Português: 20/12/19

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Rainha Mab

No Ato I, cena IV, Mercúcio faz um discurso deslumbrante sobre a fada rainha Mab, que cavalga a noite toda na sua pequena carroça, trazendo sonhos a quem dorme. Um dos aspetos mais dignos de nota do passeio da rainha Mab é que os sonhos que ela traz geralmente não destacam os melhores lados dos sonhadores, mas servem para confirmar quaisquer dos seus vícios – por exemplo, ganância, violência ou luxúria. Outro aspeto importante da descrição de Mercúcio da rainha Mab é que ela é um absurdo completo, embora vívido e altamente colorido. Ninguém acredita numa fada atraída por "um mosquito revestido de cinza" chicoteado com um osso de críquete. Por fim, vale a pena notar que a descrição de Mab e da sua carruagem é extravagante para enfatizar o quão pequena e insubstancial ela e os seus apetrechos são. A rainha Mab e a sua carruagem não apenas simbolizam os sonhos dos que dormem, mas também simbolizam o poder de despertar fantasias, devaneios e desejos. Através das imagens da rainha Mab, Mercúcio sugere que todos os desejos e fantasias são tão absurdos e frágeis quanto Mab, e que eles estão basicamente corrompendo. Esse ponto de vista contrasta fortemente com o de Romeu e Julieta, que veem seu amor como real e enobrecedor.

Morder o polegar

No Ato I, cena I, o bufão Sansão começa uma rixa entre Montecchios e Capuletos passando a unha do polegar por trás dos dentes superiores, um gesto insultuoso conhecido como morder o polegar. Ele envolve-se nessa exibição juvenil e vulgar porque quer brigar com os Montecchios, mas não quer ser acusado de começar a luta por fazer um insulto explícito. Por causa da sua timidez, ele prefere ser mais irritante do que desafiador. O ato de morder o polegar, como um gesto essencialmente sem sentido, representa a tolice de toda a disputa entre Capuleto / Montecchio e a estupidez da violência em geral.

O veneno

Na sua primeira aparição, no Ato II, cena II, Frei Lourenço observa que qualquer planta, erva e pedra tem as suas próprias propriedades especiais e que nada existe na natureza que não possa ser usado tanto para o bem quanto para o mal. Assim, o veneno não é intrinsecamente mau, mas é uma substância natural tornada letal pelas mãos humanas. As palavras do frade provam ser verdadeiras ao longo da peça. A poção para dormir que ele dá a Julieta é inventada para causar a ilusão da morte, não a própria morte, mas através de circunstâncias fora do controle do frade, a poção produz um resultado fatal: o suicídio de Romeu. Como este exemplo mostra, os seres humanos tendem a causar a morte, mesmo sem intenção. Da mesma forma, Romeu sugere que a sociedade é responsável pela venda criminosa de veneno pelo farmacêutico, porque, embora existam leis que o proíbem de o vender, não existem leis que ajudem o farmacêutico a ganhar dinheiro. O veneno simboliza a tendência da sociedade humana de envenenar coisas boas e torná-las fatais, assim como a rixa inútil Capuleto-Montecchio transforma o amor de Romeu e Julieta em envenenamento. Afinal, ao contrário de muitas outras tragédias, essa peça não possui um vilão maligno, mas sim pessoas cujas boas qualidades se transformam em veneno por causa do mundo em que vivem.

