domingo, 29 de dezembro de 2024
Análise da ode "Temo, Lídia, o destino. Nada é certo", de Ricardo Reis
Análise do poema "A flor que és, não a que dás, eu quero"
Análise da ode "A cada qual, como a estatura, é dada", de Ricardo Reis
sábado, 28 de dezembro de 2024
Análise da ode "Seguro assento na coluna firme", de Ricardo Reis
quinta-feira, 25 de janeiro de 2024
Análise do poema "Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia", de Ricardo Reis
A
história (ação) narrada no texto
prende-se com factos ocorridos durante a invasão de uma cidade da Pérsia. Tais
factos, apesar da sua brutalidade e sanguinolência, foram incapazes de, por
mais do que um leve e passageiro instante, desviar a atenção de dois jogadores
de xadrez que, indiferentes a tudo o que os rodeava, prosseguiram serenamente o
seu jogo.
O narrador é o próprio...
quarta-feira, 20 de dezembro de 2023
Análise do poema "A abelha que, voando, freme sobre", de Ricardo Reis
quarta-feira, 7 de junho de 2023
Análise do poema "Pois que nada que dure ou que durando"
Esta ode de Ricardo Reis é composta por três quadras de versos decassilábicos (os três iniciais) e hexassilábicos (o quarto), com rima irregular: toante na primeira quadra (“durando” / “obramos”), consoante interpolada na segunda entre o primeiro e o quarto versos e cruzada entre o terceiro e o primeiro da seguinte (“presente” / “somente”); versos brancos ou soltos (vv. 1, 3, 4, 6, 10, 11 e 12).
O tema
da composição poética é a transitoriedade e a precariedade da vida, bem como o
valor dos atos que nela são praticados. Tudo passa, nada dura, ou, se dura, é
breve, e o valor do presente, que é hipotecado ao futuro, é igualmente
precário. Será que o próprio instante, dado que pode ser o derradeiro daquilo
que julgamos ser, é apenas nosso?
A composição
poética pode ser dividida em três momentos: a primeira quadra compreende a justificação
daquilo que se afirma no segundo momento; na segunda quadra e na primeira frase
da terceira, o sujeito poético defende a superioridade do momento presente em relação
ao futuro, visto que este (“amanhã”) não existe, pelo que a procura (“cura”) do
futuro é absurdo, já que priva o ser humano do bem presente; o terceiro momento
(de “Meu somente…” até ao final) é constituído por uma interrogação retórica,
por meio da qual se questiona se o instante presente será apenas seu, o que
indicia que o ser humano não controla o seu destino.
A
mensagem do poema é clara: nada que o ser humano faz no mundo é duradouro, ou,
sendo-o, não tem valor, e até as coisas que lhe são úteis rapidamente ele
perde, por isso deve preferir o prazer do momento presente à procura insensata
do futuro, pois este exige o mal do presente em troca do seu bem. Mas surge a
dúvida: será esse momento apenas do ser humano? Será o indivíduo apenas quem
existe nesse instante que pode ser o último daquele que finge ser? Atente-se na
referência ao fingimento, uma temática tão do agrado de Pessoa ortónimo, por
exemplo, em “Autopsicografia” e “Isto”.
A
musicalidade do poema assenta na aliteração (em /t/: “existe / Neste instante”
e /d/: “pode o derradeiro”) e no jogo das homónimas «ser» (“… que pode o
derradeiro / Ser de quem finjo ser?”). Além disso, o encavalgamento ou
transporte percorre, praticamente, todo o poema.
No que
diz respeito às formas verbais, predominam as que se encontram no presente do
indicativo, sugerindo a ideia de continuidade, e no presente do conjuntivo,
remetendo para o campo da possibilidade (“Pois que nada dure ou que
durando / Valha…”) ou exprimindo um desejo (“O prazer do momento anteponhamos”).
Por outro lado, nas duas primeiras quadras, é usada a primeira pessoa do
plural, enquanto na última ocorre a primeira do singular, o que confere à
interrogação final um acentuado grau de subjetividade, com a focalização no
«eu» daquilo que, anteriormente, tinha sido enunciado como próprio do coletivo,
do ser humano em geral. Por seu turno, a reiteração do vocábulo «cedo» (verso
4) realça a ideia de efemeridade da vida.
