Português: Gramática
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terça-feira, 18 de abril de 2023

A frase ativa e a frase passiva


Frase ativa: o sujeito da frase ativa pratica a ação / é o agente da ação expressa pelo verbo.
‑ Fr ativa: O gato comeu o rato.
sujeito    verbo: ação comer
pratica a ação, isto é, comer
 
Frase passiva: o sujeito da frase sofre a ação expressa pelo verbo.
‑ Fr passiva: O rato foi comido pelo gato.
sujeito
sofre a ação, isto é, é comido
 
Regras para a transformação da frase ativa em frase passiva
 
1.ª) O complemento direto da frase ativa passa a sujeito da frase passiva.
‑ Fr ativa: O gato comeu o rato.
complemento direto
‑ Fr passiva: O rato foi comido pelo gato.
sujeito
 
2.ª) O verbo principal da frase ativa passa para o particípio passado e é introduzido o verbo ser (auxiliar da passiva), conjugado no mesmo tempo e modo em que se encontra o verbo principal da ativa.
 ‑ Fr ativa: O gato comeu o rato.
verbo principal no pretérito perfeito do modo indicativo






 


3.ª) O sujeito da frase ativa passa a complemento agente da passiva na frase passiva, antecedido pela preposição por, simples ou contraída.
‑ Fr ativa: O gato comeu o rato.
sujeito
‑ Fr passiva: O rato foi comido pelo gato.
complemento agente da passiva

verbo auxiliar ser
+
verbo principal no
particípio passado
 
4.ª) Na frase passiva, o verbo auxiliar e o particípio passado concordam em género e número com o sujeito.
‑ Fr ativa: O gato tem comido os ratos.
‑ Fr passiva: Os ratos têm sido comidos pelo gato.
 
5.ª) Os demais elementos da frase, se os houver, mantêm-se inalterados.
‑ Fr ativa: Ontem, pelas onze horas, o gato comeu o rato na cozinha.
‑ Fr passiva: Ontem, pelas onze horas, o rato foi comido pelo gato na cozinha.
 
6.ª) A frase ativa tem de ter um complemento direto para se poder transformar em frase passiva.
 
7.ª) O complemento agente da passiva pode surgir:
a) em frases passivas, com o verbo auxiliar ser seguido do verbo da frase ativa no particípio passado (os exemplos analisados até aqui):
A Maddie foi raptada por um louco.
b) em estruturas participiais, isto é, sem o verbo auxiliar expresso:
Este é um caso conhecido de [= por] todos.
 
8.ª) Uma frase ativa com sujeito indeterminado resulta numa frase passiva sem complemento agente da passiva.
‑ Fr ativa: Assaltaram a igreja. [sujeito indeterminado: alguém assaltou a igreja, mas não se sabe quem foi]
‑ Fr passiva: A igreja foi assaltada. [ausência de complemento agente da passiva]

Procedimentos a adotar para transformar a frase ativa em passiva
 
1.º) Identificar o complemento direto da frase ativa:

‑ Fr ativa: O gato comeu o rato.
complemento direto
 
2.º) Colocar o complemento direto como sujeito da frase passiva:

‑ Fr passiva: O rato…
 
3.º) Identificar o verbo principal da frase ativa e o tempo e o modo em que se encontra:













 
5.º) Introduzir, na frase passiva, o verbo principal da frase ativa no particípio passado:

‑ Fr passiva: O rato foi comido
verbo principal da frase ativa
no particípio passado
 
6.º) Identificar o sujeito da frase ativa:

‑ Fr ativa: O gato comeu o rato.
sujeito
 
7.º) Colocar o sujeito como complemento agente da passiva na frase passiva:

O rato foi comido pelo gato.
complemento agente da passiva
 
Regras para a transformação da frase passiva em frase ativa
 
1.ª) O sujeito da frase passiva passa a complemento direto na frase ativa.
 
2.ª) O complemento agente da passiva da frase passiva passa a sujeito na frase ativa.
 
