Português: Agatha Christie
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segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Resumo de Contagem até Zero, de Agatha Christie

    
Um grupo de advogados reúne-se à volta da lareira para discutir um julgamento recente, o caso Lamorne. Entre eles destaca-se Mr. Treves, um célebre e idoso advogado, conhecido pela sua experiência, discrição e conhecimento na área da criminologia. Embora já retirado da prática por causa da sua idade avançada, todos aguardam com respeito a sua opinião. Enquanto os colegas se concentram apenas nos aspetos técnicos e no valor dos testemunhos, Mr. Treves surpreende-os ao refletir sobre as pessoas envolvidas no processo, lembrando que por trás das leis e provas existem seres humanos apanhados pelo acaso em circunstâncias que os levam inevitavelmente ao tribunal. Refere-se ao encadeamento de pequenos acontecimentos que convergem para um mesmo ponto: a chamada “hora zero”, momento inevitável em que o crime acontece.
    Após a reunião, Treves regressa a casa. Já sozinho, reflete: se fosse escritor de romances policiais, começaria não pelo crime em si, mas pelos antecedentes e pelas coincidências que conduzem as pessoas ao local e hora exatos do acontecimento. Porém, ao abrir a correspondência, encontra uma carta que altera os seus planos e reage com contrariedade, regressando bruscamente da reflexão à realidade.
    O prólogo estabelece a atmosfera de suspense, introduzindo a figura sábia mas frágil de Mr. Treves, e lançando a ideia central de que os crimes não nascem apenas de um momento, mas de uma cadeia de circunstâncias que convergem para o inevitável.

    Angus MacWhirter está internado num hospital após uma tentativa falhada de suicídio. Amargurado e revoltado, lamenta não ter conseguido pôr fim à vida, que considera inútil. Sem saúde, sem emprego, sem dinheiro, sem família ou amigos, acredita que o suicídio teria sido o ato mais lógico e sensato.
    Na enfermaria, uma jovem enfermeira ruiva cuida dele com calma e paciência. Angus descarrega a sua frustração, criticando a constante interferência dos outros e defendendo o direito de decidir sobre a própria vida. A enfermeira, com serenidade, contrapõe que o suicídio “não está certo”, por ser pecado e porque uma vida nunca é apenas de quem a vive: pode ter impacto noutras pessoas.
    Durante a conversa, Angus revela como perdeu o emprego por recusar mentir num acidente para favorecer o patrão, foi abandonado pela mulher e caiu na miséria. Apesar disso, a enfermeira insiste que ele ainda poderá ter utilidade, mesmo que apenas por estar num certo lugar num momento decisivo.
    No fim, Angus percebe que talvez não volte a tentar o suicídio. Embora mantenha dúvidas, a convicção simples da enfermeira – e a sugestão de que a sua vida ainda pode ter um propósito imprevisto – começa a abalar a sua desesperança.

    Numa sala silenciosa, alguém escreve, fria e detalhadamente um minucioso plano de assassinato. O processo é descrito como uma criação quase divina, calculando todos os detalhes e possibilidades e deixando até margem para o imprevisível. O autor conclui o plano e escreve uma data em setembro. Em seguida, destrói cuidadosamente os papéis na lareira, conservando-o guardado apenas na sua mente.

    O superintendente Battle recebe a notícia de que a filha mais nova, Sylvia, de dezasseis anos, fora acusada de cometer furtos na escola. A diretora, Miss Amphrey, explica-lhe que descobriu a culpada através da psicologia, obtendo da rapariga uma confissão. No entanto, Battle mantém-se impassível e quer falar com a filha. A sós, Sylvia confessa que não roubara nada: apenas se deixou pressionar pelo olhar e pelas insinuações da diretora, acabando por admitir uma culpa que não tinha, sentindo até alívio com a falsa confissão. O pai compreende que a filha não é ladra, mas antes demasiado vulnerável à sugestão, por isso confronta então Miss Amphrey, deixando claro que exigiria investigação policial formal para apurar a verdade. De seguida, regressa a casa com a Sylvia, convencido de que outra aluna (provavelmente Olive Parson) era a verdadeira culpada dos crimes. No carro, consola-a, explicando-lhe que as provações da vida servem para pôr as pessoas à prova, e acrescenta que não deve sentir culpa ou remorso por algo que não fez.

    Nevile Strange, um atleta famoso, rico e aparentemente feliz, vive com a jovem e bela esposa Kay, com quem partilha uma relação leve e carinhosa, embora com tensões escondidas. Durante o pequeno-almoço, Kay lamenta terem de passar o verão em Gull’s Point, a casa de Lady Tressilian, que desaprova o novo casamento. A conversa revela ressentimentos: Kay sente-se rejeitada pela família do marido, e Nevile mostra-se ainda perturbado pelo divórcio da primeira mulher, Audrey. A atual vê nela uma figura fria e assustadora, enquanto o tenista admite ter-lhe causado sofrimento a separação e carrega um sentimento de culpa. Nevile propõe que Audrey e Kay se encontrem em Gull’s Point, defendendo que todos poderiam conviver civilizadamente. A esposa reage com estranheza e insegurança, suspeitando que a ideia partiu, na verdade, da primeira mulher. O diálogo deixa claro que, apesar da vida aparentemente perfeita, o casal vive sob a sombra da presença de Audrey, cujo passado com Nevile continua a pesar sobre a nova união.

    Lady Tressilian condena a ideia de Nevile Strange de reunir a atual esposa, Kay, e a ex-mulher, Audrey, em Gull’s Point. Conversando com a prima Mary Aldin, critica Kay, considerando-a vulgar, ambiciosa e culpada pela rutura do casamento anterior do tenista. Para a idosa, Audrey é a verdadeira vítima da situação, uma mulher sensível que sofreu muito com o divórcio. Mary, mais ponderada, tenta relativizar a situação, mas também desconfia da carta de Nevile, suspeitando que a iniciativa não partiu dele, mas talvez da própria Audrey, o que intriga Lady Tressilian. Apesar da sua recusa inicial, a velha senhora, desconfiada e relutante, acaba por concordar em convidar a ex-esposa para um almoço, reconhecendo que a jovem pode estar disposta a aceitar o encontro.

    Audrey Strange, a primeira mulher de Nevile, visita Lady Tressilian. O narrador apresenta-a como uma figura delicada, pálida, enigmática e serena e de presença quase etérea, como um fantasma que, paradoxalmente, parece mais real do que os vivos. A sua voz é suave e encantadora, reforçando a impressão de serenidade e mistério. Lady Tressilian confronta-a com a carta de Nevile, onde este propõe reunir as duas esposas da sua vida em Gull’s Point. Para a idosa, trata-se de uma ideia absurda e dolorosa, mas Audrey, calma e firme, insiste que aceitar o encontro poderá “simplificar as coisas”. Apesar das objeções da anciã, confirma que deseja ir e que está disposta a enfrentar Kay. Após a sua saída, Lady Tressilian mostra-se exausta e confessa à criada Barrett que já não compreende o mundo moderno. A criada, por sua vez, partilha a impressão de que Audrey é uma presença inesquecível e que Nevile poderá ainda pensar nela, apesar da beleza de Kay. Lady Tressilian, com uma gargalhada amarga, conclui que o tenista se arrependerá por querer juntar as duas mulheres.

    Thomas Royde, homem reservado e pouco dado a palavras, prepara a viagem de regresso a Inglaterra após quase oito anos a trabalhar nas plantações da Malásia. O amigo e sócio Allen Drake nota o seu ar fleumático e estranha a decisão, lembrando que Royde já adiara uma visita anterior ao lar, nomeadamente aquando do falecimento do irmão. Fica claro que Thomas esconde algo: cora quando se fala numa mulher, revelando sentimentos por Audrey, prima criada como irmã e ex-esposa de Nevile Strange. A conversa também mostra que não tem grande proximidade com o irmão falecido, Adrian, e que mantém um passado familiar marcado por silêncios e reticências. Royde, porém, limita-se a comentar que pretende rever a família e talvez ficar em Saltcreek, lugar pacato onde “nunca acontece nada”.

    Mr. Treves lamenta o encerramento do Marine Hotel, em Leahead, onde se hospedava há vinte e cinco anos e onde se sentia sempre confortável e bem servido. Rufus Lord consola-o e sugere-lhe o Balmoral Court, em Saltcreek, um hotel tradicional dirigido pelo casal Rogers, antigo mordomo e cozinheira de Lord Mounthead, famosos pela excelência do serviço e da comida. O lugar é descrito como tranquilo e adequado ao estilo de vida de Treves, com varanda, terraço e todas as comodidades modernas, incluindo elevador. Além disso, Rufus menciona Lady Tressilian, vizinha próxima e senhora de grande distinção, o que agrada ao velho senhor. Ele considera então a sugestão excelente e decide escrever para pedir informações, planeando instalar-se ali em agosto ou setembro.

    Durante um torneio de ténis em St. Loo, Kay Strange observa o marido, Nevile, disputar a meia-final contra o jovem Merrick. Apesar de jogar bem, o primeiro perde a partida, mantendo sempre a postura de “bom desportista”, o que Ted Latimer, amigo de Kay e antigo pretendente, critica enquanto sinal de falta de espírito competitivo. Entre os dois há cumplicidade, recordando a antiga intimidade que tiveram, e uma conversa carregada de ironia e insinuações, revelando que Ted ainda guarda ressentimento por ela ter escolhido casar-se com Nevile. Além disso, a conversa entre ambos deixa transparecer tensões: o homem ironiza sobre a vida da antiga paixão, os seus planos futuros em Gull’s Point e a presença de outros convidados, enquanto Kay, por momentos, confessa sentir medo e estranheza. Mais tarde, Nevile e a esposa conversam sobre Ted, durante a qual o marido demonstra sentimentos de indiferença, confiança e uma crença no «Destino» que os uniu. Kay, porém, surpreende-o ao confessar que foi ela quem manipulou os acontecimentos para o conquistar, revelando o seu lado calculista e estratega, o que deixa o esposo intrigado e com um leve ressentimento.

    Lorde Cornelly, um aristocrata rico e excêntrico, recebe Angus MacWhirter para uma entrevista. Impressionado pela sua honestidade, demonstrada quando, no passado, se recusou a mentir para proteger o antigo patrão num processo relacionado com um acidente de viação, Cornelly oferece-lhe um emprego importante, bem pago e que exige total confiança. MacWhirter aceita, embora sem entusiasmo. Apesar da sorte inesperada, mantém-se apático: sete meses antes tentara suicidar-se e sobrevivera apenas por acaso. Agora encara a vida de forma mecânica, sem gratidão nem alegria, mas com disciplina. O novo trabalho levá-lo-á para a América do Sul em setembro, mas, antes disso, terá uma semana livre. Nela, considera a possibilidade de ir a Saltcreek, ideia que lhe parece sombria e estranhamente divertida.

    O superintendente Battle recebe ordens inesperadas que arruínam as suas férias, deixando a esposa, Mrs. Battle, desapontada, embora resignada pela longa experiência como mulher de um polícia. Ele explica que o caso parece pouco interessante, mas envolve o Foreign Office, que está em grande agitação. Insiste para que a esposa e as filhas mantenham as férias em Britlington, enquanto ele, após resolver a situação, ficará uns dias com o sobrinho, o inspetor James Leach, em Saltington, perto de Masterhead Bay e Saltcreek. Mrs. Battle receia que James o arraste para uma investigação, mas o esposo desvaloriza e encara tudo com calma, como uma prova de paciênciaThomas Royde regressa da Malásia e é recebido por Mary Aldin, que o leva até Gull’s Point, onde a situação familiar está tensa: Nevile Strange reuniu a atual esposa, Kay, e a ex-mulher, Audrey, sob o mesmo teto. Mary explica a Thomas que esse convívio foi ideia de Nevile, embora cause desconforto a todos, e revela a sua preocupação com a estranha serenidade de Audrey, que lhe parece esconder emoções profundas.

