Português: 06/01/2019 - 07/01/2019

sábado, 29 de junho de 2019

Regência de "assistir"

1. Com o sentido de "ver, presenciar", «assistir» é um verbo transitivo indireto. pelo que rege a preposição a:
     . No sábado, assisti ao programa de Ricardo Araújo Pereira.

2. Quando significa "prestar auxílio médio", "dar assistência", ou "servir de advogado ou procurador de alguém", seleciona um complemento direto, pelo que é usado sem preposição:
     . O médico assistiu os doentes.
     . O advogado que assiste Sócrates no processo veio de Marte.

3. Quando significa "caber a alguém, ser seu por direito, por justiça", rege a preposição a ou liga-se ao complemento indireto:
     . Votar é um direito que assiste a todos.
     . Meu amigo, votar é um direito que lhe assiste.

Mordillo


Guillermo Gordillo

(04/08/1932 - 29/06/2019)

quarta-feira, 26 de junho de 2019

"Presságio"

            O poema “Presságio” foi escrito por Fernando Pessoa em 24 de abril de 1928, já na fase final da sua vida (13 de junho de 1888 – 30 de novembro de 1935).
            O tema da composição poética é o amor, mais concretamente a dificuldade em o revelar à pessoa amada (em última análise a impossibilidade de viver um amor correspondido), abordado em cinco quadras de redondilha maior (bem ao gosto popular), com rima cruzada, segundo o esquema rimático ABAB.
            Na primeira quadra, o sujeito poético apresenta o mote do texto, isto é, o tema que vai ser desenvolvido, bem como o seu posicionamento face ao mesmo: quando o sentimento amoroso se revela, quando surge, não sabe como se revelar, como se confessar (note-se a antítese construída em torno da repetição de formas do verbo “revelar” nos dois versos iniciais: “revela” e “revelar”). Recorrendo à personificação, ele representa o amor como uma entidade autónoma, que age independentemente da vontade do sujeito. Assim, sem conseguir controlar aquilo que sente, apenas pode olhar a mulher amada, mas não consegue conversar com ela, não sabe o que dizer.
            Na segunda estrofe, o sujeito poético reforça a incapacidade de expressar devidamente o seu amor, parecendo acreditar que o sentimento não pode ser traduzido por palavras, pelo menos por ele: “Quem quer dizer o que sente / Não sabe o que há de dizer.”. O «eu» é um inadequado relativamente ao «outro» e tem dificuldade em comunicar com ele, a qual resulta na sensação de que está sempre fazendo algo de errado.
            A observação e a opinião dos outros restringem os seus sentimentos. O sujeito acredita que, se falar sobre eles, vai parecer que mente, mas, se os calar, vai ser julgado por deixar (a amada? O amor?) cair no esquecimento. Assim sendo, sente que não pode agir de nenhum modo.
            Na terceira estrofe, o sujeito lírico, triste e desalentado, lamenta-se e, socorrendo-se do pretérito imperfeito do conjuntivo (modo verbal do desejo) e de uma oração subordinada adverbial condicional, manifesta um desejo: que ela pudesse compreender o amor que sente através do olhar. Atente-se na sinestesia dos versos 9 e 10 (“Ah, mas se ela adivinhasse, / Se pudesse ouvir o olhar”), que exprime a crença do sujeito, segundo a qual o modo como olha a amada denuncia mais o seu sentimento do que qualquer declaração. O «eu» suspira (“Ah”), imaginando como seria se ela percebesse, sem que ele tivesse de dizer por palavras. Porém, a presença do conjuntivo (“adivinhasse”, “pudesse”) e da oração condicional nega desde logo a possibilidade de se concretizar essa vontade.
            Na estrofe seguinte, defende que “quem sente muito, cala”, ou seja, aqueles que estão realmente apaixonados calam o seu sentimento. Para ele, quem tenta expressar o seu amor “fica sem alma nem fala”, “fica só, inteiramente”. Falar do que sente irá sempre levá-lo ao vazio e à solidão absoluta. Assim, é como se assumir um amor fosse, automaticamente, uma sentença de morte para o sentimento, que passaria a estar condenado.
            A última quadra é passível de diferentes leituras:
a) Se o sujeito poético pudesse explicar à mulher a dificuldade que tem em exprimir o seu amor, não mais seria necessário fazê-lo, porque já se estava a declarar, mesmo que indiretamente. Porém, a realidade é que não consegue verbalizar o sentimento nem discutir essa sua inabilidade. Assim sendo, o relacionamento está condenado a não passar do plano platónico.
b) O texto é, na verdade, uma declaração de amor. Neste caso, o «eu» usa a poesia como forma de falar, de mostrar o que sente; o poema diz/fala aquilo que ele não consegue. Porém, para que esta forma de comunicação se concretizasse, seria necessário que ela lesse o poema e soubesse que lhe era dirigido. Como não o lê não sabe, o relacionamento também não se concretiza deste modo.
c) O verdadeiro amor é incomunicável, não pode ser expresso através de palavras, caso contrário desaparece. O sujeito poético conclui que só conseguiria declarar o seu amor, caso o sentimento não existisse mais.
            A conjunção coordenativa adversativa “mas” estabelece uma oposição entre aquilo que tinha sido dito antes e a quadra que encerra o poema. Embora lamente não poder expressar o seu sentimento, está conformado, pois sabe que não pode ser revelado, sob pena de desaparecer.
            Ao longo de todo o poema, transparece a atitude derrotista do sujeito poético face ao amor.