3.ª) Na frase ativa, desaparece o verbo auxiliar ser, surgindo apenas o verbo principal, que é colocado no mesmo tempo e modo que o verbo auxiliar da frase passiva.


sábado, 15 de abril de 2023

Origem e evolução do português: do indo-europeu ao latim

          Nos finais do século XVIII, os europeus que contactaram com a literatura tradicional da Índia verificaram que o sânscrito, língua clássica daquele país geograficamente longínquo, era semelhante ao latim e ao grego de tal forma que teria de ter uma origem comum.
         Nas décadas seguintes, compreendeu-se que também as línguas germânicas, celtas e eslavas, bem como o persa, pertenciam à mesma família, a que se passou a chamar indo-europeu por a ela pertencerem quase todas as línguas da Europa, da Índia e de grande parte das regiões entre uma e outra.
         As línguas dos países indo-europeus (
 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Distinção entre oração coordenada explicativa e subordinada adverbial causal


     Distinguir uma oração coordenada explicativa de uma subordinada adverbial causal não é fácil em muitas circunstâncias, o que dá origem a muitas apreciações erradas.

    Com a devida vénia, transcrevemos a explicação da professora Maria Regina Rocha, retirada do Ciberdúvidas:

'Para tentar que fique esclarecida e percecione o melhor critério de distinção entre os dois tipos de orações, vou começar por lhe apresentar exemplos, passando, depois, à explicação.

 
1. Exemplos de orações subordinadas causais:

a) Não almoço, porque não tenho fome. = Como não tenho fome, não almoço.

b) O Vítor domina o vocabulário, porque lê muito. = Como o Vítor lê muito, domina o vocabulário.

c) A Marta não comprou o vestido, porque era muito caro. = Como o vestido era muito caro, a Marta não o comprou.

d) O menino caiu, porque ia distraído. = Como ia distraído, o menino caiu.

e) Aplaudiram o orador, porque o discurso foi brilhante. = Como o discurso foi brilhantes, aplaudiram o orador.

 
2. Exemplos de orações coordenadas explicativas:

a) Sobe, que te quero mostrar uns livros. = Sobe, pois quero mostrar-te uns livros.

b) Come a sopa toda, que está muito boa. = Come a sopa toda, pois está muito boa.

c) Não tenhais medo, que o mundo não acaba agora. = Não tenhais medo, pois o mundo não acaba agora.

d) O Manuel tem dinheiro, pois comprou um carro novo.

e) O pai já está deitado, pois as luzes estão apagadas.

 
1. A oração subordinada causal tem uma relação de dependência em relação à principal, apresenta um motivo, uma causa da ação, do acontecimento, da ocorrência referida nessa oração principal. Nos exemplos que dei com orações subordinadas causais, é visível essa dependência entre a causal e a principal:

 
a) O facto de não ter fome é a causa, o motivo que leva a pessoa a não almoçar.

b) O facto de o Vítor ler muito é a causa, o motivo, que o leva a dominar o vocabulário.

c) O facto de o vestido ser caro foi o motivo, a causa, que levou a Marta a não o comprar.

d) O facto de o menino ir distraído foi a causa da sua queda.

e) O facto de o discurso ser brilhante foi a causa dos aplausos.

 
2. Para se compreender bem a situação das orações coordenadas explicativas, penso que será útil referir cinco dos estratos gramaticais possíveis na análise de uma língua, por ordem ascendente: o monema, a palavra, os grupos de palavras, a oração e o texto. 

 
                No que diz respeito às orações coordenadas explicativas, que em algumas gramáticas são sintomaticamente chamadas de coordenadas «causais-explicativas», elas exprimem dois tipos de relação (a coordenação e a subordinação), mas não ao mesmo nível de estruturação gramatical. Entre si (no estrato oracional), elas são coordenadas, mas existe uma relação de dependência no que diz respeito ao sentido do discurso, ao nível, pois do texto. 

 
                A oração coordenada explicativa também apresenta, pois, um motivo ou uma causa, mas não da ocorrência referida na oração anterior, e, sim, do motivo que leva o emissor a referir aquela ação, a fazer aquele pedido, a dar aquele conselho, etc. Vou considerar, então, cada uma das orações coordenadas explicativas que apresentei acima: 

 
a) A ação de querer mostrar os livros não é a causa da ação de subir; é a causa do pedido de que suba. Quem fala quer mostrar os livros, quer o outro suba, quer não. A oração «que te quero mostrar os livros» justifica o facto de o emissor ter feito o pedido, justifica algo que não está sintaticamente expresso. Assim, estas duas orações são independentes entre si e poderiam formar dois períodos: «Sobe. Quero mostrar-te uns livros.» Se quiséssemos explicitar a dependência da explicativa em relação ao discurso, poderíamos construir um período complexo, aí, sim, pondo no mesmo nível todos os elementos em relação e subordinando-os uns aos outros: «Peço-te que subas, porque te quero mostrar uns livros.» Neste período, a oração «porque te quero mostrar uns livros» é subordinada à oração «peço-te», exprimindo a causa desse pedido.

