Português: Resumos literários
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quarta-feira, 2 de setembro de 2020

O Fim da Aventura, de Graham Greene

     Henry Miles, um funcionário do Ministério do Interior, é casado com Sarah, que já foi amante do narrador. Após um encontro fortuito, Henry, desconfiado da mulher após uma denúncia anónima, combina com o narrador que este finja interesse em Sarah para descobrir quem é o seu eventual amante atual. O narrador, um escritor com algum sucesso, tendo como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial, relembra, em vários flash-backs, o seu romance com Sarah durante quatro anos, que ela deu por findo para se dedicar a outra relação extra-conjugal. Enquanto isso, contrata um detetive privado, de nome Parkis, que, juntamente com o seu filho, passam a vigiar Sarah, e fornecem ao narrador relatórios periódicos sobre as suas andanças.
     Certo dia, o narrador, querendo magoar Henry, dominado por sentimentos de ciúme e de vingança mesquinhos, confessa-lhe que foi amante da mulher e que esta teve muitos outros. No entanto, Henry reage molemente, frustrando os intuitos do narrador.
     Seguidamente, temos acesso a páginas do diário de Sarah, que se revela uma mulher mal-amada pelo marido (que só se preocupa com a sua carreira política e a ascensão nos ministérios), desiludida e descrente. A sua grande esperança na possibilidade de alcançar a felicidade seria ao lado de Maurice, o amante e narrador da obra, que vive na expectativa de reencontrar. A aventura amorosa iniciou-se por volta de 1939 e terminou cerca de 1944 por iniciativa dela, após uma promessa feita de que não continuaria sua amante, na sequência da deflagração de uma bomba alemã perto da casa onde se encontravam, que ela pensava tê-lo morto.
     Em fevereiro de 1946, ela prepara-se para deixar o marido e juntar-se a Maurice, quando Henry chega a casa a chorar e diz-lhe que a ama, o que a leva a prometer-lhe que não o abandonará. Subitamente, Maurice é surpreendido pela notícia da morte de Sarah, vítima de uma constipação que se agravou. Ainda mais surpreendente é o facto de Maurice ter convidado Henry a morar consigo por algum tempo e este ter aceitado.

A Liga dos Homens Assustados, de Rex Stout

     Nero Wolfe recebe Andrew Hibbard, que lhe promete 500 dólares por semana para que o proteja de Paul Chapin, um ex-amigo que um grupo de compinchas aleijou grave mas acidentalmente, durante uma brincadeira, há 25 anos, e que agora se procura vingar, assassinando esse conjunto de homens. Wolfe não aceita a proposta e Hibbard é assassinado. Paul Chapin é presentemente um escritor de livros policiais onde, aparentemente, descreve os crimes que vai cometendo.
     Wolfe reúne, em sua casa, a Liga de Expiação, isto é, os homens responsáveis pela desgraça de Chapin, propondo-lhes a libertação da perseguição de que estão a ser alvo, mediante um determinado preço. A meio da reunião entra Chapin, o que constitui uma espécie de desafio a Wolfe, apresentando-se como inocentemente acusado. Após a sua partida, um dos homens recorda o acidente que marcou para sempre Chapin: Andrew Hibbard, um aluno de Harvard do segundo ano, deixa a chave do quarto do lado de dentro e, como era da tradição, escolhem um caloiro para, saindo por uma das janelas do corredor, caminhar por um rebordo estreito até à janela do quarto fechado e entrar por aí. Esse caloiro recusa a tarefa, pois o quarto situa-se no terceiro andar, mas é forçado pelos outros e acaba por cair, tendo estado posteriormente dois meses no hospital, onde é operado três vezes. No dia em que abandona o hospital, Chapin, o caloiro vítima dos trinta e cinco colegas, envia-lhes uma cópia de um poema por si escrito.
     Chapin era natural da mesma cidade de um dos homens, o Dr. Burton, e namorava aí com uma jovem. Esse namoro terminou após o acidente e essa jovem acaba por desposas esse Dr. Burton. Já em Nova Iorque, a Sr.ª Burton contrata uma criada, Dora Ritter, com quem Chapin casa. Dias depois, Dora Chapin, ex-Ritter, surge no escritório de Wolfe apresentando vários golpes no pescoço, afirmando ser o marido o autor da agressão, num momento de fúria. No entanto, o detetive, sem explicar como, descobre que a mulher auto-infligiu as feridas no pescoço.
     Um dos membros da Liga, o arquiteto Farrell, escreve um bilhete informando que parte para Filadélfia, no qual Wolfe descobre os «n» e «a» desalinhados que caracterizam os bilhetes que o assassino envia a todos os membros da Liga quando inflige uma morte. Archie Goodwin parte no seu encalço e, quando o encontra, é-lhe dito por Farrell que a máquina pertence ao Harvard Club e é utilizada por vários dos seus membros. Nero Wolfe solicita a Archie a compra de uma máquina de escrever nova para colocar no lugar da do Harvard Club, que trará para casa do detetive.
     Wolfe convoca, via Archie, um dos detetives que vigiam Chapin, desconfiando já que se trata do desaparecido Hibbard. Wolfe propõe-lhe que se mantenha isolado, em sua casa, para que possa dar todos os passos de forma a levar Chapin a confessar. No final desta conversa, um dos «assalariados» de Wolfe telefona, informando-o de que a polícia vai prender Chapin, acusado da morte, a tiro, do Dr. Burton.
     A Sr.ª Burton odeia Chapin pela sua monstruosidade, apesar de já ter sido sua noiva, e conta que ouviu tiros e, quando chegou ao local do crime, este estava às escuras e Chapin de joelhos no chão.
     Archie Goodwin vigia Dora Chapin e acaba por se fazer convidado da sua casa, acabando por ser drogado, juntamente com Pitney Scott, outro dos ex-alunos de Harvard, na atualidade um taxista alcoólico. Rouba o casaco e o táxi do taxista e a carteira de Archie, que envia a Wolfe, juntamente com um bilhete, ameaçando que matará Archie se o detetive não se encontrar com ela. Wolfe acede e entra no táxi roubado. O objetivo de Mrs. Chapin é obrigá-lo a confessar a manigância a que recorreu para estender a armadilha ao marido.
     Wolfe convoca os membros da Liga para sua casa, às 9 horas da noite. Nessa reunião, apresenta a confissão de Chapin de que não matou ninguém; a sua vingança pelo que lhe sucedera à 25 anos é executada nos livros que escreve. O único assassinado foi o Dr. Burton; os outros homens foram vítimas de casos acidentais. O seu único pecado foi o de se aproveitar dessas mortes para escrever os bilhetes com que pretendia aterrorizar os outros indivíduos.
     O criminoso é outro e assassinou o Dr. Burton pois, enquanto corretor, roubou a empresa deste e, quando foi descoberto, decidiu pôr-lhe termo à vida, armando ao mesmo tempo uma cilada a Chapin.

O Americano Tranquilo, de Graham Greene

     Pyle, um oficial norte-americano destacado no Vietname, colónia francesa, é assassinado em Saigão.
     Thomas Fawler é o repórter, "amigo" de Pyle, que recorda episódio da guerra que se desenrola naquele país, episódios relativos ao próprio Pyle e o triângulo amoroso que se estabelece entre os dois e uma jovem vietnamita, Phuong.
     Relativamente à guerra, uma das questões é a forma como o comando francês destaca as vitórias (pequenas ou grandes) no terreno e as baixas do inimigo, sonegando qualquer informação sobre as derrotas ou as suas próprias baixas; outra é a falta de material aéreo de combate, nomeadamente helicópteros; uma terceira passa pela falta de primeiros socorros, o que faz com que mesmo os feridos ligeiros corram perigo de vida.
     Entretanto, Fawler é nomeado editor para os assuntos internacionais, por isso terá de regressar a Londres, apesar de esse não ser o seu desejo. Escreve à mulher, pedindo-lhe o divórcio, por causa do seu «affair» com Phuong.
     Durante um ataque noturno de que são vítimas, Pyle acaba por salvar Fawler, ferido, transportando-o às costas. Entrementes, este recebe a resposta negativa da mulher ao pedido de divórcio, numa carta onde está bem vincada a amargura dela; seguidamente, Fawler escreve a Pyle comunicando-lhe o oposto, isto é, que a esposa aceitara a separação.
     A verdade acaba por vir à tona e Phuong vai morar com Pyle, que revela o seu envolvimento em atentados, cometidos ao serviço da designada Terceira Força do general Thé, distinta dos Franceses e dos Comunistas. Certo dia, Fawler vê-se envolvido num desses atentados, que originalmente tinha como finalidade uma parada militar, entretanto cancelada, e que acaba por apenas vitimar civis inocentes. Posteriormente, é-lhe comunicado que permanecerá mais um ano no Vietname.
     No final, recebe um telegrama da mulher concedendo-lhe o divórcio, ficando assim disponível para Phuong.

O Natal de Mr. Krank, de John Grisham

     Luther Krank e a esposa despedem-se da filha Blair, que parte para o Peru no contexto de uma ação humanitária. Cansado da rotina e dos gastos excessivos, por exemplo em objetos inúteis de Natal, Luther propõe à mulher um Natal diferente: uma viagem às Caraíbas.
     Antes de partir, procura fugir às tradições natalícias, como a de colocar um boneco de gelo no telhado de cada casa, ou o donativo habitual, através da compra de um calendário, para a Associação de Polícia, no valor de cem dólares, ou a venda de bolos de frutos pelos bombeiros. Luther Krank tudo recusa, não obstante a crescente irritação surda da mulher e as provocações dos vizinhos, que tudo fazem para o vergar e humilhar.
     Na véspera de Natal, Blair telefona aos pais, informando que está em Miami e vem passar o Natal a casa e traz consigo o noivo, um médico peruano. O cruzeiro fica, assim, anulado e os Krank dispõem de meia dúzia de horas para preparar a tradicional festa de Natal. Porém, quando Luther sobe ao telhado para nele instalar o boneco de neve de 20 kg, feito de plástico, escorrega no gelo. O boneco cai ao chão e desfaz-se, enquanto Krank é salvo da morte graças ao facto de as suas pernas se terem enrolado nas cordas e nos fios elétricos. Depois, os vizinhos e os bombeiros acorrem e retiram-no da posição de suspenso, de cabeça para baixo, a 2, 5 metros do solo.
     Ao conhecerem os motivos que levaram os Krank a anular o cruzeiro e a fazer a festa de Natal, os vizinhos solidarizam-se e cada um contribui com o necessário para que a celebração aconteça. Quanto aos bilhetes de cruzeiro de dez dias às Caraíbas, Luther oferece-os a um casal vizinho, cuja mulher está doente com cancro, restando-lhe apenas seis meses de vida.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