https://www.culturagenial.com/poema-pressagio-de-fernando-pessoa/

Análise de "O Grito", de Edvard Munch

 O Grito é considerado a obra-prima de Edvard Munch, pintor norueguês nascido em Loten, em 12 de dezembro de 1863, e aí falecido em 23 de janeiro de 1944, um dos precursores do Impressionismo e do Expressionismo. Pintado pela primeira vez em 1893 a óleo e pastel sobre cartão, o quadro conheceu quatro versões, três das quais dispersas por museus e outra na posse de um empresário norte-americano, Leon Black, que a comprou por 119,9 milhões de dólares.          
            A pintura situa-nos num cenário natural, constituído por céu, água e arvoredo, representado de forma impressionista, no qual são visíveis três figuras: uma em primeiro plano e as outras duas ao fundo, todas situadas numa ponte, que é o único elemento do cenário caracterizado por linhas direitas, pois todos os restantes elementos estão representados com linhas ondulantes e curvas, criando um efeito de redemoinho, de abismo que tudo engole, nomeadamente as duas embarcações que parecem à deriva. Este movimento, conjugado com as cores, é gerador de tensão e sugere um grito da própria natureza.
            À semelhança do cenário, a figura humana em primeiro plano caracteriza-se por linhas curvas: trata-se de um corpo contorcido, em sofrimento, estado sugerido pelo seu grito e pelas mãos que apertam a cabeça, em atitude de desespero, contrastando com as outras duas figuras, direitas e de costas, que se afastam, acentuando a ideia de solidão e de profundo desespero. O rosto da primeira pessoa é fantasmagórico, os seus olhos estão desmesuradamente abertos, mas, ao mesmo tempo, as cavidades oculares parecem estar vazias, evocando uma caveira, o que torna este rosto uma prefiguração da morte. Em suma, este ser grita em uníssono com a natureza ou porque não quer ouvir o grito dela, dado que as mãos na cabeça podem indiciar o seu desejo ou recusa de escutar. De facto, cada vez mais surgem interpretações, baseadas nas palavras do próprio Munch, segundo as quais a figura não grita, antes cobre os ouvidos enquanto ouve os gritos da natureza. Mais: segundo Giulia Bartrum, curadora de uma exposição dedicada ao artista no Museu Britânico, a pintura é a reprodução de um pôr do Sol, de um céu vermelho-sangue que gerou nele um efeito de muita ansiedade. Assim sendo, a figura e as mãos nos ouvidos está praticamente em êxtase, a tentar bloquear o grito da natureza. No fundo, o quadro seria uma metáfora para uma emoção muito intensa e muito pessoal.
            Igualmente importantes são os efeitos cromáticos. De facto, as cores do quadro são fortes e vivas, mas simultaneamente soturnas: o amarelo e o vermelho remetem para as nuvens do pôr do Sol, divisando-se ainda réstias de azul; o azul-escuro identifica a água (o mar talvez, ou um lago); enquanto os tons verdes e castanhos assinalam as árvores e a terra. Por outro lado, as cores que caracterizam o céu parecem contaminar todos os outros elementos que ganham tonalidades sangrentas. O elemento cromático assume, assim, um significado simbólico, não sendo somente um reflexo da realidade, até porque esta pintura não pretende constituir a sua representação objetiva.
            Várias curiosidades rodeiam também este quadro. Por exemplo, ele inspirou a saga de filmes Scream, protagonizada pela atriz Neve Campbell, na qual os «serial killers» usam máscaras baseadas na expressão da figura principal da pintura. Além disso, apareceu duas vezes na série Os Simpsons, a primeira na aberta do episódio Treehouse of Horror IV (exibido nos EUA em 1993) e a segunda no episódio See Homer Run, de 2005, no qual foi satirizado o roubo de duas versões da pintura.
            Em suma, segundo as interpretações mais antigas, O Grito constitui a representação de um determinado estado psíquico, expressando um intenso sentimento de desespero e angústia. Neste sentido, a figura em primeiro plano simboliza o ser humano na sua íntima e intrínseca solidão. Pelo contrário, tendo em conta interpretações mais recentes, o quadro representa o êxtase de uma figura perante o «grito da natureza».