 
b) O facto de a sopa estar muito boa não é a causa de a pessoa a comer; é o motivo que leva o emissor a aconselhar o recetor a comer a sopa. Como independentes entre si, estas orações poderiam constituir dois períodos: “Come a sopa toda. Ela está muito boa.” Para ver a relação entre o que está explícito e o que não está, poderíamos também construir um período complexo, com orações subordinadas: “Aconselho-te a que comas a sopa toda, porque ela está muito boa.”

 
c) O facto de o mundo não acabar agora não é a causa de as pessoas não terem medo; é o motivo que leva o emissor a tranquilizar as pessoas. Como independentes, estas orações poderiam formar dois períodos, sem prejuízo do sentido: “Não tenhais medo. O mundo não acaba agora.” Poderíamos também pôr os valores semânticos todos no mesmo plano, o das orações, e interligar essas orações por subordinação: “Como o mundo não acaba agora, acho que não deveis ter medo.”

 
d) O facto de o Manuel ter comprado um carro novo não é a causa de ele ter dinheiro; é a causa da dedução que o emissor faz a respeito daquela ocorrência da compra do carro. Se construir um período complexo em que esteja claro o que ficou subentendido com a utilização da explicativa, poder-se-ia, então, explicitar essa subordinação: «Como o Manuel comprou um carro novo, eu penso (eu deduzo) que ele tem dinheiro.» E a oração subordinada causal (o Manuel ter comprado um carro novo) apresenta o motivo, a causa que me leva a pensar que... («eu penso, eu deduzo»).

 
e) O facto de as luzes estarem apagadas não é a causa de o pai estar deitado; é o motivo que o leva a pensar, a deduzir, a supor que o pai já esteja deitado. Se construir um período complexo em que esteja claro o que ficou subentendido com a utilização da explicativa, poder-se-ia, então, explicitar essa subordinação: «Como as luzes estão apagadas, penso que o pai já está deitado.»'

 

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Função sintática do pronome que

O pronome que pode desempenhar diversas funções sintáticas, nomeadamente de sujeito e complemento direto.
Para a maioria dos alunos, é difícil identificar ou distinguir os casos em que desempenha uma ou outra função sintática, no entanto, a tarefa é simples. Basta aplicar o seguinte teste:
• pegamos na frase em que o que está presente e “tapamo-lo”;
• se houver concordância (entre o sujeito e o predicado)
correta, o “que” é sujeito:
- O padre que foi preso era pedófilo.
- O padre foi preso…
incorreta, o “que” é complemento direto:
- O padre que prenderam era pedófilo.
- O padre prenderam…

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

sábado, 5 de novembro de 2022

Quantas línguas há no mundo?


             A resposta a esta pergunta não é simples. Por exemplo, há quem olhe para o português e para o galego e considere que constituem uma só língua e há quem conte duas línguas.

            Por outro lado, os critérios para a contagem das línguas diferem. Além disso, ninguém as conhece a todas.

            Seja como for, de acordo com o catálogo Ethnologue (https:www.ethnologue.com), existem 7 151 línguas no mundo, mas a conceção geral passa por estimar um número situado entre as 6 000 e as 7 500. O mesmo catálogo conta 142 famílias de línguas.