A juventude em Romeu e Julieta

Romeu e Julieta são ambos muito jovens, e Shakespeare usa os dois amantes para destacar o tema da juventude de várias maneiras. Romeu, por exemplo, está intimamente ligado aos jovens com quem anda pelas ruas de Verona. Esses jovens são de temperamento brusco e rápidos a recorrer à violência, e as suas rivalidades com grupos opostos de rapazes indicam um fenómeno não muito diferente da cultura moderna de gangues (embora lembremos que Romeu e os seus amigos também são a elite privilegiada da cidade). Além dessa associação com gangues de jovens, Shakespeare também descreve Romeu como um tanto imaturo. O discurso do jovem sobre Rosalina na primeira cena da peça está cheio de frases cliché da poesia do amor, e Benvólio e Mercúcio revezam-se na zombaria dele por isso. Eles também zombam de Romeu por estarem tão desligados de uma mulher. Benvólio em particular implica que a seriedade de Romeu o impede de agir com a idade. Ele ainda é jovem e, portanto, deve apressar-se e explorar relações com outras mulheres.
Embora nunca aprendamos a idade exata de Romeu, sabemos que Julieta tem treze anos. A idade dela aparece no início da peça, durante conversas sobre se é jovem demais ou não para se casar. A mãe insiste que ela alcançou uma "idade bonita", mas o pai descreve-a como "ainda uma estranha no mundo" e, portanto, ainda não está pronta para se casar. Embora Julieta não se queira casar com Páris, ela certamente acredita ter idade suficiente para se casar. Na verdade, anseia pelo casamento e pela experiência sexual, e costuma usar uma linguagem explicitamente erótica que indica uma maturidade além da idade que possui. No entanto, apesar dessa aparente maturidade, Julieta também reconhece tacitamente a sua própria juventude. Quando anseia pela sua noite de núpcias, por exemplo, compara-se a "uma criança impaciente", lembrando à plateia que, de facto, é isso que ela é. Tais reconhecimentos da juventude dos amantes servem para ampliar a tragédia da sua morte prematura. De facto, um dos aspetos mais tristes da peça é que os amantes morrem tão jovens, interrompendo as suas vidas (e o seu relacionamento) tão tragicamente breves.
Capuleto começa a peça negando o pedido de Páris para se casar com Julieta, alegando que ela é muito jovem. De facto, a filha tem treze anos, mas a palavra "treze" nunca aparece em Romeu e Julieta. Em vez disso, dizem-nos repetidamente que ela ainda não tem catorze anos. O facto de o pai estar ansioso por um aniversário que ela nunca alcançará enfatiza que a vida de Julieta é muito curta. A sua descrição como "uma estranha no mundo" por parte de Capuleto apresenta-nos um aspeto importante da sua personagem. O pai dela quer dizer que ela é inexperiente, o que, de facto, é, mas Julieta também é uma “estranha no mundo” porque prefere a experiência transcendente que compartilha com Romeu aos compromissos e à praticidade da vida quotidiana, mesmo na medida em que escolhe morrer, ao invés de viver num mundo sem Romeu.
A Enfermeira lembra que a sua própria filha, Susana, tinha a mesma idade de Julieta, pois ela lembra-nos que a jovem Capuleto ainda não tinha catorze anos. Susana morreu quando bebé, e a dor da enfermeira prenuncia a dor que Capuleto e Lady Capuleto sentirão no final da peça, quando também perderem a sua filha. A enfermeira identifica o aniversário de Julieta como a véspera de «Lammas», que se comemora no início de agosto, e sabemos que a peça acontece no verão. Então Juliet está a um ou dois meses do seu aniversário. Isto cria uma ironia dramática: a enfermeira e os Capuletos estão à espera do décimo quarto aniversário de Julieta, enquanto o público está à espera da sua morte.
Mais à frente, mostra-se impaciente pela sua noite de núpcias. Ao comparar-se a uma criança, Julieta lembra-nos que ela mesma é quase uma criança. A sua metáfora também aponta para um aspeto importante da personagem de Julieta. Ao longo da peça, ela está impaciente para crescer. Assim que encontra Romeu, quer casar-se com ele. Ela casa-se, apesar de o pai pensar que é pelo menos dois anos mais nova. e dificilmente pode conter a sua impaciência na noite de núpcias. Para o público, a pressa de Julieta em crescer é trágica, porque sabemos que ela morrerá apenas alguns dias após o casamento.