É
curioso notar que, na prática, o poema é constituído somente por três frases: uma
inicial de tipo declarativo, que abrange as duas primeiras quadras; uma
segunda, igualmente declarativa, mas bastante mais curta (“Amanhã não existe”),
e uma terceira, de tipo interrogativo, que finaliza o poema.
segunda-feira, 5 de junho de 2023
Análise do poema "Quando, Lídia, vier o nosso outono", de Ricardo Reis
Ao
gosto horaciano, Ricardo Reis usa o plural «nosso» e o vocativo para se dirigir
a uma interlocutora presente em vários dos seus poemas, a sua amada Lídia. O
outono que se aproxima, com tudo o que transporta já de inverno, e esquecido já
do verão, indicia o acentuar da decadência e a proximidade da morte, em
decorrência da passagem inexorável do tempo.
Deste
modo, o amarelecer das folhas tem ainda o tom dourado da vida; já é já o estio,
mas também não é ainda o inverno, a morte. Neste contexto, é preciso aproveitar
cada momento (carpe diem), mesmo que seja o último. O outono simboliza a
decadência, a velhice; o inverno, a morte, e a primavera, o recomeço ou a
renovação. Como esta última já passou, logo não lhe pertence (“… é de outrem” –
v. 4), e o inverno (a morte) se aproxima, o sujeito poético assume que é
necessário que tanto ele como a sua amada reservem “um pensamento (…) para o
que fica do que passa – o amarelo atual”. É visível aqui o autodomínio, a
contenção, o contentamento com o prazer relativo tão característicos da poesia
de Ricardo Reis.
segunda-feira, 15 de novembro de 2021
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021
Reflexão existencial: a consciência e encenação da mortalidade
Reis tem uma consciência aguda de que a vida é efémera
e transitória, de que o Tempo passa de forma célere e de que qualquer ato
humano é pequeno e infrutífero perante estas realidades. Receia a velhice e a
morte, que é inevitável. Além disso, está consciente de que o Homem é débil
perante forças maiores que o oprimem. Assim, angustiado por tudo isto e pela noção de um Destino
inexorável, procura na sabedoria dos antigos um remédio para os seus males,
nomeadamente para a dor da caducidade e o peso da Moira cruel. Que
remédio é esse? Trata-se da aceitação com altivez do Destino que lhe é
imposto e que lhe proporcione a indiferença face à morte. Reconhecendo que a
vida de cada um, não obstante ser instável e contingente, é o único bem em
que podemos, até certo ponto, firmar-nos, souberam construir a partir dele
uma felicidade relativa, encarando com lucidez o mundo. |
O ser humano é uma vítima indefesa do Destino e
está sujeito à passagem do Tempo, que inevitavelmente traz o envelhecimento,
a doença e a morte a uma vida que é efémera. Consciente de que qualquer
esforço é inútil, renuncia e busca a aceitação calma do Destino. Em suma, a vida é fugaz, a morte é certa, o Destino
comanda-nos, daí que devamos recusar compromissos afetivos (“Desenlacemos as
mãos”) e sociais (“Antes magnólias amo / Que a glória e a virtude”) para
chegar à morte de mãos vazias e sem dor. |
• A vida como
«encenação» da hora fatal (previsão e preparação da morte): despojamento de
bens materiais, negação de sentimentos excessivos e de compromissos.
Reis, consciente do fluir inexorável do tempo,
aceita a efemeridade da vida, bem como a inevitabilidade da morte. Numa
atitude epicurista e estoica do equilíbrio interior pela busca de um prazer
relativo, o poeta sustenta que a própria vida deve ser encarada como encenação
da morte, através da autodisciplina, da abdicação, da renúncia a
compromissos afetivos e sociais, da aceitação calma e serena da vida, da
submissão ao Destino e da aceitação da inevitabilidade da Morte. |
• Intelectualização
de emoções e contenção de impulsos.
A filosofia de Reis resume-se num epicurismo
triste. Para ele, cada indivíduo deve viver a sua própria vida,
isolando-se dos outros e procurando apenas o que lhe agrada e apraz. Deve
renunciar às emoções violentas: o poeta racionaliza as emoções e recusa o seu
valor, face à realidade que descobre, através do pensamento. O Homem deve buscar o mínimo de dor e, sobretudo, a
calma e a tranquilidade, abstendo-se de esforços e da atividade útil. Deve
procurar dar-se a ilusão da calma, da liberdade e da felicidade, coisas
inatingíveis, pois, quanto à liberdade, os próprios deuses – também eles
comandados pelo Destino – não a têm; quanto à felicidade, não a pode viver
quem está exilado da sua fé e do meio onde a sua alma devia viver; e quanto à
calma, quem vive angustiado, sempre à espera da morte, dificilmente pode
fingir-se calmo. A obra de Reis, profundamente triste, é um esforço lúcido
e disciplina para obter uma calma qualquer. Epicurista, o homem de sabedoria conquista a
autonomia interior na estrita área de liberdade que lhe restou. Essa
conquista começa por um ato de abdicação, por uma atitude de autodisciplina.