    Ao chegar à casa, Thomas observa as duas mulheres: Audrey é calma e etérea, mas enigmática, enquanto Kay se apresenta bela e nervosa, mostrando clara antipatia pela primeira. Uma cena banal — a disputa por uma revista — transforma-se num momento de tensão entre as duas, culminando numa explosão de fúria de Kay, que chega a dizer odiar todos na casa e ameaçar violentamente a «rival» ou Nevile. Pouco depois, Audrey recebe Thomas com inesperada alegria e ternura, o que não passa despercebido a Mary Aldin, que observa discretamente a cena.

    Nevile procura Kay e encontra-a em lágrimas e furiosa por ele ter dado a revista a Audrey em vez de a ela. A discussão sobe de tom: a esposa acusa-o de preferir a ex-mulher e de estar contra ela, enquanto o marido, com calma fria, reprova o seu comportamento infantil e ciumento. Kay, desesperada, pede-lhe que abandonem a casa imediatamente, mas Nevile recusa, insistindo em cumprir a quinzena prometida. No auge da discussão, ela alerta-o que a ex-mulher não o perdoou realmente e que esconde intenções profundas sob a serenidade que exibe. Ele, porém, vê em Audrey apenas generosidade e decência. O diálogo termina de forma glacial, com a mulher a acusar o marido de ser um homem frio, sem sentimentos, e este, cansado e frustrado, a abandonar o quarto.

    Lady Tressilian conversa com Thomas Royde, notando que ele mantém a mesma reserva e silêncio da juventude, em contraste com o irmão falecido, Adrian. A idosa aborda então a delicada situação da casa, o “eterno triângulo” entre Nevile, Kay e Audrey, e admite divertir-se com o embaraço criado pela teimosia do primeiro em reunir as duas mulheres. De seguida, questiona de quem teria partido a ideia, concluindo que não seria de Audrey e duvidando que Kay tivesse essa astúcia. Lady Tressilian considera a atual esposa uma jovem desmiolada, de mau génio e sem maneiras, o que só prejudica o casamento. Já a antiga consorte, ponderada, parece ser quem mais sofre. Na conversa, fica evidente o amor discreto e de longa data de Thomas por Audrey. A velha senhora recorda a sua alcunha de juventude, “Fiel Thomas”, e sugere que a constância e devoção dele possam finalmente ser reconhecidas por Audrey, agora que passou por tantas desilusões. Thomas, envergonhado mas sincero, admite que foi com essa esperança que regressou.

    Na cozinha, Hurstall, o mordomo, confessa à cozinheira Mrs. Spicer o seu mal-estar e inquietação: sente que há algo estranho na casa, como se todos estivessem presos numa armadilha, tensos e desconfortáveis. A cozinheira, prática, atribui isso a má digestão, mas ele insiste que o ambiente anda carregado. Na sala de jantar, Mary Aldin anuncia que convidou Latimer, amigo de Kay, para jantar no dia seguinte, o que gera conversas sobre passeios, golfe, dança e programas sociais. Entre as trocas, surgem pequenas ironias que evidenciam tensões entre o casal. Mary, instigada por Thomas Royde, revela discretamente a sua vida: tem 36 anos, vive há 15 com Lady Tressilian, depois da morte do pai, e sente pesar por nunca ter viajado, apesar de ser o seu maior desejo. Há um início de aproximação entre ela e Thomas, marcado por olhares atentos e sinceros. O jantar termina com Mary a anunciar outro convidado: Mr. Treves, um idoso distinto, advogado reformado, de saúde frágil, mas intelectualmente lúcido, conhecido por ter convivido com muita gente interessante. Enquanto isso, Thomas observa as duas mulheres em contraste: Kay, exuberante, cheia de vida e beleza intensa; e Audrey, pálida, recatada, quase apagada. A comparação inspira-lhe a imagem de duas figuras de contos populares: Rosa Vermelha e Branca de Neve.

    Durante o jantar em Gull’s Point, Mr. Treves aprecia a boa comida, o vinho e a organização impecável da casa de Lady Tressilian, apesar de a sua dona estar confinada ao quarto. Enquanto observa os presentes, repara no contraste entre Kay — radiante, sedutora, dominando a atenção de Ted Latimer — e Audrey, discreta, silenciosa e imersa em pensamentos. A diferença entre ambas impressiona o velho advogado. Após o jantar, todos se reúnem na sala: Kay impõe-se com vitalidade, escolhendo a música e dançando provocadoramente com Latimer, deixando Nevile hesitante. Quase por cortesia, este convida a ex-esposa para dançar, mas esta recusa o convite, desculpando-se com o calor, e retira-se para o terraço. Mr. Treves, pensativo e observador, tece comentários ambíguos sobre Latimer, elogiando-lhe os dotes de dançarino, mas insinuando que a sua aparência lembra um criminoso que conheceu. A conversa com Mary Aldin revela o seu olhar clínico e insinuante, sugerindo que por vezes ver demasiado bem pode ser uma maldição. Enquanto isso, no terraço, Nevile e Audrey têm um breve momento de proximidade forçada quando o cabelo dela se prende no botão da manga dele. Ambos ficam nervosos e trémulos, e Thomas Royde interrompe a cena. O ambiente permanece tenso e cheio de olhares implícitos. Esta parte termina com a chegada da criada de Lady Tressilian, que anuncia o desejo da velha senhora de ver Mr. Treves no seu quarto.

    Lady Tressilian recebe Mr. Treves com prazer, e os dois passam algum tempo a recordar velhos tempos e a trocar impressões. A conversa logo se volta para o “eterno triângulo” — Nevile, Audrey e Kay — e a velha senhora mostra-se indignada com a situação, porém o advogado analisa o caso de forma fria e pragmática, sugerindo que tais paixões súbitas são comuns e muitas vezes terminam em reconciliação ou em novos casamentos. A idosa insiste que Audrey tem demasiado orgulho para voltar para os braços do ex-marido, mas o homem lembra que, no amor, o orgulho raramente resiste. Depois, Lady Tressilian fala da sua solidão, da morte do marido e da fidelidade de Mary Aldin e da criada Barrett, que lhe são essenciais, e a conversa termina. Na sala, os convidados conversam: discute-se crimes, falhas da justiça e a possibilidade de a fazer "pelas próprias mãos”. Thomas defende que, se a lei falha, alguém tem o direito de agir — uma ideia que Mr. Treves rejeita como perigosa. O advogado, então, conta uma história sombria: uma criança que matou outra com arco e flecha em circunstâncias suspeitas. Oficialmente o episódio foi considerado um acidente, todavia ele nunca esqueceu a questão, sugerindo que reconheceria esse “assassino em miniatura” mesmo adulto. O relato deixa o ambiente tenso. Na despedida, Mr. Treves é acompanhado por Ted Latimer até ao hotel. No caminho, o advogado alerta-o, de forma velada, sobre os perigos da vida e da sua conduta impetuosa. Entretanto, surge Thomas Royde, e os três entram no Balmoral Court, onde descobrem que o elevador está avariado. O homem, com o coração fraco, é forçado a subir lentamente as escadas. Royde e Latimer despedem-se e seguem em direções opostas sob a lua prateada.

    Na praia, Audrey, Mary, Kay e Ted Latimer desfrutam de um dia de sol. Kay, impaciente e provocadora, mantém-se próxima de Ted, com quem partilha cumplicidade e entusiasmo. Mary e Audrey observam-nos de longe e comentam como parecem formar um par natural, até mais harmonioso que ela com Nevile. Mary, sem querer, deixa escapar que teria sido melhor se Kay nunca tivesse conhecido o marido, o que gela imediatamente Audrey, que insiste que o passado está morto e que não sente mais nada por Strange. Entre as duas amigas surge uma conversa íntima: Mary admite sentir o peso de uma vida convencional, dedicada a Lady Tressilian, e revela pequenos “jogos mentais” que faz para se distrair, como observar as reações das pessoas. Audrey, fria e misteriosa, responde que ela própria é imprevisível, deixando a outra intrigada. Posteriormente, Mary fica sozinha na praia e conversa com Ted Latimer. Pela primeira vez, percebe nele não só arrogância e cinismo, mas também dor: ama Kay e perdeu-a para Nevile. Ted confessa o ressentimento que sente pelos outros, acusando-os de “presunção”uma superioridade natural dos que sempre tiveram privilégios. Mary tenta defendê-los, dizendo que, embora pareçam superficiais, não são cruéis, e demonstra sincera compaixão pela infelicidade dele. Ted admite amar Kay desde sempre, mas acrescenta enigmaticamente que “muitas coisas podem acontecer no futuro próximo”, deixando no ar uma ameaça ou presságio.

    Audrey encontra-se com Thomas Royde junto às rochas, em frente a Gull’s Point. Conversam sobre o mar, acidentes e recordações de infância, incluindo a cicatriz na orelha de Audrey causada por uma mordidela de cão. A conversa avança para a relação dela com Nevile. Audrey confessa que se apaixonou por ele, porque representava tudo o que ela não era: positivo, seguro, feliz, “real”. Thomas, amargo, deixa escapar o ressentimento que sente por Strang, que sempre foi brilhante e bem-sucedido, enquanto ele, apagado e limitado fisicamente, perdeu a única mulher que amou. Acaba por confessar o seu amor de longa data por ela, que responde negativamente a tal pretensão. Logo depois encontra o ex-marido, deitado a observar um caranguejo. A conversa começa de forma banal, mas rapidamente Nevile, nervoso, tenta confirmar que continuam amigos. Audrey responde afirmativamente, mas mantém a frieza. Num momento carregado de tensão, ele sussurra que “ela é a sua verdadeira mulher”, revelando que ainda a ama, mas a mulher, firme, corrige-o e afasta-se.

    Subitamente, surge a notícia de que Mr. Treves faleceu subitamente, logo após regressar ao hotel. É aventada a possibilidade de a morte ter sido provocada pelo esforço feito ao subir as escadas do hotel, já que o advogado tinha um coração fraco. Thomas Royde afirma que, de facto, ele e Latimer o tinham deixado a subir os degraus, porque no elevador havia um letreiro a avisar que o elevador estava avariado. No entanto, Mrs. Rogers, a proprietária do hotel, e o porteiro garantem que o elevador estava a funcionar perfeitamente nessa noite, nunca tendo estado avariado.