A língua e o território


             Atualmente, associamos a ideia de uma língua a um determinado território, mas nem sempre foi assim. De facto, há muitos séculos, as populações viviam em constante mudança; as línguas estavam ligadas às tribos, mas estas não tinham um território definido, pois estavam em permanente migração.
            Contudo, há cerca de 12 mil anos, foi inventada a agricultura, o que permitiu que parte da humanidade se tornasse sedentária e, assim, estivesse ligada a um território mais ou menos fixo. Esse território podia ser vizinho de outro, onde vivia outra tribo há mais tempo e que, por isso, tinha uma língua diferente. Seguem-se invasões, conquistas, línguas que são substituídas pelas dos invasores, etc. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o latim, os substratos e superstratos. O latim, aquando da Romanização, impôs-se às línguas pré-existentes nos territórios conquistados, que acabaram por desaparecer, deixando, porém, vestígios linguísticos na língua invasora.
            Além disso, mesmo num território onde se fala uma mesma língua a distância entre os povoados e as pessoas cria diferenças. Os habitantes de uma localidade compreendem bem os da localidade vizinha, que compreendem bem os da seguinte e assim sucessivamente. No entanto, se juntarmos os habitantes de duas localidades bem distantes, é possível que tenham dificuldades em se entender linguisticamente. Nestes casos, é difícil saber onde começa uma língua e começa outra. É aquilo que se chama continuum dialectal. Não existem fronteiras marcadas, mas há uma grande diversidade no território.
            Por outro lado, convém ter presente que a variação linguística não é uma questão meramente geográfica. Por exemplo, a forma de falar da classe social dominante de um território, pelo prestígio que possui, pode expandir-se e ir apagando formas de falar de outros locais ou regiões.
            Sucede também que os centros de poder atraem muitas pessoas, de muitos outros locais, fazendo com que o seu dialeto particular incorpore características de outros locais. A forma de prestígio atrai outras formas, roubando-lhes elementos e/ou apagando aqueles que não são escolhidos para fazerem parte da língua de prestígio.

Por que razão não falamos todos a mesma língua?


             A resposta a esta pergunta é muito semelhante, nalguns aspetos, à questão sofre diferenciação que ocorreu entre as línguas românicas.
            Todos os seres humanos têm uma língua, que é constituída por um conjunto limitado de sons, os quais nada significam entre si, mas se conjugam para dar origem a palavras com significado, e por regras que possibilitam a sua organização e o seu uso. Deste modo, poder-se-ia considerar a possibilidade de existir uma língua universal, isto é, comum e falada por todos os humanos. Não é isso, no entanto, o que sucede. Porquê?

1. A criação de novas palavras
 
            Observemos o que escreve o professor Marco Neves na sua obra História do Português desde o Big-Bang (p. 62): “Imaginemos um mundo onde a humanidade fala uma só língua. Nesse mundo monolingue, alguém descobre um animal novo. O nosso descobridor dá um nome arbitrário (como todos os nomes) à sua descoberta: dali em diante, o animal chamar-se-á «elom». Dias depois, a nossa tribo encontra uma outra tribo. Contam, entusiasmados, a descoberta do elom. A outra tribo fica baralhada e diz-lhes que aquele animal se chama ganim! […]
            E agora? Elom ou ganim? […] Cada tribo vai continuar a chamar ao animal o nome que inventou: elom ou ganim. […] Como a humanidade nunca viveu como uma só tribo, nunca poderia ter uma só língua, a não ser que essa língua fosse muito limitada e inflexível. Ora, a linguagem humana é flexível e, para isso, tem de aceitar novas palavras e permitir a dispersão, porque é impossível uma reunião de toda a humanidade para discutir que palavra usar para cada situação nova que encontramos. Multipliquemos este processo pelas descobertas e invenções de cada tribo e temos palavras diferentes. Multipliquemos pelo número de tribos do mundo e percebemos uma das razões por que se multiplicam as línguas. […]
            Além desse facto óbvio de vivermos em grupos diferentes, que podem ter de dar um nome diferente a algo novo, há outro facto inescapável da língua: a língua muda naturalmente, num processo raramente consciente. Se quisermos pensar um pouco melhor na questão, imaginemos que a tribo original em três. Anos depois, uns dirão elom, outros dirão alom, outros dirão alomi… Em breve, teremos três línguas. Mesmo quando começamos com uma só língua, rapidamente encontramos divergência linguística se houver separação entre os falantes. Podemos até imaginar que as três línguas ganham maneiras diferentes de expressar o plural:

duplicação: «elom-elom»;

partícula: «xi alom»;

terminação: «alomis».

            […] As palavras e a gramática de cada língua vão surgindo através da interação entre os falantes. Neste aprender constante das línguas e no seu uso coletivo pelas várias gerações – e se as línguas tiverem sido inventadas pelo Homo erectus, já vamos em mais de 60 000 gerações a usar a linguagem humana –, há processos em que ninguém repara, mas que vão também garantindo uma mudança gradual e inaceitável de todas as línguas, mesmo que sejam faladas por um grupo isolado (e raramente o são).”

2. A economia de esforço

            Outra razão para a diferenciação das línguas prende-se com a economia de esforço, que passa pela simplificação ou queda de sons ao longo dos séculos, ou seja, o falante deseja dizer o mais possível, com o menor esforço possível. Quem nunca deparou com o verbo «tar» («estar») por aí? Quem nunca ouviu o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a soltar um «paspanha» («para Espanha»)?