Traduzido de SparkNotes

A violência em Romeu e Julieta

Devido à contínua disputa entre os Capuletos e os Montecchios, a violência permeia o mundo de Romeu e Julieta. Shakespeare demonstra como a violência intrínseca é o ambiente da peça na primeira cena. Sansão e Gregório abrem a peça fazendo piadas sobre a prática de atos violentos contra membros da família Montecchio. E quando o servo de lorde Montecchio, Abraão, aparece, a sua primeira resposta é preparar-se para uma luta. Os temperamentos entre os jovens de Verona são claramente explosivos, como é demonstrado quando Tebaldo vê Romeu no baile de Capuleto e deseja iniciar uma luta. Lorde Capuleto consegue acalmá-lo temporariamente, mas a fúria dele continua a arder até ao final do Ato III, quando tenta provocar um duelo com Romeu, fere fatalmente Mercúcio e acaba morto às mãos de Romeu. Embora trágica, essa mudança de eventos também parece inevitável. Dado que a luta entre as duas famílias continuamente acende a chama do ódio e, assim, mantém uma raiva ardente, essas explosões de violência parecem inevitáveis.
A violência na peça tem uma relação particularmente significativa com o sexo. Isso é verdade num sentido geral, na maneira como a briga lança uma sombra de violência sobre o romance de Romeu e Julieta. Mas também aparece em exemplos mais localizados. Sansão prepara o cenário para esse elo na cena de abertura da peça, quando proclama o seu desejo de atacar os homens de Montecchio e agredir sexualmente as mulheres dessa família. Sexo e violência também são gémeos nos eventos após o casamento de Romeu e Julieta. Esses acontecimentos enquadram o Ato III, que começa com a cena em que Romeu acaba matando Tebaldo e termina com a cena depois que Romeu passa a noite com Julieta, possivelmente consumando seu casamento. Até a linguagem do sexo na peça evoca imagens violentas. Quando, no final do Ato III, Romeu declara: "Deixa-me ser morto", ele está-se a referir à ameaça real de ser morto pelos Capuletos se for encontrado no quarto de Julieta, mas também está a fazer um trocadilho sexual, já que "morte" é uma gíria para o orgasmo.
Como vimos, a ação da peça começa com Sansão gabando-se de que é um homem violento. Quando alguns servos de Montecchio aparecem, ele puxa da espada e pede ao companheiro Gregório que comece uma discussão que possa levar a uma luta. Esta abertura demonstra que Verona é um lugar onde a violência pode explodir por nada. Sansão e Gregório e os seus oponentes têm medo de violar a lei, o que nos lembra que a punição pela luta é tão violenta quanto a própria luta. Desde o início da peça, todos os jovens envolvidos na briga estão presos entre duas ameaças de violência: a violência dos inimigos e a violência do príncipe, que ameaçou executar quem continuasse a luta. Isso ajuda a criar o senso de confinamento da peça.
Mercúcio troça do estilo de luta de Tebaldo. Na época em que Shakespeare escrevia, um novo estilo de esgrima (luta de espadas) havia sido importado da Itália recentemente. Tebaldo luta nesse estilo, o que permite a Shakespeare adicionar um pouco da cor italiana local à sua Verona. Ao mesmo tempo, através de falas de Mercúcio, Shakespeare zomba da nova tendência na Inglaterra. Embora Mercúcio esteja a troçar de Tebaldo, sentimos uma admiração subjacente pela sua capacidade como lutador. Não é uma surpresa quando a personagem é tentada a testar sua própria habilidade contra a de Tebaldo, com resultados fatais.
Mercúcio luta contra Tebaldo e recebe uma ferida fatal. Quando morre, ele continua a conversar com o seu humor cínico habitual. Imagina-se após a sua morte em termos estritamente físicos e pouco românticos: como carne para vermes. Isso marca um ponto de virada no jogo. Até agora, a violência só foi ameaçada e, para as personagens e o público, tem sido mais uma fonte de excitação do que tristeza. Agora, uma das personagens mais atraentes da peça está a morrer. A partir deste momento, a violência da peça será brutal e implacável. Tebaldo morrerá, depois Páris e, finalmente, Romeu e Julieta.

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O sexo em Romeu e Julieta

Os temas amor e sexo estão intimamente ligados em Romeu e Julieta, embora a natureza exata do seu relacionamento permaneça em disputa. Por exemplo, no Ato I, Romeu fala sobre o seu amor frustrado por Rosalina em termos poéticos, como se o amor fosse principalmente uma abstração. No entanto, ele também implica que as coisas não resultaram com Rosalina porque ela preferia permanecer virgem.
Mercúcio retoma essa discussão no Ato II, quando insiste que Romeu confundiu o seu amor por Julieta com um mero desejo sexual. As suas palavras sugerem uma comparação entre Romeu e um bobo da corte procurando um lugar para esconder a sua equipa ou uma pessoa com deficiência mental que procura esconder uma bugiganga. No entanto, o uso de Mercúcio das frases "pendendo para cima e para baixo" e "esconder a sua bugiganga num buraco" também implica fortemente imagens sexuais ("bugiganga" e "buraco" são gírias para pénis e vagina, respetivamente). Portanto, essas palavras sugerem uma terceira comparação entre Romeu e um idiota tateando desajeitadamente uma mulher para fazer sexo.
Enquanto Mercúcio cinicamente confunde amor e sexo, Julieta assume uma posição mais sincera e piedosa. Na opinião dele, em última análise, não existe amor, pois este é redutível ao desejo sexual. Ela, ao contrário, implica que os conceitos são distintos e que existem hierarquicamente num relacionamento, com o amor acima do sexo. Esta visão está de acordo com a doutrina católica, que privilegia a união espiritual do casamento, mas também indica que essa união deve ser consumada legalmente por meio de relações sexuais. O discurso que Julieta faz no Ato III, cena II, demonstra muito bem sua visão da relação adequada entre amor e sexo.
Aqui, as noções de compra e posse designam amor / casamento e sexo, respetivamente. Através do casamento, ela "comprou" o amor de Romeu (e também lhe "vendeu" o seu), mas o momento de posse mútua ainda não ocorreu. Agora que eles são casados, no entanto, Julieta claramente deseja "aproveitar" a consumação. “Dá-me meu Romeu”, diz ela: “E quando eu morrer, / Leve-o e corte-o em estrelinhas”. “Die” era uma gíria elisabetana para o orgasmo, e a imagem de Romeu “cortado em pequenas estrelas” constitui uma referência subtil ao êxtase sexual que ela antecipa.
Logo na primeira cena da obra, Sansão introduz o tema do sexo em termos explicitamente violentos. Ele imagina atacar os homens Montecchio e agredir as mulheres da mesma família: «… por isso as mulheres, que são vasos fracos, se levam sempre à parede; pois arrancarei daí os homens e lançarei para lá as raparigas». O sexo é combinado com a violência em Romeu e Julieta. Até a união sexual dos próprios amantes é obscurecida pela violência entre as suas famílias: na mesma noite em que Romeu consuma o seu casamento com Julieta, ele mata seu primo Tebaldo.
Ainda na cena inicial, Mercúcio mostra-se satisfeito por Romeu estar a trocar piadas com ele, em vez de ficar deprimido por causa do seu amor. Ele rejeita o amor porque o considera uma tolice. A imagem do tolo tentando "esconder a sua bugiganga num buraco" implica relações sexuais. O argumento de Mercúcio é que, na raiz, o amor é realmente apenas desejo sexual. No que lhe diz respeito, todo o desejo romântico de Romeu é apenas "impulsivo" e "deprimente", causado pela frustração sexual. O ponto de vista cínico de Mercúcio desafia o romance idealista dos dois amantes.
Quando Julieta anseia pela sua noite de núpcias, repete a palavra «vem». Ora, essa repetição mostra-nos a força do seu desejo. Não há ambiguidade sobre o que ela deseja. "Die" era uma gíria elisabetana para "orgasmo". A imagem a seguir, de Romeu "cortado ... em estrelinhas", é uma sutil metáfora para o êxtase sexual que Julieta antecipa, como atrás foi referido. Ao mesmo tempo, a imagem sugere brincadeiras de infância, lembrando-nos novamente que Julieta é muito jovem. As palavras "morrer" e "cortar" também têm tons violentos. Nesta peça, sexo e violência nunca estão distantes.