    Mary e Thomas comentam o clima de tensão crescente em Gull’s Point, à espera da partida de Nevile, Kay e Audrey. Todos sentem a atmosfera opressiva, agravada pela morte recente de Treves. Nevile confessa a Audrey que ainda a ama e propõe deixar Kay para reatar com ela, mas esta surpreende-os, furiosa, e confronta o marido, recusa o divórcio e ameaça matá-lo e a sua ex, tornando o ambiente ainda mais pesado e ameaçador.


quinta-feira, 29 de agosto de 2024

O Segredo de Chimneys, de Agatha Christie

    No primeiro capítulo, é apresentada a figura de Anthony Cade, ujm aventureiro que vive em África. Ele encontra-se com Jimmy McGrath, um velho amigo, que lhe fala de uma missão intrigante: entregar as memórias do conde Stylptich, um político muito importante de Herzoslováquia, um país fictício situado algures na Europa Central, a uma editora de Londres e devolver um conjunto de cartas comprometedoras a uma mulher chamada Virgínia Revel. Pelo meio, é descrito o contexto em torno desse país peculiar e mencionada outra personagem relevante, Vyktor Drago, um político ambicioso envolvido numa conspiração para derrubar o poder instituído e apossar-se dele.
    George Lomax e Lorde Caterham discutem o caso e o diplomata sustenta que é imperioso impedir a publicação das memórias, acrescentando que seria interessante envolver uma mulher no assunto no sentido de, de forma subtil e com tato, atingir tal desiderato junto de James McGrath. Na sequência, sugere o nome da sua cunhada, Virgínia Revel, viúva de um homem que esteve ligado à embaixada inglesa na Herzoslováquia e que era particularmente versado nos assuntos desse país. A mulher referida possui 27 anos, é loura, elegante, atrevida e prococadora, possuindo o dom de arrastar a admiração e paixonetas de homens.
    Entretanto, Anthony Cade, sob o nome do amoigo McGrath, chega a Londres, cujo solo não pisa há 14 anos. Pouco depois da sua chegada, é contactado no hotel onde se instala por um homem, o barão Lolopretjzyl, o representante do partido Lealista da Herzoslovákia, que lhe diz que é tempo de restaurar a monarquia e entregar o poder ao príncipe Miguel. Além disso, o indivíduo oferece a Cade a quantia que este desejar para as memórias do conde Stylptich não serem publicadas, pois elas causarão um escândalo que predicará o seu partido e o seu candidato ao trono, no entanto aquele recusa.
    Logo de seguida, é visitado por um representante da Irmandade da Mão Vermelha, que deseja apossar-se do livro e que o ameaça com uma arma, porém Cade desarma-o e o sujeito foge. Nessa noite, entra pela janela do quarto o criado que lhe servira o jantar, igualmente para se apossar das memórias, no entanto aquele desperta do sono e luta com o intruso, que se escapole pela janela, levando consigo, todavia, o maço de cartas supostamente da autoria de Virgínia.
    O foco da ação, após estes eventos, centra-se precisamente nela, que recebe igualmente a visita de um homem que a pretende chantagear com cartas de teor amoroso comprometedor, ameaçando enviá-las ao marido, o que significa que o chantagista não conhece Virgínia nem a sua vida, ignorando que é viúva há algum tempo. Por outro lado, pela sequência de eventos, é simples deduzir que se trata do criado que invadiu o quarto de Cade e lhe roubou o maço de cartas. A mulher lê uma que o indivíduo levou como exemplar do material de que dispõe, fica estupefacta com o facto de o papel estar assinado com o seu nome, porém reconhece de imediato que não é a sua caligrafia, porém guarda a informação para si. O sujeito exige-lhe mil libras para não divulgar a correspondência e o seu conteúdo e a viúva, por diversão e como estratégia para o apanhar, entrega-lhe quarenta, com a promessa de lhe pagar o restante posteriormente. Assim que o indivíduo sai, Virgínia recebe outra visita, a de George Lomax, que a tenta convencer a seduzir McGrath de modo a apoiar a restauração da monarquia na Herzoslovákia, concretamente o príncipe Miguel Obolovitch. A viúva irá passar o fim de semana em Chimneys, onde espera que o assunto seja discutido.
    Anthony Cade, na pele do seu amigo McGrath, comunica ao gerente do hotel o ataque de que foi vítima na noite anterior por parte do criado Giuseppe. O administrador fornece-lhe todas as informações de que dispõe: está em Inglaterra há cinco anos e, dentre os hotéis em que havia trabalho, em dois tinham ocorrido roubos. Mais tarde, ainda nesse dia, Cade recebe um telefonema proveniente da firma Balderson & Hodgkins, concretamente de Balderson, que o esclarece que a sua editora tem sido vítima de ameaças e tentativas de chantagem por causa do manuscrito que o aventureiro possui, por parte de um grupo muito perigoso, e pede-lhe que não lhes entregue diretamente o texto. Em alternativa, no dia seguinte, um funcionário da editora recolhê-lo-á junto de Cade e entregar-lhe-á um cheque de mil libras.
    Na manhã posterior, liquida a conta do hotel e, quando se prepara para entrar num táxi, entregam-lhe uma carta em que lhe é pedido que não tome qualquer resolução sobre o manuscrito antes de se reunir com George Lomax. A missiva compreende ainda um convite para Chimneys na sexta-feira, endereçado por Lorde Caterham. De seguida, Cade instala-se numa obscura hospedaria de Londres, o Blitz Hotel, e envia uma carta-resposta à que recebera, na qual comunica que já se encontrava em Londres desde terça-feira, que tinha entregado o manuscrito à firma Balderson & Hodgkins e, por último, que declinava o convite, pois iria partir de imediato de Inglaterra. Todas estas ações não passam, porém, de uma estratégia tendente ao abandono da identidade do amigo e à assunção da sua.
    Virgínia vai jogar ténis e, quando retorna a casa, a aia comunica-lhe que recebera um telegrama supostamente endereçado pela própria patroa, instruindo-a a enviar toda a criadagem para a casa de campo, onde supostamente iria dar uma festa durante o fim de semana. Quando entra no estúdio para telefonar à polícia, dá de caras com um homem morto no sofá, assassinado com um tiro no coração. Ao observá-lo mais de perto, constata que se trata do seu chantagista. Enquanto decide o que fazer, tocam à campainha. É um jovem desempregado que lhe tentara vender um folheto quando ela regressara do ténis. Na realidade, é Anthony Cade. Quando ambos observam o revólver com que fora morto, descobrem que tem gravado o nome Virgínia e, ao revistarem a sua roupa, encontram um pedaço de papel no forro rasgado do casaco que reza o seguinte: "Chimneys onze e quarenta e cinco, quinta-feira."
    Esgotados as investigações, coloca-se um problema: o que fazer com o corpo? Cade deposita-o numa mala; Virgínia chama um táxi e manda depositar a bagagem nele, incluindo a mala. Desloca-se até à estação de Paddington e manda guardá-la no depósito de bagagem. Cade aguarda-a na plataforma e, quando ela passa por ele, deixa cair o bilhete do depósito, que Cade apanha e finge devolver, mas, na realidade, conserva-o na sua posse. De seguida, levanta a mala e conduz o corpo para longe de Londres, abandonando-o na berma de uma estrada recôndita. Depois esconde a arma do crime no cimo de uma árvore e segue para Chimneys. Às 23 horas e 5 minutos, enquanto ronda a propriedade, ouve um tiro proveniente da vetusta mansão. Pouco depois, a luz acende-se numa das janelas superiores.
    Mais tarde chegam o superintendente Battle e o coronel Melrose. O morto é o príncipe Miguel, da Herzoslováia, e estava em Chimneys para firmar um acordo com Herman Isaacstein: trocar concessões de petróleo por um empréstimo quando subisse ao trono. O relógio da vítima parou com a queda do corpo e regista as 23 e 4 como a hora do crime. Foram descobertas marcas de pés que iam dar à janela do compartimento onde ocorreu o crime, que foram comparados com os sapatos de um rapaz que alugou um quarto numa estalagem nessa noite e correspondem exatamente. Quem é esse rapaz? Anthony Cade. No instante em que o superintendente acaba de revelar estes dados, um criado entra a anunciar a presença de um cavalheiro que deseja falar com Lorde Caterham sobre um assunto muito importante. Quem é esse cavalheiro? Anthony Cade. Ele conta ao aristocrata, a Battle, a Lomax e ao coronel Melrose a história desde o encontro em Bulavaio com o amigo, James McGrath, omitindo, no entanto, alguns pormenores, como o encontro com Virgínia e tudo o que se passou em torno do homem morto na sua casa. Battle leva-o e fala com ele a sós e dessa conversa fica a conhecer-se um facto: Cade, na noite anterior, encontrou todas as janelas fechadas, mas na manhã seguinte a do meio encontrava-se aberta. Debaixo do cadáver, fora encontrada uma folha de papel com o símbolo da Mão Vermelha. De seguida, o superintendente leva-o a ver o cadáver e Cade reconhece nele a figura de Mr. Holmes, o enviado da casa Balderson & Hodgkins. Depois regressam à Sala do Conselho e Battle pede a Anthony que diga que se enganou e que a janela estaria aberta e só não a conseguiu abrir por ser pesada e estar perra. À porta, surpreendem Hiram Fish, um norte-americano interessado em crimes, convidado por Lorde Caterham para apreciar os quadros existentes em Chimneys.
    Certa noite, Bill é acordado por Virgínia, que lhe diz que há ladrões na Sala do Conselho. Os dois deslocam-se até lá e Bill, no meio da escuridão, luta com um desconhecido que acaba por fugir pela janela. Virgínia corre atrás dele, mas acaba por esbarrar, ao dobrar uma esquina, com Hiram Fish, que se apresenta vestido. No meio de tamanho alarido e rapidez de eventos, soa algo estranho. Quem não marca presença é Isaacstein.
    Entretanto, o superintendente Battle parte para Londres e, na estação de caminho de ferro, encontra-se com Cade, que fora investigar aspetos da vida da governanta de Chimneys, pois estava convicto de que, na noite do crime, a janela que vira iluminar-se após o tira era a do quarto dela. De regresso à mansão, o criado Tredwell informa-o da tentativa de roubo da noite anterior, em que «os ladrões» estavam a desmontar as armaduras da Sala do Conselho.
    Virgínia, Bill e Cade encontram-se na casa dos barcos: a mulher desconfia que há um esconderijo e uma escada secreta algures na propriedade e está convencida de que havia duas pessoas na Sala, tendo-se uma escapulida pela janela e outra saído pela porta no momento em que ela pulou pela abertura. Com a ausência de Battle em Londres, Cade crê que os «ladrões» voltarão a atacar nessa noite, por isso propõe que ele e Bill Eversleigh, o secretário de Lomax, se escondam na Sala do Conselho, mas Virgínia impõe a sua participação no plano. A caminho das três horas, ouvem passos no terraço, depois a janela abre-se e um homem pula por cima do parapeito. Entretanto, Bill não segura um espirro, Virgínia acende as luzes e Cade domina o intruso, um desconhecido de barba preto que se encontra hospedado no Cricketers e que fora visto rondando nas imediações. Nesse instante, na soleira da porta surge Battle, que apenas fingira ter ido a Londres. De seguida, o desconhecido apresenta-se: detetive Lemoine, da Sureté de Paris.
    O superintendente começa a fazer luz sobre os acontecimentos: um misterioso ladrão conhecido por rei Vítor, há cerca de oito anos, efetuara uma série de assaltos audaciosos em Paris, sob o nome de capitão O'Neill, associado a Angèle Mory, uma atriz do Folies Bergéres, numa época em que a capital francesa se preparava para receber a visita do rei Nicolau IV da Herzoslovákia. Os Camaradas da Mão Vermelha pagaram à atriz para seduzir o rei e o atrair a um determinado local. O monarca apaixonou-se por ela e cobriu-a de joias e ela conseguiu casar-se com ele, tornando-se a rainha Varaga da Herzoslováquia. Contudo, a organização criminosa, furiosa com a sua traição, atentou duas vezes contra a sua vida, causando tamanha tensão que acabou por redundar numa revolução que causou a morte do casal real. Sucede que, durante todo esse tempo, ela comunicava secretamente com o rei Vítor, usando o nome de uma dama inglesa pertencente à embaixada: Virgínia Revel. Após a revolução, descobriu-se que as pedras preciosas da maioria das joias da coroa tinham sido furtadas por Angèle Mory e enviadas ao seu amante, o rei Vítor. Em determinada época, o casal real da Herzoslovákia visitara a Inglaterra e fora hóspede do falecido marquês de Caterham, tendo aí coincidido com o conde Stylptitch. Uma joia muito valiosa, o Koh-i-noor, fora escondida pela rainha algures na Inglaterra. Quinze dias depois, rebentou a revolução, o rei e a rainha foram assassinados e o capitão O'Neill foi preso em Paris. Todo este caso fora abafado pelas autoridades. Cade intervém de conta que McGrath se encontrara com o conde em Paris, quando o salvara de um ataque que sofrera, que lhe confidenciara saber onde estava o Koh-i-noor e que as pessoas que o tinham atacado pertenciam ao bando do rei Vítor. O detetive francês esclarece que, após ser libertado da prisão, o famoso ladrão emigrara para os Estados Unidos e aí se instalara sob o papel de Nicolau da Herzoslováia, aproveitando-se do boato que corria, segundo o qual o verdadeiro príncipe tinha falecido no Congo alguns anos antes. No entanto, acabou por ser desmascarado e teve de fugir à pressa do país, deslocando-se para Inglaterra.
    De seguida, Lemoine explica que chegara a Chimneys no dia seguinte ao assassinato e não se identificara como policial para que quem ele investigava não se precavesse. Deslocara-se para a casa e, quando estava no terraço, apercebera-se de que havia alguém na Sala do Conselho. Então, entrara pela janela do meio, que se encontrava destrancada, e procurara observar o homem que lá se encontrava e que tinha desmantelado duas armaduras à procura de algo e, nada tendo encontrado, começara a bater no painel de madeira localizado por baixo de um quadro. Fora nesse momento que Virgínia e Bill tinham entrado em cena. Na sequência, Lemoine saltara pela janela, para a sua identidade não ser descoberta, e o intruso saíra pela porta. Terminada a narrativa dos vários intervenientes, Battle volta-se para Cade e diz-lhe que o morto que tinha sido encontrado perto de Staines, de que lhe falara recentemente, fora identificado: Giuseppe Manuelli, criado no hotel Blitz, de Londres. Cade narra-lhe então os acontecimentos que tiveram lugar na noite da quinta-feira anterior. O superintendente crê que o criado foi usado pelo rei Vítor ou pelos Camaradas da Mão Vermelha para roubar as memórias, mas, quando se apoderou das cartas por engano, decidiu chantagear Virgínia, porém aqueles para quem trabalhava desconfiaram que os estava a trair e liquidaram-no. Ao mesmo tempo, apossaram-se das cartas, que deveriam conter a localização da joia, de que estavam à procura.
    Finalizada a reunião, Anthony Cade sobe ao seu quarto e, em frente ao espelho, depara com o pacote de certas assinadas em nome de Virgínia Revel. Battle permite que os hóspedes que o desejarem possam abandonar Chimneys, no entanto pede a Lorde Caterham que os convide a ficar, sem exceção. Isaacstein é um dos que parte. Quando o carro que transporta as suas bagagens parte, Lemoine manda-o parar a pretexto de uma boleia até à vila. No entanto, quando o veículo chega à curva, cai uma das malas que transporta e o detetive surge de trás de uma volta da estrada. Rapidamente, abre-a e revolve-a até encontrar um revólver no interior de um pacote de roupa interior.
    Enquanto isso, Battle convoca o professor Winwood para decifrar as cartas assinadas em nome de Virgínia e encontradas no quarto de Cade. A sua teoria para justificar o misterioso aparecimento das missivas é a de que se trata de um estratagema do rei Vítor, que, sabendo que a Sala do Conselho está sob vigilância apertada, pretende que as autoridades se apossem delas, as decifrem e encontrem o esconderijo da joia, para depois entrar em ação. O professor decifra a carta que contém a menção a Chimneys e leva consigo as restantes para Londres, para um seu assistente as desvendar. O texto em questão reza o seguinte: «Operações executadas com sucesso, mas S. traiu-nos. Retirou pedra do esconderijo. Não está no seu quarto. Dei busca. Encontrei seguinte memorando que acho se refere assunto: RICHMOND SETE EM FRENTE OITO ESQUERDA TRÊS DIREITA.» Cade interpreta o «S.» como uma referência a Stylptich, enquanto Virgínia desvenda a alusão da Richmond: é o quadro de Holbein que se encontra na Sala do Conselho e que constitui um retrato do conde de Richmond. Pouco depois, Bundle, a filha de Lorde Caterham, interrogada, informa que há uma passagem secreta que liga o cómodo a Wyvvern Abbey, cuja entrada é o painel com dobradiças.
    Após o almoço, Battle, Bundle, Virgínia, Lemoine e Cade reúnem-se na Sala do Conselho. O grupo penetra na passagem, mas percorre apenas cem metros, pois está obstruída por material de construção. De regresso à sala, colocam-se junto ao painel de entrada: Battle dá sete passos em frente para dentro da passagem, examina o chão e encontra vestígios de um sinal feito com giz no chão. De seguida, contam oito tijolos a partir da marca em direção à esquerda e, de seguida, três para a direita. Battle percebe que o último tijolo da contagem é diferente dos demais, retira-o com a ajuda de uma faca e encontra uma cavidade, de onde o superintendente retira um cartão com pequenos botões de pérolas, um quadrado de malha grosseira e um pedaço de papel com uma fila de E maiúsculos. No chão, Lemoine encontra um fósforo.
    Mais tarde, Battle mostra a Cade uma folha de papel com uma mensagem: «Cuidado com Cade. Não é o que parece.» Pouco depois, encontra-se com Fish no Jardim das Rosas e pede-lhe um fósforo a pretexto de acender um cigarro e guarda-o. Mais tarde, confere-o e conclui que é igual ao encontrado na passagem secreta. Depois apanha boleia para Londres com Bundle. Durante o trajeto, a filha de Lorde Caterham elogia a inteligência de Virgínia e a dedicação extrema ao marido, justificando-o com o facto de ela não o amar e procurar compensar essa ausência de amor ajudando-o com a sua carreira de diplomata.
    Chegados a Londres, Cade apanha um comboio para Dover e, posteriormente, dirige-se para a casa de Hurstmere, na Estrada Langly, na qual encontra meia dúzia de homens que pertencem à Mão Vermelha. Trata-se do quartel-general do rei Vítor. Subitamente, enquanto espreita a uma janela, ouve gemidos provenientes de outro compartimento. Agarra-se a uma trepadeira, sobe, força o trinco da janela do compartimento com um instrumento apropriado e entra. Na cama, encontra um homem amarrado de pés e mãos, mas é surpreendido por Hiram Fish.
    Passadas trinta horas desde a partida de Cade, em Chimneys, Lorde Caterham, Virgínia e Bundle discutem a sua ausência, bem como a de Fish, quando são interrompidos por Lemoine, que lhes vem falar precisamente do desaparecimento do aventureiro, sobre o qual mantém algumas suspeitas, e conta que tinha apanhado um papel que aquele deixara cair, contendo o endereço de uma casa em Dover, que, como por acaso, deixara também cair esse mesmo pedaço de papel, que seria apanhado por Boris, o criado herzoslovaco, um emissário da Mão Vermelha, e entregue a Cade, que, por sua vez, o devolvera ao detetive francês. Virgínia defende Cade, dizendo que Lemoine não tinha a certeza se fora aquele que deixara cair o papel e que há outra pessoa que se ausentara de Chimneys - Fish -, no entanto o francês diz-lhe que o sujeito é um detetive da Pinkerton.
    Virgínia regressa ao seu quarto, desolada. Subitamente, ouve um ruído de saibro atirado à janela. Abre-a e depara com Boris, que diz ter sido enviado por Anthony Cade para a conduzir até o local onde ele se encontra e lança-lhe uma mensagem escrita pelo aventureiro contendo esse pedido e a explicação.
    Às 10 horas de 13 de outubro, Cade entra no hotel Harridge e pergunta pelo barão Lolopretjzyl. É conduzido ao seu quarto, onde o encontra na companhia do capitão Andrassy, e oferece-se para lhe fornecer um príncipe para liderar a Herzoslováia. Para consumar o «negócio», devem deslocar-se a Chimneys nessa noite, pelas 21 horas. Posteriormente, desloca-se a casa de Herman Isaacstein para lhe oferecer um candidato ao trono do país, em troca de um empréstimo semelhante ao que fora oferecido ao príncipe Miguel. Depois informa-o de que o revólver usado para o matar foi encontrado na mala do próprio Isaacstein. O homem fica frenético e nega o seu envolvimento no crime, enquanto Cade o aconselha a marcar presença em Chimneys nessa noite para resolver a questão.
    Por volta da hora marcada, as personagens começam a reunir-se na Sala do Conselho.

