece proporcionar a melancolia: a imagem é a de um poeta solitário – Alberto Caeiro – que lê outro poeta com tendências taciturnas – Cesário Verde.

    A seleção da obra para leitura não é casual. De facto, são evidências as similitudes entre a poética de ambos os poetas: a relação com a Natureza, as sensações, o deambulismo, etc. Caeiro lê O Livro de Cesário Verde, porque se identifica com ele. Note-se, por outro lado, a forma intensa e dedicada como Alberto se dedica à leitura, como o mostra o facto de ler até lhe doerem os olhos. O «eu» poético está totalmente focado e entregue à leitura. A identificação do título da obra indicia a sua admiração e respeito por Cesário, mas também a sua identificação com ele: ambos são poetas da Natureza e das sensações e observam o mundo com simplicidade e sem o racionalizar.

    Voltando ao verso inicial do poema, este coloca-nos perante o momento (“Ao entardecer”) e o local (a janela) em que se opera a leitura. O «eu» poético está...


A análise completa pode ser encontrada no link seguinte: análise-de-ao-entardecer.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Análise do Poema XIV de O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro


    O poema XIV de O Guardador de Rebanhos é constituído por duas estrofes, uma sextilha (isto é, uma estrofe constituída por seis versos) e um terceto. Como seria de esperar num poeta que não concluiu a antiga escola primária e que pretende escrever ao correr da pena, de forma espontânea, não pensando no que escreve, a composição caracteriza-se pela irregularidade formal. Assim, como já foi referido, há irregularidade estrófica, visto que as estrofes contêm um número diferente de versos entre si (seis e três). Por outro lado, os versos são todos brancos ou soltos, isto é, não rimam uns com os outros. Além disso, a métrica é igualmente irregular, visto que encontramos versos com diferente número de sílabas: 12 (v. 1), 4 (v. 7), 13 (v. 5), etc.

    No que diz respeito à mensagem do poema, o sujeito poético inicia-o afirmando que não se importa com as rimas. O que significa esta afirmação / negação? Em primeiro lugar, significa que ele se assume como um poeta (já o tinha feito, aliás, logo na primeira composição poética de O Guardador de Rebanhos). Em segundo lugar, significa que, nessa qualidade, desvaloriza a importância da rima nos seus textos, na sua poesia. Mas por que razão tal sucederá? A explicação / justificação surge ainda no primeiro verso, estendendo-se ao seguinte. De facto, o «eu» declara que não “Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra”. O que quer isto dizer e qual a relação com o ato de escrever poesia? Fazer rimar duas palavras (isto é, colocar no texto duas – ou mais – palavras que têm um final semelhante – ou seja, que rimam) não é natural, e fundamenta esta ideia através de uma analogia com a Natureza, que também não cria entidades iguais (como, por exemplo, árvores) “uma ao lado da outra”. Tal sucede porquê? O homem pensa quando cria (neste caso, cria / escreve poesia); a Natureza, não, daí que crie de forma simples e natural.

    O terceiro verso assenta numa comparação entre o sujeito lírico e a mesma Natureza: “Penso e escrevo como as...


    Podes encontrar a conclusão da análise aqui: análise-poemaxiv-o-guardador-de-rebanhos.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Apreciação crítica: análise do quadro "Golconde", de René Magritte


 Plano de texto


Introdução (1.º par.) – Identificação da pintura, do autor e aspetos da obra.


Desenvolvimento: descrição, análise e avaliação:

2.º par.: do cenário;

3.º par.: das figuras humanas;

4.º par.: do tema do quadro.


Conclusão (5.º par.) – Ideia central retirada sobre a pintura.


Introdução

 
Título:
 
Um mundo diferente


    O quadro “Golconde”, pintado em 1953 por René Magritte, poeta surrealista de origem belga, nascido em 1898 e falecido em 1967, representa uma cena intrigante, que rompe com as leis do mundo que conhecemos e nos traz para uma realidade marcada pelo maravilhoso.


Desenvolvimento
Cenário

    A pintura retrata um cenário urbano e tem como pano de fundo um conjunto de prédios alinhados, que preenchem a parte inferior e lateral da tela. Foi engenhosa a ideia de representar, deliberadamente, edifícios monotamente semelhantes: retilíneos, germinados, formando um contínuo. Todas as paredes estão pintadas da mesma cor – castanho claro –, as janelas possuem todas a mesma forma retangular, os telhados exibem o mesmo tom de vermelho. Certo é que a conjugação das cores torna este conjunto arquitetónico harmonioso. Por outro lado, nesta selva de cimento, o céu, pintado com matizes atraentes de azul claro, é o elemento que confere vida à cena representada.