O amor em Romeu e Julieta

Dado que Romeu e Julieta representa uma das histórias de amor mais famosas e duradouras do mundo, parece óbvio que a peça deve destacar o tema do amor. No entanto, tende a concentrar-se mais nas barreiras que obstruem o amor do que no próprio amor. Obviamente, as famílias Capuleto e Montecchio representam o maior obstáculo dos amantes. Mas estes também são seus próprios obstáculos, no sentido de que têm entendimentos divergentes de amor. Romeu, por exemplo, começa a peça falando dele através de clichés gastos que fazem encolher os seus amigos. Embora a linguagem que usa com Julieta mostre palavras mais maduras e originais, ele mantém uma conceção fundamentalmente abstrata de amor. Julieta, por outro lado, tende a permanecer mais firmemente fundamentada nas questões práticas relacionadas com o amor, como casamento e sexo. Esse contraste entre os amantes aparece claramente na famosa cena da varanda. Enquanto Romeu fala de Julieta poeticamente, usando uma metáfora extensa que a compara ao sol, Julieta lamenta as restrições sociais que impedem o casamento.
Outro obstáculo em Romeu e Julieta é o tempo – ou, mais precisamente, o timing. Tudo o que se relaciona com o amor nesta peça move-se muito rapidamente. O tema do amor acelerado aparece pela primeira vez no início da peça, a propósito da questão de saber se Julieta tem idade suficiente para casar. Enquanto Lady Capuleto afirma que Julieta está numa "idade bonita" e, portanto, elegível para o casamento, Lorde Capuleto sustenta que é muito cedo para ela se casar. Quando o pai muda de ideias mais tarde na peça, ele acelera o cronograma do casamento de Julieta com Páris. Forçada a agir rapidamente em resposta, a jovem finge a sua própria morte. Tudo sobre o relacionamento de Romeu e Julieta está também acelerado. Eles não apenas se apaixonam à primeira vista, como também se casam no dia seguinte. A pressa dos amantes pode levantar questões sobre a legitimidade do seu afeto um pelo outro. Realmente, amam-se ou condenaram-se por mero desejo sexual? O tema do amor acelerado retorna no final da peça, quando Romeu chega ao túmulo de Julieta, acreditando ser tarde demais. De fato, ele chega muito cedo, pouco antes de ela acordar. O seu mau timing resulta em ambas as mortes.

