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domingo, 28 de agosto de 2022

Correção do questionário do conto «Asclépio, o "Caçador de Eclipses"»


 1. e – b – g – a – d – h – c – f.
 
2.
a. V
b. V
c. F – O pai de Asclépio ocupava esse cargo: “o Comandante Lupino decidiu-se, pois, em virtude do acidente acima descrito, a ir morar com o irmão, à data Governador-Geral de Colónia”.
d. F – “Pio, como desde petiz era conhecido entre familiares e amigos (…). Com os pais e as suas sete irmãs, vivia”.
e. F – “O Doutor Lupino, tio de Asclépio, morava também, havia meia-dúzia de anos, com a prestigiada família Euclides Semedo e fora ele o «culpado» da verdadeira paixão do sobrinho pelas «coisas da ciência»”.
f. V
g. F – “Estava-se em 1968, o país travava-se de razões com o segundo grande eclipse solar do século”.
h. F – “quando chegou à idade universitária, já em Coimbra”; “Terminado o curso, o então já Doutor Asclépio percorreu o mundo”; “Em Moçambique, onde regressava regularmente”.
i. V
j. V
k. V
l. V
 
3.
A – Primeiro parágrafo.
B – Desde o início do segundo parágrafo até “o primeiro eclipse total do Sol em terras de Moçambique”.
C – Desde “O fenómeno dos eclipses” até ao final do mesmo parágrafo.
D – Desde “Foi esse dia o espoletar de uma paixão” até ao final do mesmo parágrafo.
E – Desde “Em Moçambique, onde regressava regularmente” até ao final do mesmo parágrafo.
F – Desde “No dia do eclipse” até ao final do mesmo parágrafo.
G – Último parágrafo.
 
4.1. Asclépio é «especialista em eclipses”, divertido/bem-disposto (“O Doutor Euclides brinca.”) e experiente (“a sua experiência na matéria”).
 
4.2. A ação decorre em 1968.
 
4.3. “Certo, muito certo, mas a Dr.ª Catarata enganava-se”; “o professor Asclépio Euclides, mal-grado toda a sua experiência na matéria, que inclusive lhe valera o cognome de ‘caçador de eclipses’, teria ainda muito com que se espantar.”
 
5.1. A analepse consiste num recuo temporal, marcado no texto pelas passagens “Pio, (…) começou a interessar-se por acontecimentos raros, fenómenos científicos e afins, teria aí os seus cinco, seis anos.” e sobretudo “vivia nesses tempos do princípio do século”, entendidas como retrocessos temporais depois de se ter marcado o início da ação, no parágrafo anterior, com a expressão “Estava-se em 1968”.
 
5.1.1. O recurso à analepse prende-se com a necessidade de o narrador dar a conhecer mais profundamente, nas suas características e fatores que as motivaram, a personagem principal, Asclépio, mas também os acontecimentos anteriores ao presente da ação que contribuem para o seu entendimento mais cabal.
 
5.2. As aspas aplicadas ao adjetivo marcam não apenas a reprodução de uma palavra de Thomás Euclides Semedo, mas assinalam um sentido suavizado do vocábulo. Embora surja habitualmente como sinónimo de «criminoso», o adjetivo «culpado» realça, neste contexto, apenas a conceção que a família, nomeadamente o pai de Asclépio, tinha da influência de Lupino sobre a criança, vista como algo diferente e inabitual para a sua idade.
 
5.3. As palavras do narrador na última frase do segundo parágrafo indiciam o conhecimento de acontecimentos futuros relativamente aos apresentados, que serão expostos num momento posterior.
 
5.4.1. O uso do pretérito mais-que-perfeito, simples e composto, do indicativo (“servira”, “tinha envolvido”, “caíra”, “passara”) surge ao serviço do relato dos acontecimentos da vida passada do Tio Lupino anteriores ao momento em que se instalou em casa da família do irmão. Deste modo, confirma-se o valor semântico-funcional do tempo verbal, destinado a relatar fatos passados anteriores a outros também verificados em momentos precedentes ao presente da narração.
 
5.5. A expressão é a seguinte: “a prestigiada família Euclides Semedo”.
 
5.6.1. Após uma vida dedicada ao serviço militar, o Comandante Lupino Euclides Semedo sofreu um acidente durante uma operação de salvamento, o que lhe deixou mazelas ao nível da memória. Tal facto determinou o seu afastamento quase compulsivo do exército, atenuado apenas pela atribuição de um louvor em nome das altas patentes militares e da própria rainha portuguesa D. Maria Pia. Não sendo casado, após o abandono da vida de combatente resolveu passar a residir com o irmão e respetiva família.
 