terça-feira, 25 de junho de 2019

A escola e o elevador social ou o 54/2018

O SE Costa veio recentemente falar da escola como «elevador social», referindo a este propósito o papel do 54/18, como elemento integrador e que garante oportunidades aos mais desfavorecidos, ao garantir o sucesso a todos os alunos, através das chamadas medidas universais.
Por outro lado, um jornal explicava que «a indisciplina nas salas de aulas está a prejudicar o ensino e é um dos motivos pelos quais cada vez mais pais procuram explicadores para os filhos mais cedo, logo no 1.º Ciclo. A ansiedade e a pressão pelas boas notas justificam que já não se vendam apenas aulas particulares de Matemática, mas também para as línguas, as Ciências e, até, o Português».
Estas duas lógicas são contraditórias, ou o elevador social só funciona com as medidas universais, isto é, adapta a avaliação ao aluno, se o aluno não teve sucesso com o nível normal de exigência, reduz-se o mesmo; ou funciona com mais esforço, com mais repetições, nas explicações.

     Um excelente artigo de opinião [artigo] sobre a falácia que constitui a Educação segundo o governo de António Costa.

     De facto, nele o autor mostra, com facilidade e total clareza, como o 54/2018 aprofunda as desigualdades no setor educativo: os «mais fracos» não saem da cepa torta e os com «mais recursos» singram, ou pelo menos têm muito mais possibilidades de singrar.

     A ler com toda a atenção por parte de todos aqueles de mente aberta e que procuram os dois lados do espelho.

sábado, 22 de junho de 2019

"The Sun Ain't Gonna Shine Anymore", The Walker Brothers


     "The sun ain't gonna shine anymore" surgiu em 1966 pela voz dos The Walker Brothers.

     Scott Walker, o membro mais destacado da banda, faleceu no passado dia 25 de março deste ano, notícia que nos passou despercebida até hoje. Há muitos anos, várias noites de verão eram passadas ouvindo este tema e este grupo. RIP, Scott!

Exames nacionais do ensino secundário - 1.ª fase - 2019

 1.ª FASE  
138  |   Português Língua Segunda   |   18-06-2019
501  |   Alemão   |   26-06-2019
517  |   Francês   |   26-06-2019
547  |   Espanhol   |   26-06-2019
550  |   Inglês   |   26-06-2019
623  |   História A   |   21-06-2019
635  |   Matemática A   |   25-06-2019
639  |   Português   |   18-06-2019
702  |   Biologia e Geologia   |   26-06-2019
706  |   Desenho A   |   26-06-2019
708  |   Geometria Descritiva A   |   27-06-2019
712  |   Economia A   |   27-06-2019
714  |   Filosofia   |   17-06-2019
715  |   Física e Química A   |   19-06-2019
719  |   Geografia A   |   19-06-2019
723  |   História B   |   21-06-2019
724  |   História da Cultura e das Artes   |   21-06-2019
732  |   Latim A   |   18-06-2019
734  |   Literatura Portuguesa   |   27-06-2019
735  |   Matemática B   |   25-06-2019
835  |   Matemática Aplicada às Ciências Sociais   |   25-06-2019
839  |   Português Língua Não Materna - B1   |   18-06-2019