O destino em Romeu e Julieta

No seu primeiro discurso à plateia, o Coro afirma que Romeu e Julieta estão marcados pelo destino. Essa noção de destino permeia a peça, e não apenas para o público. As personagens também sabem disso: Romeu e Julieta veem constantemente presságios. Quando ele acredita que Julieta está morta, grita: "Então eu vos desafio, estrelas", completando a ideia de que o amor entre ambos está em oposição aos decretos do destino. É claro que o próprio desafio de Romeu o coloca nas mãos do destino, e a sua determinação de passar a eternidade com Julieta resulta na sua morte. O mecanismo do destino funciona em todos os eventos que envolvem os amantes: a disputa entre as suas famílias (vale a pena notar que esse ódio nunca é explicado; antes, o leitor deve aceitá-lo como um aspeto inegável do mundo da peça); a horrível série de acidentes que arruínam os planos aparentemente bem-intencionados de Frei Lourenço no final da peça; e o momento trágico do suicídio de Romeu e do despertar de Julieta. Esses eventos não são meras coincidências, mas manifestações do destino que ajudam a provocar o resultado inevitável da morte dos jovens amantes.
O conceito de destino descrito acima é a interpretação mais comummente aceite. Há outras leituras possíveis do destino na peça: como uma força determinada pelas poderosas instituições sociais que influenciam as escolhas de Romeu e Julieta, bem como o destino como uma força que emerge das próprias personalidades dos protagonistas.
Na primeira fala do Coro, é-nos dito que Romeu e Julieta morrerão e que o seu fim trágico está predestinado. A edição original, em inglês, contém a expressão «star-crossed». No tempo de Shakespeare, tal como nos nossos dias, algumas pessoas acreditavam que o curso da sua vida era determinado pelo movimento e posição das estrelas. Por outro lado, os seus nascimentos e mortes são descritos na mesma frase curta, que novamente sugere que as suas mortes foram fadadas a partir do momento em que nasceram.
Antes de ir para o baile de máscaras onde encontrará Julieta, Romeu tem a sensação de que as consequências de sua decisão de ir serão "amargas". Ele suspeita que esse seja o seu destino e o seu uso da palavra “estrela” lembra o público que está marcado pelo destino. O medo de Romeu de que chegue ao baile "muito cedo" aponta para um tema importante da peça. Quase todos os eventos acontecem cedo demais. Tebaldo encontra Romeu muito cedo, antes que as notícias do casamento sejam anunciadas. O casamento de Julieta com Páris é decidido muito cedo, antes que Romeu possa voltar do exílio. Os amantes morrem muito jovens.

O indivíduo versus a sociedade em Romeu e Julieta

Grande parte de Romeu e Julieta envolve as lutas dos amantes contra instituições públicas e sociais que se opõem explícita ou implicitamente à existência do seu amor. Tais estruturas variam do concreto ao abstrato: famílias e a colocação do poder familiar no pai; lei e o desejo de ordem pública; religião; e a importância social colocada na honra masculina. Essas instituições frequentemente entram em conflito entre si. A importância da honra, por exemplo, resulta repetidamente em lutas que perturbam a paz pública.
Embora nem sempre trabalhem em conjunto, cada uma dessas instituições da sociedade apresenta de alguma forma obstáculos a Romeu e Julieta. A inimizade entre as suas famílias e a ênfase dada à lealdade e honra aos parentes combinam-se para criar um conflito profundo para os protagonistas, que devem rebelar-se contra os seus parentes. Além disso, a estrutura de poder patriarcal inerente às famílias renascentistas, em que o pai controla a ação de todos os outros membros da família, principalmente as mulheres, coloca Julieta numa posição extremamente vulnerável. O coração dela, na mente da família, não é dela. A lei e a ênfase na civilidade social exigem termos de conduta com os quais a paixão cega do amor não pode cumprir. Da mesma forma, a religião exige prioridades que Romeu e Julieta não podem cumprir por causa da intensidade do seu amor. Embora na maioria das situações os amantes defendam as tradições do cristianismo (eles esperam casar-se antes de consumar o seu amor), esse amor é tão poderoso que eles começam a pensar um no outro em termos blasfemos. Por exemplo, Julieta chama Romeu de "o deus da minha idolatria", elevando-o ao nível de Deus. O ato final de suicídio do casal também é não cristão. A manutenção da honra masculina força Romeu a praticar ações que ele prefere evitar. Mas a ênfase social colocada na honra masculina é tão profunda que não pode simplesmente ignorá-los.
É possível ver Romeu e Julieta como uma batalha entre as responsabilidades e ações exigidas pelas instituições sociais e aquelas exigidas pelos desejos particulares do indivíduo. A apreciação da noite por Romeu e Julieta, com as suas trevas e privacidade, e a renúncia aos seus nomes, com a consequente perda de obrigação, fazem sentido no contexto de indivíduos que desejam escapar ao mundo público. Mas os amantes não podem impedir que a noite se torne dia. E Romeu não pode deixar de ser um Montecchio simplesmente porque quer; o resto do mundo não o deixará. O suicídio dos amantes pode ser entendido como a noite definitiva, a privacidade definitiva.