O Roubo do Colar de Anúbis, de Paul Doherty

     Egito, cerca de 1479 a.C. No Templo de Anúbis, decorrem as negociações entre Hatusu, a rainha e viúva do faraó Tutmés II, e Tuchratta, rei dos Mitânios, por ela derrotado, para um tratado de paz, o qual permitiria a Hatusu ser definitivamente aceite no trono, que usurpara após a morte do marido meio-irmão. Uma dançarina é assassinada no Templo.
     Sinuhe, um viajante, prepara-se para negociar com os Mitânios o seu relato escrito das viagens feitas. No entanto, é assassinado com uma picada no pescoço pela mesma pessoa, de máscara de coiote, que liquidara a dançarina e que lança o seu corpo ao Nilo, onde é devorado pelos crocodilos, e leva os eu livro.
     A "Glória de Anúbis", uma ametista do tamanho de um punho masculino, é roubada e o guarda responsável por ela, fechado na capela, é encontrado morto com uma faca espetada no coração. A porta do compartimento é trancada por dentro e a chave fica na posse do guarda. Assim sendo, como correu o crime?
     Entretanto, Amerotke é convocado pela rainha-faraó para investigar o caso. Entrementes, Snefru, um dos enviados mitánios é assassinado de forma semelhante. Uanef, princesa mitânia, meia-irmã de Tuchratta, manobra na sombra. Enviados seus procuram um serralheiro, amnistiado pelo juiz Amerotke para lhes prestar auxílio na lida com algumas fechaduras, mas aquele recusa.
     Passados alguns dias, alguém atrai Ueni, um dos arautos de Hatusu, a uma armadilha no fosso dos cães selvagens e é morto por estes. Ao analisar os aposentos de Ueni, Amerotke encontra aí pistas que apontam o arauto como o assassino de Sinuhe e o autor do roubo do manuscrito.
     Um estranho visita Kheti e Ita, amantes e, respetivamente, sacerdote e sacerdotisa do Templo de Anúbis. A misteriosa personagem aponta Kheti como o autor do roubo da "Glória de Anúbis" e combina com ele a sua venda, a troco de diversas riquezas. A figura ataca também Mareb, outro dos arautos, e só foge quando é interrompida por Chufoi, o servo de Amerotke.
     Um grupo de mutilados da aldeia dos Rinocerontes ataca o serralheiro Belet e a mulher, raptando-os e assassinando o seu cão e a sua criada.
     Entretanto, Amerotke prova que foram os sacerdotes Kheti e Ita que, comprados por Ueni, ao serviço dos Mitânios, cometeram assassínios e roubaram a "Glória de Anúbis". Ita seduziu o guarda do colar, que a deixou entrar; depois ela assassinou-o com o punhal e a chave do sacerdote foi substituída por outra semelhante, para dar a sensação de que nunca tinha saído da sua posse e que ele se mantivera sempre fechado à chave por dentro.
     Hunro e Menso, mensageiros mitânios, aparecem mortos também, da mesma forma que os anteriores crimes foram cometidos.
     Afinal, o "grande" criminoso é Mareb. De facto, matou Ueni por vingança, pois este assassinara a mulher e o seu amante, amigo de Mareb. E cometeu a maioria dos outros crimes, porque estava a ser chantageado pelos Mitânios, que têm como prisioneiros o seu pai e o seu irmão. Mareb é condenado à morte, mas antes fornece a Amerotke uma lista de espiões mitânios que atuam em Tebas. Revela também que se prepara um assalto ao túmulo de Tutmés II, pai de Hatusu, onde existirá um diário que prova a impotência do faraó, logo que Hatusu não tem origem divina.

A Condição Humana, de André Malraux

     Xangai, anos 20 do século passado. Tchen assassina, durante uma noite, um traficante de armas, para conseguir as armas que ele transporta, pois aquele faz parte de um grupo de revolucionários chineses que está prestes a ir à luta. Metade, porém, não sabe servir-se das armas.
     Um dos temas abordados na obra é a dependência e a submissão da mulher ao homem e dos jovens aos pais, como o exemplifica o caso de uma jovem de 18 anos que se tenta suicidar no palanquim de noivado, por ser obrigada a casar com um "bruto respeitável", ou o comentário da mãe ao saber que a cria não morreria: "Pobre filha! Ia tendo quase a sorte de morrer".
     May é uma médica alemã, nascida em Xangai e doutora por Heidelberga e por Paris, que encanta Kyo. Ela é o oposto da mulher chinesa: escolhe o parceiro sexual, por exemplo; está do lado dos insurretos, etc. Por oposição, temos a visão machista do velho Gisons: "A mulher está submetida ao homem como o homem está submetido ao Estado...".
     A revolução começa com a tomada de postos da polícia, uma ação levada a cabo com relativa facilidade. Do outro lado, estão figuras como o francês Ferral, que vê naquele revolução o fim das suas ambições e da sua ação na China.
     Tchen e dois companheiros de armas executam um atentado contra Chiang Kai-Chek, mas não conseguem lançar as bombas sobre o automóvel deste último. Tchen toma então a decisão de se lançar com a bomba sob o veículo de Chiang, considerando ser essa a única solução a adotar.
     Tchen executa o seu plano, todavia Chiang Kai-Chek não viaja no automóvel e quem acaba por ir desaguar no país dos pés juntos é o próprio Tchen. Não obstante, o atentado desencadeia uma série de represálias: Kyo é preso e, juntamente com outros camaradas, suicida-se com um comprimido de cianeto.
     A revolução comunista chinesa dos anos 30 é, pois, detida, mas os sobreviventes / resistentes param apenas para se reorganizar, quer internamente quer no estrangeiro.
     No fundo, todo o ser humano aspira a superar a sua condição humana, a ser Deus, a dominar ou influenciar, a ter poder para modificar algo. Por vezes, a violência deixa de constituir apenas uma forma de vingança e torna-se um sentido definido da existência, uma forma de superar a condição humana. Por exemplo, quando a personagem Hemmelrich depara com a esposa e a filha mortas e esquartejadas, pensa em se vingar, no entanto o sentido que gera essa atitude é o amor: "podemos matar com amor". É a eterna confluência entre amor e ódio, amor e morte, o concreto e a intemporalidade; a fronteira ultrapassável entre o Homem e a divindade.

O Vale do Medo, de Sir Arthur Conan Doyle

     Sherlock Holmes recebe uma mensagem encriptada de um elemento (Porlock) do grupo do professor Moriarty, anunciando-lhe a morte do Sr. Douglas. Quando o detetive e o Dr. Watson a conseguem decifrar, chega a notícia do assassinato de John Douglas, com um tiro, na sua residência senhorial de Birlstowe.
     Com os Srs. Douglas vive um amigo, Cecil Barker. John Douglas viveu muitos anos na Califórnia e, sentindo aí a sua vida em perigo, veio para Inglaterra onde casou pela segunda vez e se estabeleceu. No entanto, um dos velhos inimigos, Tel Baldwin, descobre-o em Birlstone e surpreende-o nos seus aposentos. Douglas luta com Baldwin e acaba por o matar com a caçadeira do inimigo. Seguidamente, com a ajuda de Barker e da Sr.ª Douglas, encena tudo de forma a parecer que a vítima foi ele próprio, John Douglas, para que assim possa escapar em definitivo à perseguição dos restantes inimigos que o considerarão morto.

     A segunda parte do livro situa-se em 1875, no Vale Vermissa. Aí chega McMurdo, um jovem irlandês fugitivo à Justiça (acusado de fazer moeda falsa e ter assassinado um homem em Chicago), desafiador da Lei, com o sangue na guelra e membro da Ordem dos Homens Livres, que se instala numa pensão onde conhece a doce filha do dono do estabelecimento, por quem se enamora. No entanto, a jovem é cobiçada por outro jovem rude, membro da loja local da Ordem, chefiada por McGinty, o chefe de um bando de criminosos, que exerce chantagem sobre as companhias do carvão e o assassínio sobre aqueles que os desafiam ou se lhe opõem.
     Um outro episódio agudiza a relação entre McMurdo e Tel Daldwin. Este é encarregado de dar uma lição a um editor de um jornal, mas não de o matar. Contudo, Baldwin excede-se e só a intervenção de McMurdo impede o assassínio do editor.
     Os crimes sucedem-se durante largos meses, até que chega a notícia de que um agente da Pinkerton se encontra prestes a chegar, agente esse que está a investigar a associação criminosa de McGinty. McMurdo monta então uma armadilha em sua casa ao detetive e aí reúne o núcleo mais perigoso dentre os assassinos. Estes são surpreendidos quando McMurdo revela ser ele o agente da Pinkerton, prendendo-os e testemunhando no seu julgamento, findo o qual uns são presos e outros enforcados. McMurdo, aliás Birdy Edwards, casa com Ettie Edwards e vai para Chicago e, posteriormente, para a Califórnia, onde a esposa falece. Entrementes, 10 anos volvidos, são postos em liberdade os fascínoras condenados a prisão e começam imediatamente a persegui-lo. Birdy Edwards transforma-se em John Douglas, foge para Inglaterra e casa com a Sr.ª Douglas.

     Epílogo: aconselhado por Holmes, Douglas foge em direção à África do Sul, mas desaparece borda fora durante uma tempestade ao largo de Santa Helena. Sherlock Holmes reconhece aí o dedo do sinistro Professor Moriarty.