5.7. Lupino Euclides Semedo é apresentado como comandante pronto e “célere”, caracterizado pelos seus “brios e valentia insuperáveis” e “louvável filantropia”.
 
5.8.1. Juntos, iam “inventariando fauna e flora” e dedicavam-se “a catalogar os espécimes apanhados” e a organizar uma coleção apelidada pela família de “Museu de História Natural”.
 
5.8.2. b
 
5.9.
1. d
2. f
3. a
4. e
5. b
6. c
 
5.10. A expressão é “na realidade”.
 
5.10.1. O mecanismo é a coesão interfásica.
 
5.11. Para Asclépio, os eclipses constituiriam verdadeiros “milagres” naturais, pelo que lhe despertavam grande “ansiedade”. No dia do fenómeno, ele e o tio “deslumbravam-se” com o acontecimento. Os restantes habitantes da região sentiam-se “desprevenidos e temerosos” face à ocorrência.
 
5.12. Os dois vocábulos são “desatino” e “pandemónio”.
 
5.13.1. Enquanto na segunda oração o verbo é usado no seu sentido mais comum, o de ‘dizer orações, orar’, na primeira ele surge com uma aceção menos vulgar, que remete para a ação de ‘narrar, referir’.
 
5.14. A enumeração, entendia com um sentido gradativo, especifica os sentimentos e as atitudes daqueles que, receando o eclipse, começavam por se lamentar, passando, depois, a solicitar auxílio num crescendo de intensidade que culmina no entendimento do fenómeno como um castigo de que se procuram libertar, solicitando perdão pela razão que o possa ter determinado.
 
5.15. Uma vez que o eclipse era entendido pela população moçambicana em geral como manifestação de entidades superiores (“deuses”), o narrador comenta, ironicamente, que seria compreensível que todos os agentes dedicados às ciências ocultas se mantivessem disponíveis para assistir as pessoas nos seus “medos e crendices”.
 
5.16. A ação decorre em plena época de colonialismo português em Moçambique, pelo que a metrópole constituía o recurso das famílias de estatuto social elevado para suprir a falta de meios que se sentia na colónia.
 
5.17. A oração desempenha a função sintática de complemento direto.
 
5.18. O processo morfológico é a derivação por sufixação.
 
5.19.1. A sequência inicia-se com o regresso ao momento do presente da ação, já apresentado no início do conto: “ano de 1968”.
 
5.20.1. A frase é a seguinte: “As pessoas saíram confiantes, gargalhando os medos e os temores.”
 
5.20.2. O gerúndio da forma “gargalhando” coloca em destaque a duração da ação (aspeto lexical imperfetivo), dando a entender que durante largos momentos e com persistência as pessoas, “confiantes”, superaram os seus “medos” e “temores”.
 
5.21.1. Considerando o número da perfeição, o três remete para a completude e a inteireza. Prepara-se o eclipse para que se complete, no céu, a ordem, ao terceiro dia. O homem, Asclépio, será o intermediário entre a terra e o céu, ligando-os. Note-se que o eclipse durou “três minutos”, associando-se esta referência também à simbologia do número.
 
5.21.2. O conector transmite uma ideia de conclusão relativamente à descrição das consequências do eclipse anteriormente discutida.
 
5.22.1. A sequência descritiva inicia-se no começo do parágrafo e prolonga-se até à primeira oração da frase “Aguardavam expectantes, e quando o Sol começou a vestir-se de negro uma onda de suspiros ressoou no silêncio instalado”. A segunda oração da mesma frase marca o início da sequência narrativa.
 
5.22.2. Na descrição predominam as formas verbais no pretérito imperfeito (“reinava”, “encontrava-se”, “sentiam”, “Aguardavam”), enquanto na narração predomina o pretérito perfeito (“começou”, “ressoou”, “foram”, “reparou”).
 
5.23.1. O verdadeiro prodígio do dia foi o “desaparecer como se por magia” do Dr. Asclépio Euclides, depois de ter sido envolvido por “uma densa sombra negra” e de se ter incinerado. Deste modo, as aceções 3., 4. e 5. do verbete serão as mais adequadas, remetendo para o obscurecimento e posterior desaparecimento da personagem.
 