domingo, 4 de agosto de 2024

O Assassinato de Roger Ackroyd, de Agatha Christie


 Capítulo I: Enquanto o Dr. Sheppard almoça

    A obra é narrada pelo Dr. James Sheppard, o médico da pequena vila inglesa de King's Abbot.
    A história começa com a apresentação de King's Abbot, um lugarejo onde todos se conhecem e os mexericos são o passatempo e a ocupação preferidos da maioria. O Dr. Sheppard é um dos habitantes e é uma figura bem integrada na comunidade que conhece bem os seus pacientes e vizinhos.
    Uma notícia abala a localidade: a morte de Mrs. Ferrars, uma viúva rica bem conhecida que tinha a reputação de ser reservada, sobretudo depois de ter perdido o marido há cerca de um ano. A sua morte é inicialmente atribuída a uma overdose de soníferos, mas logo surgem especulações sobre se se tratou de um acidente ou de um suicídio.
    A comunidade logo se enche de comentários e rumores, especialmente porque se diz à boca cheia que a mulher estaria num relacionamento com Roger Ackroyd, um dos homens mais influentes e ricos do lugar, graças aos seus negócios, proprietário de uma fábrica que vende rodas para comboios.
    O Dr. Sheppard é chamado para atestar a morte. Quando regressa a casa, tem de enfrentar a sua irmã Caroline, uma personagem curiosa que adora coscuvilhar a vida alheia. De facto, ela é a principal fonte de coscuvilhices na vila, graças essencialmente a uma rede de informantes que a mantém informada sobre tudo o que acontece. Assim, ela interroga o irmão de imediato sobre o que aconteceu e especula que Mrs. Ferrars estaria a ser chantageada por alguém que sabia que a mulher teria envenenado o próprio marido. Caroline acredita que a defunta estaria prestes a confessar o seu crime a Roger Ackroyd na noite que antecedeu a sua morte e que a pressão de ser descoberta levou-a ao suicídio.