O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde

     Basil Hallward é um pintor que está a pintar o retrato do jovem e belo Dorian Gray. Determinado, este conhece Lord Henry Wotton, que o desperta para a brevidade da beleza física. Concluído o retrato, magnífico, Gray contempla-o extasiado e triste, recordando-se simultaneamente das palavras de Lord Henry, e exprime o desejo de que quem envelhecesse fosse o retrato e ele permanecesse belo e jovem e que, por isso, estava disposto a vender a alma.
     Entretanto, Dorian apaixona-se por uma jovem atriz, muito bela e de origem humilde (filha de mãe solteira, ex-atriz; o pai faleceu; o irmão partiu para a Austrália em busca de fortuna), Sibyl Vane. Certo dia, convida os dois amigos para apreciarem o talento de Subyl, mas ela representa pavorosamente, dado que está apaixonada por Gray e nada mais de importante há para si. No entanto, ele afirma-lhe que com essa atitude matou o seu amor por ela, visto que era o seu talento e a sua inteligência que o tinham cativado. Quando chega a casa, Dorian repara que o seu retrato, pintado por Basil, sofreu alterações e recorda-se, então, de que desejara que fosse o seu quadro a envelhecer e não ele.
     Na sequência destes acontecimentos, Sibyl suicida-se. Dorian vai à ópera e «encerra» o caso da ex-apaixonada de uma forma prática. Basil vem visitá-lo e estranha a mudança operada no amigo, considerando-o insensível e sem compaixão.
     Gray manda encerrar o quadro no quarto que pertencera ao avô, para que o seu segredo não seja descoberto. Fica fascinado, por outro lado, com um livro que Lorde Henry lhe enviou, que consistia num estudo psicológico de um jovem parisiense que procurava compreender as paixões e os métodos de pensamento de todos os séculos, com exceção do seu. Com o passar dos anos, Dorian sente-se cada vez mais apaixonados pela própria beleza e interessado na corrupção da alma.
     Anos volvidos, Basil procura-o, incomodado com o que se diz em Inglaterra sobre Dorian, que aproveita para o responsabilizar pela sua desgraça, mostrando-lhe o retrato (disforme). Basil diz-lhe que ainda é tempo de se arrepender e voltar ao caminho do Bem. Acometido por um súbito ódio pelo pintor, Dorian assassina-o à facada. De seguida, contacta Alan Campbell, um ex-amigo especialista em biologia e química, para que faça desaparecer o corpo, o que sucede, mas apenas sob chantagem. Quando contempla novamente o quadro, Grau verifica que numa das mãos há gotas de sangue.
     De regresso de um antro de ópio e álcool, Dorian é intercetado pelo irmão de Sibyl Vane, armado com uma arma, mas escapa ardilosamente à morte: pergunta a James Vane há quanto tempo se dera o episódio da irmã (18 anos) e questiona-o se a sua aparência física é a de alguém com uma idade compatível com esse espaço de tempo. James olha-o e constata que Dorian tem a aparência de um jovem de 20 anos, por isso deixa-o partir. No entanto, uma prostituta que os seguiu informa James de que Dorian faz um pacto com o Diabo para permanecer eternamente jovem e que é ele, efetivamente, o responsável pela desgraça de Sibyl.
     Dias depois, durante uma caçada, um homem é, acidentalmente, atingido mortalmente por um dos caçadores, o que Dorian interpreta como um presságio de desgraça; porém, afinal, o desgraçado é James Vane. Alan Campbell suicida-se.
     Perante estes acontecimentos, Dorian Gray propõe-se mudar radicalmente o rumo da sua vida. Depois vai contemplar o retrato para se certificar se a expressão já teria mudado, mas a resposta é negativa. Considerando o retrato a causa da sua vida desregrada e decadente, Dorian pega na faca com que assassinara Basil e esfaqueia o quadro, para dar início à nova existência.
     Quando os criados penetram no quarto, encontram o quadro retratando Dorian como era na época em que Basil o pintou, e no chão um velho enrugado e repugnante com uma faca cravada no coração, que só conseguem reconhecer pelos anéis.

Liga de Cavalheiros Extraordinários, de K. J. Anderson

     Londres, 1899. Um grupo, comandado pelo cérebro Fantasma, fazendo uso de uma máquina diabólica e revolucionário, uma espécie de tanque com lagartas muito sofisticado para a época, assalta o Banco de Inglaterra, roubando um conjunto de pergaminhos contendo os planos de construção de uma cidade subaquática. Dos guardas que acorrem ao Banco, o grupo brutal deixa vivo apenas Dunning, viúvo e pai de um menino de seis anos.
     Hamburgo, fábrica dos zepelins: o grupo do Fantasma, disfarçado de soldados ingleses, ataca a fábrica, rapta o cientista alemão Karl Draper e queima grande parte dos trabalhadores.
     Sanderson Reed desloca-se ao Quémia na tentativa de convencer Alão Quatermain a socorrer a rainha e o império britânico. Alão não está interessado na empreitada, até que quatro assassinos chegam também ao Clube Brittania, assassinam o amigo que se faz passar por Alão e fazem explodir o Clube. Alão extermina os quatro indivíduos.
     Em Londres, há uma reunião parcial da Liga de Cavalheiros Extraordinários, que será constituída na totalidade por Quatermain, capitão Nemo, Dr. Jekyll e Mr. Hyde, Rodney Skinner, o «novo» Homem Invisível, Dorian Gray e o seu imortal e diabólico retrato, Mina Harker, a vítima sobrevivente do falecido conde Drácula, e um agente dos Serviços Secretos Americanos chamado Tom Sawyer. É-lhes revelado, por M, que o «Fantasma» criou máquinas diabólicas, para o que raptou diversos génios de diferentes áreas, e que se vai realizar uma reunião dos líderes da Europa, em Veneza, para resolver a situação. É natural que o Fantasma, sabedor da reunião, procure aniquilá-la.
     O grupo dirige-se à residência de Dorian Gray para o convencer a integrá-lo, mas aquela é invadida pelas tropas do Fantasma. No entanto, graças ao agente Tom Sawyer, disfarçado entre os homens do Fantasma, o grupo liquida os seus inimigos; apenas aquele consegue fugir. Durante a batalha, revelam-se os especiais talentos de Gray, invulnerável à passagem do tempo e aos ferimentos, e de Mina Harker, afinal uma vampira. Recorde-se que quem envelhece por ele é o seu quadro.
     A caminho de Veneza, no submarino de Nemo, alguém procura fotografar os segredos do engenho naval e roubar a fórmula do Dr. Jekyll; depois de muito refletirem sobre os planos de construção de Veneza, da autoria de D Vinci, Quatermain, Sawyer e Nemo concluem que o Fantasma afinal quer afundar a cidade, fazendo explodir os pilares em que assenta e dar, assim, início a uma guerra mundial.
     Para impedir a continuação do desmoronamento dos edifícios em efeito dominó, Nemo lança um rocket sobre um teatro, enquanto os companheiros lutam na cidade contra os homens do Fantasma, que é perseguido nas ruas por Quatermain. A luta entre ambos ocorre num cemitério de Veneza: o Fantasma esfaqueia-o num ombro e consegue escapar, não sem que antes este lhe arranque a máscara da cara com um murro e revele a sua identidade - M.
     O primeiro a regressar ao navio é Gray, que se identifica perante Ismael, o imediato, como o misterioso traidor e depois mata-o a tiro. Num derradeiro esforço, Ismael arrasta-se até junto da Liga, todos entretanto regressados, e revela o que sucedeu. Entrementes, Gray foge na cápsula de exploração do navio, apanhando também o Fantasma e Dante, o seu braço direito. Sanderson Reed, obviamente, é um dos lacaios de M.
     O Nautilus inicia a perseguição ao nautiloide. Pouco depois, é descoberta uma gravação em disco pertencente a M, na qual este anuncia que a sua verdadeira intenção foi juntá-los todos para, através de Gray, recolher os respetivos segredos e amostras do sangue e das células, para poder construir um exército de réplicas suas. Além disso, Gray deixou três bombas a bordo, ligadas a detetores cristalinos, acionados por um som não acessível ao ouvido humano proveniente no gramafone. Acionados os sensores, as bombas explodem a bordo do Nautilus. Só graças à transformação de Jekyll em Hyde é possível selar os compartimentos inundados, pôr as bombas que escoam a água a funcionar e trazer o Nautilus, muito danificado, à superfície. Tom Sawyer tem também um motivo pessoal para perseguir o Fantasma: este assassinou Huck Finn, outro agente dos Serviços Secretos americanos que o perseguiam.
     A Liga está desanimada, quando do nautiloide chega uma mensagem em morse, enviada por Skinner, o homem invisível, que se escondeu a bordo e lhes envia as coordenadas do local por onde se desloca M e o seu grupo.
     A fortaleza de M situa-se nas terras geladas da Mongólia, onde a Liga reencontra Skinner, que lhes conta que M já construiu oito navios semelhantes ao Nautilus e que colocou os cientistas raptados a criar réplicas dos elementos da Liga a partir das amostras recolhidas por Gray. Parte da Liga penetra na fortaleza e liberta os familiares aprisionados dos cientistas raptados, enquanto Skinner coloca três bombas em áreas sensíveis da fortaleza.
     Sawyer e Quatermain penetram no quarto de M que, afinal, é o professor James Moriarty, o arquirrival de Sherlock Holmes, e aprisionam-no, mas Eva Draper, a filha de um dos cientistas raptados, irrompe pelo quarto, tentando assassinar o malévolo Moriarty, que aproveita o incidente para se esgueirar.
     A batalha entre Mina Harker e Gray termina: ela empala-o com a espada contra uma parede e mostra-lhe o seu retrato, visão essa que constitui a única forma de liquidar o vaidoso Dorian. Ao contemplar o seu próprio retrato, Gray envelhece rapidamente e morre, enquanto o retrato representa o jovem Dorian que Minha tinha amado.
     Dante bebe um frasco da poção roubada ao Dr. Jekyll e transforma-se num monstro de três metros, Entretanto as bombas colocadas pelo homem invisível explodem e Dante é empalado por estilhaços incandescentes provenientes das explosões, acabando esmagado pelas pedras que lhe caíram em cima quando o efeito da poção se esgota.
     Moriarty obriga Quatermain a render-se por breves instantes quando Sanderson Reed, invisível, aprisiona Sawyer com uma faca encostada ao pescoço. Quatermain vira-se rapidamente e espeta a sua face na forma invisível de Reed, mas Moriarty aproveita esse momento em que o explorador está de costas e apunhala-o.
     Moriarty, ou M, ou o Fantasma, foge, mas Sawyer, incentivado pelo moribundo Quatermain, abate-o com um tiro solitário. Depois, o explorador expira pela derradeira vez.
     Terminada a batalha, chega um batalhão de soldados ingleses e americanos. Um elemento dos Serviços Secretos britânicos comunica-lhes a intenção da rainha constituir uma Liga real, mas os seis heróis recusam e partem, no Nautilus, para África, para aí sepultar Quatermain junto do filho. Ah, Skinner afinal é também um elemento dos Serviços Secretos ingleses.

Cidade Escaldante, Chester Himes



     Ed "Caixão" e Jones "Coveiro", dois polícias negros duros do Harlem, são chamados a tratar do caso do disparo de um alarme de incêndio falso. O seu autor é Porquinho-da-Índia, que afirma tê-lo feito para chamar a polícia, pois o seu pai está a ser roubado e assassinado. Na sequência de acontecimentos, gera-se uma luta entre o gigante albino e os bombeiros, agastados por terem sido chamados em vão. Porquinho-da-Índia acaba por fugir, ao contrário de Jake, um traficante de droga, que é capturado pelo duo de polícias quando tenta engolir 5 ou 6 sacos contendo droga, que eles fazem vomitar esmurrando-o no estômago.