5.23.2. O eclipse de Asclépio, provocando inicialmente um enorme “espanto”, fez ressurgir o “corrupio” da população.
 
5.24. c
 
5.24.1. À palavra solo, que está na origem, foram acrescentados simultaneamente um prefixo e um sufixo, fundamentais para a existência do vocábulo.
 
6.1.1. O sufixo diminutivo, usado com valor depreciativo, retira valor à figura representada pela estátua e ironicamente remete para o objetivo mesquinho da sua construção, destinada essencialmente a atingir fins eleitoralistas.
 
6.1.2. O escultor conseguiu reproduzir na própria estátua de Asclépio o fenómeno do eclipse que levara ao seu desaparecimento, alternando fases de escuridão sob a luz solar e de luminosidade à noite. Como se por magia, Asclépio eclipsara-se e, também com alguma magia, se recordava a sua figura através desta estátua.
 

Ligações:
    👉 Texto.
    👉 Questionário.

Tesla e Edison


 

sábado, 27 de agosto de 2022

Estudo húngaro alerta contra elevado nível de instrução das mulheres

    A elevada presença das mulheres no ensino superior pode causar problemas demográficos, dificultando a procura de um parceiro”, defende-se no documento, citado pelo diário digital Hvg.

    O Instituto Nacional de Estatística da Hungria alertou hoje para os riscos económicos e demográficos que teria para o país um número elevado de mulheres com formação universitária, num estudo criticado como “machista”.

    Sob o título “Fenómeno de educação cor-de-rosa na Hungria?”, o estudo elaborado pelo INE húngaro e hoje classificado na imprensa local como “sexista” e “machista” manifesta-se, entre outras coisas, contra a desvalorização dos “atributos masculinos”.

    “A elevada presença das mulheres no ensino superior pode causar problemas demográficos, dificultando a procura de um parceiro”, defende-se no documento, citado pelo diário digital Hvg.

    Por outro lado, o estudo sustenta que, nas escolas, são consideradas mais importantes as “qualidades femininas”, entre as quais aponta “maturidade emocional e social, empenho, obediência, tolerância da monotonia [e] boa expressão oral e escrita”.


    A notícia pode ser encontrada no "Jornal Económico" on-line [ligação].
    Um conselho aos húngaros que pensam assim: tranquem as vossas mulheres em casa e deitem a chave fora, depois de lhes fazerem filhos até mais não, de preferência machos, para dotarem o país de mão de obra bruta e bronca.

Questionário sobre o conto «Asclépio, o "Caçador de Eclipses"»

 1. Ordene cronologicamente os acontecimentos relatados no texto.
a. Primeiro eclipse total do Sol em Moçambique.
b. Mudança de Lupino Euclides Semedo para casa da família de Asclépio.
c. Palestra de Asclépio e Letícia Catarata.
d. Vida académica de Asclépio em Coimbra.
e. Campanhas militares do Comandante Lupino Euclides Semedo em Lourenço Marques.
f. Eclipse solar em 1968.
g. “Expedições científicas” de Lupino e Asclépio, durante a infância deste.
h. Périplo de Asclépio pelo mundo, dedicado ao estudo de eclipses.
 
2. Após uma primeira leitura do conto, classifique como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações que se seguem, corrigindo devidamente as que considerar inexatas.
a. A ação do conto decorre em Moçambique.
b. O protagonista, Asclépio Euclides, é perito particularmente em eclipses solares.
c. Lupino Semedo, tio de Asclépio, ocupava o cargo de Governador-Geral de Colónia.
d. Asclépio era filho único e conhecido entre as pessoas mais próximas como Pio.
e. O protagonista despertou para os fenómenos científicos por influência paterna.
f. Asclépio frequentou, na universidade, o curso de Direito.
g. A ação principal desenrola-se em torno do único eclipse solar do século XX.
h. Asclépio viveu toda a vida no seu país natal.
i. Na época em que decorrem os acontecimentos relatados no conto, os eclipses eram entendidos pela generalidade da população como prodígios naturais ameaçadores.
k. O narrador do conto é heterodiegético.
l. As sequências alusivas à infância e juventude são encaixadas na narrativa principal.
 
3. Delimite no texto as suas sete sequências narrativas, considerando os seguintes momentos:
 

Introdução

A

Apresentação do protagonista e da situação inicial: preparação para o eclipse solar.