Exames nacionais de 9.º ano - 1.ª Fase - 2019

3.º Ciclo - 9.º Ano de Escolaridade 
1.ª FASE 
91   |   Português   |   21-06-2019
92   |   Matemática    |   27-06-2019 
93   |   Português Língua não Materna - A2   |   18-06-2019 
94   |   Português Língua não Materna - B1   |   18-06-2019 
95   |   Português Língua Segunda   |   21-06-2019

Despacho n.º 5754-A-2019

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Os Lusíadas: Canto V: estâncias 92 a 100

. Contextualização
 
            Depois de escaparem da cilada preparada por Baco em Mombaça, os navegadores portugueses chegam a Melinde, cidade do Quénia, graças ao auxílio de Vénus.
            Aí, são recebidos pelo rei, que pede a Vasco da Gama que lhe fale do seu país e lhe conte a história de Portugal e da viagem que levou os portugueses a paragens tão remotas. Vasco da Gama acede ao pedido e inicia um longo relato, no qual apresenta a pátria e, em analepse, narra a história nacional desde a sua fundação lendária até ao reinado de D. Manuel e descreve os sucessos e insucessos da sua viagem, de Lisboa a Melinde.
            Assim, narra episódios diversos, como o Fogo de Santelmo e a Tromba Marítima, e o enfrentamento de outros obstáculos à partida difíceis de superar por parte dos marinheiros destemidos e ousados, como a hostilidade dos nativos, a fúria de monstros, como o Adamastor, ou a doença e a morte provocadas pelo escorbuto.

 
. Tema da reflexão: a desvalorização da poesia e da cultura pelos portugueses.
 
 
. Acontecimento motivador da reflexão: o fim da narrativa de Vasco da Gama sobre a História de Portugal e a aventura marítima de Lisboa até Melinde.
 

. Análise estância a estância
 
. Estância 92
 
. É agradável (“doce”) 


Continuação da análise: aqui.

terça-feira, 18 de junho de 2019

Calendário escolar 2019-2020



Correção do exame nacional de Português - 12.º ano - 2019 - 1.ª fase

Grupo I

Parte A


1. Caracterização do espaço:
  • ilhas do sul com paisagens belas e irreais ["Onde há paisagens que não pode haver. / Tão belas (...) como que o veludo..." - vv. 2-3];
  • espaço associado ao sonho e à imaginação;
  • espaço associado à beleza, à suavidade ("Tão belas que são como que o veludo" - v. 3);
  • espaço acolhedor e aprazível ("o veludo / Do tecido" - vv. 3-4);
  • espaço associado à ilusão do amor ("E o pensamento julga que é amor"- v. 12);
  • espaço visto como promessa da felicidade ("... tudo o que é a vida / Tornado amor e luz..." - vv. 6-7).
2. Os versos 3 e 4 contêm uma comparação entre a beleza das ilhas e o "veludo", nome que sugere a ideia de suavidade que o mundo pode proporcionar ("Do tecido que o mundo pode ser." - v. 4). Os versos associam-se à dicotomia entre o sonho e a realidade (o tema do poema), visto que o sujeito poético imagina as "ilhas lá ao sul", proporcionadoras de beleza, suavidade, mas que são produto do seu sonho, da sua imaginação, e não da realidade.

3. As anáforas sugerem o seguinte:
  • a ideia / consciência de que o espaço ("ilhas lá ao sul") é mero produto do sonho e da imaginação ("o que o sonhar / Dá à imaginação..." - vv. 7-8);
  • a consciência de que o espaço descrito sugere o amor, a felicidade, a tranquilidade e harmonia, mas, enquanto fruto do sonho, é impossível de alcançar ("Sei, sim, é belo, é longe, é impossível..." - v. 13);
  • a consciência de que o sonho é distinto da realidade (vv. 17-18), mas característico do ser humano.