3. A herança linguística

            Cada nova geração aprende os hábitos linguísticos da geração anterior. O cérebro de uma criança refaz o sistema linguístico que recebeu dos pais sem que ninguém lhe ensine as regras. Essa aprendizagem baseia-se na analogia, limpando irregularidades e visando regras gerais, tendência que é contrariada pelos pais, que assim garantem a sobrevivência das irregularidades. Por exemplo, é comum uma criança, quando começa a falar, dizer «fazido» em vez de «feito».
            Com a passagem dos séculos, uma língua torna-se mais complexa. As línguas que ficam isoladas parecem ter tendência a serem gramaticalmente mais complexas. Por exemplo, o archi, falado no Cáucaso russo, é composta por 1 502 829 formas para cada verbo.
            No entanto, também existem exceções a esta complexificação. Por exemplo, aquando da evolução do latim para o português, simplificaram-se os casos, o que se justifica pelo facto de uma língua, quando se expande por um território muito grande ou quando é aprendida por um grande número de falantes, sofrer um desbaste gramatical muito grande.

4. A diferença entre os falantes

            A aprendizagem das línguas opera-se de forma diferente de pessoa para pessoa (não há cérebros nem corpos iguais). Por outro lado, a língua que “recebemos” dos nossos pais é diferente de pessoa para pessoa. Deste modo, “cada falante tem a sua história e aprende uma língua muito pessoal: é o chamado idioleto. Além disso, os falantes pronunciam cada som de forma ligeiramente diferente. Se pedirmos a cem pessoas que pronunciem um determinado som («a», por exemplo), observamos que haverá diferenças sensíveis entre o que sai da boca de cada um desses indivíduos. Ora, os sons vão mudando ao longo do tempo e no espaço.
            Ou seja, a mudança de uma língua ao longo do tempo acontece porque os falantes são diferentes entre si: não há duas pessoas iguais, com corpos iguais e vidas iguais. Cada som é pronunciado de forma diferente, porque o aparelho fonador (boca, garganta, cordas vocais) de cada indivíduo é diferente, tal como a maneira como aprendemos o som é também sempre diferente, desde logo porque somos ensinados por pessoas diferentes.

5. A interferência das línguas

            As línguas influenciam-se umas às outras. Recuando, por exemplo, no tempo, as línguas das tribos divergiram, mas estas nunca viveram em isolamento absoluto e permanente. Pelo contrário, os contactos entre tribos diferentes e pessoas que falavam diferentes línguas sempre aconteceram, o que fez com que houvesse interferências, mortes de línguas, misturas, etc.
            Este fenómeno acentuou-se, por exemplo, na época das Descobertas e, atualmente, é inequívoco após a criação da Internet e, posteriormente, das redes sociais.

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Quando surgiram as línguas?


             A resposta é óbvia: não sabemos. Certamente, não foi algo imediato, antes um processo gradual que levou milhares ou milhões de anos. O que sabemos é que todos os animais comunicam entre si, incluindo os irracionais, embora as formas de comunicação humanas sejam especiais. Por exemplo, os seres humanos comunicam quando choram ou coram, isto é, sem soltar um som que seja.

            As línguas humanas têm características muito específicas: não estão inscritas nos genes, são extremamente flexíveis, adaptam-se facilmente a novas realidades (todos os dias surgem novas palavras para designar algo novo que surge), permitem falar do passado e do futuro (note-se como podemo-nos referir ao futuro sem usar o respetivo tempo verbal; é possível fazê-lo – e fazemo-lo – usando o presente: “Volto amanhã.” = “Voltarei amanhã.”), despertam e interferem com a imaginação. Por outro lado, as línguas humanas fazem uso da chamada dupla articulação, ou seja, um conjunto limitado de sons conjuga-se para criar unidades com significado.

            No seu sítio Certas Palavras (www.certaspalavras.pt), o professor Marco Neves, perante a total falta de dados que nos permitam saber como surgiu a linguagem humana, imagina uma história explicativa do processo.