Capítulo II: O anuário de King's Abbot

    O capítulo II começa por fazer uma apresentação genérica de King's Abbot, uma pequena localidade rural inglesa cuja principal ocupação são os mexericos. A população jovem sã parte para outras personagens na sua maioria; pelo contrário, a vila é procurada por solteirões e militares aposentados.
    O narrador, de seguida, apresenta Roger Ackroyd, um homem rico, com cerca de 50 anos, íntimo do padre, generoso nas doações à igreja, mas com fama de forreta nos gastos pessoais. Com cerca de 21 anos, apaixonara-se e casara com uma mulher cinco ou seis anos mais velha, chamada Paton. Tratava-se de uma viúva com um filho pequeno, Rudolph, que possuía um lado negro - era alcoólica - e que faleceu quatro anos após o casamento, vitimada pelo álcool. Depois da morte da esposa, Ackroyd criou o enteado como seu filho, no entanto, presentemente, parecia ter-se dedicado à malandragem. O doutor Sheppard dá conta também da proximidade que se foi estabelecendo entre Ackroyd e a Sr.ª Ferrars após a morte do marido desta, há pouco mais de um ano. Ao longo dos tempos, Roger teve várias governantas, pois serviam-no durante pouco tempo. A exceção é a última, que se encontra ao seu serviço há aproximadamente cinco anos, tendo-se criado entre ambos um clima que poderia redundar numa relação amorosa e quiçá em matrimónio, não fosse a chegada súbita de uma cunhada viúva de Roger Ackroyd, juntamente com o seu filho, diretamente do Canadá, que termina com as veleidades da governanta.
    Na véspera, o narrador vira Mrs. Ferrars a caminhar com Rudolph, quando o padrasto, segundo o Dr. Sheppard, o julgava em Londres. A finalizar o capítulo, Roger Ackroyd convida o médico para jantar essa noite em sua casa, pois tem algo para lhe contar.

Capítulo III: O cultivador de abóboras

    Na realidade, Rudolph tinha chegado na véspera a King's Abbot e instalado no hotel Três Javalis. Entretanto, tinha-se encontrado com a prima (na verdade, não existe qualquer grau de parentesco entre ambos, pois Rudolph não era filho de Roger Ackroyd, portanto não era da família), Flora Ackroyd, sua noiva secreta.
    Um forasteiro tinha arrendado a villa dos Lariços, a casa pegada à do Dr. Sheppard. Nessa tarde, o médico quase é atingido por uma abóbora lançada precisamente do jardim do lado. Esse forasteiro conhece Roger Ackroyd e sabe que o enteado deste está noivo da sobrinha do industrial, que tem conhecimento do facto e aprova a relação e o casamento. Aliás, o homem até terá feito pressão para que o matrimónio se concretize. Uma nota dissonante chega-nos pela boca do próprio Randolph: os seus negócios não correm bem e ele enfrenta dificuldades financeiras.

Capítulo IV: A villa Farnley

    O Dr. Sheppard vai jantar à villa Fernley, a residência de Roger Ackroyd. Pelo meio, encontra Flora Ackroyd, que anuncia para breve o seu casamento com Rudolph. Pouco depois, faz a sua aparição Mrs. Ackroyd, que é retratada como uma mulher antipática de olhos azuis duros e olhar frio e calculista. Segue-se a entrada de Roger Ackroyd e do seu amigo, o major Blunt, um notável viajante e caçador, alguns anos mais velho do que o dono da casa e de temperamento oposto.
    O jantar não é agradável, pois o anfitrião está preocupado e abatido e quase não come. Pouco depois, fica a sós com o médico, usando dores estomacais como desculpa para fazer sair o criado. O diálogo que ambos travam esclarece o motivo do convite para jantar. Roger Ackroyd declara que Mrs. Ferrars lhe confessou no dia anterior ter envenenado o próprio marido. No entanto, havia alguém que conhecia esse segredo e que a chantageou por isso, mas a mulher não revelou a sua identidade. Ao ver o impacto que a revelação teve em Roger, a mulher pediu-lhe que não fizesse nada, não contactasse as autoridades durante vinte e quatro horas. O anfitrião acrescenta que, após o falecimento do marido da defunta, foi despertando uma relação afetiva entre ambos, que levou Roger a pedi-la em casamento havia três meses, tendo ela recusado. Passado algum tempo, reiterou o pedido e, desta vez, foi aceite, porém os dois mantiveram segredo do facto.
    Seguidamente, o criado Parker entra na sala com o correio da tarde. No meio dos vários papéis, Roger avista um sobrescrito azul que o deixa petrificado, pois reconhece nele a letra de Mrs. Ferrars. O industrial abre-o e começa a ler a carta, onde a defunta promete revelar o nome da pessoa que a tem chantageado, contudo para a meio a leitura, afirmando que pretende ler o resto quando estiver sozinho, por isso repõe a missiva no sobescrito para concluir a leitura mais tarde. O médico ainda insiste que leia o que falta, mas Roger, bastante teimoso, não o faz. Pelas 21 horas, o Dr. Sheppard abandona a residência, apercebendo-se que Parker tinha estado a escutar a conversa entre ambos. À saía cruza-se com um desconhecido que procura o dono da casa.
    Às 22 horas e 15 minutos, quando se prepara para dormir, o Dr. Sheppard recebe um telefonema de Parker a anunciar que Roger Ackroyd acaba de ser assassinado.

Capítulo V: O crime

    O Dr. Sheppard desloca-se, de imediato, para a residência de Roger Ackroyd e é recebido por Parker, o criado, que, espantado, lhe diz que não foi ele quem telefonou ao médico e que tudo não deve passar de uma brincadeira, pois o patrão ainda está no escritório, portanto vivo. Os dois homens dirigem-se, então, para os aposentos do industrial, batem à porta repetidamente, porém não obtêm resposta. Tentam abri-la, todavia não conseguem, por isso espreitam pelo buraco da fechadura e verificam que aquela se encontra fechada por dentro. Arrombam-na e descobrem Roger Ackroyd sentado numa poltrona perto da chaminé, com punhal cravado nas costas. Ao observar o quarto, o médico constata que nada está remexido ou fora do lugar. A única coisa que, segundo o criado, falta é o sobescrito azul que continha a carta escrita por Mrs. Ferrars. Além disso, nada de valor foi levado, portanto não se tratou de um roubo. O criado revela que o secretário, Raymond, ouvir Roger a falar com alguém por volta das 21 horas e 30 minutos. A conversa versava dinheiro, nomeadamente pedidos de dinheiro feitos ao falecido, que declarara nessa conversa com pessoas desconhecida que não poderia continuar a satisfazer esses pedidos. Fica-se também a saber pelo mordomo que, nessa noite, ninguém entrou pela porta principal da villa, pelo que terá sido o próprio Roger a dar entrada ao assassino em sua casa. Parker acrescenta que Miss Flora, a sobrinha, viu o tio depois das nove e meia, isto é, após a conversa com o desconhecido. O inspetor interroga Flora, que confirma que foi a última pessoa a ver o tio, mas nada mais de significativo acrescenta sobre o caso.

Capítulo VI: O punhal

    O inspetor questiona o médico a propósito da extorsão e este narra-lhe tudo o que sabe, incluindo a questão da carta.
    Ao examinar o corpo, o Dr. Sheppard conclui que o punhal foi manobrado com a mão direita do assassino, que estava situado atrás de Roger Ackroyd, tendo a morte sido instantânea. Por outro lado, a expressão da vítima mostra surpresa. O inspetor aponta as suas baterias para Parker enquanto suspeito do crime. No cabo do punhal, são visíveis impressões digitais, desconhecendo-se a quem pertencem. O objeto tinha sido oferecido à vítima pelo major Blunt, que o trouxe de Marrocos, e estava guardado numa mesinha, concretamente aquela que o médico tinha ouvido abrir e fechar quando estivera previamente na residência. Depois de interrogarem a criadagem, recolhem as impressões digitais de Parker, do Dr. Sheppard e do major Blunt.
    De regresso a casa, o médico confidencia à irmã que a polícia considera Parker o suspeito número um do crime, mas Caroline considera que se trata de um disparate.

    Capítulo VII: A profissão do meu vizinho

    Na manhã seguinte, Flora pede ao Dr. Sheppard que a acompanhe à villa dos Lariços para pedir ao seu ocupante, Hercule Poirot, um detetive reformado há cerca de um ano, que investigue a morte do tio. A jovem justifica o pedido, alegando que o médico esteve na cena do crime, observou o tio, portanto conhece todos os pormenores acerca do assassinato. Por outro lado, tem conhecimento de que, nessa manhã, chegou à localidade o inspetor Raglan, de Crunchester, que suspeita que o assassino seja Rudolph, o filho adotivo de Roger, tendo-se já deslocado até o hotel onde se havia hospedado, no entanto o hóspede tinha desaparecido sem deixar rasto.
    Flora e o Dr. Shappard deslocam-se, pois, até à villa dos Lariços. Poirot, inicialmente, aconselha-a a confiar na polícia, porém acaba por aceitar a empreitada: investigar o caso. De seguida, o detetive e o médico deslocam-se até o posto da polícia local, onde são recebidos pelo inspetor Davis, pelo intendente - o coronel Melrose - e o inspetor Raglan. À exceção de Davis, os demais polícias recebem mal Poirot, por causa da inveja indisfarçável da fama que possui enquanto investigador com sucesso de diversos casos criminais. No entanto, a disposição muda um pouco após Poirot assegurar que todo o sucesso que resultar da sua investigação será creditado à polícia. Os agentes policiais contam então que as impressões digitais recolhidos não correspondem a nenhuma das pessoas testadas. De seguidas, deslocam-se até casa de Roger Ackroyd para verificar as pegadas detetadas na área exterior da casa e as comparar com dois pares de sapatos pertencentes a Rudolph. Por sua vez, Poirot analisa o gabinete onde foi cometido o crime e conclui que o morto deixou entrar o seu assassino pela janela do compartimento, pelo que seria alguém seu conhecido.
    Entretanto, fica a saber-se que o telefonema que o Dr. Sheppard recebeu na noite anterior a anunciar o crime foi feito às 22 e 15 da estação de King's Abbot, tendo o comboio direto para Liverpool partido às 22 e 23.

Capítulo VIII: O inspetor Ragglan sabe o que faz

    A polícia quer saber se alguém visitou Roger Ackroyd e Parker informa que, na quarta-feira, tinha vindo alguém representante de uma empresa de ditafones, pois a vítima queria adquirir um aparelho.
    Entretanto, chega Mr. Hammond, um advogado. Raglan considera que foi Rudolph quem cometeu o crime, visto que as pegadas encontradas em volta da casa correspondem às salas dos seus sapatos de borracha, embora também sejam visíveis marcas de sapatos femininos. Além disso, a porteira, Mary Black, afirma ter visto passar Rudolph, quinze minutos depois, terá ouvido alguém no escritório a pedir dinheiro a Roger Ackroyd, que nega o pedido. De seguida, terá saído pela janela, entrado pela janela aberta da sala às 21 e 5, apoderado do punhal que estava na mesinha da sala, voltado ao escritório e cometido o crime. Depois, terá trepado o peitoril e fugido. No regresso ao hotel, terá ido pela estação de caminho de ferro e feito o famoso telefonema a anunciar o crime.
    Quanto às outras personagens, à hora do crime, o major Blunt estava na sala de bilhar com Mr. Raymond; Mrs. Ackroyd, às 21 e 45, assistia à partida de bilhar e, dez minutos depois, foi dormir; Flora Ackroyd subiu do escritório do tio diretamente para o quarto; Parker foi para a despensa às 21 e 47, o que é confirmado pela governanta, Mrs. Russel, a governanta, que, por sua vez, falou com a criada Elsa Dale às 21 e 45, a qual se encontrava no andar superior, onde foi vista pela primeira e Flora; a criada Ursula Bourne ficou no seu quarto até às 21 e 5 e depois encaminhou-se para as dependências de serviços; Emma Cooper, a cozinheira, esteve sempre nas dependências de serviços, tal como outra criada, Mary Tripp. A cozinheira está ao serviço de Roger Ackroyd há seis anos, a primeira criada há dezoito meses, Parker há pouco mais de um ano e os demais há pouco tempo.
    Poirot e o Dr. Sheppard caminham pelo local. O detetive mostra ao companheiro um pedaço de tecido e, pouco depois, apanha do chão um tubo de uma pena de pato.