Traduzido de SparkNotes

O amor como causa de violência

Os temas da morte e da violência permeiam Romeu e Julieta, e estão sempre conectados à paixão, seja ela amor ou ódio. A conexão entre ódio, violência e morte parece óbvia. Mas a conexão entre amor e violência requer uma investigação mais aprofundada.
O amor, em Romeu e Julieta, é uma grande paixão e, como tal, é ofuscante; pode sobrecarregar uma pessoa tão poderosa e completamente quanto o ódio. O amor apaixonado entre Romeu e Julieta está ligado desde o seu início com a morte: Tebaldo percebe que Romeu penetrou no banquete e decide matá-lo, assim como Romeu vê Julieta e se apaixona instantaneamente por ela. A partir daí, o amor parece levar os amantes para mais perto do amor e da violência, não para mais longe disso. Os protagonistas são atormentados por pensamentos suicidas e vontade de o experimentar: no Ato III, cena III, Romeu brande uma faca na cela de Frei Lourenço e ameaça matar-se depois de ele ser banido de Verona e do seu amor. Julieta também puxa de uma faca para tirar a própria vida na presença de Frei Lourenço apenas três cenas depois. Depois de Capuleto decidir que Julieta se casará com Páris, ela diz: "Se tudo mais falhar, tenho poder para morrer". Finalmente, cada um imagina que o outro parece morto na manhã seguinte à sua primeira e única experiência sexual ("Acho que eu te vejo", diz Julieta, "... como um morto no fundo de uma tumba"). Este tema continua até à sua inevitável conclusão: duplo suicídio. Essa trágica escolha é a maior e mais poderosa expressão de amor que Romeu e Julieta podem fazer. Somente através da morte é que eles podem preservar o seu amor, e este é tão grande e profundo que eles estão dispostos a acabar com as suas vidas em defesa dele. Na peça, o amor surge como uma coisa amoral, levando tanto à destruição quanto à felicidade. Mas, na sua extrema paixão, o amor que Romeu e Julieta experimentam também parece tão requintadamente bonito que poucos gostariam, ou seriam capazes de resistir ao seu poder.

A força do amor em Romeu e Julieta

Romeu e Julieta é a história de amor mais famosa da tradição literária inglesa. O amor é naturalmente o tema dominante e mais importante da peça, que se concentra no amor romântico, especificamente na intensa paixão que surge à primeira vista entre Romeu e Julieta. Na obra, o amor é uma força violenta, extática e dominadora que substitui todos os outros valores, lealdades e emoções. No decorrer da peça, os jovens amantes são levados a desafiar todo o seu mundo social: famílias; amigos (Romeu abandona Mercúcio e Benvólio após o banquete para ir ao jardim de Julieta); e governantes (Romeu retorna a Verona por causa de Julieta depois de ter sido exilado pelo príncipe sob pena de morte). O amor é o tema predominante da peça, mas o leitor deve sempre lembrar-se de que Shakespeare não se interessa por retratar uma versão e delicada da emoção, do tipo que escrevem os maus poetas e cuja má poesia Romeu lê enquanto suspira por Rosalina. O amor em Romeu e Julieta é uma emoção brutal e poderosa que captura indivíduos e os catapulta contra o seu mundo e, às vezes, contra si mesmos.
A natureza poderosa do amor pode ser vista da maneira como é descrita, ou, mais precisamente, da maneira como as descrições dele consistentemente falham em capturar a sua totalidade. Às vezes, o amor é descrito nos termos da religião, como nas catorze linhas em que Romeu e Julieta se encontram pela primeira vez. Noutros, é descrito como uma espécie de magia: "Igualmente enfeitiçado pelo charme da aparência". Julieta talvez descreva com mais perfeição o seu amor por Romeu, recusando-se a descrevê-lo: “Mas meu verdadeiro amor cresce tanto que não posso resumir parte da metade da minha riqueza. O amor, por outras palavras, resiste a qualquer metáfora porque é muito poderoso para ser contido ou compreendido com tanta facilidade.
A peça não faz nenhuma declaração moral específica sobre as relações entre amor e sociedade, religião e família; em vez disso, retrata o caos e a paixão de estar apaixonado, combinando imagens de amor, violência, morte, religião e família numa corrida impressionista que leva à conclusão trágica da peça.
Romeu começa a peça apaixonada por Rosalina, mas a sua linguagem nas cenas iniciais mostra que o seu primeiro amor é menos maduro do que o amor que ele desenvolverá por Julieta. O seu discurso (Ato I, cena I) combina duas ideias que já eram clichés nos dias de Shakespeare: "o amor é cego" e "o amor encontrará um caminho". As expressões cliché e as rimas óbvias que Romeu usa para expressar seu amor por Rosalina teriam sido ridículas para um público contemporâneo, e Benvólio e Mercúcio troçam delas.
Na cena V do Ato I, Julieta refere que o seu único amor nasceu do seu único ódio depois de saber que Romeu é um Montecchio. A linguagem de Romeu e Julieta insiste que os opostos nunca podem ser totalmente separados: os amantes nunca poderão esquecer que eles também são inimigos. Significativamente, Julieta culpa-se por ter visto Romeu "muito cedo". Tudo nesta peça acontece muito cedo: aprendemos o que acontecerá no final nas linhas de abertura, Julieta casa-se muito cedo e Romeu mata-se momentos antes de Julieta acordar. Na peça, o amor é uma força que pode – e faz – mover-se muito rápido.
Na cena II do Ato II, Julieta quer saber como Romeu entrou no jardim murado da casa dos Capuletos, ao que ele responde que o verdadeiro amor é uma força libertadora. O sentimento amoroso dá-lhe não apenas asas, mas "asas leves" e o poder de superar todos os "limites pedregosos". Romeu responde à pergunta séria e prática de Julieta com um voo de fantasia romântica. Ao longo da peça, Julieta mostra-se mais conectada ao mundo real que Romeu. Para ela, a liberdade que o amor traz é a liberdade de sair da casa dos pais e fazer sexo.
Ainda nessa cena, Julieta descreve os seus sentimentos por Romeu. Como ele, ela experimenta o amor como uma espécie de liberdade: o seu amor é "ilimitado" e "infinito". A sua experiência de amor é mais abertamente erótica que a de Romeu: as suas imagens têm tons sexuais. Julieta está sempre mais em contacto com os aspetos práticos do amor – sexo e casamento – do que Romeu, que é menos realista. Romeu baseia-se nas imagens convencionais da poesia de amor elisabetana, enquanto a linguagem de Julieta é original e marcante, o que reflete a sua inexperiência e a faz parecer muito sincera.