            De acordo com essa explicação, a linguagem teria tido origem em sons que o Homem usava em certas situações de forma instintiva ou na imitação de animais e que, a partir de certo momento, conseguiu desligar o símbolo do seu significado. E prossegue nos seguintes termos: “Imaginemos um grupo de seres humanos, na savana, a caçar. Um deles vê, à frente, uma gazela. Habitualmente, usam um som dito em surdina, para que todos reparem. Com o tempo, encontram vários sons para diferentes animais. Estamos perante sinais, que vão sendo aprendidos pelas novas gerações. Estes sinais, a certa altura, começam a ser usados noutros contextos, para «conversar» sobre os animais. Nascem as palavras. Um som poderia representar um tigre, mas também pode ter passado a significar um animal, usando-se outro som (ou uma conjugação de sons) para representar o tigre em si. Alguém, à noite, refere vários tigres, usando, provavelmente, uma duplicação dos sons usados para se referirem àquele animal.

            Com o tempo, ganham-se hábitos de ordenação desses símbolos sonoros – seria possível dizer «gazela» «caçar» «eu», mas nunca «eu» «caçar» «gazela». Nasce a gramática. A língua é criada a partir de necessidades práticas, ganha características gramaticais particulares, que mais não são do que a cristalização de hábitos linguísticos adquiridos sem grande lógica, e conhecer essas características (essa gramática) torna-se essencial para viver na comunidade que usa essa língua. Quem falava para caçar também era capaz de falar para impressionar a vizinha – e se não fizesse, teria menos hipóteses de ter filhos com a vizinha.

            As línguas são sistemas simbólicos muito complexas, com base em sons ou gestos. Com esses símbolos, comunicamos e criamos pensamentos na cabeça dos outros (obrigamo-los a pensar em tigres). Trabalhamos a pensar em conjunto, nem que seja para saber como caçar o tigre – ou atacar a tribo do lado. Quanto mais o cérebro aumentava, mais capacidade tínhamos para manipular símbolos.”

            […]

            Imaginemos, por exemplo, um conjunto de arbustos que precisam de ter exposição ao sol para sobreviver. Ora, se um arbusto em particular sofre uma mutação no seu ADN que o torna ligeiramente mais alto e com mais folhas no topo, vai conseguir receber mais luz do sol e, ao mesmo tempo, vai impedir que os arbustos do lado recebam tanta luz. Vai viver mais e reproduzir-se mais. Em breve, […], os genes deste arbusto vão começar a espalhar-se mais do que os arbustos um pouco mais baixos. Os arbustos mais baixos passam a ter uma desvantagem que não existia antes. Os arbustos com mutações que os tornam mais altos ganham. O gene que leva a uma maior altura começa a ser preponderante – e assim surgem as árvores. Todos os arbustos viviam felizes e contentes antes desta guerra. Não há uma vantagem inerente à maior altura: a única vantagem é conseguir ganhar aos arbustos do lado.”

            No caso do ser humano, o uso do símbolo permitia o ganha de vantagens relativamente a quem não o domina, pois permite perceber melhor os outros, ganhar mais poder, ser bem-visto, seduzir.

            A linguagem não é essencial para a sobrevivência do ser humano, como o prova o facto de a humanidade ter vivido e evoluído ao longo de milhares de anos sem ter uma linguagem como a entendemos hoje. Assim sendo, qual terá sido a razão que fez com que se tornasse tão preponderante? O professor Marco Neves responde: “Há duas grandes correntes. Alguns linguistas sublinham que a linguagem é uma ferramenta cultural, inventada ao longo da nossa História. No fundo, o uso da linguagem será como a roda: uma vez inventada, tornou-se tão útil que ninguém a dispensa. Mas não nascemos – segundo esta perspetiva – com algum tipo de mecanismo linguístico impresso no cérebro. Outros linguistas sublinham o caráter biológico da linguagem: temos aparelhos fonadores e cérebros adaptados ao uso da linguagem – as nossas gargantas seriam diferentes se não fosse a necessidade de falar.” Assim sendo, é lícito concluir que a linguagem humana é um facto cultural e biológico.

            Para se adaptar à nova necessidade que era a linguagem, tudo no ser humano evoluiu: o corpo em geral, o cérebro, o aparelho fonador, a boca, a garganta. Aprender a falar é algo natural ao ser humano, como é caminhar, ao contrário do que sucede com outras competências, como, por exemplo, a leitura ou a escrita. Por exemplo, uma criança de 3 ou 4 anos não necessita que os adultos a ensinem a falar; basta a convivência diária para que ela aquira e desenvolva essa competência. Porém, o mesmo não sucede com a leitura. Se dermos a essa mesma criança um livro, não conseguirá lê-lo sozinha, sem ajuda, sem quem a ensine.