Capítulo IX: O lado dos peixes dourados

    Poirot e o médico passeiam pela propriedade de Roger Ackroyd. Em determinado ponto da passeata, avistam uma jovem alegre e bem-disposta: Flora. Pouco depois, surge o major Blunt e os dois conversam: a rapariga fala com ele de forma zombeteira, mas, quando o ex-militar lhe anuncia que tenciona regressar em breve a África, perde o ar feliz e trocista. Gera-se um silêncio entre ambos e, para o quebrar, Flora manifesta a sua preocupação pelo facto de o suspeito principal do assassinato do tio ser o seu noivo e ter desaparecido. O major procura tranquilizá-la, dizendo-lhe que tal suposição é absurda. De seguida, a jovem informa-o que de Roger lhe deixou vinte mil libras de herança, o que lhe garantirá a liberdade de que nunca dispôs até ao presente e a desobriga da necessidade de um casamento forçado e por interesse, acrescenta Blunt. Subitamente, este corta o fio da conversa, porque lhe parece ter avistado algo no fundo do lago de que estão próximos. De imediato, Poirot sai do seu esconderijo e dirige-se ao par, questionando o major sobre a última vez que esteve com Roger Ackroyd. Blunt responde que o último encontro entre ambos ocorreu ao jantar, mas acrescenta que o ouviu a falar mais tarde com alguém enquanto passeava no exterior e que, pouco depois, viu passar entre os arbustos um vulto branco. Acrescenta ainda que é possível que a pessoa com quem a vítima conversava era Raymond, pois tinha-os ouvido combinar um encontro por causa de uns papéis, mas clarifica que ouviu apenas a voz de Roger. De seguida, o detetive pergunta a Flora se, no dia anterior, tinha visto o punhal dentro da mesinha onde era habitual estar guardado e ela responde negativamente. Então, Poirot enfia a mão dentro do lado para apanhar o objeto que o major vislumbrara, mas, quando retira a mão, esta vem vazia. De seguida, Flora convida-os para almoçarem na villa.
    Quando o detetive e o médico ficam sós, o detetive belga mostra-lhe uma aliança de mulher com a seguinte inscrição no seu interior: R - 13 de março. Sorrateiramente, quando retirara a mão da água, tinha trocado o objeto para o outro, de modo que Flora e o major não se apercebessem de que tinha encontrado algo.

Capítulo X: A criada

    No vestíbulo, encontram Mrs. Acroyd e Mr. Hammond, o seu advogado. A cunhada do falecido afirma que não se tratou de um crime, mas, sim, de um mero acidente, pois Roger Ackroyd era bastante desastrado com os objetos, portanto, ao manejar o punhal, deverá ter-lhe escorregado da mão e cravado no corpo. O advogado pronuncia-se sobre Rudolph, dizendo que era um dissipador de dinheiro e que o pedia constantemente ao padrinho, Roger. Interrogado por Poirot acerca de como obteve essas informações, o advogado responde que foi Mrs. Ackroyd quem o informou acidentalmente. O detetiva questiona-o também acerca das disposições do testamento: Roger deixou mil libras para a governanta, 50 para a cozinheira, 500 para Raymond e vários donativos a hospitais. Além disso, Mrs. Ackroyd ficará com o ususfruto de dez mil libras em ações enquanto for viva; Flora receberá a quantia de 25 mil libras e o remanescente, incluindo a propriedade e as ações da firma Ackroyd & Filho, será para o filho adotivo e sobrinho, Rudolph Paton.
    Novamente a sós, Poirot faz um estranho pedido ao Dr. Sheppard: o médico deverá perguntar-lhe, quando estiverem de novo juntos, se o major Blunt se encontrava em King's Abbot quando o marido de Mrs. Ferrars faleceu, e observar a reação do homem nesse instante. Quando questionado, o major responde que tinha ido visitar a mulher na terça-feira anterior e que a considerara fascinante, bela, mas misteriosa, sendo muito difícil adivinhar o que ela estaria a pensar. Acrescenta que conhecia os Ferrars desde o tempo em que o casal se instalara naquele local, coincidente com a época em que ele, Blunt, estivera ali pela última vez. O major, falando sobre si, afirma que perdera bastante dinheiro obtido por meio de herança na bolsa, todavia possui ainda o suficiente para viver desafogadamente. Por sua vez, Mrs. Ackroyd manifesta o seu descontentamento pelo facto de o cunhado ter deixado 25 mil libras a Flora em vez de a si.
    Continuando-se a falar em dinheiro, a propósito do pagamento das despesas da casa, Raymond confirma que Roger tinha levantado, na manhã do dia anterior, 100 libras para pagar salários e outros encargos financeiros. De imediato, encaminham-se todos para o escritório para verificar se o dinheiro se encontra aí. Quando abrem a bolsa onde o defunto tinha guardado a quantia, constatam que faltam quarenta libras. Poirot questiona se o pessoal da casa é de confiança e asseveram-lhe que sim. No entanto, dá-se o caso de uma criada, Elsa Dale, se ter despedido no dia anterior. A governanta, quando questionada, afirma nada saber sobre esse assunto, acrescentando que se devem estar a referir a Ursula Bourne, que foi despedida por ter mexido e desarrumado uns papéis de Roger Ackroyd. A própria criada confirma o seu despedimento por ter alterado a ordem dos papéis que o patrão tinha sobre a secretária quando efetuou a limpeza do local. Inquirida sobre se esteve no local onde foi guardado o dinheiro, mostra-se perturbada, embora afirme que não sabe nada sobre a pecúnia. Acerca do despedimento, declara que ocorreu na tarde do dia anterior e que demorou entre vinte minutos a meia hora. De seguida, vão falar com Elsa Dale, uma rapariga loura, algo apatetada, que se mostra aflita quando lhe mencionam o desaparecimento do dinheiro.
    Mais tarde, Poirot pergunta ao clínico o que pensa de Ursula Bourne e acrescenta que lhe parece estar na presença de uma criada demasiadamente bem educada, que fala corretamente inglês e aparenta uma elegância e um aspeto físico assinaláveis, o que significa que a considera alguém que deveria possuir uma posição bem distinta de uma mera criada. Poirot acrescenta que Ursula é a única criada cujo alibi não foi confirmado.
    O detetive convida o médico a visitar Marby, no dia seguinte, domingo, e falar com Ada Folliot acerca de Ursula, pois esta teria trabalhado anteriormente na sua casa.

Capítulo XI: Uma visita de Poirot

    Cumprindo o pedido de Poirot, o médico fala com a Sr.ª Folliot, mas estas mostra-se hostil e reticente em responder às perguntas que aquele lhe dirige, por isso nada de relevante se fica a saber sobre a criada Ursula.
    De regresso a casa, fica a saber pela irmã que Poirot esteve em sua casa e lhe falou de um príncipe da Mauritânia que casara com uma bailarina, que supostamente estaria a fugir de assassinos bolcheviques. Além disso, trocaram impressões sobre o assassinato de Roger Ackroyd, tendo-a o detetive questionado a propósito de doentes do irmão. Ela enumera os que o consultaram no dia do crime e, dentre a lista, focam-se sobretudo em Mrs. Russel, na qual o protagonista vislumbra algo equívoco.

Capítulo XII: Uma reunião íntima

    Na segunda-feira seguinte, realizou-se o inquérito público. O inspetor Raglan continua a suspeitar de Rudolph, que parece ter parece ter-se evaporado da face da Terra, pois ninguém o consegue encontrar sem sítio nenhum. No que diz respeito às impressões digitais presentes no punhal, o detetive belga desvaloriza-as, dizendo que até podem pertencer ao próprio Roger, ou seja, é possível que o assassino, consumado o crime, tenha limpado o cabo da arma e, de seguida, impresso os dedos da vítima no mesmo. Para sustentar a sua ideia, acrescenta que essas mesmas impressões mostram que quem empunhou a adaga o fez como quem pega num talher e não como quem pretende cravá-lo nas costas de alguém.
    Pouco depois, reunem-se na alsa de jantar da villa Fernley Poirot, Mrs. Ackroyd, Flora, o major Blunt, Raymond e o Dr. Sheppard. O detetive solicita aos presentes que lhe indiquem onde se encontra o capitão Paton, mas recebe como resposta apenas silêncio. Flora diz que, no dia seguinte, anunciará publicamente o seu casamento. O capítulo termina com a acusação de Poirot de que todos lhe estão a esconder algo.

Capítulo XIII: A pena de pato

    Nessa noite, após o jantar, o médico desloca-se à residência do detetive, correspondendo ao seu convite, e os dois conservam sobre a misteriosa personagem que o Dr. Sheppard vira na noite do crime. Poirot informa-o de que esse homem pediu informações sobre o caminho a seguir para a villa Fernley a uma criada, Mrs. Ganett, o que significa que desconhecia a área e, por outro lado, não procurava ocultar a sua figura nem a sua visita. Acrescenta que o indivíduo esteve hospedado no hotel Três Javalis, que possuía sotaque norte-americano e que afirmava ter chegado dos Estados Unidos.
    Poirot puxa da pena de pato e, subitamente, o médico recorda que os cocainómanosse serviam usualmente de uma pena de pato para cheirarem cocaína, algo comum nos EUA e no Canadá. Outra questão prende-se com a pessoa com quem o desconhecido se terá vindo encontrar. Convém não esquecer que Mrs. Ackroyd e Flora vieram precisamente do Canadá antes de se instalarem em King's Abbot. Além disso, há o pormenor do tempo referente ao despedimento da criada: meia hora é um período excesso para proceder a uma dispensa. Por outro lado, Poirot considera que a razão apontada para o despedimento - a arrunação de uns papéis importantes - é pouco verosímil. Relativamente à pessoa que estaria a extorquir Mrs. Ferrars, é possível tratar-se de Rudolph, já que, de acordo com o advogado Hammond, havia algum tempo que não recorria aos pedidos de dinheiro a Roger Ackroyd, o que indicia que teria outra fonte de angariação monetária. No entanto, Poirot não acredita na sua culpabilidade.

Capítulo XIV: Mrs. Ackroyd

    Mrs. Ackroyd solicita a presença do Dr. Sheppard a pretexto de se encontrar doente, na sequência da conversa do dia anterior com o investigador belga. A velha senhora conta que, na sexta-feira, à tarde, fora ao escritório de Roger e dera por si a procurar o testamento do dono da casa, mas acabara surpreendida pela criada Ursula Bourne. Pouco depois, aparecera Roger e ela abandonara o espaço, deixando patrão e empregada a sós, Na sequência, Mrs.Ackroyd comenta com o clínico que a criada possui algo que a distingue das demais (por exemplo, é muito instruída), e confessa que foi ela quem deixou a mesinha da sala aberta,que abrira para retirar uma peça de prata que pretendia levar a um leilão em Londres. Porém, ao aperceber-sedo ruído de passos no terraço, precipitou-se a sair dali, deixando o móvel aberto. Em suma, estas confissão da mulher comprovam que o estratagema de Poirot (acusar várias personagens de estar a ocultar algo) começa a resultar.