Parte B

4. O padre Vieira elogia os peixes por não confiarem nos homens e, por isso, se manterem, prudentemente, afastados dele.
     Por outro lado, esse facto fez com que os peixes conservem a sua liberdade e autonomia, ao contrário do que sucede com os outros animais que vivem próximos do homem, se deixam domesticar e sofrem as consequências dessa atitude.

5. Os exemplos apresentados por Vieira sustentam o conselho dado aos peixes para que se mantenham, prudentemente, afastados do ser humano e, assim, conservem a sua liberdade. Por contraste, esses exemplos sugerem que os outros animais, porque vivem próximos dele e se deixam subjugar, perdem a sua liberdade e são explorados.

6. Um dos objetivos da oratória é delectare, ou seja, agradar ao auditório; para o alcançar, nas linhas 14 a 21, entre outros processos, Vieira socorre-se de uma construção na qual existe uma estrutura paralelística ou simétrica (1) que contribui para uma evidente musicalidade (4) do discurso.



Parte C

Visão crítica sobre o tempo histórico representado e a sociedade desse tempo:

Obra
Crítica
Memorial do Convento
. a megalomania, a ostentação e a sumptuosidade associadas a D. João V, traços visíveis na importação de materiais e objetos valiosos/caros do estrangeiro e na ampliação do convento de Mafra;
. a prepotência, o poder absoluto e discricionário do rei, patentes no recrutamento à força de trabalhadores para as obras do convento em todo o reino e na sua vida precária e miserável em Mafra como autênticos escravos;
. a prática religiosa caracterizada pelo fanatismo, primitivismo e barbarismo;
. a violência, a crueldade e a opressão exercidas pela Inquisição, visíveis nos autos de fé;
. o contraste entre as classes sociais: por exemplo, entre a riqueza, o luxo, a opulência do rei e do alto clero e a pobreza, a miséria em que vive o povo.
O Ano da Morte de Ricardo Reis
. a opressão que caracteriza o Estado Novo, patente na forma como a PIDE oprime e controla o povo e na ação dos delatores;
. o controle e a manipulação da informação transmitida pelos meios de comunicação social, de que é exemplo a informação/o noticiário sobre a guerra na Europa;
. a propaganda política em favor do regime político, de que é exemplo a forma como a figura de Salazar é elogiada e apresentada como um modelo a seguir por outros países e como o salvador de Portugal;
. o poder opressor do Estado Novo, visível no modo como são reprimidas as manifestações de revolta, cujo exemplo mais eloquente está presente na atuação dos marinheiros.



Grupo II
    Versão 1     Versão 2

1. D                    C

2. B                    A

3. C                    B

4. C                    D

5. D                    B

6.
a) Complemento do nome.
b) Complemento direto.

7. Modalidade deôntica, valor de obrigação.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

O regresso do «eduquês»

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

O regresso do «eduquês»

  • Luís Filipe Torgal
440
20

O ardiloso engenho curricular "Autonomia e Flexibilidade Escolar" tornou a escola num processo kafkiano e numa Torre de Babel onde ninguém se entende, com instrumentos opacos, absurdos e inexequíveis.
O Governo e os seus leais funcionários do Ministério da Educação, pressionados pelas organizações internacionais e por uma nebulosa ideologia igualitarista escorada em pretextos economicistas, decidiram declarar guerra ao insucesso escolar. Para isso, criaram um novo «eduquês» que apelidaram de autonomia e flexibilidade escolar dos ensinos básico e secundário — designação desvendada num pacote prolixo de diplomas mais ou menos herméticos plagiados de documentos curriculares provenientes de meia dúzia de países mais ilustrados e prósperos do que Portugal e inspirados nas filosofias da Escola Moderna.
A Escola Moderna não é invenção nova, pois remonta ao início do século XX. Foi uma notável filosofia educativa teorizada por diversos pedagogos e bafejada por ideologias anarquistas e socialistas. Ajudou a combater o ensino elitista, magistral, teórico, confessional, misógino, empedernido e repressivo de outros tempos. Abraçou extraordinários desígnios humanistas já incorporados nos sistemas educativos contemporâneos. Mas também conceções controversas, românticas e lunáticas. Por exemplo, José Pacheco, missionário nacional da Escola Moderna e criador da Escola da Ponte, a qual, entretanto, deixou para pregar a sua boa nova no Brasil, defende, nutrido de certezas, uma escola sem divisão de ciclos de ensino, sem turmas, nem aulas, sem horários, nem testes, sem exames, nem reprovações, onde os alunos brincam a aprender e são felizes. Os políticos que nos governam ainda não arriscaram promulgar este modo final da história da educação.
O resto do artigo pode ser lido aqui [artigo].

