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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Elementos do género épico

            Segundo Aristóteles, na obra Poética, de que restam apenas os fragmentos que estudam e comparam a tragédia e a epopeia, esta deve caracterizar-se por ter:

§    uma ação épica expressiva de grandeza e heroísmo de forma solene;

§    um protagonista (rei, grande dignitário, herói) que, além da sua alta estirpe social, devia revelar grande valor moral;

§    unidade de ação (Homero não narra, na Ilíada, somente a Guerra de Tróia, mas um grande numero de outros factos passados);

§    os episódios: enriquecem a obra, sem quebrar a unidade de ação;

§    o maravilhoso;

§    a utilização do modo narrativo pelo poeta em seu próprio nome ou assumindo personalidades diversas;

§    a reduzida intervenção do poeta: depois da Proposição e da Invocação, Homero logo fez agir as personagens, quando a ação estava já numa fase adiantada, permitindo este processo posteriores analepses e prolepses.


Aplicando a norma aristotélica a Os Lusíadas, constatamos a presença dos seguintes elementos:

a)      Ação: a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, como acontecimento culminante da História de Portugal até à data da composição da obra e definidor do perfil do herói, o povo português.
            Havia determinadas qualidades que a ação de uma epopeia devia reunir: a unidade, a variedade, a verdade e a integridade.

1)      Unidade: todas as partes ou séries de acontecimentos devem constituir um todo harmonioso.

2)      Variedade: é conseguida através da inserção de episódios (pequenas ações reais ou imaginárias), cuja função é embelezar a ação e quebrar a monotonia de uma narração continuada, mas sem prejudicar a unidade, por meio do estabelecimento de uma relação com o acontecimento ou a figura de que a ação se ocupa em cada momento.
           São variados os tipos de episódios que encontramos n’ Os Lusíadas:
Ø       mitológicos:
§      Consílio dos Deuses no Olimpo (I, 20-41);
§      Consílio dos Deuses Marinhos;
Ø       bélicos:
§      Batalha de Ourique (III, 42-54);
§      Batalha do Salado (III, 107-117);
§      Batalha de Aljubarrota (IV, 28-44);
Ø       líricos:
§      Formosíssima Maria (III, 102-1-6);
§      Morte de Inês de Castro (III, 118-135);
§      Despedida do Restelo (IV, 89-93);
Ø       naturalistas:
§      Descoberta do Cruzeiro do Sul (V, 14);
§      Fogo de Santelmo (V, 18, vv. 1-4);
§      Tromba Marítima (V, 16, 2.ª parte – 22);
§      Escorbuto (V, 81-83);
§      Tempestade (VI, 70-91);
Ø       simbólicos:
§      Sonho Profético de D. Manuel (IV, 67-75);
§      Velho do Restelo (IV, 94-104);
§      Adamastor (V, 37-60);
§      Ilha dos Amores (IX, 51-92 e X, 1-143);
Ø       humorístico: Fernão Veloso (V, 30-36);
Ø       cavalheiresco: Doze de Inglaterra (VI, 43-69).

3)      Verdade: tratamento de um assunto real ou, pelo menos, verosímil.

4)      Integridade: estruturação de uma narrativa com princípio, meio e fim (introdução, desenvolvimento e conclusão).


b)      Personagem: o herói da ação é o povo português, um herói colectivo, simbolicamente representado por Vasco da Gama, herói individual.


c)      Maravilhoso: intervenção de entidades sobrenaturais na ação, umas favorecendo (Júpiter, Vénus, Marte), outras dificultando (Baco).
            Há vários tipos de maravilhoso n’ Os Lusíadas:
Ø       maravilhoso pagão: a intervenção de numerosas divindades da mitologia pagã;
Ø       maravilhoso cristão: o recurso ao Deus dos cristãos, a “Divina Guarda”;
Ø       maravilhoso misto: a intervenção próxima (no mesmo episódio) de Deus e dos deuses pagãos;
Ø       maravilhoso céltico: a intervenção de fadas, bruxas, feiticeiras.


d)      Forma:
F      narrativa em verso;
F      dez cantos;
F      estrofes: oitavas (média de 110 por estrofe);
F      metro: versos decassílabos, geralmente heroicos;
F      rima cruzada (seis primeiros versos) e emparelhada (dois últimos), segundo o esquema abababcc.


ELEMENTOS
CONCRETIZAÇÃO
N’ OS LUSÍADAS
CARACTERÍSTICAS

. A ação: acontecimentos representados ao longo da obra.