            Embora não existam certezas, é possível que, há cerca de 40 000 anos, os seres humanos já falassem línguas com características semelhantes às que hoje possuímos. No entanto, há indícios que sugerem que a linguagem humana já existia na era do Homo erectus, que surgiu há 2 000 000 de anos, conseguiu controlar e usar o fogo, se expandiu por um território vastíssimo e navegou até ilhas tão afastadas no mar que tal empresa implicou um grau acentuado de organização e comunicação, bem como o uso de embarcações com algum alcance e robustez. Em 2004, descobriram-se na Ilha das Flores, na Indonésia, ferramentas que datam de há 800 000 anos. Daniel Everett, na sua obra How Language Began, sustenta que o Homo erectus já falaria um tipo de língua simbólica algo parecida com a nossa. Dado que a ilha já na época distava muito de terra continental, certamente foi necessário construir barcos que levassem seres humanos até lá, sendo difícil imaginar que tudo teria sido feito sem o uso da fala.

            Deste modo, é possível que pelo menos há 40 mil anos já existissem línguas na Terra com características parecidas às das atuais, sendo que há quem alargue o período de surgimento das mesmas até há cerca de dois milhões de anos.

terça-feira, 31 de maio de 2022

Como surgiram as línguas?


             Marco Neves, no seu livro História do Português desde o Big Bang (p. 43), dá uma resposta curiosa à pergunta.

            Para tal, recua até ao momento em que se iniciou o processo que originou o surgimento do ser humano, cerca de 6 000 000 a.C. Assim, um grupo de símios, talvez à procura de comida na savana africana, ter-se-á dividido em dois, seguindo cada um rumos diferentes. Com a passagem do tempo, as mutações que ocorrem no momento da reprodução terão feito com que os dois grupos se tornassem cada vez mais diferentes. Em determinado momento, em época que desconhecemos, deixaram de poder reproduzir-se entre si. Deste modo, um dos grupos deu origem a todas as espécies de seres humanos, enquanto o outro às várias espécies de chimpanzés e bonobos. O primeiro grupo, nesse período de seis milhões de anos, evolui no sentido de desenvolver aquilo a que chamamos línguas, passou a locomover-se em duas patas e abandonou as árvores; já o outro manteve as formas de comunicação dos símios.

            Há cerca de dois milhões de anos, terá surgido o «Homo erectus», a espécie que teria traços culturais parecidos com os nossos, que se espalhou desde a Península Ibérica até à atual Indonésia, que explorou continentes e ilhas tão distantes da costa que implicavam uma certa organização e condenação coletiva, ou seja, “Algo que permitiria ensinar e aprender, avisar e dar ordens” (Marco Neves, in História do Português desde o Big Bang, p. 44), isto é, uma forma de linguagem. São estes dados que levam alguns autores a defender que foi o «Homo erectus» que inventou a linguagem.

            Seguiu-se o «Homo sapiens», inteligente e dotado de poder de comunicação. Todas as outras espécies de hominídeos desapareceram, não obstante a provável convivência com o Homem de Neandertal, cujos genes estão presentes nas células de muitos de nós, humanos do século XXI (as trocas genéticas entre as várias espécies humanas sempre existiram e caracterizaram as relações entre elas). Perante isto, podemos questionar-nos sobre a razão que terá levado ao «triunfo» do «Homo sapiens» sobre as demais espécies. É provável que tenha sido precisamente a linguagem a responsável por esse domínio do «Homo sapiens».

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Como distinguir a oração subordinada adjetiva da oração subordinada substantiva completiva

    A oração é subordinada adjetiva relativa se a conseguirmos transformar numa questão introduzida por O que? (ou Onde?, Quem?..., consoante a palavra relativa que a introduz) e a resposta se encontrar antes, na oração subordinante.

    Exs.:    
            Visitei o monumento que me indicaste.
            O que me indicaste?
            Resposta: «o monumento»

            O meu tio que morou nos EUA faleceu em janeiro.
            Quem morou nos EUA?
            Resposta: «O meu tio»

    Por seu turno, uma oração é subordinada substantiva completiva se fizermos a pergunta O quê? à oração subordinante e a resposta por uma oração introduzida por que, se ou para.
    Exs.:
            Putin pensou que a guerra duraria 48 horas.
            Putin pensou o quê?
            Resposta: «que a guerra duraria 48 horas»

            Julguei que hoje era feriado.
            Julguei o quê?
            Resposta: «que hoje era feriado»

            A Miquelina perguntou se amanhã haveria aula.
            A Miquelina perguntou o quê?
            Resposta: «se amanhã haveria aula»

domingo, 16 de janeiro de 2022

Como identificar o sujeito indeterminado?

