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terça-feira, 16 de novembro de 2021

Favas contadas

    A expressão favas contadas refere-se a um acontecimento ou facto dado como certo.

    Favas contadas teve origem na forma como, em muitos mosteiros medievais, eram eleitos os abades.

    De facto, depois de "chamados ao capítulo" (uma espécie de assembleia de religiosos), os monges escolhiam o abade mediante um sistema de votação baseado em favas: as brancas constituíam um voto a favor do nomeado e as pretas contra o nomeado. No final, contavam-se as favas.

    Alguns autores associam a origem deste sistema de eleição à Grécia Antiga.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Oceânia ou Oceania?

     A forma correta é a primeira: Oceânia.

    Estamos na presença de uma palavra esdrúxula, daí que seja acentuada na antepenúltima sílaba, de acordo com a regra da acentuação que estipula que todas as palavras esdrúxulas são acentuadas obrigatoriamente.

    Por outro lado, o acento usado é o circunflexo, visto que a vogal tónica (o a) é semifechada.

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Antes de o ou antes do?

     Por regra, as preposições a, de, em e por contraem-se quando estão seguidas dos determinantes artigos definidos o, a, os, as.

        Ex.: O Benfica foi campeão antes do Belenenses.
                Jesus elogiou Cebolinha pelo seu golo.

    No entanto, quando na frase está presente uma forma verbal no modo infinitivo, a referida contração não ocorre, visto que o determinante artigo faz parte do sujeito da oração infinitiva.

        Exs.:
            O Benfica foi campeão antes de o Belenenses o ter conseguido.
            Jesus elogiou Cebolinha por o seu golo ter sido decisivo.

"Alugar" e "arrendar"

    Os verbos «alugar» e «arrendar» são sinónimos? Não.

    Quando se usa um e o outro?

    O verbo «alugar» usa-se quando nos referimos a bens imóveis:
        Ex.: Vou arrendar uma casa de férias em setembro.

    O verbo «arrendar» emprega-se quando nos referimos a bens móveis:
        Ex.: Vou alugar um carro quando me deslocar ao Brasil.

quarta-feira, 10 de março de 2021

Estada ou estadia?

     Estada é uma palavra registada em português já desde o século XIII, com origem no verbo latino stare (supino statum), que tinha o significado de «estar de pé», «estar imóvel», «parar», «permanecer».

     A palavra estada significa «ação de estar», «demora em algum lugar», «parada», «detença», «permanência».

     Estes significados são referidos em dicionários atuais bem como em dicionários antigos, como, por exemplo, no Novo Diccionario da Lingua Portugueza, de Eduardo de Faria (1855), ou no Diccionario Contemporaneo da Lingua Portugueza, da Imprensa Nacional (1881), que também registam a expressão «dar a boa estada», com o significado de «cumprimentar quem está de estada ou residência», «visitar e cumprimentar uma pessoa à sua chegada».

     A palavra estada está documentada, por exemplo, em Os Maias (1888), de Eça de Queirós [«Havia três anos (desde a sua última estada em Paris) que ele não via Carlos.»], ou na obra A Selva (1930), de Ferreira de Castro [«A recordação da sua estada em Todos-os-Santos, com a constante ameaça daquele perigo, amarfanhava-o ainda, dolorosamente.»].

     Estadia é uma palavra com origem na palavra italiana stallia (primeiro dicionário acima referido), com o significado de «demora que o capitão de um navio fretado para o transporte de mercadorias é obrigado a fazer no porto aonde chegou, sem que por isso se lhe deva mais coisa alguma além do frete convencionado» ou «demora forçada do navio mercante no porto de destino».

     Trata-se de um termo que era usado em contratos comerciais entre quem fretava um navio e o respetivo capitão. Atualmente designa em geral «tempo que o capitão de um navio fretado é obrigado a permanecer no porto de chegada» e «prazo concedido para a descarga e a carga de mercadoria de navio fretado».

     A confusão no emprego das palavras estada e estadia é, pois, relativamente recente.'


Fonte: Ciberdúvidas, Maria Regina Rocha.

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Onde e aonde

      O advérbio «aonde», que significa "a / para que lugar", deve ser usado com verbos que implicam movimento.
          Ex.: Aonde vais? (= Para que lugar vais?)

     Por sua vez, o advérbio «onde», que significa "em que lugar", deve ser usado com verbos que não implicam movimento.
          Ex.: Onde estás? (Em que lugar estás?)

sábado, 22 de agosto de 2020

Etimologia de «Mota»

      O apelido «Mota» está atestado desde o século XIV e terá origem no topónimo «Mota», o qual, por sua vez, constitui uma evolução do vocábulo de origem germânica «motta», que significa «monte de terra», «elevação natural ou artificial onde por vezes se construíam castelos».