Desenvolvimento

B

Primeiro momento

Descrição, em analepse, da vida do Tio Lupino e das vivências partilhadas com Asclépio durante a sua infância.

C

Segundo momento

Explicação do surgimento do fascínio de Asclépio por eclipses.

D

Terceiro momento

Relato do percurso académico e profissional de Asclépio

E

Quarto momento

Narração do regresso de Asclépio a Moçambique e dos preparativos para o eclipse.

F

Quinto momento

Apresentação dos acontecimentos do dia do eclipse.

Conclusão

G

Exposição das consequências do eclipse.

 
4. Atente na Introdução do conto.
 
4.1. Mencione as três características da personalidade de Asclépio Euclides apresentadas.
 
4.2. Identifique o tempo cronológico em que decorre a ação.
 
4.3. No final do primeiro parágrafo, o narrador antecipa acontecimentos futuros, posteriormente narrados. Comprove.
 
5. Atente no Desenvolvimento do texto.
 
PRIMEIRO MOMENTO
5.1. Prove, a partir de elementos textuais, que o início do desenvolvimento corresponde a uma analepse que se prolongará até ao final do terceiro momento desta parte.
 
5.1.1. Refira a importância deste recurso narrativo de apresentação temporal no contexto do conto.
 
5.2. Destaque o valor das aspas no adjetivo «culpado», referente ao Tio Lupino.
 
5.3. A última frase do segundo parágrafo funciona como breve analepse no contexto da narrativa. Justifique a afirmação.
 
5.4. «O Doutor Lupino, tio de Asclépio, morava também, havia meia-dúzia de anos, com a prestigiada família Euclides Semedo (…)».
 
5.4.1. Tendo em conta que o terceiro parágrafo do texto surge na sequência da frase acima transcrita, explicite o valor da utilização do pretérito mais-que-perfeito nesse trecho da narração.
 
5.5. Transcreva a expressão que remete para o espaço social em que se movimentavam os elementos da família Euclides Semedo.
 
5.6. «Solteirão dos quatro costados, o Comandante Lupino decidiu-se, pois, em virtude do acidente acima descrito, a ir morar com o irmão (…)».
 
5.6.1. Resuma os acontecimentos que determinaram a mudança do Tio Lupino para a casa da família Euclides Semedo.
 
5.7. Proceda à caracterização direta de Lupino Euclides Semedo a partir do documento de louvor lavrado em relação à sua pessoa.
 
5.8. No parágrafo final desta sequência, o narrador procede à exposição das atividades a que se dedicavam tio e sobrinho, «investidos em verdadeiros cientistas, biólogos, botânicos, geógrafos, geólogos e até astrónomos, num crescendo de aprendizagem ‘in loco’ (…)».
 
5.8.1. Enumere essas atividades.
 
5.8.2. Partindo contexto em que surge, assinale o significado da expressão latina «in loco».
a. no limite.       b. no próprio lugar.    c. naquele tempo.      d. por inteiro.
 
5.9. Faça corresponder a cada uma das frases iniciadas na coluna A uma terminação da coluna B, de modo a obteres afirmações verdadeiras.
 
A
 
1. Com o recurso ao advérbio com valor modal “diplomaticamente”,

2. Na frase “(…) foi Lupino convencido, ou melhor, convidado a antecipar a reforma da sua valorosa carreira militar (…)”, com a mudança da forma adjetival do particípio passado,

3. Através da anteposição do adjetivo face ao nome qua qualifica na expressão “pequeno génio”,

4. Com a utilização do adjetivo presente na passagem “Enquanto as sete manas se entretinham (…) a dedilhar intermináveis escalas (…)”,

5. Com o uso dos vocábulos “embrenhava-se” e “matas” na descrição das “expedições científicas” de Asclépio e Lupino,

6. Na frase “Mas juntos, (…) sobrinho e tio demoravam-se horas após horas, tardes após tardes, dias após dias, meses e anos sem fim, inventariando fauna e flora que lhes aparecessem pela frente.”,

 

B
 
a. o narrador confere-lhe um valor subjetivo e afetivo.

b. o narrador, recorrendo ao disfemismo, torna mais agreste e selvagem a atividade.

c. o narrador utiliza a gradação com a finalidade de ressaltar o crescente interesse pela ocupação.

d. o narrador destaca a habilidade com que foram tratados os interesses militares.

e. o narrador salienta, ironicamente, o caráter repetitivo da ação.

f. o narrador serve-se de um eufemismo para atenuar a situação apresentada.