Desenvolvimento
Figuras

    Esta paisagem citadina revela-se claustrofóbica também porque o espaço deixado vazio pelos edifícios é preenchido por dezenas de figuras humanas masculinas que se encontram suspensas no ar, do topo à base da pintura, do primeiro ao mais remoto plano. Não há sinais de movimento, mas as personagens podem ser sempre a mesma figura: um homem de sobretudo preto e com um chapéu de coco também preto. Deste modo, cria-se a ilusão, bem conseguida, de as personagens se multiplicarem infinitamente.


Desenvolvimento
Tema

    Numa das interpretações possíveis, “Golconde” representa, de forma genial, a sobrepopulação das cidades. Efetivamente, podemos nele ver uma crítica bem construída ao facto de as cidades serem lugares claustrofóbicos (daí os prédios) povoados por um número excessivo de pessoas. Assim se sugere que este não é o espaço harmonioso para o ser humano viver. Mais ainda, o facto de todos os homens se assemelharem é um indício preparado com grande subtileza para denunciar que a cidade gera pessoas iguais, monotamente indistintas.


Conclusão

    Concluindo, este é um quadro fascinante que representa uma cena de um mundo diferente do nosso, mas que nos refletir sobre o nosso próprio mundo.

Análise do poema "A abelha que, voando, freme sobre", de Ricardo Reis


    Nesta ode, Ricardo Reis socorre-se de um inseto, uma abelha, para demonstrar o contraste entre a mudança que ocorre na vida do ser humano e a imutabilidade da Natureza.
    Assim, neste poema de três quadras, o «eu» começa por descrever uma situação em que uma abelha, ao aproximar-se de uma flor e ao pousar nela, se confunde com esta aos olhos de quem não presta atenção, “À vista que não olha”. A ideia expressa na primeira quadra apenas se conclui no primeiro verso da segunda (transporte): a abelha não mudou desde a Antiguidade, representada por Cecrops, o lendário fundador e rei de Atenas (entre 1558 e 1508 a.C.), que ensinou aos gregos a leitura, a escrita, o casamento e o cerimonial do sepultamento.
    Pelo contrário, o “ser que se conhece”, isto é, o ser humano, que tem consciência de si mesmo e da sua individualidade, ao contrário do que sucede com os elementos da Natureza, envelhece de forma distinta dos outros membros da sua espécie. Dito de outra forma, o ser humano tem consciência de que envelhece, é diferente dos outros seres e vai morrer, ou seja, conhece-se.
    A «abelha» é a mesma que outra que não ela.”, isto é, é igual a qualquer outra abelha, de qualquer época, sem diferença ou individualidade, ao contrário dos seres humanos, que, marcados pelo tempo, pela alma, pela vida e pela morte (atente-se na enumeração e sucessão de apóstrofes), «compram» (metáfora) “Ter mais vida que a vida”, ou seja, procuram algo mais do que a vida naturalmente lhes oferece (sonhos, desejos, arte, cultura, etc.). Essa demanda é, todavia, mortal, já que implica sofrimento e dor, desde logo porque o Homem está condenado à morte, que tudo reduz a pó. Mas não é esse, afinal, o desejo do ser humano, isto é, ser diferentes dos demais animais e não se limita a viver? “Ter mais do que a vida”.
    Assim, neste poeta, o «eu» poético estabelece o contraste entre o ser humano, a única entidade que é consciente de si mesma, e os outros animais, representados aqui pela abelha, que são iguais e imutáveis. Além disso, o ser humano envelhece e morre de forma diferente dos outros animais, exatamente porque é um ser consciente, desde logo de si, e, por isso, sabe que envelhece e morre e esta consciência, este saber que, provocando-lhe dor, angústia, sofrimento. Enquanto ser irracional, a abelha de nada tem consciência, daí que não sofra, por exemplo, com a passagem do tempo, o envelhecimento e a morte. A abelha é a mesma desde a Antiguidade, o ser humano envelhece e diferencia-se dos outros elementos da sua espécie, é único e mortal.
    Em suma, para Ricardo Reis, a questão que diferencia o ser humano e os animais é a mortalidade do primeiro e a imortalidade dos segundos, neste caso não em sentido literal, mas figurado, ou seja, a abelha, o exemplo de que se socorreu o poeta, é tomada como um elemento de uma espécie [morre uma abelha, nasce(m) outra e assim sucessivamente]. Pelo contrário, o Homem é encarado, não em termos de espécie, mas como ser individual.

domingo, 10 de dezembro de 2023

Análise do poema "A novela inacabada", de Fernando Pessoa


    Este poema de Fernando Pessoa é constituído por três quadras de versos de redondilha maior, com rima cruzada, de acordo com o esquema rimático ABAB.