     A Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura confirma que se trata, egetivamente, de um apelido de origem portuguesa, acrescentando que o primeiro conhecido é Ruy Gomes de Gundar, "chamado o M[ota], por ter residência no solar da M[ota]", aparentemente situado nas margens do rio Ave, nas terras de Lanhoso.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Regência do verbo "advertir"

       O verbo advertir seleciona sempre sujeito e pode selecionar diferentes complementos:
 
a) verbo intransitivo – seleciona apenas sujeito:
O Ernesto sabe advertir.
 
b) verbo transitivo-direto – seleciona sujeito e complemento direto:
O Ernesto advertiu a Miquelina.
 
c) verbo transitivo direto e indireto – seleciona sujeito, complemento direto e complemento oblíquo:
O Ernesto advertiu a Miquelina da sua decisão.
 
i) Quando o complemento oblíquo é realizado por um grupo nominal, este é introduzido pela preposição de:
O Eusébio advertiu a Ernestina da possibilidade de inundações.
Neste caso, a construção do verbo é equivalente a «advertir alguém de alguma coisa».
 
ii) Quando o complemento oblíquo é realizado por uma oração subordinada substantiva completiva:
▪ o uso da preposição de é opcional:
O Ernesto advertiu a Miquelina de que ia chegar mais tarde.
O Ernesto advertiu a Miquelina que ia chegar mais tarde.
▪ pode usar-se a preposição para:
O professor advertiu o António para que se portasse bem.
A Miquelina advertiu o Eusébio para não beber mais.
▪ pode usar-se a preposição a:
O advogado Aníbal Pinto advertiu o cliente Rui Pinto a apresentar queixa.
 

terça-feira, 18 de agosto de 2020

À última hora

      Qual é a expressão correta: à última hora ou à última da hora?

     A forma correta é à última hora. A expressão significa «no último momento», «quando se pensava já não ser possível», «no último instante possível» e foi adotada, inicialmente, pelos correios para designar um serviço de receção de objetos postais.

     No entanto, à última da hora está inscrita no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências. Nesta expressão, o adjetivo última é usado como nome, que habitualmente não é registado nos dicionários com este significado. Contudo, o nome última tem, nesta expressão, um significado que se aproxima do que é usado no nome plural últimas, utilizado em expressões como nas últimas ou às últimas. Nesta perspetiva, a locução à última da hora é parafraseável por nos últimos momentos da hora ou no limite da hora.

Meio cheia ou meia cheia

     Qual é a frase correta?
          a) A garrafa de vinho está meia cheia.
          b) A garrafa de vinho está meio cheia.

     A resposta é a opção b).

     A palavra meio é um advérbio, logo é invariável. Os advérbios são palavras que se ligam a verbos, adjetivos ou outros advérbios. Neste caso, o vocábulo meio liga-se (isto é, qualifica) ao adjetivo cheia.

     Por seu turno, cheia, enquanto adjetivo, qualifica um nome, neste caso garrafa.

Álibi

      Álibi é uma palavra proveniente da forma latina alibi, formada pela associação do pronome alius (que significava "outro") ao advérbio ibi (que significava "aí", "nesse lugar", "nesse momento").

     Relativamente à acentuação, o termo é esdrúxulo, pelo que é acentuado na antepenúltima sílaba, isto é, no a: álibi.

     No Direito, o vocábulo indica que um arguido, um suspeito de um crime se encontrava, comprovadamente, num local diferente daquele em que o delito de que foi acusado ocorreu.

terça-feira, 28 de julho de 2020

A grafia da forma reflexa da 2.ª pessoa do singular do presente do indicativo e a 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito

          Afinal, quando é que se usa “passaste” e “passas-te”?

          “Passaste” é a forma de segunda pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo, enquanto “passas-te” é a forma reflexa da segunda pessoa do singular do presente do indicativo.

          O seu uso pelos alunos reveste-se de grande dificuldade e é a causa de frequentes erros, no entanto dois “truques” ajudam a evitar o erro.

 

1. A acentuação da palavra

          Na forma “passas-te”, a sílaba acentuada é a primeira (pá-ssas-te) e, em “passaste”, é na segunda (pa-ssás-te).