     Entretanto, entram em cena dois velhos criminosos: a irmã Celestial e Pai Santo, que procuram saber se a história de Porquinho-da-Índia, segundo a qual seu pai possui uma fortuna algures. Pai Santo tem um encontro violento com um pistoleiro, do qual resulta a morte deste.
     Em simultâneo, a dupla de detetives negros é suspensa das suas funções, em razão da morte de Jake, por causa de uma rotura do baço causada por fortes agressões no estômago.
     Irmã Celestial paga, periodicamente, ao polícia do seu bairro, ficando assim protegida e conhecedora do decurso das investigações policiais que são feitas. O duo policial, apesar de suspenso, prossegue as investigações para se ilibar e encontra um negro morto. Na casa deste, são pouco depois atacados por dois pistoleiros contratados por Ginny, mulher de Gus, e escapam com vida por um triz.
     Entretanto, na tentativa de arrombar o cofre da mãe Celestial, Pai Santo, utilizando uma carga excessiva de nitroglicerina, fá-la explodir acidentalmente, destruindo-se a si e à casa por completo. Irmã Celestial continua na pegada do tesouro de Gus e desconfia que a cadela deste terá algo a ver com o assunto, mas, quando se dirige ao canil, a polícia já a tem em sua posse.
     Com a notícia da morte do Coveiro, Ed Caixão parte numa missão sangrenta de vingança, que o leva a percorrer o Harlem marginal e da droga, até encontrar Ginny e a forçar a contar-lhe toda a verdade dos acontecimentos. Entrementes, a irmã Celestial consegue arrebatar a cadela a Ed e esventra-a, à procura do «tesouro», mas nada encontra dentro do animal.
     Ed Caixão monta um isco e apanha os dois pistoleiros que os atacaram, bem como um terceiro, que é abatido pela polícia, também ela já na pista dos criminosos. Utilizam então Ginny para capturar o responsável pela onda de crime, mas ela é assassinada pela irmã Celestial que, por sua vez, é baleada por Benny Mason, que lhe fica com o saco azul, o isco lançado pela polícia. Porém, é preso de imediato.
     Afinal, o Coveiro está vivo; a notícia da sua morte tinha sido posta a correr pela própria polícia, para levar à captura dos criminosos.
     Benny Mason é o chefe de uma rede de tráfico de droga que se servia ocasionalmente de Gus, para a transportar, tendo sido desta forma que arranjara o dinheiro com que comprara a plantação do Garra ao africano morto em sua casa pelos pistoleiros. Gus era quem estava encarregado de receber um carregamento de droga, proveniente de França, no valor de um milhão de dólares. Todavia, quando os homens de Benny foram buscar a mala com a droga, aquela estava vazia. Por isso, mataram Gus e atiraram o corpo ao rio. Benny oferece a Ginny dinheiro, para colaborar consigo e a mulher aceita.
     A polícia acaba por deter Porquinho-da-Índia com uma mala em cujo interior encontram o cadáver de Gus, seu pai, que o próprio filho assassinou. E descobrem, pelas palavras do Porquinho, que a droga chegou a Gus, pelo rio, envolvida em pele de enguia, e que ele foi assassinado por se recusar a levar o filho consigo para África.

Destino Desconhecido, de Agatha Christie

      Tom Betterton, um cientista canadiano, casado a primeira vez com a filha de um cientista alemão e, presentemente, com Olive, atualmente a viver na Alemanha, desaparece misteriosamente quando se desloca a Paris, para assistir a uma conferência. Dias antes de partir, recebera a visita de quatro pessoas vindos dos EUA, suas conhecidas desde a época em que lá vivera.
     Em Paris, para onde viajara à procura de pistas para ocaso, Yessop depara por acaso com Hilary Craven, uma inglesa recentemente abandonada pelo marido e cuja filha morreu vítima de meningite, que, por isso, está prestes a suicidar-se. Ele propõe-lhe então que, dadas as parecenças físicas com Mrs. Betterton, se faça passar por esta, que morreu, em resultado do despenhamento do avião em que viajava em direção a Casablanca, para tentarem solucionar o mistério do desaparecimento do sábio Thomas Betterton. Ele, Yessop, se encarregará de lhe fornecer os documentos que lhe permitirão apresentar-se como Mrs. Betterton e de simular que a vítima do acidente era uma certa Mrs. Craven. Como nada tem a perder, ela aceita. Antes de expirar no hospital, Mrs. Betterton pede que avisem o marido de que Boris é perigoso. Esta figura apresentara-se, por altura do desaparecimento de Tom Betterton, como primo da primeira mulher deste.
     A falsa Mrs. Betterton tem um encontro com o francês com quem se encontrara no comboio: Henri Laurier, que a instruiu para viajar até Marraquexe.
     Aí, envolvida e rodeada de malfeitores, continua a fazer-se passar por Mrs. Betterton e é levada à presença do «marido», que, no entanto, não coincide com a fotografia que ela tinha visto na polícia. Ele não a desmascara, visto que pensou que era alguém enviado para o libertar daquele lugar, e passam pelo casal Betterton. Entretanto a polícia descobre as pérolas que a falsa Mrs. Betterton espalhou como pistas para ser encontrada, até ao ponto em que ela embarcou no avião.
     «Olive», que ganha uma especial simpatia por Andy Peters, é levada à presença do patrão, Mr. Aristides, um indivíduo rico que tem por hobby fazer coleção de sábios. Por outro lado, faz experiências científicas com seres humanos, autênticas cobaias.
     Um avião de reconhecimento enviado pelas autoridades policiais deteta a colónia de leprosos e o centro de investigação e é-lhe passada, em Morse, uma mensagem. Yessop e Leblanc desconfiam que é ali o centro de atividades / malfeitorias e organizam uma visita àquele local, com comitiva ministerial, para tentarem descobrir os sábios desaparecidos.
     Na parte final da visita, quando os dois polícias acusam Mr. Aristides de manter ali atividades ilícitas e pessoas presas contra a sua vontade, surge em cena Andy Peters, que é, afinal, um agente do FBI e que confirma as acusações.
     Em suma, Andy Peters é Boris Glydr, primo de Elsa, primeira mulher de Tom Betterton, que ele prende por a assassinar. Tom casou-se com ela por mero interesse, e, quando ela fez uma importante descoberta científica, o esposo assassinou-a. Boris decide então perseguir e levar à justiça o criminoso Tom, que, para escapar, se juntara a Aristides e fizera plásticas ao rosto, mas acaba por ser apanhado.
     No fim, Boris e Hilary revelam o seu amor mútuo.

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

O Avarento, de Molière

Ato I

     Valério e Elisa amam-se, a ponto de ele esconder a sua condição social e se sujeitar a ser secretário do pai da amada. Cleanto, irmão de Elisa, ama Mariana, uma doce e desvelada jovem que cuida da mãe doente. Os dois irmãos, órfãos de mãe, são vítimas da tirania e da avareza do pai, Harpagão, que os submete à sua vontade e à avareza. Assim, deseja casar com Mariana e tenciona obrigar o filho a desposar uma viúva rica e a filha com um homem de 50 anos, também rico, que a desposará sem dote. Porém, a filha recusa e, sem saber o que se passa entre os dois, o pai escolhe Valério para juiz daquele impasse.
     Valério usa a lisonja e finge estar de acordo com as ideias do velho, aconselhando a amada Elisa a fingir concordar com o pai e a fingir uma doença para adiar o casamento. Desconhecedor de tudo isto, Harpagão concede a Valério um poder absoluto sobre Elisa.


Ato II

     Cleanto, em virtude da avareza do pai, é forçado a pedir emprestados 15 000 francos, a juros de cerca de 25%. No momento em que se encontra com a pessoa que vai conceder o empréstimo, qual não é o espanto de ambos quando se encontram frente a frente pai e filho.
     Harpagão socorre-se de Eufrosina para conquistar Mariana e preparar o seu casamento. Eufrosina é aduladora, recorrendo frequentemente à mentira para agradar a Harpagão e responder satisfatoriamente a todos os seus intentos (por exemplo, quando ele vê, na grande diferença de idades, um possível obstáculo ao interesse de Mariana em si, Eufrosina responde que Mariana só gosta de velhos de 60 anos, que não pode ver jovens e até recusou um casamento há pouco por o noivo ter apenas 56 anos). O objetivo de Eufrosina é obter algum dinheiro, mas nem toda a lisonja do mundo lhe vale, pois, mal o velho ouve falar no vil metal, vai-se logo embora.


Ato III

     A preparação do "jantar de declaração" é outro momento de grande avareza de Harpagão e de lisonja de Valério. Mestre Tiago, cozinheiro e cocheiro de Harpagão, tenta chamá-lo à razão, explicando-lhe como é troçado por todos, mas o patrão paga-lhe com pauladas, bem como Valério, a quem o Mestre jura vingança.
     O diálogo da cena VII entre Cleanto e Mariana tem um duplo entendimento: o sentido correto só eles o entendem (lamentam o casamento iminente porque os dois se amam); o segundo sentido, errado, é entendido pelos restantes (os dois jovens lamentam o casamento: ele, por razões de herança; ela, por não gostar de jovens e da atitude aparentemente negativa dele). Por outro lado, dá nota da total submissão dos filhos às vontades dos pais: "... se eu não me visse forçada por um poder absoluto..." (Mariana).
     Através do equívoco diálogo, Cleanto faz com que Mariana fique com o anel de diamantes usado por Harpagão.


Ato IV

     Eufrosina lamenta não ter tido conhecimento do amor dos jovens previamente, pois teria conduzido as coisas de modo bem diferente. Para já, engendra o seguinte plano: descobrir uma velha mulher que esteja disposta a fingir-se em rica e nobre, bem como interessada em desposar Harpagão, ao qual entregaria toda a sua vasta fortuna. Dessa forma, este enriqueceria Mariana.
     Desconfiado, Harpagão usa de astúcia para levar o filho a confessar o seu amor por Mariana. Assim, finge que a diferença de idades o levou a reconsiderar e a "oferecer" Mariana ao filho, caso este não tivesse demonstrado tanta aversão pela jovem. Iludido pela artimanha do pai, Cleauto confessa o seu amor e a correspondência de Mariana e o pai, descoberto o segredo do filho, diz-lhe terá de casar com a noiva que lhe reservou, ao que Cleauto reage, afirmando que continuará a amar Mariana, pois "o amor é cego".
     Farpas, criado de Cleanto, espia Harpagão e vê onde ele esconde o tesouro, roubando-lho posteriormente. O desespero do segundo é enorme.