O primeiro objetivo é submeter-se voluntariamente ao Destino, que deste modo
cumprimos altivamente, sem um queixume. O homem sábio chega mesmo a
antecipar-se ao próprio Destino, aceitando livremente a morte. O segundo
objetivo é depurar a alma de instintos e paixões que nos prendem ao
transitório, alienando a nossa vida. A ataraxia, note-se, não implica para
Epicuro ausência de prazer, mas indiferença perante todo o prazer que nos
compromete, colocando-nos na dependência dos outros ou das coisas. Além
disso, os prazeres epicuristas são tipicamente espirituais, como a leve
recordação melancólica dos bons momentos do passado. |
• Vivência
moderada do momento (o presente como único tempo que nos é concedido).
Na esteira da Antiguidade clássica, Reis confessa a
Lídia que prefere o presente precário a um futuro que teme porque o
desconhece. A sabedoria consiste precisamente em gozar o presente (carpe
diem) de forma moderada, pois o futuro é uma incógnita e a vida é
efémera. |
• Preocupação
excessiva com a passagem do Tempo e com a inelutável Morte (apesar do esforço
empreendido na construção da máscara poética).
Reis é um epicurista triste: faz a apologia do gozo
comedido, do carpe diem e da suprema indiferença, de acordo com o
Epicurismo. Por outro lado, apela à fortaleza de ânimo para enfrentar o
fatalismo da morte e a dor de viver, segundo o Estoicismo. Estes princípios
têm como finalidade atingir a (pouca) felicidade que é permitida aos seres
humanos: viver «sem desassossegos grandes», aceitando as leis do Destino, e
aguardar a morte de forma serena e digna. A efemeridade da vida e a
inevitabilidade da morte são temáticas obsessivas e geradoras de
grande angústia que o poeta procura superar através do domínio da emoção pela
razão, isto é, pela intelectualização das emoções. É uma lição de não-vida: não amar para não sofrer,
não desejar para não ser desiludido, não questionar para não encontra o
vazio. |
O fingimento poético: Ricardo Reis, o poeta «clássico»
▪
reaparecimento dos antigos deuses na arte ou na literatura – adoção de uma
visão pagã do mundo, em que o Homem vive em comunhão com a Natureza e em que
existem deuses, uma mitologia e o Fado/Destino e aqueles estão presentes no
seio da Natureza;
▪
renascimento da essência pagã, pela eliminação da racionalidade abstrata e pela
rejeição da metafísica ocidental;
▪ cosmovisão
hierarquizada e ascendente dos seres: animais, homens, deuses e Fado, que a
todos preside
▪ procura da
felicidade e do prazer relativos;
▪ atitude
imperturbável e de distanciação face aos males que atormentam a existência
humana (passagem do tempo, morte, etc.): ataraxia – ausência de
perturbação ou inquietação;
▪ altivez e
indiferença (egoísmo epicurista) – abdicação voluntária;
▪ fruição
tranquila do momento presente (carpe diem), de uma felicidade suave e
tranquila dos prazeres serenos e moderados;
▪ aceitação
de uma vida simples, sem grandes ambições e em contacto com a Natureza – aurea
mediocritas;
▪ aceitação
do Destino, da morte e das contrariedades da vida;
▪ perceção
direta da realidade e do ciclo da Natureza.
▪ aceitação
racional das leis do Tempo e do Destino;
▪ resignação
perante a frágil condição humana e o sofrimento;
▪ culto da
contenção, da autodisciplina, do autodomínio na vida e na escrita e
despojamento dos bens materiais;
▪ culto da
abdicação voluntária e da indiferença perante as paixões e os sentimentos
intensos e compromissos, como forma de evitar ceder à força dos impulsos;
▪ busca da apatia
(a = ausência de + pathos = sofrimento), um estado de indiferença
e de ausência de sofrimento e dor como forma de o indivíduo enfrentar com
determinação as contrariedades, a doença e a morte;
▪ procura,
também, da ataraxia.