 

2. A negativa

          Quando as formas verbais conjugadas com um pronome pessoal átono estão inseridas numa frase de polaridade negativa, esse pronome é colocado antes do verbo:

- Dá-me esse livro. (polaridade positiva)

- Não me dês esse livro. (polaridade negativa)

          Assim sendo, é possível colocar o pronome “te” antes da forma verbal quando ocorre numa frase negativa, o que já não acontece em “passaste”, pois o “te” integra a forma verbal e não é nenhum pronome.

. Passas-te:

- Tu passas-te com o professor de Português.

- Tu não te passas com o professor de Português.

. Passaste:

- Tu passaste de ano.

- *Tu não te passas de ano.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Plural de rés-do-chão

     Qual é o plural de rés-do-chão?
     Rés-do-chão? Reses-do-chão? Reses-dos-chões? Rés-do-chões?

     A resposta é rés-do-chão, ou seja, o singular e o plural são iguais (trata-se, portanto, de um nome uniforme quanto ao número).
     Quando as palavras são compostas por elementos ligados por uma preposição, apenas o primeiro elemento se flexiona no plural. Como o plural de «rés» é «rés», é igual ser dono de um ou de dois «rés-do-chão».

Alcoolemia : pronúncia e acentuação

     A palavra "alcoolemia" é constituída pelo nome «álcool» e o radical grego «-emia», que exprime a ideia de «sangue».

     O termo pronuncia-se com "e" fechado e não é acentuado, dado tratar-se de um vocábulo grave, cuja sílaba tónica é a penúltima ("mi"), pelo que não carece de acento gráfico. O mesmo sucede com outras palavras em que este radical está presente: «anemia», «leucemia», «glicemia», etc.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Origem e significado de OK

     A propósito do ensino à distância, vários alunos têm respondido às instrução que lhes são dadas com um sempre estimulante e delicado OK.
     Sucede, porém, que há sempre quem queira inovar e um ou outro surpreende-nos com variações, como, por exemplo, okk.
     Ora bem, de acordo com Allan Metcalf, professor de Inglês no MacMurray College, a expressão OK surgiu pela primeira vez no jornal The Boston Morning Post, entretanto extinto, em 1839. Sucede que o periódico tinha como característica o uso de abreviações (por exemplo, gt era usada para significar "gone to Texas"). Neste contexto, o OK surgiu como uma abreviatura da expressão "oll korrekt", que derivava de "all correct", com o significado de «tudo certo».
     A expressão ganhou popularidade por volta de 1840, quando os apoiantes de Martin Van Buren, candidato à presidência dos EUA e natural da cidade de Kinderhook, sustentaram que OK! se referia a "Old Kinderhook", isto é, a "Velha Kinderhook".
     Atualmente, esta abreviatura é usada a torto e a direito com o sentido de aprovação e de afirmação.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Ensino a distância ou ensino à distância ?

     Surgiu nos documentos oficiais, a propósito da situação de pandemia que o mundo enfrenta por causa da COVID-19, a expressão «ensino a distância».
      
     Na nossa humílima opinião, a expressão correta é, precisamente, «ensino à distância».

     Muito melhor do que alguma vez nós seríamos capaz de fazer, a professora Regina Rocha explica porquê neste post do Ciberdúvidas:


     «À distância» é a expressão correcta por três razões.

     Deverá dizer-se «ensino à distância», ou «ensino a distância»?

     Considero que «ensino à distância» é a construção correcta.

     A expressão «à distância» ou constitui uma locução adverbial (ex.: «À distância, o general observava atentamente a movimentação das tropas»), ou faz parte de uma locução prepositiva (ex.: «Estavam à distância de 200 metros do quartel»).

     Não encontrei registos de, em Portugal, alguma vez haver dúvidas a este respeito. A gramática de maior divulgação em Portugal nas últimas décadas (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, João Sá da Costa, Lisboa, Junho de 1984) inclui a expressão «à distância» numa lista de locuções adverbiais de lugar (2.ª ed., Outubro de 1984, p. 541).

     No Brasil, os gramáticos de maior nomeada referem o mesmo.

     Argumentam os defensores da expressão «a distância» que haveria contracção da preposição com o artigo (à) apenas no caso de se tratar de uma locução prepositiva («à distância de»), isto é, quando a dimensão ou a natureza da distância fosse determinada pela expressão que se lhe seguisse (ex.: «à distância de um telefonema»). Não encontrei nenhuma regra gramatical que sustentasse esta posição.
Que razões levam a que, nesta resposta, se defenda a locução adverbial «à distância», e não «a distância»? Apresento três.