 
SEGUNDO MOMENTO
5.10. Indique a expressão que, no início do parágrafo deste segundo momento, recupera e realça a última ideia do segmento narrativo anterior.
 
5.10.1. Refira o mecanismo de coesão que a sua utilização configura.
 
5.11. Comprove com elementos textuais que os sentimentos despertados pelo eclipse junto de Asclépio diferiam grandemente dos da restante população.
 
5.12. Identifique os dois vocábulos utilizados pelo narrador para dar conta da confusão gerada no dia do primeiro eclipse total do Sol em Moçambique.
 
5.13. Na frase «Reza a história – e muito rezou o padre local», surge um trocadilho que explora o valor polissémico do verbo rezar.
 
5.13.1. Esclareça os dois sentidos com que é utilizado na frase.
 
5.14. Refira o valor expressivo da enumeração das reações dos populares ao eclipse: «(…) com gentes de todas as idades (…) gritando ais e ajudas, socorros e clemências aos mais dignos e mesmo aos mais indignos deuses (…)».
 
5.15. Explique o comentário do narrador relativamente ao que se passou nas semanas posteriores ao eclipse: «De plantão, nas semanas seguintes, ficaram igualmente, e como se compreende, todos os curas, curandeiros, adivinhos e sibilas da terra.»
 
TERCEIRO MOMENTO
5.16. Tendo em conta o tempo histórico e o espaço social em que decorre a ação do conto, justifique a referência à “Metrópole”.
 
5.17. Aponte a função sintática desempenhada pela oração infinitiva sublinhada na frase: “Um dia, em entrevista a um programa de rádio, chegou a confidenciar ter perdido a conta ao número de eclipses testemunhados (…)”.
 
5.18. Identifique o processo morfológico de formação de palavras que deu origem aos vocábulos «solares» e «verdadeira».
 
QUARTO MOMENTO
5.19. Esta sequência narrativa retoma o tempo cronológico da ação, identificado na introdução e interrompido pela analepse do início do desenvolvimento.
 
5.19.1. Confirme a afirmação.
 
5.20. Asclépio retorna a Moçambique como convidado para proferir uma palestra sobre eclipses, uma vez que estava para breve a ocorrência de um desses fenómenos.
 
5.20.1. Transcreva a frase que evidencia o impacto das suas palavras no auditório.
 
5.20.2. Refira um dos efeitos de sentido produzidos pela utilização do gerúndio nessa mesma frase.
 
5.21. «Três dias depois se veria, afinal, o que era aquilo de um eclipse total, ou quase, e que efeitos na realidade teria”.
 
5.21.1. Interprete o valor simbólico do número três na alusão ao número de dias de preparação para o eclipse.
 
5.21.2. Mencione a ideia expressa pelo conector «afinal».
 
QUINTO MOMENTO
 
5.22. O relato do «dia do eclipse» começa com um breve trecho descritivo.
 
5.22.1. Demarque o momento em que termina a descrição e principia a narração do fenómeno.
 
5.22.2. Distinga essas duas sequências textuais (descritiva e narrativa) quanto aos tempos verbais dominantes.
 
5.23. Atente no verbete da palavra «eclipse».
 

Eclipse – 1 n.m. ato ou efeito de eclipsar; 2 ASTRONOMIA ocultação total ou parcial de um astro pela interposição de outro entre ele e o observador ou pela entrada daquele astro na sombra de outro; 3 [fig.] obscurecimento; 4 [fig.] desaparecimento; 5 [fig.] ausência; ASTRONOMIA eclipse da Lua ocultação total ou parcial da Lua (…); ASTRONOMIA eclipse do Sol ocultação total ou parcial do Sol (…); PSICOLOGIA eclipse mental desaparecimento extremamente breve da consciência ou, pelo menos, do domínio do pensamento, psicolepsia (Do gr. ékleipsis, «eclipse; ocultação», pelo lat. eclipse-, «idem»)

 
AA. VV., 2004. “Eclipse”, in Grande Dicionário da Língua Portuguesa.
Porto: Porto Editora (texto adaptado e com supressões)
 
5.23.1. Indique qual das aceções do vocábulo s pode aplicar ao verdadeiro e raro «fenómeno» do dia.
 
5.23.2. Aponte as suas consequências.
 
5.24. Consulte num dicionário o significado de «assolar» e, a partir dele, assinale a palavra que lhe está na origem.
a. Sol               b. sola             c. solo              d. solar
 
5.24.1. Trata-se de um vocábulo formado por derivação (parassíntese). Justifique a afirmação.
 
6. Considere, finalmente, a Conclusão da narrativa.
 
6.1. “Com o tempo”, Asclépio foi alvo de homenagens.
 