    Na primeira quadra, o sujeito poético usa a metáfora nos dois versos iniciais para representar a sua vida como uma “novela inacabada”. Ora, sabendo que uma novela é um texto narrativo envolvente e complexo, cheio de situações variadas e complexas, com múltiplas reviravoltas, podemos inferir que o verso 1 remete para uma vida repleta de eventos intensos e emotivos. Por outro lado, a referida metáfora sugere que a vida do «eu» lírico, sendo uma novela e inacabada, não consegue realizar-se no seu dia a dia, no seu quotidiano. Deste modo, ele procura sentido... [continuação da análise 👉 análise-de-a-novela-inacabada].

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Análise do poema "Em Horas inda Louras, Lindas", de Fernando Pessoa

    Este poema é constituído por três sextilhas (isto é, três estrofes constituídas por seis versos), com rima cruzada, de acordo com o esquema ABABAB, ritmo regular e versos decassílabos.
    O tema do texto é a nostalgia da infância. Por outro lado, a composição poética constitui um exemplo da vertente simbolista da obra de Fernando Pessoa, como se pode verificar pelo recurso a imagens sensoriais, diversas sonoridades, aliterações e assonâncias, bem como de sugestões de significados ocultos.
    A infância que o sujeito poético recorda é representada pelas figuras femininas de Clorindas e Belindas, que brincam no...

 

 Continuação da análise aqui → Análise do poema "Em Horas inda Louras, Lindas".

domingo, 17 de setembro de 2023

Análise do poema "Rapariga descalça", de Eugénio de Andrade


    O poema abre com uma nota temporal geradora de desconforto: chove. Estamos num dia característico do início da primavera, mais concretamente de abril: “A chuva em abril…” (v. 5). É nesse dia que o sujeito poético observa uma rapariga a descer (verbo de movimento) a rua e que capta a sua atenção. Passa, de seguida, à sua caracterização: caminha descalça (o que indicia pobreza); os seus pés são formosos e leves (a dupla adjetivação enfatiza a sua beleza e a agilidade e leveza do andar); “o corpo alto / parte dali, e nunca se desprende” sugere um corpo que constitui um todo que se apresenta harmonioso e agradável ao olhar. A repetição da expressão “são formosos” (vv. 2 e 3) intensifica a beleza dos pés.
    A caracterização prossegue na terceira e última quadra: ela é alegre (“canta”); corre enquanto desce a rua em direção ao mar, ligeira e veloz (“corre, voa”), como a gaivota que «passa» diante dos «olhos» do «eu» poético; é terrena, mas, perante a visão do mar, transfigura-se em corpo alado e etéreo (“brisa”), transformando-se, assim, no símbolo da leveza e da libertação. Neste passo do poema, destaca-se o recurso à enumeração do verso 11 (“canta, corre, voa”), que sugere a transfiguração da jovem num ser alado e etéreo através da aceleração progressiva do seu movimento. Outro recurso essencial na caracterização é a adjetivação (“pés descalços”, “formosos”, “formosos e leves”, “alto”), que acentua a expressividade do quadro sugerido no poema.
    Na segunda quadra, o «eu» procura traduzir a beleza daquele dia primaveril, apesar de chuvoso. O que o torna belo e permite superar o incómodo da chuva é a observação da passagem da rapariga, que faz com que o dia surja aos seus olhos como “um jogo inocente de luzes, / de crianças ou beijos, de fragatas”. Esta metáfora / imagem forma um quadro que associa àquele dia visões encantatórias de amor e afeto (“beijos”), de viagem (“fragatas”) e de sonho. Na descrição do dia, destaca-se a sinestesia “o sabor do sol” (v. 5), através da qual se opera a fusão dos sentidos (o gosto, a visão e o tato) e sobressaem elementos sensoriais que a chuva sugere, como o ruído da chuva e o brilho das gotas (“cada gota recente canta na folhagem” – v.6 – animização).A metáfora “O dia é um jogo inocente de luzes” (v. 7) constrói uma imagem de luz pura que torna aquele dia um momento de beleza, de inocência, de amor, de viagem e de sonho. A nível estilístico, destacam-se também as sensações, nomeadamente a visão (“Uma rapariga desce a rua.” – v. 1), o paladar (“A chuva em abril tem o sabor a sol” – v. 5), a audição (“Chove” – v. 1) e o tato (“leves” – v. 3)
    Nesta segunda estrofe, as referências ao tempo são muito significativas. Por um lado, sugerem o vigor da primavera (“A chuva em abril tem o sabor do sol” – v. 5); por outro, remetem para um ambiente diurno e luminoso (“O dia é um jogo inocente de luzes” – v. 7); em terceiro lugar, associam, metaforicamente, o ambiente descrito pelo sujeito poético a características da figura feminina, como a inocência e a alegria (vv. 7-8).
    O sujeito, assim que vê a rapariga a descer a rua, não esconde o seu encanto e deslumbramento face à beleza e graciosidade dela. Esse encanto é tal que ele consegue ver beleza naquele dia de chuva. Noutras circunstâncias, sem a imagem da jovem, seria um dia incómodo.
    O poema é constituído por três quadras, num total de 12 versos brancos de métrica irregular, predominando o verso decassílabo. Na primeira, o «eu» traduz o seu encantamento por uma rapariga que desce a rua e, de seguida, descreve-a, salientando a beleza dos seus pés descalços, a elegância do seu corpo alto e a sua graciosidade. Na segunda, o sentimento de encanto intensifica-se. O sujeito lírico capta a beleza daquele dia primaveril, apesar da chuva, motivada pela passagem da rapariga. Na terceira, a imagem da jovem, que, com a sua leveza, graciosidade e agilidade, parece perder a sua condição terrena e se torna etérea, sobrepõe-se à imagem de uma gaivota que passa diante dos seus olhos.