"Não sei se é sonho, se realidade"

            A composição poética, composta por quatro sextilhas de rima cruzada nos primeiros quatro versos e emparelhada nos dois últimos (ABABCC) e versos eneassílabos, aborda a temática da dicotomia entre o sonho e a realidade. Esta temática é consentânea com o conceito de arte que caracteriza o Modernismo, enquanto experimentação para recriar a vida, criando uma realidade nova.

 
            O assunto consiste na constatação, por parte do sujeito poético, de que a felicidade está presente no interior de cada um e não na nostalgia de um passado que se desvanece.

 
            O poema pode dividir-se em três partes.

            A primeira corresponde às duas primeiras estrofes, nas quais o sujeito poético, cheio de esperança, sugere a possibilidade (advérbio “talvez”) de alcançar a felicidade através do sonho, como se pode comprovar através das expressões que o caracterizam: “terra de suavidade” (v. 3), “ilha extrema do sul” (v. 4), “palmares” (v. 7). De facto, o sujeito poético imagina (sonha) uma ilha distante, serena e agradável (“suavidade”), repleta de árvores (como palmeiras), onde a felicidade, a juventude e o amor são possíveis. A antítese do verso 1 (“Não sei se é sonho, se realidade”) sugere a incapacidade de distinguir o sonho da realidade e exprime a oposição entre os dois elementos, entre o mundo imaginado e o mundo real. O «eu» procura a felicidade, recorrendo ao sonho como fuga à realidade.

            Este lugar é um misto de sonho e vida (v. 2), um espaço longínquo, exótico e indefinido, separado do mundo real, que acarreta sossego e calma, serenidade, juventude e alegria/sorriso, e representa a felicidade absoluta, tudo nele se opondo à realidade e ao quotidiano. De facto, aparentemente, esse espaço constitui a materialização do paraíso perdido que proporciona a felicidade e o amor, como se pode constatar pelas metáforas/imagens exóticas de “palmares” e “áleas longínquas”.

            Esta ideia é reforçada nos dois versos finais da primeira estrofe, os quais enfatizam a ideia de que é possível que exista uma ilha, situada entre o sonho e a realidade, na qual reina a felicidade. O adjetivo “jovem” e a forma verbal “sorri” associam-se à musicalidade sugerida pela repetição do advérbio locativo “ali”, reforçando as características paradisíacas e de exceção daquele espaço. A personificação do verso 6 (“A vida é jovem e o amor sorri.”) enfatiza o caráter idílico da ilha do sul, onde há juventude eterna e o amor acontece, contrariando a solidão, ilha essa esquecida entre o sonho e a realidade, na qual reina a felicidade. Em suma, a ilha simboliza o sonho, a felicidade, o paraíso desejado: terra de suavidade, com palmares, áleas, sombra e sossego, onde a “vida é jovem e o amor sorri”.

            No entanto, a segunda estrofe parece introduzir uma certa incerteza: será possível efetivamente concretizar o sonho, viver aquela forma de felicidade (atente-se na repetição do advérbio de dúvida “talvez”, que sugere essa mesma incerteza). Além de incerto, o ideal procurado afirma-se já como ilusório, ideia sugerida pelas metáforas “palmares inexistentes” (v. 7) e “Áleas longínquas sem poder ser” (v. 8) e confirmado pela interrogação do verso 11: “Felizes, nós?”. Estas duas metáforas e a do verso 4 (“ilha extrema do sul”), por um lado, simbolizam o sonho em busca da felicidade desejada, mas inacessível e, por outro, recriam o espaço de utopia, “a terra de suavidade”, produto da idealização.

            Nas duas primeiras estrofes, nota-se a alternância entre o uso da 1.ª pessoa do singular (“Não sei”), traduzindo a reflexão pessoal do sujeito poético, e do plural (“ansiamos”), que generaliza a reflexão a todos aqueles que sonham, incluindo o próprio sujeito poético.