6.1.1. Os políticos «(…) aproveitaram para encomendar mais uma estatuazita.». Explicite o valor do sufixo diminutivo presente na palavra «estatuazita».
 
6.1.2. Um «escultor da terra» conseguiu uma «forma curiosa e interessante» de cumprir o desígnio dos políticos e manter a lembrança da história de Asclépio, Explique como o conseguiu.
 

Ligações:
    👉 Texto.

Conto «Asclépio, o "Caçador de Eclipses"», de Pedro Teixeira Neves

        Asclépio Euclides, especialista em eclipses, lunares e solares, embora graduado com distinção nestes últimos, tentava acalmar a sua audiência quanto aos efeitos nefastos do fenómeno solar que se previa para os dias seguintes, um eclipse solar a oitenta por cento! “Poderão, de qualquer modo, e se assim o entenderem – isto é, se o medo for muito… –, ir rezar umas ave-marias e uns pai-nossos para a igreja. O Padre Santinho por certo vos acolherá dizendo que ‘a luz de Deus, essa, jamais se apagará aos fiéis!’”. E sorriu, tirando os óculos ao mesmo tempo que passava a palavra à sua colega de bancada, a Dr.ª Letícia Catarata. Que usou da dita nestes termos: “O Doutor Euclides brinca. Nada receiem. Uma certeza, porém! Não deverão jamais olhar diretamente para p Sol. Os eclipses são fenómenos perfeitamente naturais e não só nunca fizeram mal a ninguém como nunca farão.” Certo, muito certo, mas a Dr.ª Catarata enganava-se. Tão rotundamente como a note que daí a três dias, em pleno meio-dia, engoliria a quase totalidade da luz solar. Estava-se em 1968, o país tratava-se de razões com o segundo grande eclipse solar do século e o professor Asclépio Euclides, malgrado toda a sua experiência na matéria, que inclusive lhe valera o cognome de “caçador de eclipses”, teria ainda muito com que se espantar.
Pio, como desde petiz era conhecido entre familiares e amigos, começou a interessar-se por acontecimentos raros, fenómenos científicos e afins, teria aí os seus cinco, seis anos. Com os pais e as suas sete irmãs, vivia nesses tempos do princípio do século em Moçambique, próximo da exuberante Foz do Rovuma. O Doutor Lupino, tio de Asclépio, morava também, havia meia-dúzia de anos, com a prestigiada família Euclides Semedo e fora ele o “culpado” da verdadeira paixão do sobrinho pelas “coisas da ciência”, como às apetências da criança sempre se referia, em conversas com amigos, o pai do pequeno Pio, Thomás Euclides Semedo, desse modo como que dizendo esperar que fossem aquilo apenas “manias da idade”. Que não eram, como se verá.
O tio Lupino servira em Lourenço Marques durante largos anos, mas depois de uma aparatosa operação de salvamento em que se tinha envolvido, a um corneteiro da rainha que caíra às revoltas águas de um rio, Lupino, batendo com a cabeça num tronco de +arvore, passara a sofrer de uma progressiva “falta de memória”, como vaticinaram diplomaticamente os dois médicos chamados a opinar sobre o caso. Acontecera isso em 1902 e logo delicadamente foi Lupino convencido, ou, melhor, convidado a antecipar a reforma da sua valorosa carreira militar. Não lhe fizeram a coisa sem mais nem menos, pois sempre se tratava de um Comandante. Para que não fizesse muitas ondas, lavraram-lhe então um louvor em que se elencavam todos os seus feitos em cumprimentos de missão, documento esse que a própria Rainha se encarregou de assinar. Nos seguintes termos constava e o mesmo Lupino, aos olhos de quantos visitavam a fazenda Semedo, fazia questão de dar a conhecer:
 