Capítulo XV: Godofred Raymond

    Raymond procura Poirot para lhe confessar que possuía dívidas, por isso a herança de 500 libras recebida de Roger o tinha tirado de apertos financeiros.
    O detetive revela desconfiar que o extorsionista seja Parker, mas foi ele quem assassinou Ackroyd, porém provavelmente será o responsável pelo desaparecimento da carta de Mrs. Ferrars.
    De seguida, desloca-se até à villa Fernley, para falar com Flora e, a seu pedido, recriam uma cena ocorrida na noite do crime e que envolvia Parker e a jovem.

Capítulo XVI: Uma partida em família

    Nessa noite, um casal amigo junta-se ao Dr. Sheppard e a Caroline para jogarem Mah Jong. Inevitavelmente, enquanto jogam, conversam sobre o assassinato de Roger Ackroyd, trocando diversas informações: a criada da villa Fernly que foi despedida chora muito à noite; os talentos de Poirot; o local onde poderá estar Rudolph (talvez em Cranchester, de onde viram regressar o detetive de automóvel).

Capítulo XVII: Parker

    No dia seguinte, têm lugar as exéquias de Mrs. Ferrars e Mr. Ackroyd. Enquanto isso, Poirot confessa ao Dr. Sheppard que tem de interrogar e infundir terror em Parker.
    Já na villa dos Lariços, o detetive diz-lhe que é uma extorsionista, pois a última pessoa para quem tinha trabalhado, o major Ellerby, havia estado envolvido no assassinato de um homem nas Bermudas. O criado estava ao corrente do envolvimento do seu patrão, que se vira forçado a pagar o seu silêncio. Parker confirma as palavras de Poirot, mas jura nada ter a ver com o assassinato de Roger Ackroyd. De seguida, explica que, quando o defunto se reunira com o Dr. Sheppard, lhe chegara aos ouvidos a palavra «extorsão», por isso tinha escutado à porta do escritório na esperança de ficara  saber algo que lhe rendesse proveitos em termos financeiros, isto é, que lhe permitisse extorquir alguém, provavelmente o próprio patrão atual.
    A seguir, vão visitar o advogado Hammond, que revela que Mrs. Ferrars gastou, no último ano, 20 000 libras, sendo que a herança que o major Blunt proclama ter recebido equivale sensivelmente a essa quantia, o que o torna suspeito de chantagear a velha senhora.
    Poirot explica, então, a sua teoria: um homem comum, sem ideias criminosas, mas com algum defeito moral, vê-se certo dia em dificuldades económicas. Nesse ponto, fica a conhecer o segredo de alguém e acaba por, necessitado de dinheiro, chantagear essa pessoa. A passagem do tempo faz crescer a avidez por pecúnia e, inebriado, quer mais e mais, até ultrapassar os limites. Receando o escândalo de se ficar a saber do seu crime, caso a vítima se canse de ser explorada e ameace expô-lo publicamente, mata-a. O telefone toca em casa do Dr. Sheppard: a polícia prendeu um indivíduo em Liverpool, chamado Charles Kent,que se crê ser o desconhecido que foi avistado em Fernly na sexta-feita à noite, e quer o médico na cidade para o identificar.

Capítulo XVIII: Charles Kent

    Meia hora depois, Poirot, o inspetor Raglan e o Dr. Sheppard apanham o comboio para Liverpool. De acordo com o inspetor, o indivíduo é um cadastrado e consumidor de estupefacientes. Além disso, confirma que o detetive está certo relativamente às impressões digitais encontradas no punhal: efetivamente, pertencem a Roger Ackroyd.
    Charles Kent tem cerca de 22 ou 23 anos. O médico, ao escutar a sua voz, confirma que se trata da pessoa que efetivamente encontrou perto do portão da villa Fernly.O detetive confronta-o com a pena de pato encontrada no quiosque do jardim, que lhe pertencia e que ele perdeu no dia em que se deslocou até à propriedade. O rapaz indaga sobre o motivo da sua prisão e, ao ser esclarecido, afirma-se inocente, pois à hora en que se deu o crime, entre as 21 e 45 e as 22 horas, encontrava-se na taverna Coroa Larga,que dista cerca de dois quilómetros de Fernly.Questionado sobre a razão da sua presença na villa, responde que se foi encontrar com alguém, mas não o identifica.

Capítulo XIX: Flora Ackroyd

    Na manhã seguinte, o inspetor Raglan encontra o D. Sheppard quando este regressa das suas consultas e informa-o de que o alibi de Charles Kent foi confirmado por uma criada da Coroa Larga, chamada Salvina Jones,que estabelece que eram precisamente 21 horas e 45 minutos quando o suspeito entrou na taberna, acrescentando que estava bem provido de dinheiro.
    O ponto de paragem seguinte é a villa dos Lariços, onde Poirot toma conhecimento das novidades. A encenação promovida pelo detetive teve como finalidade provar que Parker viu Flora no exterior do escritório do tio. De facto, ele viu-a com a mão na maçaneta da porta e não no interior do cómodo. Provavelmente, a rapariga não estava a sair de dentro do escritório, mas da escada, proveniente do quarto do tio, ao qual se terá deslocado para lhe roubar dinheiro que nele houvesse, em virtude das dificuldades que passava, juntamente com a mãe. Assim, em desespero, terá entrado no quarto de Mr. Ackroyd, descido as escadas e, surpreendida pelo tilintar de copos no vestíbulo (era Parker dirigindo-se ao escritório), precipita-se para a sua porta, agarra a maçaneta e finge que vem a sair do compartimento, exatamente no momento em que o criado surge na soleira do corredor. De seguida, diz o que lhe ocorre à cabeça e sobe para o seu quarto. Posteriormente, quando toma conhecimento de que houve um furto e que a polícia chegou para investigar, Flora conclui que o descobriram o seu roubo e decide sustentar a história que engendrou para proteger o seu crime.
    De seguida, na villa Fernly, entrevistam a jovem, na sala de bilhar. Ela está acompanhada do major Blunt e o inspetor Raglan narra-lhe as deduções de Poirot: Flora não entrou no escritório do tio, pelo que não pode ter visto o tio para lhe desejar boa noite. Quando ouviu Parker a atravessar o vestíbulo, encontrava-se na escada que conduzia ao quarto do tio.
    Flora, confrontada desta forma, confirma o seu furto e mostra-se aliviada por ter sido descoberta. O major intervém, dizendo que o dinheiro em questão lhe tinha sido dado por Roger para deterninado fim e que a rapariga nunca lhe mexeu, tendo inventado aquela mentira para proteger o namorado, o capitão Paton. Na verdade, o major está apenas a tentar defender Flora por amor. Poirot diz-lhe que sabe que ele está apaixonado pela jovem e que lhe deve manifestar os seus sentimentos, pois ela não está enamorada de Rudolph Paton, tendo-o aceitado unicamente para agradar ao tio e para, através do casamentio, abandonar uma situação insustentável.

Capítulo XX: Mrs. Russel

    Poirot marca um encontro com Mrs. Russel no consultório do Dr. Sheppard. Num breve diálogo que trava com o médico, observa que esteve atento à sua fisionomia aquando da revelação da autoria do furto, acrescentando que notou que Sheppard não ficou surpreendido com a novidade, ao contrário do inspetor. De seguida, dá nota da publicação, no dia seguinte, de uma notícia que rezaria o seguinte: "Há dias que a polícia procura o capitão Paton, residente na villa Fernly, em King's Abbot, sobrinho de Mr. Ackroyd, morto, como se sabe, na sexta-feira,em trágicas circunstâncias. O capitão foi visto em Liverpool, onde estava para embarcar com destino à América.". O detetive não clarifica o que espera alcançar com a publicção de semelhante notícia falsa.
    O detetive observa a paixão que o médico possui pela mecânica, quando a governanta chega. Poirot começapor a informar que prenderam Charles Kent em Liverpool, mas a mulher fica impassível perante a informação. O detetive acrescenta que Roger Ackroyd foi assassinado entre as 20 e 50, quando o Dr. Shppard o deixou, e as 21 e 45, o que causa nervosismo e palidez em Mrs. Russel. Declara ainda que Kent é o indivíduo que procuram, visto que esteve em Fernly na altura do assassinato e não apresenta qualquer justificação para a sua presença. A governanta, em pânico, declara que o rapaz se foi encontrar com ela no quiosque, onde lhe deixou previamente uma nota escrita a avisá-lo da hora do encontro: 21 e 10. No regresso do quiosque, encontrou o médico. Poirot, para maior surpresa da governanta, diz-lhe que ela é mãe de Charles Kent e a mulher confirma. Quando o deu à luz, era solteira, por isso deu-lhe o nome da província em que nasceu. Mrs. Russel acrescenta outros dados ao pronunciamento do detetive, nomeadamente que nunca lhe disse que era mãe dele e que o filho cresceu vicioso e mau, tendo-se entregado ao álcool e à toxicodependência, apesar de ter feito tudo o que pôde pelo rapaz, inclusivamente enviá-lo para o Canadá. Durante cerca de dois anos, não teve qualquer notícia de Charles, que, entretanto, descobriu onde a mãe se encontrava a trabalhar e escrever-lhe a pedir dinheiro. Posteriormente, a mulher deslocara-se a casa do Dr. Sheppard para saber se era possível fazer algo pelo filho, nomeadamente no que dizia respeito aos seus vícios. Mãe e filho encontram-se: ele tratou-a muito mal, tendo recorrido inclusive ao insulto, e levou todo o dinheiro que ela possuía. Por último, estabelece que a partida do rapaz terá ocorrido entre as 21 e 20 e as 21 e 25. Deste modo, o invidíduo que, pelas 21 e 30, foi ouvido a dialogar com Roger Ackroyd não poderia ser Charles Kent.

Capítulo XXI: A notícia do jornal

    No dia seguinte, o jornal local publica a notícia inspirada por Poirot. Caroline observa que chegou alguém à residência do detetive. Por seu turno, este comunica ao Dr. Sheppard que, nessa noite, pelas 21 horas, terá lugar uma pequena reunião em sua casa, onde deseja que marquem presença o próprio médico, Mrs. Ackroyd, Flora, o major Blunt e Mr. Raymond.
    Entretanto, fica a saber-se pela mãe que Flora Ackroyd estánoiva de Hector Blunt. Além disso, a velha senhora dá nota de que a polícia de Liverpool, quando contactada por Raymond, desmentiu a prisão de Rudolph.
    Ursula Bourne desloca-se a casa do médico para falar com Poirot. Quando entram na sala onde ela os espera, o detetive diz que estão na presença de Ursula Paton, a legítima esposa de Rudolph Paton.