1.ª – A locução está cristalizada há muitas décadas, décadas de uso corrente na norma culta. Esta é a primeira e primordial razão, pois, mesmo que na sua origem tivesse havido uma formação indevida (que não considero ser o caso, como explicarei de seguida, no ponto 2, desde o momento em que a maioria dos falantes cultos a adoptou e as gramáticas a registaram, ela ganhou legitimidade.

2.ª – A expressão «à distância» contém um substantivo que pede um complemento do nome (expresso ou subentendido). Por exemplo, se se ouvir a frase «A distância foi percorrida em cinco segundos», é natural que se pergunte «Que distância?». Tal significa que está subentendido um complemento. Na expressão «ensino à distância» está subentendido um complemento («à distância dos alunos», «à distância de quem vai receber essas lições»).

Ora, quando uma locução adverbial contém um substantivo que admite um complemento implícito, terá de se utilizar a contracção da preposição, pois está precisamente subentendido esse complemento.

Exemplos:

a)    «conta à ordem» (subentendido «de alguém»), diferente de «conta a prazo» (simples natureza da conta);

b)    «proceder à revelia»; «julgamento à revelia» (subentendido «de alguém», sem a comparência «do arguido» — em direito);

c)    «desenho à vista»; «dinheiro à vista» (subentendido «de alguém»);

d)    «letra à cobrança»; «envio à cobrança» (subentendido «do devedor»).

3.ª – Não tenho conhecimento de argumentos linguisticamente pertinentes que destruam a legitimidade da locução adverbial «à distância».

Assim, considero correctas as seguintes expressões: «ensino à distância», «formação à distância», «cursos ministrados à distância», «comando à distância».»

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Origem e significado de corona e vírus

     Frederico Lourenço revela, neste seu texto [corona-e-vírus-em-tempo-de-corona-vírus] a o3igem das duas palavras, bem como o seu significado primitivo, além do erro que consiste a sua junção numa só palavra.

«Duas palavras gregas (com roupagem latina) dominam a actualidade mundial. Se, por um lado, a formulação que ouvimos todos os dias («coronavírus») fere os meus ouvidos de helenista/latinista – pois como é que um substantivo («corōna») pode qualificar outro substantivo («vīrus»)? -, por outro lado tenho-me entretido com os pensamentos ziguezagueantes sobre estas duas palavras, suscitados pela sua repetição permanente. Sentado ontem ao balcão de um pequeno restaurante de Coimbra, enquanto o noticiário televisivo repetia em tons histéricos o nome «coronavírus», dei por mim a pensar como as palavras têm a sua história; e como as pessoas a quem o ensino actual nega a possibilidade de estudar Grego e Latim passam ao lado dessa história. Por via da herança grega e latina, palavras como «corōna» e «vīrus» têm uma história milenar, cuja viagem (pelo menos a reconstruível) começa com Homero e tem ponto de passagem no Novo Testamento.
À partida, quando olhamos para as palavras latinas «corōna» e «vīrus», diríamos que nada têm a ver uma com a outra: a primeira tem como sentido primário «grinalda», «coroa»; a segunda tem como sentido primário «veneno». No entanto, na utilização mais antiga que se conhece destas duas palavras, elas estão estranhamente ligadas por um denominador comum: o arco do qual se disparam flechas.
À imagem do arco está associada a palavra grega «korōnē» (donde deriva em latim «corōna») desde a Ilíada, poema em que o termo serve para designar a ponta do arco.
Por seu lado, a palavra latina «vīrus» é a forma itálica da palavra grega «īós» (que no tempo de Homero talvez ainda se pronunciasse «wīós»). Esta palavra «īós», antepassada da nossa palavra «vírus», é objecto de fascínio para os helenistas, porque tem três sentidos à primeira vista diferentes: «flecha»; «veneno»; «ferrugem».
Podemos questionar hoje se, linguisticamente, a etimologia de «īós» no sentido de «flecha» é a mesma de «īós» no sentido de «veneno» e «ferrugem»; mas os antigos não tinham essa consciência. Se perguntássemos a Homero a razão de as palavras para «flecha» e «veneno» serem homógrafas, ele responder-nos-ia certamente que, muitas vezes, as flechas são portadoras de veneno pelo facto de serem envenenadas. O arco do qual a primeira flecha da Ilíada é disparada (arco esse, justamente, cuja descrição no Canto 4 nos dá a primeira atestação da palavra «korōnē») é tacitamente suspeito de disparar flechas envenenadas.
Porquê? Porque o médico militar nesse canto da Ilíada, «quando viu a ferida, onde embatera a seta aguda, / chupou dela o sangue e, bom conhecedor, nela pôs fármacos / apaziguadores» (Ilíada 4.217-219).
Depois de Homero, «korōnē» e «īós» seguiram caminhos divergentes. No que diz respeito a «korōnē», há que referir a sua acepção ornitológica («corvo»), o que terá talvez conduzido à acepção de «coroa», quiçá inspirada pela crista de algum pássaro. No entanto, em grego a acepção de «coroa» é rara. Quando os soldados romanos tecem uma coroa de espinhos para pôr na cabeça de Jesus, a palavra grega é «stéphanos» (στέφανος); na Vulgata, no entanto, lemos «corōna».
Por seu lado, a palavra grega «īós» («veneno»), correspondente a «vīrus» em latim, está praticamente ausente do Novo Testamento, embora surja de modo curioso na Epístola de Tiago, onde a primeira ocorrência aponta para a acepção de «veneno» (Tiago 3:8) e a segunda para a acepção de «ferrugem» (5:2). Note-se que a conotação associada a «īós» em grego é quase sempre negativa; mas temos uma excepção curiosa na expressão para designar o mel, que Píndaro inventa num dos seus poemas: «veneno [īós] inofensivo das abelhas».
Também em latim, «vīrus» tem quase sempre uma conotação negativa; contudo, o poeta Estácio, no séc. I d.C., surpreende-nos ao referir um «vírus benigno» com propriedades medicinais, que pode ser colhido «nos campos dos Árabes» (Estácio, «Silvae», 1.4.104).
Que «vīrus» será esse em concreto? Estácio não nos diz. O facto de lhe chamar «benigno» leva a crer que será bem diferente do nosso coronavírus, que, fiel à história mais antiga das palavras que o compõem, tem percorrido em flecha o mundo inteiro.
Um último pensamento: vários autores romanos (Horácio, Plínio [tio], Marcial) aplicaram ao substantivo «vírus» o adjectivo «grave». Esperemos que este vírus que agora nos ocupa se reveja mais na sua identidade homérica de flecha… e que acabe por se tornar, já agora, como escreveu Píndaro, ἀμεμφής: inofensivo.».