domingo, 25 de junho de 2023

Obras de Alexandre O'Neill


 Obras de Alexandre O’Neill
 
Poesia
 

1948 – A Ampola Miraculosa

1951 – Tempo de Fantasmas, Cadernos de Poesia, n.º 11

1958 – No Reino da Dinamarca

1960 – Abandono Vigiado

1962 – Poemas com Endereço

1965 – Feira Cabisbaixa

1969 – De Outubro na Ombreira

1972 – Entre a Cortina e a Vidraça

1979 – A Saca de Orelhas

1981 – As Horas Já de Números Vestidas (em Poesias Completas – 1951-1981)

1983 – Dezanove Poemas (em Poesias Completas – 1951-1983)

 
 
Antologias
 

1967 – No Reino da DinamarcaObra Poética (1951-1965), 2.ª edição

1974 – No Reino da Dinamarca (1951-1969), 3.ª edição

1981 – Poesias Completas (1951-1981)

1983 – Poesias Completas (1951-1983)

1986 – O Princípio de Utopia

2000 – Poesias Completas

2005 – Poemas Dispersos

 
 
Prosa
 

1970 – As Andorinhas não têm Restaurante

1980 – Uma Coisa em Forma de Assim

 
 
Filmes (enquanto guionista)
 

1962 – Dom Roberto

1963 – Pássaros de Asas Cortadas

1967 – Sete Balas para Selma

1969 – Águas Vivas

1970 – A Grande Roda

1975 – Schweik na II Guerra Mundial (TV)

1976 – Cantigamente (3 episódios da série)

1978 – Nós por cá Todos Bem

1979 – Ninguém (TV)

1979 – Lisboa (TV)

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Análise do poema "Pois que nada que dure ou que durando"


                 Esta ode de Ricardo Reis é composta por três quadras de versos decassilábicos (os três iniciais) e hexassilábicos (o quarto), com rima irregular: toante na primeira quadra (“durando” / “obramos”), consoante interpolada na segunda entre o primeiro e o quarto versos e cruzada entre o terceiro e o primeiro da seguinte (“presente” / “somente”); versos brancos ou soltos (vv. 1, 3, 4, 6, 10, 11 e 12).

                O tema da composição poética é a transitoriedade e a precariedade da vida, bem como o valor dos atos que nela são praticados. Tudo passa, nada dura, ou, se dura, é breve, e o valor do presente, que é hipotecado ao futuro, é igualmente precário. Será que o próprio instante, dado que pode ser o derradeiro daquilo que julgamos ser, é apenas nosso?