Ato V

     Harpagão chama o Comissário de polícia. Começam por ouvir Mestre Tiago, que, para vingar as pauladas que ele lhe deu, identifica Valério como o ladrão.
     Recorrendo novamente ao equívoco, na cena III, quando é interrogado, Valério "confessa" ter roubado a "caixinha" de Harpagão (referindo-se a Elisa) e este pensa que ele se refere à caixinha do dinheiro roubado.
     Valério revela, então, ser filho de um nobre napolitano. Ao ouvir a história, Mariana diz-se sua irmã. Anselmo apresenta-se, de seguida, como o pai de ambos.
     Entra, então, em cena Cleanto, que diz ao pai que, se o deixar casar com Mariana, o dinheiro lhe será restituído. Harpagão acaba por ceder à chantagem, comprometendo-se Anselmo, progenitor de Valério e Mariana, a pagar todas as despesas dos dois casamentos, a comprar o fato de Harpagão para a boda e a suportar também as despesas ao Comissário.

domingo, 18 de março de 2018

"Édipo Rei", de Sófocles


     A peça Édipo Rei foi escrita por Sófocles (496-406 a.C.), provavelmente no ano de 427 a.C..

     Laio e Jocasta têm um filho, porém aquele tinha sido avisado por um oráculo que de seria morto pelo próprio filho, pelo que pede a um dos seus servos para abandonar a criança no Monte Citerão (entre Tebas e Corinto) com os pés amarrados a uma árvore, para aí morrer. No entanto, um pastor encontra-o e salva-o e a criança acaba por ser adotada Pólibo, rei de Corinto.
     Já adulto, Édipo decide abandonar Corinto e consultar um oráculo, que lhe revela o seu destino trágico: assassinar o pai e casar com a mãe. Destroçado pela revelação, segue em direção à cidade e, numa encruzilhada, tem uma discussão com um velho senhor, acabando por o matar e a toda a sua comitiva, à exceção de um homem.
     Chegado às portas de Tebas, encontra a Esfinge, ser mitológico metade leão e metade mulher que aterrorizava o povo tebano com os seus enigmas, posto que quem não os decifrasse acabava devorado por ela. Confrontado com a charada do monstro ("Qual é o animal que de manhã tem quatro pés, dois ao meio dia e três à tarde?"), Édipo não hesita e responde que se trata do homem. Ao acertar a resposta, ele salva-se, bem como à cidade, onde é recebido como um herói. Como recompensa, recebe a coroa da cidade e a mão da rainha Jocasta, que enviuvara misteriosamente.
     Jocatas e Édipo têm quatro filhos. Quinze anos passados, Tebas é assolada por uma doença terrível. Preocupado com a maldição (a peste) que assolava a cidade, Édipo envia Creonte, seu cunhado, ao oráculo de Apolo, em busca de orientação e de uma solução para o problema.
     Ao regressar, Creonte informa-o de que a maldição é um castigo divino pelo facto de Laio ter sido morto e ninguém o ter ainda vingado e que acabaria quando o assassino do antigo rei de Tebas, caído, muito anos antes, numa encruzilhada, fosse encontrado e punido (com a morte ou a expulsão da cidade).
     Deste modo, Édipo dedica-se inteiramente à tarefa de descobrir o assassino e, assim, salvar Tebas, começando por interrogar vários cidadãos sobre o ocorrido. Um dos interrogados é Tirésias, um profeta cego que lhe diz que o autor do crime estará mais perto do que ele imagina.
     O rei fica atordoado com a informação, porém Jocasta, sua esposa, procura tranquilizá-lo, dizendo-lhe que os profetas já se enganaram anteriormente. E ilustra as suas palavras, referindo a história do seu filho com Laio, cujo oráculo profetizou que mataria o próprio pai e desposaria a mãe. De acordo com Jocasta, tal profecia não se concretizou, dado que a criança foi entregue, ainda bebé, a um camponês para ser morta.
     A narração da esposa não descansa Édipo, pois recorda que, quando era criança, um velho lhe havia dito que estava predestinado a matar o seu próprio pai e a deitar-se com a mãe. Além disso, anos volvidos, quando se dirigia para Tebas, assassinara um homem numa encruzilhada, situação que soa muito semelhante à história de Laio.
     Jocasta implora ao marido que não remexa mais no seu passado, porém tal pedido é ignorado por ele. Édipo questiona mais pessoas, incluindo um mensageiro e um camponês que conheceriam bastante bem a história de como ele fora abandonado e adotado por uma família de Corinto.
     Jocasta compreende, então, que, na verdade, é a mãe de Édipo. Horrorizada com a descoberta, tira a sua própria vida. Posteriormente, é o próprio Édipo quem toma consciência de que é ele o assassino do próprio pai e marido da própria mãe. Igualmente horrorizado, fura os seus olhos, amaldiçoa os dois filhos que lutam pela coroa e exila-se de Tebas, guiado pela filha Antígona, cumprindo assim o castigo (a expulsão da cidade) que Apolo tinha destinado ao assassino, para que a mancha fosse retirada da cidade, salvando-a da peste.
     Édipo, que trouxera outrora sorte à cidade, voltou a trazê-la no final da peça, ao salvá-la da peste, conseguindo aquilo que se tinha proposto na peça.

     A peça e o seu protagonista deram origem ao célebre Complexo de Édipo, conceito criado por Sigmund Freud no campo da psicologia, que consiste na atração que um filho sente pela mãe durante determinado período da vida.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

"A honra perdida de Katharina Blum", de Heinrich Böll

     Katharina Blum, empregada em casa de um advogado, durante um baile de Carnaval, apaixona-se por um alegado assaltante de bancos, desertor e assassino e passa uma noite com ele no seu apartamento. No entanto, a polícia tem ambos sob vigilância, o que não impede que ele desapareça sem deixar rasto.
     As forças da autoridade convocam então Katharina para depor sobre as suas relações com Ludwig Götten, mas liberta-a por a considerar inocente de parceria com o criminoso. Entretanto, enquanto o advogado e a sua esposa, conhecida por "Trude Vermelha" por ambos serem considerados comunistas, interrompem as suas férias e acorrem em seu auxílio.
     Um jornalista que trabalha para um jornal sensacionalista chamado simplesmente Jornal debruça-se sobre o caso e escreve uma série de artigos onde altera os factos, distorcendo-os, mente, de forma a dar de Katharina uma imagem de cúmplice de Götten, de uma mulher leviana e insensível. Entrevista pessoas amigas, vizinhas ou familiares (pelo meio causa a morte da mãe da jovem, recentemente objeto de uma intervenção cirúrgica delicada para debelar um cancro, depois de lhe mentir sobre a filha) e distorce as suas palavras sobre Katharina. Trata-se de uma verdadeira perseguição: de terrorista a comunista, passando por criminosa, tudo o 'jornalista' lhe chama.
     No auge da fúria, Katharina procura-o e assassina-o a tiros de revólver.
     Publicada originalmente em 1974, a obra, cuja ação decorre na então Alemanha Ocidental, no pico da Guerra Fria, retrata a paranoia dessa época e as profundas divisões políticas mundiais. Note-se, por exemplo, que o maior insulto dirigido a alguém era apelidá-lo de "comunista". Por outro lado, Böll critica acidamente o jornalismo sensacionalista.

"Werther", de Goethe

     Werther, um jovem inconstante, conhece Carlota, uma jovem comprometida com Alberto, por quem se apaixona irremediavelmente.
     Da evolução da sua paixão trágica dá conta ao amigo Guilherme através de cartas. Desesperado pela impossibilidade de concretizar o seu amor, vai trabalhar para um embaixador, mas rapidamente regressa para o convívio da sua amada. Após um convívio inicial com Alberto, os dois rivais começam progressivamente a esfriar as suas relações. Por outro lado, este faz, cada vez mais, mais alusões ao suicídio.
     Por seu turno, Werther conhece histórias de amores contrariados. Um deles é o de um criado e da viúva para quem trabalha. Afastado dela pelo irmão da viúva, outro criado toma o seu lugar e é anunciado o casamento deste último com a mulher. Porém, o primeiro assassina o rival, porque, já que ela não pode ser sua, não será de mais ninguém. O jovem vê neste caso um espelho do seu, por isso toma o partido do assassino.
     Depois de Carlota pedir a Werther que só a volte a visitar pelo Natal, ele acaba por ir a sua casa uns dias antes da data e, num acesso de loucura, beija-a. A jovem expulsa-o e pede-lhe que nunca mais a procure. Werther pede as duas pistolas a Alberto e quem as dá ao criado do jovem é Carlota, num gesto que, metonimicamente, a aponta como responsável pela desgraça dele.
     Werther suicida-se com um tiro na cabeça, mas a sua agonia prolonga-se por várias horas. Carlota, ao vê-lo, desmaia e está bastante tempo entre a vida e a morte. O funeral tem fraco acompanhamento e nenhum padre o acompanha, dado tratar-se de um suicida.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