Capítulo XXII: As vicissitudes de Ursula

    Ursula era uma das muitas filhas de uma família nobre irlandesa arruinada de nome Folliot que, após o falecimento do pai, teve de encontrar uma forma de subsistência, empregando-se como criada, dando como referência o nome da irmã. Nesse interém, conheceu Rudolph, com quem casou secretamente, porque ele lhe dissera que o seu padrinho era contrário a que desposasse uma mulher pobre. O rapaz prometeu-lhe pagar todas as suas dívidas e, quando fosse independente de Roger Ackroyd, assumir publicamente o casamento entre ambos. Para que tal fosse possível, confiava que o industrial lhe acudisse e saldasse as suas dívidas, porém, quando tomou conhecimento da quantia avultasda que o afilhado devia, ficou tão furioso que lhe recusou qualquer auxílio financeiro. Passados alguns meses, chamou-o a Fernly e propos-lhe que desposasse Flora Ackroyd. Os futuros noivos concordam com a proposta e combinam manter o noivado secreto, todavia Mr. Ackroyd resolve torná-lo público, mas comunica a sua intenção somente a Flora, que se mostra indiferente perante tal resolução. Já Ursula ficou absolutamente estupefacta e chamou Rudolph da cidade. Os dois encontraram-se no bosque e o rapaz pediu à esposa que mantivesse secreto o casamento de ambos por mais algum tempo, mas a esposa procura Roger Ackroyd e conta-lhe a verdade. O homem fica furioso com os dois,considerando que Ursula está a dar o golpe do baú, procurando desposar alguém com acesso a riqueza. Ambos trocam palavras violentas entre si e tudo termina com o despedimento dela. Ursula encontra-se novamente com o marido, porém o encontro é tumultuoso: Rudolph censura-a por ter ido falar com o padrinho e ela censura-o pela sua falta desinceridade. Meia hora depois de terminado o encontro, um pouco antes das 21 e 45, é descoberto o cadáver de Roger Ackroyd. Além disso, desde essa noite, a jovem não voltou a ter notícias do esposo.
    Ursula decidiu fazer esta confissão depois de ter lido a notícia falsa publicada por Poirot, considerando que já nada tinha a perder; pelo contrário, talvez pudesse contribuir para a salvação do marido.

Capítulo XXIII: Uma reunião em casa de Poirot

    O Dr. Sheppard tem vindo a fazer um registo do caso, dividido em 20 capítulos e culminando com a visita de Mrs. Russel, que forneceu a Poirot para este o ler.
    A reunião inicia-se às 21 horas na casa de Poirot e nela marcam presença Mrs. Ackroyd, Flora Ackroyd, o major Blunt, Mr. Godofred Raymond, Mrs.Ursula Paton, John Parker e Elisabeth Russel, além do Dr. Sheppard. Poirot começa por revelar que Ursula e Rudolph são casados. Flora reage muito bem à notícia e as duas mulheres apoiam-se mutuamente.
    De seguida, o detetive informa que, na noite do crime, tiveram lugar dois encontros perto do quiosque: entre Mrs. Russel e o filho e entre Rudolph e Ursula. Sabendo-se que os dois últimos são um casal, está encontrada a explicação para a aliança encontrada no local com os dizeres gravados: um R e uma data, a do casamento entre ambos. Este encontro foi motivado, como sabemos, por Ursula ter ficado a saber nesse mesmo dia do noivado entre o seu marido e Flora Ackroyd. Ora, assim sendo, o assassino não poderia ser o capitão Paton, pois às 21 e 30, quando se deu o crime, estava a falar com a esposa. Por outro lado, também não poderia ser Charles Kent, uma vez que já se havia afastado do local.
    As palavras ouvidas a Roger Ackroyd pouco antes de ser assassinado são muito semelhantes às que usava por vezes em cartas ditadas, o que leba Poirot a deduzir que, efetivamente, o homem não estava a falar com ninguém, mas talvez a ler uma carta em voz alta. O detetive recorda que, na quarta-feira anterior, tinha estado na villa um representante da firma Ditaphone Company,o qual vendeu ao industrial um ditafone. Às 21 e 30, Roger ainda estava vivo, visto que falava ao dito aparelho, enquanto Rudolph e Ursula conversavam no exterior e Charles Kent já se encontrava bem distante do local.
    O capítulo encerra com Poirot a fazer um gesto teatral, apontando para o umbral da porta, onde se encontra Rudolph Paton, de mão dada à esposa.

Capítulo XXIV: A narrativa de Rudolph Paton

    Hercule Poirot recoda a sessão, semelhante àquela que fizera anteriormente, na qual acusara os cinco presentes de lhe ocultarem algo: quatro revelaram o seu segredo entretanto, mas o Dr. Sheppard não. O médico explica-se: naquele dia, fora visitar Rudolph, de quem se diz amigo, e este contara-lhe do seu casamento e da embrulhada em que se envolvera. Após a descoberta do crime, Paton tornara-se suspeito e o Dr. Sheppard escondera-o numa casa de saúde para alienados. O detetive, entretanto, através de Caroline, obteve o nome de dois sanatórios próximos de Cranchester para onde o irmão costumava enviar alguns pacientes. Num deles, no sábado de manhã, Poirot descobriu que o clínico tinha internado um doente sob um nome falso, porém rapidamente descobriu que se tratava de Rudolph, por isso trouxe-o para a villa dos Lariços no dia anterior. Está assim explicado quem era o indivíduo que Caroline dissera ter visto em casa de Poirot.
    De seguida, o detetive declara que o assassino se encontra entre eles e que, para salvar Rudolph, terá de confessar o crime. Ora, quem é que estaria disposto a salvá-lo, incriminando-se? A esposa ou um amigo, dirá o leitor. De imediato, entra a criada com um cabograma para Poirot, proveniente de um transatlântico que se dirige para os Estados Unidos. Ele lê-o e diz que, a partir desse momento, tem a certeza de quem é o assassino. A seguir, dá por encerrada a reunião e anuncia que, no dia seguinte, comunicará a verdade ao inspetor Raglan.

Capítulo XXV: Toda a verdade

    Terminado o encontro, saem todos, à exceção de Poirot e do Dr. Sheppard, que questiona o motivo pelo qual o detetive não expõe de imediato a verdade ao inspetor Raglan. Poirot expõe-lhe as suas deduções. Primeira: o telefonema feito para casa do clínico significa que o assassino pretendia que o crime fosse descoberto nessa mesma noite e não apenas no dia seguinte, ou seja, desejava que a descoberta ocorresse a uma hora em que o criminoso estivesse presente quando a porta do escritório fosse aberta. Segunda: a poltrona desencostada da parede relaciona-se com a mesinha com livros e revistos que se encontrava junto à janela do escritório, a qual ficava oculta pelo espaldar da cadeira. O detetive supõe que houvesse nela algo que o assassino desejava ocultar que não tinha podido levar consigo após o crime, mas que deveria desaparecer antes que alguém o encontrasse. Ora, antes da chegada da polícia só haviam entrado no gabinete de Roger Ackroyd o médico, Parker, o major Blunt e Raymond. O criado, com o seu olhar treinado, foi quem assinalou a deslocação da poltrona, pelo que foi eliminado como suspeito. Terceira: que objetos eria o que a mudança de lugar da poltroba pretendia ocultar? O ditafone, algo que não poderia ser transportado numa algibeira, por exemplo. As pessoas creem que a voz ouvida antes de ocorrer o crime era a de Roger Ackroyd a ditar para o gravador de voz, mas também poderia dar-se o caso de a máquina estar a fazer o oposto, ou seja, a reproduzir a voz do homem. Poirot coloca ainda outra hipótese: a adaptação de um instrumento de relojoaria ao ditafone, de maneira a pô-lo a funcionar após a saída do assassino. Quem tem interesse por mecanismos? Quarta: as marcas de sapatos no peitoril da janela. Alguém retirou do hotel Três Javalis um par de sapatos de Rudolph Paton. Quem o foi procurar à hospedaria?
    Finalizando o seu discurso, Hercule Poirot recapitula os factos: o assassino é alguém que conhecia bem Roger Ackroyd; sabia que adquirira um ditafone; tinha certa prática com engenhos mecânicos; tirara o punhal da mesinha antes de Flora chegar; levara consigo uma maleta para transportar o ditafone; pôde permanecer sozinho uns minutos no gabinete, após a descoberta do crime, enquanto Parker telefonava à polícia. Quem poderia ser essa pessoa? O Dr. Sheppard.

Capítulo XXVI: ... E nada mais do que a verdade

    O médico ri-se do detetive e chama-o louco, mas este não se detém. Para percorrer a distância entre a estarada e a villa gastavam-se no máximo cinco minutos. Ora, o Dr. James Sheppard partira da moradia às 20 e 50 e atingira o portão da estrada às 21 horas, ou seja, tinha gasto o dobro do tempo no trajeto. Nesses dez minutos, teve tempo de correr em volta da casa, mudar de sapatos, entrar no gabinete através da janela, matar Roger Ackroyd e sair pelo portão. Esta tese apresenta, no entanto, uma dificuldade: o industrial tê-lo-ia ouvido galgar o peitoril, por isso Poirot coloca outra hipótese, isto é, o médico cometeu o crime antes de sair do escritório, tirou da sua maleta de médico os sapatos de Rudolph, calçou-os, passou-os sobre a lama e reentrou no gabinete saltando pela janela, na qual deixou as marcas do calçado enlameado. A seguir, fechou a porta do cómodo pelo lado de dentro, saiu pela janela, deslocou-se até ao quiosque, descalçou os sapatos furtados, colocou os seus e saiu pelo portão. De seguida, foi para casa descansado, pois ajustara o ditafone para as 21 e 30. O detetive esclarece que já tinha feito a reconstituição da cena que acabara de narrar e demorara exatamente dez minutos.
    O que teria o médico a ganhar com o crime? Impunidade, pois fora ele quem chantageara Mrs. Ferrars. De facto, o Dr. Sheppard tinha tratado do marido da senhora, pelo que era a única pessoa que poderia saber a verdade sobre a sua mpprte, daí ter começado a extorqui-la, porém, quando a extorsão se tornou asfixiante, Mrs. Ferrars resolveru contar a Mr. Ackroyd. Se este tomasse conhecimento dos factos, o médico ficaria arruinado para sempre.
    Falta, porém, esclarecer ainda uma questão: o telefonema feito para casa do médico na noite do crime. Um dos seus pacientes era criado num transatlântico americano que estava fundeado em Liverpool na altura do assassinato. Ora, o Dr. Sheppard pedira-lhe que telefonasse da estação para sua casa. Foi isso que o cabograma recebido por Poirot confirmou. A ideia era genial: o médico recebia o telefonema na sua residência, na presença da irmã, mas, quanto ao conteúdo, só se teria a versão do clínico.
    Finda a exposição, Hercule Poirot sugere ao Dr. Sheppard que finalize o seu manuscrito e, depois, recorra ao suicídio, caso não deseje ser preso.

Capítulo XXVII: Apologia

    Cinco horas da manhã: o médico concluiu o manuscrito, que, no início, tencionava publicar como anarrativa de um desaire de Poirot.
    Nele, o clínicp acrescenta alguns dados: quando viu Rudolph Paton e Mrs. Ferrars a conversar, receou que a viúva lhe tivesse confiado o seu segredo. Na noite do crime, Roger Ackroyd tinha contado ao Dr. Sheppard o que conhecia do caso referente a Mrs. Ferrars, isto é, da chantagem a que esta estava sujeita, ignorando ainda, no entantom a identidade do extorsionista. O ditafone tinha avariado e o médico induzira-o a confiar-lho para o compor. O médico adaptou-lhe um mecanismo que o fizesse funcionar às 21 e 30. A poltrona tinha sido deslocada para o ocultar por completo.
    O Dr. Sheppard confia que Poirot conseguirá «compor as coisas» junto do inspetor Raglan, de modo a poupar a irmã, Caroline, à vergonha da verdade, de ter um irmão assassino.

    Concluído o manuscrito, veronal.

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