Traduzido de SparkNotes

Seinfeld: Temporada 02 - Episódio 10

Espaço e Tempo de Romeu e Julieta

A ação da peça decorre na cidade italiana de Verona.
Verona é uma cidade no nordeste da Itália. Na vida de Shakespeare, fazia parte da República de Veneza, mas até 1405 era uma cidade-estado independente. A Verona de Romeu e Julieta parece ser independente e com o seu próprio príncipe, que autoriza e aplica as leis locais. Parece, portanto, provável que a peça ocorra em algum momento do século XIV, ou talvez no século XV, em plena renascença italiana. Curiosamente, o público da época de Shakespeare já associaria a cidade de Verona a um casal de jovens amantes malfadados chamados Romeo Montecchi e Giulietta Cappelletti. Estes são os protagonistas de uma história de 1530 do escritor italiano Luigi da Porto, sobre dois amantes de veroneses apanhados em ambos os lados de uma disputa familiar. Na década de 1560, Arthur Brooke traduziu para inglês uma história popular de Porto, e a tradução rapidamente teve várias edições. Assim, quando Shakespeare adaptou a história popular para o palco, Verona já seria bem conhecida na Inglaterra como um local de tragédia. Por outro lado, Shakespeare costumava localizar as suas comédias na Itália, e a peça, no início, parece trilhar o caminho da comédia.
Mesmo que o público de Shakespeare não estivesse familiarizado com a história de Porto dos amantes de Verona, o cenário italiano de Romeu e Julieta teria sinalizado que se trata de uma peça sobre paixões extremas. Nos dias de Shakespeare, muitas pessoas compartilhavam a crença popular de que climas quentes induziam comportamentos apaixonados. Benvólio, por exemplo, preocupa-se em encontrar os Capuletos porque "Por enquanto, nestes dias quentes, o sangue está agitado". Mas a Itália estava particularmente associada à paixão romântica, facto a que Shakespeare faz alusão quando Mercúcio brinca com Romeu por imitar a língua de um poeta italiano famoso pelos seus sonetos de amor: “Agora ele é o número em que Petrarca fluía”. Shakespeare também reflete a crença popular de que as mulheres italianas são mais apaixonadas sexualmente do que as inglesas quando dá a Julieta essa linguagem explicitamente erótica. Portanto, é provável que o público da Renascença inglesa acreditasse que a intensa paixão de Romeu e Julieta tinha resultado em parte do clima e da cultura italianos, e não apenas das suas escolhas individuais. Nesse sentido, o cenário italiano reforça o tema abrangente da peça de que os amantes não podem escapar ao seu destino.