"Crime e Castigo", de Fiódor Dostoiévsky

     Raskólnikov é um jovem de 24 anos, natural de Petersburgo, pobre e endividado, por isso revoltado contra o «mundo» que planeia um crime contra uma velha agiota (símbolo na obra do capitalismo) para se libertar do seu modo de vida miserável, mas demonstra também hesitação e alguma repulsa por pensar em recorrer ao crime.
     A personagem Marmeládov representa o baixo estatuto dos funcionários públicos: miserável, alcoólico, desprezado pela sociedade, oprimido em casa, procurando, através de um expressão verbal recheada de floreados, o respeito público. Humilha-se ao pedir empréstimos; a filha é prostituta; vende até as roupas da mulher para sustentar a bebedeira; vive numa casa gelada, por isso, no último inverno, a consorte adoeceu e começou a cuspir sangue. Atualmente, esta trabalha de manhã à noite, não obstante a sua educação esmerada, a cultura e a proveniência de boas famílias. Vendo-se viúva e desprezada pela própria família, casou pela segunda vez por necessidade absoluta. Marmeládov, também viúvo, não conseguiu agradar à segunda mulher, foi despedido, errou por várias cidades até assentar ali. Foi nesta cidade que a filha do primeiro casamento se viu na necessidade de se prostituir... e o pai bêbedo. Marmeládov dirigiu-se então a sua excelência Ivan Afanássievitch, que lhe deu emprego. Em consequência, a vida da sua família transformou-se, até que há cinco noites ele retirou todo o dinheiro do baú, saiu de casa e caiu novamente na bebida.
     De volta aos seus problemas, Raskólnikov fica a saber que a senhoria quer dar parte de si à polícia por não pagar a renda. Entretanto recebe uma carta da mãe que aborda diversos assuntos familiares: (1) os maus tratos e as humilhações sofridas por Dúnia, sua irmã, em casa do sr. Svidrigáilov, porque se havia apaixonado por ela e usa a grosseria e o desprezo para mitigar o seu desvario amoroso; a mulher descobre o interesse amoroso dele, mas interpreta a situação ao contrário, como se fosse Dúnetchka a tentar seduzir o patrão, fazendo recair sobre ela todo o odioso da questão e o desprezo da cidade; o problema resolve-se quando Svidrigáilov relata à esposa toda a verdade, relato esse sustentado pelos criados, e a honra é devolvida à família de Raskólnikov; (2) Dúnetchka recebeu um pedido de casamento de Piotr Petróvitch Lújin, conselheiro áulico e parente afastado de Marfa Petrovna, mulher de Svidrigáilov; trata-se de um homem abastado mas muito mais velho (45 anos), bondoso e bem apessoado, direto e um pouco brusco; não será um casamento de amor intenso; Dúnia projeta já que o irmão se torne sócio do futuro marido num escritório de advocacia que este pretende abrir em Petersburgo (até porque Raskólnikov poderá regressar à universidade para retomar o curso de Direito entretanto abandonado); (3) Pulkhéria Raskólnikova, a mãe, poderá, agora que o crédito lhe foi novamente franqueado, enviar algum dinheiro ao filho.
     Raskólnikov não aceita o casamento e faz uma longa digressão sobre as razões que terão levado a irmã a tomar uma atitude tão 'decisiva' na vida que é incongruente com a sua forma de ser e de viver, para concluir que se trata de um sacrifício pessoal em prol de uma melhor existência para a mãe e o irmão.
     A propósito do encontro com uma miúda de 15 / 16 anos bêbeda, acabada de "enganar" (pela primeira vez), reflete sobre a vida degradante que levam as prostitutas: a primeira "asneira", a descoberta por parte da família, a expulsão de casa, as ruas, os chulos e as casas de prostituição, as doenças venéreas / gravidezes, o fim da vida aos 18 / 19 anos.
     Enquanto estudante universitário, Raskólnikov isolava-se de todos, não participava em nada (conversas, divertimentos, convívios), estudava muito, pelo que era respeitado mas não amado pelos colegas. A sua pobreza tornava-o orgulhoso, fechado e desdenhoso. O único amigo que possuía era Razumíkhin, um rapaz bastante alegre, sociável, bondoso, um pouco simplório, mas assaz inteligente. Era pobre (vivia à custa de pequenos trabalhos) e valentão, capaz das atitudes mais contraditórias; nenhuma contrariedade o desanimava.
     Raskólnikov prepara-se para cometer o seu crime e recorda.-se da coincidência de, na altura em que começara a pensar nele, ter ouvido, numa taverna, uma conversa entre dois homens, que consideravam a morte da velha usurária um ato de justiça social. O seu caráter introspetivo leva-o a considerar uma espécie de analogia: figuras como Júlio César e Napoleão Bonaparte foram responsáveis por milhares de mortos, porém a História registou-os como grandes heróis e conquistadores, absolvendo-os dos seus atos. Por que razão ele não o poderia ser também ao eliminar a velha agiota? Assassinando-a, não estaria a fazer um bem à humanidade?
     Como ardil para entrar em casa da velha, Raskólnikov embrulha muito bem um pedaço de madeira e uma chapa de ferro e cose uma alça de pano dentro do sobretudo muito largo para o machado ser transportado sem levantar suspeitas. No meio de grande nervosismo, assassina a velha e está a vasculhar as coisas dela em busca das riquezas, quando ouve um grito ténue. É Lisaveta, a irmã, da morta, que acabara de entrar e que ele também assassina à machadada. Pouco depois dá-se a chegada de um cliente de nome Koch e de um jovem estudante para juiz de instrução, que acabam por desconfiar que algo de suspeito aconteceu porque a porta não está fechada à chave, mas apenas com a tranca, e nenhuma das duas irmãs vem atender. Os dois descem à procura do guarda e Raskólnikov aproveita para fugir, mas, enquanto desce, apercebe-se que os outros vêm a subir de regresso. No último momento, encontra um apartamento em obras, vazio, e nele se esconde até os outros passarem em direção ao cenário do crime. Chegado a sua casa, repõe o machado no sítio e sobe para o seu quarto. Vestígios de sangue permanecem, no entanto, nos fios das suas calças e nas suas meias.
     Cheio de febre e em pânico, Raskólnikov é chamado à esquadra de polícia, mas afinal "só" por causa de uma dívida à sua senhoria. Na esquadra ainda, ouve casualmente uma conversa, através da qual fica sabedor de que as autoridades não possuem pistas sobre o assassino da usurária. Com efeito, tratou-se do crime perfeito. Apesar disso, continua a pensar que a polícia suspeita de si, por isso livra-se dos objetos roubados à velha, escondendo-os num buraco junto a um portão de um prédio. Por outro lado, além do medo de ser preso, ressaltará o sentimento de culpa que o irá assolar e que nenhum livro o ensinou a superar. Matar milhares de seres humanos em nome da humanidade talvez seja mais fácil de superar do que aniquilar um só.
     De seguida, vagueando ao caso, vai ter a casa do amigo de universidade Razumíkhin, que lhe oferece parceria numas traduções que anda a fazer, mas recusa a oferta, bem como o dinheiro correspondente ao pagamento da tarefa. De noite, acometido de febre, sonha que o ajudante de polícia que o recebeu de dia espanca a sua senhoria, Depois desmaia.
     Dias depois, quando desperta da febre, tem ao seu dispor 35 rublos que a mãe lhe enviou e que, de início, rejeita. Fica a saber, por intermédio do amigo, que um trolha é agora o suspeito do assassínio da usurária. Obcecado pelo crime que cometeu, hesita em ir à polícia denunciar-se como autor do crime. A obsessão é tamanha que chega a deslocar-se novamente à casa da vítima. É o desejo de ser punido a despertar na sua psique. Entretanto a irmã e a mãe vêm à cidade e aí permanecem., enquanto Raskólnikov prossegue o seu percurso errático, chegando a despertar suspeitas.
     A chegada de Svidrigáilov, marido da defunta Marfa Petrovna e suspeito de vários atos criminosos, entre os quais pedofilia e a morte da própria mulher, vem perturbar-lhe mais a existência. Em simultâneo, a irmã recebe 3000 rublos da herança de M. Petrovna e termina o noivado com Lujín por causa de um ódio mútuo.
     Raskólnikov confia a família a Razumíkhin e dirige-se à polícia, onde encontra um juiz de instrução - Porfiri - que o confunde por completo ao explicar-lhe um método de investigação "psicológico" que se aplica a si mesmo e ao seu comportamento na perfeição, mas afirmando sempre que não se lhe aplica. Uma surpresa reservada a Raskólnikov - o confronto com o homem que, no dia anterior, o tinha perseguido e chamado assassino - acaba por cair por terra quando irrompe pela sala Nikolai, um dos pintores, que se apresenta como o autor do crime.
     Os acontecimentos sofrem uma reviravolta quando o protagonista conhece Sónia, uma prostituta miserável que acaba por representar a fé ortodoxa e a possibilidade de uma redenção. De facto, ele, um niilista, é confrontado com a leitura de uma passagem do Evangelho de São João, precisamente a que refere a ressurreição de Lázaro. E, de facto, a partir desse momento, o herói parece ressurgir do mundo da solidão, da culpa, da introspeção, do niilismo.
     Entrementes Lujín arma uma cilada a Sónia durante o "banquete" organizado após o funeral do pai, simulando um furto de 100 rublos, procurando despoletar um conflito entre Raskólnikov e a sua família e que ele, Lujín, recuperasse as boas graças da mãe e da irmã daquele. No entanto, acaba por ser desmascarado por Lebeziátnikov e pelo próprio Raskólnikov. Posteriormente, este revela a Sónia ser o assassino de Lisaveta e da velha agiota e ela aconselha-o a confessar.
     A mãe de Sónia, Katerina Ivánovna, em desespero, vai pelas ruas com os filhos mais novos, como "cantores" ambulantes, para obter o dinheiro que lhe falta e que todos lhe negam até que cai, expelindo golfadas de sangue pela boca, e morre, vitimada pela tísica. Svidrigáilov, que entretanto escutou, no quarto contíguo, a confissão do assassinato, trata de colocar os filhos mais novos de K. Ivánovna numa instituição de crianças órfãs, oferecendo-lhes também uma determinada quantia de dinheiro para que tenham o futuro assegurado.
     Raskólnikov recebe a visita do juiz de instrução, Porfíri Petróvitch, que o vem acusar direta e inequivocamente do crime, revelando não acreditar na confissão do pintor, que o terá feito por crença religiosa. Aconselha-o a confessar e assim terá atenuantes quando lhe for aplicada uma pena, contudo ele recusa e vai falar com Svidrigáilov. Este, mais tarde, recebe Dúnia após lhe ter escrito uma carta onde dava a entender que o irmão tinha assassinado a velha agiota e a irmã. Agora, confirma este facto e o modo como ficou a conhecê-lo e propõe-lhe um relacionamento em troca da salvação de Raskólnikov. Ela recusa e ele ameaça violá-la, mas Dúnia saca de um revólver e chega a efetuar um disparo, ferindo na fronte de raspão. Tenta mais duas vezes, mas arma mal o revólver e este não dispara, perante um Svidrigáilov que prefere morrer face à recusa da jovem. Dúnia acaba por atirar a arma ao chão; o homem abraça-a, mas ela, a tremer, diz-lhe não e ele dá-lhe a chave do quarto.
     De seguidam Svidrigáilov procura Sónia e oferece-lhe dinheiro para ela sobreviver, juntamente com Raskólnikov, caso este seja preso e a mulher o acompanhe. Depois dirige-se a casa da noiva de 16 anos e oferece à família 1500 rublos, pois vai partir para a América por um largo período de tempo. Vagueia então por Petersburgo até pernoitar num autêntico antro, no qual o seu sono é interrompido várias vezes por sonhos estranhos. Posteriormente, sai para a rua e suicida-se com um tiro na cabeça, tendo como testemunha um bêbedo.
     Por sua vez, após ter considerado também o suicídio, lançando-se ao rio, Raskólnikov decide entregar-se à justiça, indo despedir-se previamente da mãe e da irmã, continuando, porém, a não considerar o seu gesto um crime, porque se tratou de livrar o mundo de um piolho (um parasita) que explorava centenas de pobres indefesos, comparando o seu ato aos "crimes" cometidos pelos dirigentes das nações, que comemoram com champanhe o derramamento do sangue de milhares de homens. Quando se prepara para confessar o crime a Iliá Petróvitch, este comunica-lhe que Svidrigáilov se suicidou, o que o deixa incrédulo e zonzo e sai sem confessar. No entanto, à saída, encontra Sónia, mortificada. Reentra então e confessa finalmente o seu duplo homicídio.