. Viagem de Vasco da Gama, acontecimento culminante da História de Portugal.

. Unidade: ligação entre as diversas partes.
. Variedade: inserção de episódios para quebrar a monotonia e embelezar a ação.
. Verdade: assunto real ou, pelo menos, verosímil.
. Integridade: criação de uma intriga com princípio, e fim.

. A personagem: os agentes ou heróis da ação.


. Vasco da Gama.

. O Povo Português (“o peito ilustre lusitano”).

. Camões?

. E os deuses, mais homens que deuses?


. Individual e principal, com uma dimensão simbólica um povo de marinheiros.

. Herói colectivo, fundamental numa epopeia.

. Herói individual (ou colectivo, porque representativo do homem do Renascimento, completo, soldado e escritor, guerreiro e Velho do Restelo?).

. Não são meros símbolos, têm paixões humanas, identificam o êxito e o fracasso, a vitória e a derrota (Vénus Baco).


. O maravilhoso: intervenção de seres sobrenaturais na ação.


. Júpiter, Vénus, Marte, etc.

. Deus (a Divina Providência cristã).

. Pagão: deuses pagãos.

. Cristão: Deus do cristianismo.

. Misto: mistura dos dois anteriores.

. Céltico: magia, feitiçaria.


. A forma.



. Dez cantos.
. Narrativa em versos decassílabos, geralmente heroicos, agrupados em oitavas.
. Rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos.
. Esquema rimático: abababcc.


Título Os Lusíadas

            A palavra “lusíadas” deriva de Luso, filho de Líber ou companheiro de Baco, deus do vinho ou da alegria. Luso nasceu e povoou a zona ocidental da Península Ibérica, onde fundou um reino a que deu um nome derivado do seu: Lusitânia, como explica Camões:
“Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso ou Lisa, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros.”
Os Lusíadas, canto III, est. 21

            Historicamente, quando os Romanos conquistaram a Península Ibérica, dividiram-na administrativamente em três províncias, tendo designado por Lusitânia a que compreendia a região situada a sul do rio Douro.
            No século XVI, os autores portugueses renascentistas começaram a utilizar o termo “lusitanos” como sinónimo de “portugueses”. Luís de Camões foi buscar o nome Lusíadas a André de Resende, que a usa nas obras Vicentius Levita et Martyr (1545) e Erasmi Encomion e a uma epístola, provavelmente de 1561, dirigida ao poeta Pedro Sanches.
            De acordo com o autor, “A Luso unde Lusitânia dicta est, Lusíadas adpellavimus Lusitanos et a Lysa Lysiadas, sicut a Aenea Aeneadas dixit Virgilius”, isto é, “de «Luso», origem do termo «Lusitânia», criámos o apelativo «Lusitano», e de «Lusa», «Lusíadas», assim como de «Eneas», «Enéadas»”.
            Deste modo, ao aproveitar o termo criado por André de Resende, Camões atribui à sua obra, “não um nome através do qual entrevíssemos ações de um herói” (como Aeneada, Orlando Inamorato, Orlando Furioso, etc.); “não um nome que suscitasse a limitada evocação de uma ação militar, posto que grande” (Ilyada, Thebaida, Pharsalia, etc.), ou de uma grande viagem, como Odyssea, Argonautica, mas um nome que “anuncia a história de todo um povo – Os Lusíadas”.

Hernâni Cidade, Luís de Camões, o Épico (adaptado)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

«Persistência da Memória»