                A composição poética pode ser dividida em três momentos: a primeira quadra compreende a justificação daquilo que se afirma no segundo momento; na segunda quadra e na primeira frase da terceira, o sujeito poético defende a superioridade do momento presente em relação ao futuro, visto que este (“amanhã”) não existe, pelo que a procura (“cura”) do futuro é absurdo, já que priva o ser humano do bem presente; o terceiro momento (de “Meu somente…” até ao final) é constituído por uma interrogação retórica, por meio da qual se questiona se o instante presente será apenas seu, o que indicia que o ser humano não controla o seu destino.

                A mensagem do poema é clara: nada que o ser humano faz no mundo é duradouro, ou, sendo-o, não tem valor, e até as coisas que lhe são úteis rapidamente ele perde, por isso deve preferir o prazer do momento presente à procura insensata do futuro, pois este exige o mal do presente em troca do seu bem. Mas surge a dúvida: será esse momento apenas do ser humano? Será o indivíduo apenas quem existe nesse instante que pode ser o último daquele que finge ser? Atente-se na referência ao fingimento, uma temática tão do agrado de Pessoa ortónimo, por exemplo, em “Autopsicografia” e “Isto”.

                A musicalidade do poema assenta na aliteração (em /t/: “existe / Neste instante” e /d/: “pode o derradeiro”) e no jogo das homónimas «ser» (“… que pode o derradeiro / Ser de quem finjo ser?”). Além disso, o encavalgamento ou transporte percorre, praticamente, todo o poema.

                No que diz respeito às formas verbais, predominam as que se encontram no presente do indicativo, sugerindo a ideia de continuidade, e no presente do conjuntivo, remetendo para o campo da possibilidade (“Pois que nada dure ou que durando / Valha…”) ou exprimindo um desejo (“O prazer do momento anteponhamos”). Por outro lado, nas duas primeiras quadras, é usada a primeira pessoa do plural, enquanto na última ocorre a primeira do singular, o que confere à interrogação final um acentuado grau de subjetividade, com a focalização no «eu» daquilo que, anteriormente, tinha sido enunciado como próprio do coletivo, do ser humano em geral. Por seu turno, a reiteração do vocábulo «cedo» (verso 4) realça a ideia de efemeridade da vida.

                É curioso notar que, na prática, o poema é constituído somente por três frases: uma inicial de tipo declarativo, que abrange as duas primeiras quadras; uma segunda, igualmente declarativa, mas bastante mais curta (“Amanhã não existe”), e uma terceira, de tipo interrogativo, que finaliza o poema.

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Análise do poema "Quando, Lídia, vier o nosso outono", de Ricardo Reis


Quando, Lídia, vier o nosso outono
Com o inverno que há nele, reservemos
Um pensamento, não para a futura
                      Primavera, que é de outrem,
Nem para o estio, de quem somos mortos,
Senão para o que fica do que passa –
O amarelo atual que as folhas vivem
                      E as torna diferentes
 
                Esta ode surgiu na revista Presença em 16 de março de 1930.

                Ao gosto horaciano, Ricardo Reis usa o plural «nosso» e o vocativo para se dirigir a uma interlocutora presente em vários dos seus poemas, a sua amada Lídia. O outono que se aproxima, com tudo o que transporta já de inverno, e esquecido já do verão, indicia o acentuar da decadência e a proximidade da morte, em decorrência da passagem inexorável do tempo.

                Deste modo, o amarelecer das folhas tem ainda o tom dourado da vida; já é já o estio, mas também não é ainda o inverno, a morte. Neste contexto, é preciso aproveitar cada momento (carpe diem), mesmo que seja o último. O outono simboliza a decadência, a velhice; o inverno, a morte, e a primavera, o recomeço ou a renovação. Como esta última já passou, logo não lhe pertence (“… é de outrem” – v. 4), e o inverno (a morte) se aproxima, o sujeito poético assume que é necessário que tanto ele como a sua amada reservem “um pensamento (…) para o que fica do que passa – o amarelo atual”. É visível aqui o autodomínio, a contenção, o contentamento com o prazer relativo tão característicos da poesia de Ricardo Reis.

                No fundo, a mensagem do poema pode resumir-se a uma única frase: é preciso usufruir de cada momento que passa, sem lamentar o passado e sem se inquietar com o futuro. A transmissão desta mensagem é feita através de uma linguagem sóbria e um discurso lógico, no qual o pensamento prevalece sobre a forma, e assenta na simbologia das estações do ano e no predomínio do verso decassílabo (apenas os quarto e oitavo versos são hexassílabos), bem como no encavalgamento e no uso cuidado da pontuação, nomeadamente da vírgula e do travessão.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...