     O Epílogo situa-nos numa prisão siberiana, um ano e meio após o crime e nove meses depois do encarceramento de Raskólnikov. O processo judicial decorreu célere, pois ele confessou tudo e os juízes concluíram que o crime fora cometido em resultado de loucura temporária, pois o criminosos não tirou proveito do posterior roubo, isto é, não matou por interesse material, para roubar. No entanto, Raskólnikov assume que o crime fora praticado pela sua pobreza e desamparo, pelo desejo de assegurar os primeiros passos na carreira. A sentença foi condicionada por diversas atenuantes: o seu estado doentio e desorientado no momento do crime; o assassínio fortuito e não planeado de Lisaveta; a confissão espontânea do ato; o seu passado humano e caridoso, revelado por Razumíkhin; um ato de heroísmo revelado pela mãe da ex-namorada, já falecida. Resultado: oito anos de trabalhos forçados de segundo grau.

     A mãe adoece e entra num estado de quase loucura, enquanto Rasumíkhin a leva e a Dúnia para morar numa pequena cidade perto de Petersburgo. Sónia segue-o para a Sibéria.
     Dois meses depois da partida, Dúnetchka e Razumíkhin casaram-se, numa cerimónia triste e modesta. Pouco tempo volvido, Pulkhéria Aleksándrovna morre.
     Sónia e o casal trocam cartas uma vez por mês, onde aquela relata secamente os factos ocorridos com Raskólnikov e nada sobre o seu estado de espírito ou projetos, apenas o grande abalo sofrido ao conhecer a nova da morte da mãe: ensimesmamento e indiferença relativamente ao presente e ao futuro. Sónia encontra-se regularmente com Raskólnikov, a quem fornece dinheiro para chá por a comida ser intragável, e trabalha como costureira, tendo conseguido que ele fosse protegido pelas autoridades prisionais. Repentinamente, a notícia de que adoeceu, de orgulho ferido, por a sua consciência não ver no crime qualquer erro ou culpa e não ser capaz de qualquer arrependimento. Enquanto os outros presidiários o odeiam, adoram Sónia, que lhes escreve as cartas destinadas aos familiares..
     Quando Raskólnikov tem alta da enfermaria, é informado que Sónia adoecera e estava de cama, o que o deixa preocupado e pede a alguém que vá saber dela.
     Numa manhã em que vai trabalhar para a margem do rio, surge, repentinamente, Sónia e, subitamente, ele lança-se aos seus pés: ama-a. E é esse amor que os irá resgatar a ambos e fazer encarar os sete anos que faltam cumprir de pena como "apenas sete anos", sem pressentirem que este princípio de felicidade será confrontado com grandes provas futuras.
     Afinal, é o amor que vai salvar estas duas almas infortunadas - um assassino e uma prostituta -, que vai resgatá-las e dar-lhes a oportunidade de uma nova vida.
     

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

"Angústia para o Jantar", Luís de Sttau-Monteiro

     O que levará Gonçalo, um empresário rico e burguês, a encontrar-se para jantar com António, empregado de escritório e pobre, sempre ao dia 15 de cada mês, se nada têm em comum senão terem sido, há mais de 30 anos,  colegas no liceu? Um mero hábito que se adquiriu? Uma forma de mostrar que mantém as amizades de tempos longínquos?
     Gonçalo, de 55 anos, casado com Teresa, tem uma amante, Alexandra, que por sua vez possui o(s) seu(s) amante(s). Seguem-se algumas reflexões do narrador: sobre o provincianismo domingueiro, sobre o machismo (o porteiro que passou a manhã sentado, a ler o jornal, enquanto a mulher varria a casa, limpava e fazia a comida, e come a carne toda, enquanto ela e os filhos apenas batatas fritas).
     Casualmente, num domingo em que ficara só porque Gonçalo, como de costume, janta com a família, Alexandra e António encontram-se num bar e ela, por estar só, leva-o a jantar em sua casa, onde António descobre uma fotografia de Gonçalo e se apercebe de que se trata da amante deste. Os dois acabam por ter relações sexuais, porém, a meio da noite, curada da bebedeira, ela expulsa-o de casa, enojada do que acabara de fazer. Tempos depois, alguém conta a Gonçalo que viu a amante com um homem horroroso num bar e que saíram juntos.
     A sociedade a que Gonçalo pertence caracteriza-se pela hipocrisia, fingimento e vacuidade. As mulheres são, culturalmente, vazias; tudo fazem para manter o seu "status" social e económico, mesmo suportar "com elegância" as amantes dos maridos, quando não são elas que os traem; nada fazem de útil; são sustentadas pelos maridos, sem os quais nada saberiam fazer para se sustentarem a si mesmas.
     O filho de Gonçalo, Pedro, de 24 anos, envolve-se num grupo de contestação ao regime político. O pai só consegue "falar-lhe" através de carta.
     António desloca-se ao apartamento de Alexandra na esperança de voltar a dormir com ela, mas é humilhado e expulso. Com medo, no entanto, que o homem conte a Gonçalo o que se passou, a mulher conta ela mesma ao amante o sucedido. Gonçalo "perdoa-lhe", pois vê ali uma oportunidade para, daí a dois ou três meses, a descartar.
     António sofre de uma doença fatal. Teresa entrega ao filho a carta escrita pelo pai e constata que ela e o filho vivem e sonham com mundos muito diferentes. Alexandre parte em busca de novo amante.
     Gonçalo, para afastar o filho das "ideias revolucionárias" que persegue, decide convidá-lo para o próximo jantar com António, tencionando humilhar, destruir este aos olhos do filho, para que veja quão insignificantes são os "tipos com quem [Pedro] anda metido".
     Durante o jantar, em que Gonçalo tudo faz para conseguir humilhar António aos olhos de Pedro, ficamos a saber a forma como se conheceram: António era gozado, no liceu, pelos colegas por causa do seu aspeto franzino. Um dia vinga-se de um deles atirando-lhe uma pedrada e esconde-se. Os outros alunos acabam por o descobrir, escondido atrás de um muro, fazem uma roda e assistem, em êxtase, à sova que o "apedrejado" lhe aplica. Pouco depois de a sova ter terminado, Gonçalo vem ao seu encontro. No dia seguinte, depois da primeira aula, este sobe ao estrado e afirma que quem voltar a importunar António terá de se haver com ele. Ao refletir, nesse episódio, compreende que Gonçalo o defendeu apenas para pôr à prova a sua força e não por considerar que não se deve abusar de alguém mais fraco.
     No final do jantar, a humilhação de António é total.
     Esta personagem morre, no entanto a secretária de Gonçalo recebe um telefonema de um desconhecido, lembrando-o da necessidade de marcar na agenda o jantar do dia 15. Ele desconfia que será Alexandra a vingar-se de a ter deixado, por isso decide comparecer, fazendo-se acompanhar por uma nova pega, para fingir que a substituiu e nunca mais pensou nela. Porém, afinal, quem está à sua espera é Pedro: "Perdi a batalha. (...) porque estou fora do meu tempo e porque não são as armas que dão a vitória aos vencedores. Quem vence as batalhas é quem está dentro do seu tempo.".

"Kit Carson", Edmund Collier


     Kit Carson é um jovem que vive na ânsia de caçar e viver aventuras nas Montanhas Rochosas. Durante um incêndio, perde o pai na sua juventude e passa a trabalhar na loja de um ferreiro. No entanto, foge daí e junta-se a uma caravana que se dirige para o Oeste. Aí, fica sozinho na cidade de Taos, vivendo miseravelmente, até que se junta a um grupo de caçadores e se torna um caçador experimentado. Numa escaramuça do grupo de Kit com os índios, a sua valentia acaba por lhe granjear o nome de Vih'hui-nis, isto é, Pequeno Chefe, numa grande demonstração de respeito por parte dos índios.
     Pouco tempo depois, Kit casa-se com uma jovem índia chamada Relva Cantante, com quem tem uma filha, Adelina. Entretanto, o negócio da pele de castor entra em decadência, por isso vai trabalhar para um homem de nome Charlie Bent, caçando búfalos e protegendo dos índios a pista de Santa Fé, onde socorre inúmeras caravanas. Nos entrementes, morre Relva Cantante.
     De seguida, ganha bastante dinheiro ao chefiar uma expedição de um homem de nome Frémont e casa com uma mulher, Josefa, em Taos. E, de façanha em façanha, a sua fama vai-se alastrando pelo Oeste.
     Quando os EUA declaracam guerra ao México, Carson participa nela e mais uma vez destacam-se as suas qualidades de bravura e de comando de homens, nomeadamente no episódio da batalha de S. Pascoal.
     Anos volvidos, é nomeado agente para ajudar a estabelecer a paz entre os índios e os colobonos brancos que diariamente se deslocavam para a Califórnia.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

"Relatório Minoritário", de Philip K. Dick


     Os Estados Unidos irradicaram quase o crime, graças a um sistema inovador de prevenção, denominado Precrime, cujo autor é John Anderton. E é justamente no dia em que este está a explicar ao seu novo assistente, Witwer, o complicadíssimo funcionamento daquele sistema que o seu próprio nome é expedito pelo sistema informático: John Anderton irá matar um homem, Leopold Kaplan, general reformado do Exército da Aliança do Bloco Ocidental.
     Quando Anderton se prepara para fugir, é levado sob ameaça de uma arma, à presença de Kaplan. Aí, Anderton revela pensar tratar-se de um embuste para o afastar da agência e ser substituído pelo novo assistente. E, de facto, é difundido um comunicado em que é solicitada a entrega do potencial homicida John Anderton ao Comissário Witwer.
     Quando é transportado para a polícia no carro de Kaplan, este sofre um violento acidente e Anderton é retirado do seu interior por um misterioso homem, de nome Fleming, que lhe confirma tratar-se de uma cilada, da autoria da mulher de Anderton. O homem fornece-lhe falsos documentos e aconselha-o a permanecer oculto nos próximos sete dias.
     Através da TV fica a saber que, dos três, apenas duas mutantes previram o seu crime, pelo que o seu interesse se volta todo para a obtenção do relatório do terceiro mutante, o relatório minoritário.
     Com a ajuda de Page introduz-se no edifício e obtém uma cópia do relatório que o inocenta, mas é surpreendido pela mulher, em cuja nave partem os dois. Ela tenta provar-lhe que ele tem de ser detido para que a Precrime continue a funcionar. Caso prove a sua inocência, isso significará o descrédito da polícia. Assim, Anderton deverá sacrificar-se pelo bem de todos, sacrificar a sua segurança pessoal pelo sistema. Lisa, a mulher, aponta-lhe uma arma e obriga-o a regressar à polícia quando intervém um terceiro passageiro da nave - Fleming. Este controla a situação e pretende assassinar Lisa, sufocando-a, mas Anderton põe-no inconsciente e descobre que é um elemento da Liga Internacional de Veteranos, organização dirigida por Kaplan. Anderton decide então entregar-se a Witwer.
     A ordem de prisão é anulada e Anderton explica que tudo não passou de um esquema montado por Kaplan para restaurar o poder e a influência do exército, graças ao descrédito do Precrime. A estratégia consiste em provar publicamente, através do relatório minoritário, que o sistema tem andado a prender inocentes e em exigir o desmembramento da polícia.
     A solução para o evitar consiste, segundo Anderton, em assassinar Kaplan. E, quando este, está a expor publicamente a sua tese, pega no relatório minoritário, vacila e é atingido a tiro por Anderton.
     A explicação do caso surge quando este e a esposa se preparam para partir em direção a Centaurus X. Os três relatórios foram elaborados em diferentes dimensões temporais. No primeiro, Anderton sabia da conspiração de Kaplan e matava-o de seguida; o segundo baseou-se no primeiro e no conhecimento que Anderton tinha da informação do primeiro e de que o seu único objetivo era conservar a sua posição e não matar Kaplan: no caso do último, Anderton percebera qual era, realmente, o jogo de Kaplan e decidira, efetivamente, assassiná-lo. Isto é, o segundo relatório anulou o primeiro; o terceiro, o segundo; o terceiro era o relatório válido, pois, após este, não apareceu outro a contrariá-lo.