            A terceira estrofe constitui o segundo momento do texto, que traduz o desalento provocado pela consciência da impossibilidade de alcançar a felicidade no sonho. A conjunção coordenativa adversativa “mas” que a inicia, que tem um valor de oposição ou contraste, contraria a noção de felicidade absoluta sugerida inicialmente, desfazendo a dúvida entretanto introduzida, o que deixa o sujeito poético desiludido, desanimado e desalentado ao constatar que é impossível vivenciar a felicidade no sonho, por causa do caráter efémero do bem (“não dura o bem” – v. 18), como consequência do pensamento. Assim, a incerteza que se foi instalando na segunda estrofe dá lugar à certeza da imperfeição que caracteriza aquele lugar idealizado pelo “eu” e a sua desilusão fica bem evidente com o recurso à interjeição do verso 17: “Ah”. De facto, “Sob os palmares” (v. 15) “Sente-se o frio” (v. 16).

            Por outro lado, o primeiro verso da terceira estrofe confirma que o sonho não é realizável, pois, assim que fosse concretizado, deixava de o ser, logo a concretização é falsa: “Mas já sonhada se desvirtua” – v. 13). Desiludido, o sujeito poético reconhece que o local também é marcado pelo “frio” e pelo mal, que não é um lugar perfeito. Atente-se na antítese “O mal não cessa, não dura o bem” (v. 18). O facto de pensar na ilha destrói o seu caráter idílico, pois o “mal” é permanente, não cessa, e o “bem” é efémero.

            A terceira parte compreende à quarta estrofe e nela encontramos as conclusões do sujeito poético, que veiculam uma ideia oposta à inicial: afinal, não é no sonho que podemos encontrar a felicidade, mas no interior, no íntimo de cada um de nós (“É em nós que é tudo” – v. 23). Deste modo, a felicidade deixa de fazer sentido num lugar exterior ao indivíduo ou na ilusão do sonho (enquanto fuga à realidade) para poder ser materializada no interior do ser humano. Só a nossa ação nos permitirá ser felizes.

            As metáforas dos versos 19 e 20 (“Não é com ilhas do fim do mundo, / Nem com palmares de sonho ou não”), associando a ilha ao sonho, dado que os locais exóticos são considerados espaços de evasão, de fuga à realidade, sugerem precisamente que não é no sonho que encontramos a felicidade: “Que cura a alma seu mal profundo, / Que o bem nos entra no coração” (vv. 21-22). A antítese presente nestes dois últimos versos realça a inoperância do sonho e a imposição do real sobre o imaginário.

            Onde reside então a felicidade? A felicidade está no íntimo de cada ser humano, está dentro de nós mesmos, não em sonhos distantes: “É em nós que é tudo.” (v. 23). Note-se que esta ideia remete para a procura de si mesmo. “É ali, ali, / Que a vida é jovem e o amor sorri.” (vv. 23-24): o sujeito poético começou por colocar a hipótese de encontrar o sonho e a felicidade na “ilha”; depois anulou essa possibilidade, considerando que, uma vez atingido, o sonho deixa de o ser (verso 13); por último, na derradeira estrofe, conclui que aquilo que procuramos se encontra em nós, no interior de cada pessoa, e no nosso mundo e não no sonho. Note-se a presença insistente do advérbio com valor locativo «ali» que, no verso 3, se refere à “terra de suavidade”, no 4, à “ilha extrema do sul”, e, na última estrofe, ao “nós”. Ou será que o poema apresenta uma estrutura circular e, no final, regressa ao ponto de partida e ao sonho?

            Para atingir o absoluto, a plenitude, o ser humano necessita de ultrapassar as suas próprias limitações, as quais geram o mal-estar, “assumindo a tensão produzida pelas contingências da vida. A dicotomia sonho-realidade é representada por dois mundos cujas fronteiras às vezes se tocam e o ser humano, na sua busca contínua pela felicidade absoluta, tem tendência a divagar entre os dois, oscilando entre as vivências vividas e as vivências sonhadas.”

 
(Resumos Clássicos, Conceição Coelho e Maria de Fátima Santos)
 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...