«Persistência da Memória», Salvador Dali

Uma imagem que perdura

“Persistência da Memória” é o título atribuído por Salvador Dali a uma das suas principais pinturas a óleo. Dali nasceu em Figueres, Catalunha, a 11 de maio de 1901 e faleceu a 23 de janeiro de 1989, na sua terra natal. Formou-se na Escola de Belas-Artes de San Fernando em Madrid, destacando-se sobretudo pelo seu trabalho surrealista. As suas obras atraem a atenção pelas incríveis combinações de imagens bizarras, oníricas, com excelente qualidade plástica. O seu trabalho mais conhecido, “Persistência da Memória” foi concluído em 1931 e está exposto no Museu de Arte Moderna, em Nova Iorque, desde 1934.
Na tela, encontram-se representados três relógios que marcam diferentes horas, cujas formas derivam de um queijo (camembert) que o autor observava enquanto pintava. O pintor mostra o tempo e a memória, através dos relógios moles e dependurados, sugerindo que o tempo é maleável, não é rígido, mas sim mutável, relativo, onde passado e presente se fundem. Observa-se nas formas dos relógios uma evidente conotação sexual, sobretudo no relógio central, estendido sobre uma pedra que simula a caricatura do próprio Dali, representado no quadro de olhos fechados e caído, sendo destacado, num fundo preto, como uma premonição do seu tempo futuro. O artista coloriu os relógios de azul, cor do espaço infinito, cuja perspetiva também se direciona ao infinito.
Na obra, estão também presentes formigas na parte de trás do relógio laranja e uma mosca no relógio derretido à esquerda. As formigas representam a decadência, e o ato de atacar o relógio como se ele fosse um produto orgânico é outro sinal da sexualidade inserida na obra, onde as formigas procuram satisfazer os instintos. A mosca em cima do relógio figurativamente indica que o tempo voa.
 Ao ver o terreno, percebe-se que não existe qualquer vegetação ou vida no solo ou até mesmo na água vista no horizonte. O artista retratou o tempo parado e a vida morta pela pausa do tempo, ou seja, sem o tempo não há vida, segundo Dali. O solo pintado de cor terra, pó da vida eterna, uma vez que tudo vira terra e se renova. As cores do anoitecer delimitam a linha do horizonte, encontro de terra e mar, fundidos no céu infinito, misto de sonho e realidade. A obra tem como fundo a paisagem de Porto Lligat, em Barcelona. Os penhascos e o mar são iluminados com uma luz transparente e melancólica, uma vez que este lugar faz relembrar Dali da sua infância. Pode notar-se também um contraste entre o macio e o duro, estando o primeiro representado pelos relógios e o segundo pelos rochedos.
A obra “A Persistência da Memória” foi assim nomeada devido ao facto de ser dificilmente esquecida. Segundo Dali, as formas e as cores da obra ficam gravadas na memória até mesmo de quem a observou apenas uma vez.
Esta obra centra-se na obsessão humana com tempo e a memória. Sendo uma pintura que desencadeia variadas interpretações e controvérsias devido a origem dos relógios derretidos, sendo portanto um desafio descodificá-la e uma imagem inolvidável.

Bibliografia:
          - www.artgalleryabc.com/next90.html;
          - http://pt.wikipedia.org/wiki/Salvador_Dal%C3%AD;
          - http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Persist%C3%AAncia_da_Mem%C3%B3ria;
          - http://www.infopedia.pt/$persistencia-da-memoria-(pintura);
          - http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/01/07/903289/conheca
            -persistencia-da-memoria-salvador-dali.html.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Redução do horário semanal de trabalho

     Um grupo de 100 académicos e políticos alemães estão a pedir um horário de 30 horas semanais sem um corte nos salários, noticia hoje o jornal alemão Tageszeitung, citado pela CNBC. Os peticionários argumentam que uma semana de trabalho mais curta é a melhor forma de lidar com o aumento da taxa de desemprego no país, contribuindo também para o aumento da produtividade dos trabalhadores.

Poesia universitária (I)

A um certo colega de ano:

          Por uma loura do quinto ano
          fiquei louco do tutano
          e quando com ela passeio na rua
          sinto-me mais alto que uma grua.

          E todo ufano
          pago-lhe um lanche no Bocage
          e não ligo aos colegas do ano
          e se lhes ligo logo lhes dou um ultraje.

          Porque eu sou um tipo digno
          e com uma classe sem igual
          e por isso não ligo ao parvalhão indigno

          Que me estraga o engate
          e me envergonha
          e por isso me perdoem sempre que eu os maltrate.

                                                  Bajus

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Do desespero

Uma professora de 47 anos atirou o filho autista da janela do 4º andar do hotel Ibis de Bragança e suicidou-se de seguida, escreve este domingo o Jornal de Notícias (JN).
Professora atira filho pela janela e suicida-se

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Aldrabice:

Doutoramento retirado à ministra alemã da Educação por plágio

     A Universidade de Düsseldorf, na Alemanha, decidiu retirar o doutoramento da actual ministra da Educação, Annette Schavan, 57 anos, depois de confirmar que as suspeitas de plágio levantadas por um blogue anónimo, em 2012, tinham razão de ser. A ministra defende a legitimidade da sua tese, defendida em 1980, e promete recorrer. Porém, o seu lugar no governo alemão da conservadora Angela Merkel (CDU) passou a estar em perigo.

Calendário de exames - Secundário (2.ª fase)


Clicar na imagem para aumentar.

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