     Quando temos dúvidas acerca da identificação de um sujeito indeterminado, basta aplicarmos o teste da interrogação: O que / Quem + verbo?

    Se a resposta que obtivermos for «Não sei.», tal significa que o sujeito dessa frase é indeterminado.

    Vejamos a frase seguinte: "Bateram à porta.»

    Apliquemos-lhe o teste de identificação: Quem bateu [à porta]? «Não sei» é a resposta. Temos noção de que alguém bateu, mas, como não vimos quem ou o que foi, não sabemos quem foi exatamente.

    O mesmo se passa com outros enunciados:

        . «Assaltaram o banco.» Quem assaltou? Alguém, mas não sei quem foi.

        . «Diz-se que vai nevar.» Quem diz que vai nevar? Alguém, mas não sei quem.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Nome não contável

             O nome não contável é o nome comum que designa algo em que não é possível distinguir partes e que não pode ser cantado, enumerável.

            Assim, são não contáveis os nomes que designam:

1. Uma entidade material homogénea:

água, gasolina, omo, petróleo, etc.

2. Uma ideia não material, não divisível:

felicidade, tristeza, liberdade, educação, etc.

 

            O nome não contável pode ser antecedido do determinante artigo definido singular o, a:

A liberdade é indiscutível.

 

            O nome não contável pode ocorrer também no singular, sem ser antecedido de artigo, em posição de complemento:

Encontraram petróleo no Beato.

 

            Alguns nomes não contáveis podem ser enumerados através de uma expressão partitiva ou de medida. É sobre essa expressão que recai a marca de plural:

Comprei um quilo de batatas.

Comi apenas três colheres de sopa.

 

            Quando o nome contável surge no plural, este designa:

a) qualidade e não quantidade:

Há ótimos vinhos na região do Dão. [= Há várias qualidades de vinho na região do Dão]

b) o objeto e não o material de que é feito:

Os estanhos desta loja são feios.

 

            Há nomes comuns não contáveis que, em certos contextos, podem ocorrer como nomes contáveis:

A Miquelina já emborcou quatro cafés hoje. [= A Miquelina já emborcou quatro chávenas de café hoje.]
 

Nome contável

             O nome contável é o nome comum que designa algo que pode ser contado, enumerável: uma casa duas casas.

            Assim, são contáveis:

1. As entidades materiais, individualizadas e descontínuas:

canetas, livros, folhas, casas…

2. As entidades abstratas que podem ser individualizadas:

direitos, sentimentos, emoções, pensamentos…

3. As unidades de medida:

metros, quilómetros, quilos, gramas, litros…

4. As entidades que podem ser antecedidas:

do artigo indefinido (um, uma):

- Comprei uma bicicleta nova.

de um quantificador numeral cardinal:

- O rebanho da Miquelina tem 200 ovelhas.

de um quantificador existencial (alguns, poucos, muitos…):

- Algumas ovelhas morreram de diarreia.
 

Nomes comuns

             O nome comum designa algo (seres, objetos, entidades, realidades, etc.) sem o individualizar.
Exemplos: caneta, mesa, televisão, homem, casa, pedra, rapariga, anel, cão, candeeiro, janela, papel, computador, senhora, etc.

            O nome comum apresenta as características seguintes:
1.ª) Varia em número:
uma caneta (singular) duas canetas (plural)
2.ª) Se surgir sozinho na frase, é uma abstração, um conceito, uma generalidade:
A mulher é feia. [a mulher em geral é feia]
3.ª) Para designar um referente único, vem acompanhado de determinantes, ou de complementos, ou de modificadores restritivos:
A mulher que me vendeu os ténis é feia. [esta e só esta mulher é feia]
Esta rapariga solta muitos gases. [apenas esta rapariga solta muitos gases]
4.ª) Escreve-se, regra geral, com letra minúscula, exceto se surgir no início de frase:
Comida picante provoca diarreia.
5.ª) O nome comum engloba o nome coletivo, o nome contável e o nome não contável.
 
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