“Louvor ao Comandante Euclides Semedo,

 
Em virtude de: 1.º No decorrer da expedição aos Grandes Lagos, em 1879, ter salvo a golpe de espada, e com risco da própria vida, um seu subordinado que se vira atacado por um feroz leão; 2.º Aquando da expedição a Inhambane, em 1893, ter providenciado e comandado de forma pronta e célere o combate às chamas que haviam deflagrado no acampamento do corpo expedicionário; 3.º Ter participado, em 1895, com brio e valentia insuperáveis, nas campanhas de pacificação de Moçambique comandadas pelo excelentíssimo Capitão Mouzinho de Albuquerque; 4.º Ter, em 1902, e enquanto Comandante da Coluna do Barué, em operações por Manica, ajudado ao salvamento do corneteiro da Rainha n.º 6/199 da segunda companhia que por accidente cahiu ao rio Inhamucarara; ter ainda participado nas seguintes ações: Combate de Xoarira, Ataque e tomada da Denga de Ranguand, Escaramuça ao norte do monte Nhangara, Recontro de Bexinga, todos estes atos em 1902.
Por, em todas estas ocasiões, ter dado bastas provas da sua louvável filantropia, recomenda o Excelentíssimo General Seraphim Ferreira Júnior que individualmente se louve o Comandante Lupino Euclides Semedo.
 
Lourenço Marques, 25 d’agosto de 1902
 
o General Seraphim F. Júnior
a Rainha
(assinaturas irreconhecíveis)”
 