▪ visão
estoico-epicurista da existência;
▪ perceção
aguda da transitoriedade do tempo, da brevidade da vida e da inevitabilidade da
morte e do Destino;
▪ inutilidade
do esforço e da indagação sobre o futuro;
▪ carpe
diem: fruição moderada do momento e entrega moderada ao prazer;
▪ culto da aurea mediocritas (preferência por uma vivência calma num local recatado, em contacto
com a Natureza);
▪ presença do locus amoenus (lugar
aprazível);
▪ autodomínio que evita as paixões e
aceitação voluntária do Destino.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2021
Análise de "Antes de nós nos mesmos arvoredos"
- a Natureza
e o «nós» fazem parte da mesma realidade perene e estão sujeitos às mesmas
condições, neste caso, à passagem do tempo e do vento (vv. 1 a 4);
- neste caso,
há uma relação de semelhança entre o Homem e a Natureza (vv. 6 a 8);
- no entanto,
há uma diferença: a passagem do tempo faz parte do ciclo habitual da Natureza,
que dela não tem consciência; já para o Homem, porque é consciente da passagem
do tempo, é motivo de agitação e perturbação – ou seja, ele é caracterizado pela
constatação da finitude e da transitoriedade, bem como pela consciência do
tempo (“Passamos” – v. 5) e da inutilidade do esforço humano (“agitamo-nos
debalde” – v. 5).
- associa-se
ao destino do Homem e ao mito das três parcas, as irmãs que determinam o
destino dos deuses e dos seres humanos: Cloto segura e tece o fio da vida – é a
deusa dos partos e nascimentos; Láquesis fia (a vida do Homem na Terra);
Átropos corta o fio da vida (momento que equivale à morte);
- relaciona-se
também às nereidas, deusas filhas do Oceano, que personificavam as ondas e que
fiavam, teciam e cantavam;
- liga-se,
igualmente, às três fases da vida do Homem: nascimento, vida e morte.
- a brevidade
da vida;
- a passagem
do Tempo;
- a
consciência da morte;
- o contraste
entre a fragilidade do ser humano e a grandiosidade do Tempo.
- “ruído”
e “vento” sintetizam a ideia central do poema: o Homem não constrói o
seu destino, antes cumpre um que lhe é imposto;
- “ruído”
representa a palavra humana, por oposição à do Fado / Destino;
- “vento”:
por um lado, associa-se ao Homem, remetendo para a efemeridade que caracteriza
a sua vida; por outro, remete para o sopro divino, com significado oposto;
- “areia”:
representa o mundo da aparência, que é uma cópia do mundo da Essência;
- “[alta]
praia”: representa o mundo da Essência. Estes elementos (areia e praia)
remetem para a conceção platónica da existência humana, através da oposição
entre a “areia” que o sujeito poético vê e a “alta praia”.
- “debalde”:
traduz a inutilidade do desejo humano, pois o Destino é inexorável e nada
escapa à sua lei;
- “inutilmente”:
traduz a oposição entre a imagem que o Homem criou de si mesmo e a função real
que ele desempenha no Todo universal, pois terá sempre de se submeter a uma
vontade que lhe é superior, daí a inutilidade do seu esforço.
Análise de "Mestre, são plácidas"
• habitualmente, na poesia, o Tempo
constitui uma metáfora do saber, do amadurecimento, da experiência;
• neste texto, o Tempo tem uma
conotação negativa: passa, destrói, produz o envelhecimento;
• o tempo passa e a vida é breve, por
isso há que desvalorizar a sua passagem, dado que é esta que nos atormenta;
• por isso ainda, há que aceitar a
efemeridade da vida e a inevitabilidade da morte;
• deste modo, o sujeito poético
aceita a passagem do tempo, o envelhecimento e a morte de forma voluntária,
porque não vale a pena combater o inevitável.
▪ o uso da ode;
▪ o bucolismo: “À beira-rio”,
“Colhamos flores”;
▪ a “aurea mediocritas”: “Molhemos
leves / As nossas mãos / Nos rios calmos”;
▪ o paganismo: a referência aos
deuses greco-latinos;
▪ a aceitação do Tempo e do Destino;
▪ a consciência da vida e da
inevitabilidade da morte;
▪ a vivência moderada do momento:
“Para aprendermos / Calma também”;
▪ o uso dos modos imperativo e
conjuntivo com valor exortativo.
▪ Palavras que se inscrevem no campo
lexical de Natureza (“flores”, “girassóis”, “rio”, “Sol”).
▪ A «aurea mediocritas».
▪ A referência às crianças como
modelo de existência tranquila a seguir.
▪ A atitude de contemplação da
Natureza.
▪ A atitude panteísta de
identificação com os elementos da Natureza.