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Missa do galo

Primitivamente, havia apenas uma missa, que se celebrava no dia 25 de dezembro, na igreja de S. Pedro. Em meados do século V, começou a rezar-se uma outra missa, numa capela em Roma, chamada Santa Maria do Presépio, construída à imagem da gruta de Belém, e que se celebrava ainda de noite, mas quase ao romper do dia 25, quando os galos começavam a cantar. Daí surgiu a designação missa do galo.
Mais tarde, surgiu uma terceira missa, chamada missa da aurora, dedicada à mártir Santa Anastácia de Sírmio, cujo aniversário ocorria a 25 de dezembro. Esta missa foi intercalada entre a da noite (a missa do galo) e a do dia (a missa em S. Pedro), sendo a missa do galo progressivamente antecipada até à meia-noite. No século VIII, espalhou-se o uso das três missas no dia de Natal.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Acupunctura (origem e significado)

A palavra «acupunctura” provém da junção de dois termos latinos: acu (agulha) e punctura (picada). Ela designa um método de origem chinesa que consiste na introdução de agulhas muito finas em pontos específicos do corpo humano com vista ao tratamento de doenças.

TAVARES, Sandra Duarte, 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa

"Acerca de", "cerca de", ou "há cerca de"?

Ambas as expressões existem na língua portuguesa, só que com significados e usos diferentes.

A expressão “acerca de” é uma locução prepositiva que significado «sobre», «a respeito de», «quanto a», «na opinião de»:
. Na aula, falámos acerca das nossas vidas.

Existe também a expressão “(a) cerca de”, que quer dizer «perto de», «cerca de», «próximo de», «junto de», «aproximadamente»:
. O navio naufragou a cerca de 200 milhas do Cabo Espichel.
. Cerca de 10 alunos invadiram o parque de merendas.

Por sua vez, a expressão “há cerca de” é constituída pela 3.ª pessoa do singular do presente do indicativo do verbo «haver» e pela locução «cerca de», que significa «aproximadamente», «perto de». Ela pode assumir dois valores semânticos:
1.º) um valor temporal, podendo ser substituída pela forma verbal «faz»:
. O desastre da Supertaça ocorreu há cerca de uma semana.
2.º) um valor especial, podendo ser substituída pela forma verbal «existem»:
. Há cerca de quarenta adeptos do Sporting em prisão domiciliária.


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