Além de refletir as crenças populares sobre a Itália, Romeu e Julieta também enfatiza a divisão entre dois mundos simbólicos que os protagonistas habitam em Verona. O primeiro desses mundos é o mundo perigoso e masculino das ruas, onde Romeu anda com outros jovens imprudentes. O segundo desses mundos é o mundo feminino e isolado da casa Capuleto, onde Julieta permanece confinada. A divisão simbólica entre esses dois mundos reforça a dificuldade que os dois amantes enfrentam nas suas tentativas de estarem juntos. De facto, a divisão permanece tão rigorosa que a única razão pela qual os amantes se conhecem é que Romeu força a entrada na casa dos Capuletos em duas ocasiões, primeiro para o baile e depois para ter uma reunião particular com Julieta. Além dos mundos estritamente divididos da rua e da casa dos Capuletos, também existe um terceiro espaço neutro, concretamente a igreja onde Frei Lourenço preside ao casamento secreto de Romeu e Julieta. Embora a neutralidade da igreja permita oficialmente a sua união, ela não pode, em última instância, proteger os amantes dos poderes que procuram confiná-los aos seus próprios mundos simbólicos.

Adaptado de SparkNotes

Antagonista de Romeu e Julieta

Os antagonistas principais da peça incluem as famílias Capuleto e Montecchio, cuja rivalidade de longa data restringe a liberdade de Romeu e Julieta e acaba por frustrar o seu amor. Quase todas as personagens da peça são cúmplices nessa disputa familiar, mantendo-a de uma maneira ou de outra. Até o príncipe Della-Scala, que não declara lealdade à luta, admite tristemente que fez vista grossa e deixou o conflito continuar encarniçadamente. Com quase todos agindo de forma explícita ou implícita contra os seus interesses, Romeu e Julieta veem-se presos entre escolhas terríveis. Por exemplo, quando Tebaldo fere fatalmente Mercúcio, Romeu enfrenta uma péssima decisão: deixa o seu amigo próximo morrer sem vingança ou vinga-se do primo da sua nova esposa? De qualquer maneira, Romeu sofrerá, e esse sofrimento criará um fosso entre ele e Julieta, tornando a sua união final ainda menos possível. As restrições e o sofrimento criados pela luta acabam por levar Romeu e Julieta a serem separados para sempre pela morte. Mas as mortes dos amantes, embora trágicas, acabam por permitir que a peça termine com Capuleto e Montecchio mudando de ideia e fazendo as pazes.

Protagonista de Romeu e Julieta

Em Romeu e Julieta, os dois amantes compartilham o papel de protagonista, e o seu desejo de estar juntos coloca-os em conflito com as suas famílias rivais. Romeu e Julieta começam a peça, sentindo-se presos. Romeu tem uma paixão sem esperança por uma mulher que jurou permanecer virgem, e ele rejeita a sugestão dos seus amigos de procurar outro amor. Julieta, por outro lado, recebeu ordens da sua mãe para pensar em se casar, mesmo que não se sinta pronta. Quando Romeu e Julieta se encontram, encontram o seu desejo mútuo libertador. No entanto, dado que os dois amantes permanecem em lados opostos da contenda das suas famílias, perseguir o seu desejo um pelo outro implica um grande risco. As coisas ficam especialmente complicadas depois de ambos se casarem secretamente. Por exemplo, quando um Tebaldo enfurecido desafia Romeu para um duelo, este recusa-se a lutar porque agora considera aquele seu parente. Mas Romeu encontra-se num dilema quando Tebaldo fere fatalmente Mercúcio. Para vingar o seu amigo, ele mata Tebaldo, o que resulta na sua expulsão de Verona.
No final da peça, as duas personagens desafiam abertamente as regras das suas famílias e da sociedade em geral, a fim de perseguir o seu amor. Julieta, por exemplo, vê-se numa situação difícil depois de se rebelar contra o pai e, por extensão, contra a autoridade patriarcal que lhe é atribuída. O seu ato de rebelião envolve uma dupla traição. Ela não apenas se recusa a casar com o pretendente que seu pai prefere, Páris, como também desposa o filho do seu inimigo jurado, Montecchio. Após a expulsão de Romeu, Julieta desobedece a seu pai mais uma vez fingindo a própria morte, evitando assim o casamento com Páris de uma vez por todas. Romeu age com uma atitude de desafio semelhante contra o estado de direito quando decide ignorar a sua ordem de expulsão e volta ilegalmente a Verona. Infelizmente, os amantes morrem antes de alcançarem aquilo por que lutaram e as suas vidas são interrompidas antes que eles tenham uma oportunidade real de crescer como personagens. No entanto, a firmeza de Romeu e Julieta acarreta mudanças maiores. O amor deles, assim como a morte, revelam aos pais (e também a Verona) a crueldade e a inutilidade do seu feudo, e assim trazem resolução a um conflito de longa data.


Traduzido de SparkNotes
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