sábado, 23 de dezembro de 2017

"A Ilha do Tesouro", de Robert Louis Stevenson


     A obra relata as aventuras do jovem Jim Hawkins em busca do tesouro do capitão pirata Flint, em pleno século XVIII.

     Certo dia, aparece na "Almirante Benbow", uma hospedaria do pai de Jim (que falece pouco depois), um velho pirata, o capitão Bill, já muito doente, que acaba por morrer volvido pouco tempo. Ao revistar a sua arca, para o rapaz e a mão se ressarcirem do que o velho pirata lhes devia, apossam-se de um embrulho de oleado que contém, sem que ele o saiba de imediato, o mapa de um tesouro.
     O morgado Trelawney parte de imediato para Bristol, no intuito de equipar um barco. Acompanhado de Jim e do Dr. Livesey, inicia viagem no "Hispaniola", juntamente com o capitão Smollett e Long John Silver, o cozinheiro que perdeu uma perna e que ajuda o morgado na composição da tripulação do barco.
     Silver revela-se um ótimo tripulante e é adorado e elogiado por todos até ao dia em que Jim, escondido dentro do barril das maçãs, escuta um diálogo em que aquele participa e fica a saber que era o quartel-mestre do capitão Flint, que a maior parte da tripulação do barco por ele arregimentada é constituída por piratas do mesmo Flint e que estes se preparam para massacrar os demais tripulantes, mal encontrem o tesouro. Entrementes, chegam à ilha.
     Conhecedores da traição que se prepara, o capitão Smollett, o morgado e o Dr. Livesey decidem dar uma folga aos marinheiros na ilha, ficando apenas os fiéis ao capitão e meia dúzia de piratas no navio. Jim acompanha os desembarcados que, já na ínsula, assassinam dois marinheiros que se mostram renitentes em trair o comandante do barco. Jim, pensando que seria a próxima vítima dos piratas, foge para o interior da ilha e encontra Ben Gun, um homem que vive nela há três anos. A sua história, narrada em analepse, é simples: fazia parte da tripulação do temível Flint na época em que este enterrou o tesouro naquele local, tendo assassinado os seis piratas que o acompanharam, para ninguém, exceto ele mesmo, conhecer a sua localização. Vivos ficaram somente ele, Ben, Billy Bones, o imediato, e Long John, o contramestre, que haviam permanecido no navio e a quem Flint jamais revelou a localização do tesouro. Anos depois, Ben passou pela ilha noutro barco e convenceu os companheiros a procurarem-no, porém, como não o encontraram, foi abandonado na ilha.
     Entretanto, no barco, o capitão e os seus companheiros encurralam os piratas que permaneceram a bordo e fazem algumas viagens de canoa entre o navio e o fortim da ilha, construído há anos por Flint, transportando víveres, armas e munições, necessários à sua sobrevivência, mas a última viagem corre mal e o transporte afunda-se, perdendo-se toda a carga que transportavam. Com eles viaja um pirata que se passa para o seu lado. Já a salvo no fortim, desenvolve-se uma refrega entre os dois partidos, tendo caído dois amotinados e Redruth, o velho servidor do senhor Trelawney. Ao princípio da noite junta-se-lhes Jim.
     Ao raiar da manhã seguinte, Silver, agora capitão dos amotinados, vem ao fortim apresentar uma proposta ao capitão Smollett: o mapa do tesouro em troca de serem transportados para o "Hispaniola" e desembarcados num local à sua escolha, ou, em alternativa, se desejarem permanecer na ilha com receio da vingança de alguns dos piratas, (d)a divisão das rações com eles e a promessa de dar conta da sua situação ao primeiro barco que encontrar. Smollett contrapõe: os piratas rendem-se, são presos e conduzidos de volta a Inglaterra, onde serão julgados com justiça, ou então aniquilá-los-á. A resposta de Silver é fulminante: ataca o fortim. Nesse ataque, perecem cinco piratas e Joyce, ficando feridos Smollett e Hunter, que acaba por falecer pouco depois.
     O Dr. Livesey abandona o local e parte ao encontro de Ben Gun, enquanto Jim procura encontrar o "barco" construído por Ben e com ele ir em busca do "Hispaniola", para lhe cortar as amarras e o deixar à deriva no mar.

     Após algumas horas de errância, Jim desperta no seu caiaque, próximo da Ilha do Tesouro e não muito distante também do "Hispaniola". Na sequência de diversas peripécias, consegue subir a bordo do barco e tomar conta dele, livrando-se da ameaça que Israel Hands constituía.
     Quando o jovem regressa a terra, uma grande surpresa aguarda-o: o fortim foi tomado pelos piratas (apenas restam seis) e ele é feito seu prisioneiro. É-lhe dado então a escolher: ficar com eles ou a morte. O rapaz resume-lhes toda a série de contrariedades que os piratas sofreram e apresenta-se como seu autor. Estes querem liquidá-lo de imediato, mas Silver opõe-se-lhes e, enquanto os restantes piratas se reúnem, o cozinheiro, agora capitão, diz a Jim que o protegerá se este o livrar da forca. E tudo porque se viu subitamente sem barco e sem tesouro. Da reunião dos piratas resulta a decisão de deporem Silver do seu posto de comando. No entanto, rebate argutamente os quatro factos de que é acusado e acaba aclamado pelos companheiros, nomeadamente após lhes apresentar omapa do tesouro que o Dr. Livesey lhe dera.
     Na manhã seguinte, recebem a visita do médico, que vem fazer uma ronda entre os piratas, para aferir do seu estado de saúde.
     Os piratas partem em busca do tesouro e, junto a um pinheiro, encontram o esqueleto de um marinheiro disposto numa posição invulgar: direito, os pés apontados para um lado, as mãos acima da cabeça as de um mergulhador, viradas a direito na direção oposta. Concluem que se trata do pirata Allardyce, um dos seis que Flint matou, colocado ali para servir de indicador: acertou-o com a bússola, de forma a o corpo apontar a direito para a Ilha do Esqueleto e a bússola para E.S.E. e uma quarta por E. A referência a Flint por ocasião da descoberta do esqueleto deixa os piratas apavorados. Quando, a meio do bosque, ouvem uma voz entoar a sua cantiga preferida, o terror invade-os. Segundos depois, a mesma voz repete as últimas palavras do terrível pirata antes de morre. O único que mantém algum controle sobre si mesmo é Silver, que consegue acalmar os companheiros. De tal forma tem êxito o seu auto-domínio que os piratas chegam à conclusão que a misteriosa voz não é de Flint, mas de Ben Gunn.
     Por outro lado, a aproximação ao tesouro traz de novo à superfície o verdadeiro Silver, que dá mostras de ter já esquecido a promessa feita quer a ameaça do Dr. Livesey.
     Pouco depois os piratas encontram finalmente o esconderijo do tesouro, só que já não há lá nada. Silver muda imediatamente de plano e passa uma pistola de dois canos para as mãos de Jim, enquanto os outros piratas se lançam para dentro da casa e começam a escavar com as mãos, mas apenas encontram uma moeda de dois guinéus, o que os faz voltarem-se para Silver. No entanto, três disparos saem do meio das sebes (médico, Gray e Ben Gunn) e Silver dispara também a sua pistola, liquidando dois dos piratas, e lançam-se de seguida em perseguição dos restantes três.
     Os perseguidores abrandam a sua marcha e o médico aproveita para resumir o que sucedera. Ben, ao vaguear, solitário, pela ilha encontrara o esqueleto e o tesouro e escondera-o numa caverna da ilha, dois meses antes da chegada do "Hispaniola". Quando lhe relatou este segredo, o Dr. Livesey entregou a Silver o mapa, já inútil, e tudo o mais, de modo a mudar-se em segurança do fortim para o monte dos dois picos e assim conservar o tesouro e ficar livre da malária. No dia em que Silver e os companheiros partiram em busca do tesouro, enviou Ben para os atrasar, aproveitando-se das superstições dos antigos camaradas. Assim, quando chegaram ao local do tesouro, já o médico e Gray estavam emboscados à sua espera.
     Chegados aos escaleres, desfazem um e partem no outro em direção à Angra Norte, em cuja foz encontram o "Hispaniola" à deriva. Deixam Gray de guarda ao barco e partem em direção à caverna de Ben Gunn.
     Na manhã seguinte, iniciam o transporte do tesouro para o navio, tarefa que se arrasta por vários dias. Finalizada, partem, deixando na ilha provisões, medicamentos, pólvora, chumbo e outras utilidades para os três piratas.
     Volvidos alguns dias e peripécias, atracam num porto da América Espanhola, onde se veem livres de Silver, que lhes foge com a ajuda de Ben, levando consigo um saco de cerca de 400 guinéus. A fuga do pirata deixa-os, no fundo, satisfeitos por se verem livre dele. Nesse porto, angariam alguns tripulantes e fazem um excelente resto de viagem até Bristol, onde dividem o tesouro entre si.
     Presentemente, o capitão Smollett está reformado; Gray, já casado e pai, estuda o seu ofício e é imediato e sócio de um navio de quatro mastros; Ben Gunn levou mil libras, que gastou em dezanove dias, voltou a pedir esmola, foi porteiro e agora desenrasca-se como cantor de igreja aos domingos e dias santos; de Silver não houve mais notícias.
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