Solteirão dos quatro costados, o Comandante Lupino decidiu-se, pois, em virtude do acidente acima descrito, a ir morar com o irmão, à data Governador-Geral de Colónia, posto cimeiro na hierarquia da administração colonial em Moçambique. E era um pequeno génio o homem que desde então passou a fazer companhia ao jovem Asclépio – filho nunca tido embora sempre desejado –, povoando-lhe a infância de descobertas e sensações que jamais esqueceria. Enquanto as sete manas se entretinham com a mãe e duas precetoras a aprender as graças e predicados de boas fadas do lar, e, nos intervalos da culinária e dos lavabos, a dedilhar intermináveis escalas no velho piano de cauda, Asclépio, ou Pio, embrenhava-se com Lupino pelas matas circundantes à casa da fazenda em autênticas expedições científicas ao melhor estilo de um Serpa Pinto, que não muito antes se embrenhara com sucesso pelos intestinos africanos, aventurando-se por terras e horizontes onde até então só bicharada existia – pelo menos na imaginação e conhecimento dos ocidentais, cujos mapas da época, de resto, isso mesmo comprovavam apresentando ferozes e coloridos animais no interior do Continente Negro; foi assim até finais do século XIX. Mas juntos, dizia-se, como se duas crianças, que um era, o outro já nem por isso, sobrinho e tio demoravam-se horas após horas, tardes após tardes, dias após dias, meses e anos por fim, inventariando fauna e flora que lhes aparecessem pela frente. E não era tão pouca quanto isso! No velho barracão por detrás das cavalariças, entretinham-se depois de cada investida prospetiva, até que os chamassem para o jantar, a catalogar os espécimes apanhados, constituindo aquilo que na família já se dizia ser um “Museu de História Natural”. Na verdade, não seria muito mais do que um interesse gabinete de curiosidades. Mas foram anos passados naquela vida, investidos em verdadeiros cientistas, biólogos, botânicos, geógrafos, geólogos e até astrónomos, num crescendo de aprendizagem “in loco” que teve um dos seus pontos altos no ano de 1919, quando se deu o primeiro eclipse total do Sol em terras de Moçambique.
 O fenómeno dos eclipses foi, na realidade, de tudo quanto lhe aguçou a curiosidade do tio Lupino, o que mais entusiasmou o pequeno Asclépio. E quantas noites não demorou ele a adormecer esforçando-se por compreender, como vira nas páginas de um magnífico livro ilustrado inglês, tamanho mistério da natureza. E assistir a um desses milagres d ao vivo!? Não seria fantástico!? – Mas quando, Tio Lupino, quando?, perguntava-lhe amiúde todo ansiedade. Na verdade, de por via da raridade de tais acontecimentos, o jovem Pio só aos dezanove anos pôde pela primeira vez testemunhar um eclipse solar, e logo um eclipse total! Foi isso a 29 de maio de 1919, dia em que na generalidade do território moçambicano, mas com especial incidência ou privilégio de primeira plateia para as populações da Foz do Rovuma, todos os olhos, muito brancos e arregalados, se voltaram desprevenidos e temerosos para o Astro-Rei. Reza a história – e muito rezou o padre local, o pároco Maciel Vinhas, para que as populações se acalmassem e a vida voltasse à normalidade! – que foi naquelas terras um desatino de primeira grandeza. Uma coisa assim nunca vista, com gentes de todas as idades disparando para debaixo de tudo quanto fosse sítio ou toca, gritando ais e ajudas, socorros e clemências aos mais dignos e mesmo aos mais indignos deuses que se conheciam ou conheceram por tais bandas. Para que se tenha uma ideia do pandemónio que três minutos de Sol encoberto criaram, diga-se tão-só que nunca como naquele santo dia o Padre Maciel vira a sua igreja tão cheia de ovelhas – claro está que para ele era um regalo! De plantão, nas semanas seguintes, ficaram igualmente, e como se compreende, todos os curas, curandeiros, adivinhos e sibilas da terra. Kalunga, Deus do Mar, foi um dos mais requisitados, e entre feitiços, idolatrizações, amuletos e talismãs, havia para todos os gostos. Ao invés, contentes da vida e alheios a toda esta parafernália de medos e crendices, na sua fazenda, em posto de observação eleito, Lupino e Pio deslumbravam-se com o fenómeno.
Foi esse dia o espoletar de uma paixão arrebatadora em Asclépio. Embrenhou-se nos manuais, cresceu a pedir ao Tio Lupino que mandasse vir da Metrópole e do estrangeiro literatura sobre o assunto, e quando chegou à idade universitária, já em Coimbra, perdeu-se em bibliotecas estudando tudo o que alguma vez fora estudado e posto em papel sobre Eclipses. A coisa foi a tal ponto que Asclépio só aguentou os grossos volumes e legislações de Direito em que o pai insistira que cursasse. As ciências eram o seu futuro. E foram, tendo Asclépio vindo a formar-se em Ciências Astronómicas com vinte valores, especializando-se e discutindo teses versando os eclipses solares. Terminado o curso, o então já Doutor Asclépio percorreu o mundo numa verdadeira caçada aos eclipses, desse modo aprofundando os seus conhecimentos. Um dia, em entrevista a um programa de rádio, chegou a confidenciar ter perdido a conta ao número de eclipses testemunhados – o entrevistador, um radiofonista de nome Igrejas qualquer coisa, espantou-se numa voz de tom afetado e ondulante, perguntando depois pela “querida mãezinha do Doutor Asclépio”.
Em Moçambique, onde regressava regularmente, passou a ser conhecido como “o caçador de eclipses”. Era um homem querido pelas populações, um homem da terra cuja bonomia e ciência cativavam o mais relutante espírito, e que por isso mesmo, no ano de 1968, por via da aproximação do segundo eclipse solar no território, convidado a fazer um esclarecimento geral sobre eclipses, congregou em palestra um vasto auditório de negros e brancos. Um facto de monta, tanto mais que nessa altura o povo moçambicano, a exemplo das demais colónias portuguesas, encontrava-se em guerra contra a Metrópole num processo de conquista e independência então ao rubro. “Nada temam”, disse a Dr.ª Letícia Catarata secundando as palavras e a boa disposição do Professor Asclépio Euclides. As pessoas saíram confiantes, gargalhando os medos e os temores. Três dias depois se veria, afinal, o que era aquilo de um eclipse total, ou quase, e que efeitos na realidade teria.
No dia do eclipse, a calma, na medida do possível, reinava em Lourenço Marques. Na praça central da cidade, com as esplanadas cheias e todas as janelas abertas em sentinela para o céu, Asclépio encontrava-se rodeado de pessoas que, sabe-se lá por que razão, talvez pelo currículo do professor, junto dele mais seguras se sentiam. Aguardavam expectantes, e quando o Sol começou a vestir-se de negro uma onda de suspiros ressoou no silêncio instalado. E foram três minutos de bocas abertas e olhos apontados às alturas numa tal concentração que ninguém reparou que ali mesmo, pés bem assentes no chão, um outro fenómeno decorria. Foi um grito estridente da Dr.ª Catarata, seguido de desmaio, que deu o alerta: “Professooooooooor!!!” Meteu medo! Então, clareando de novo o dia, puderam todos aperceber-se do sucedido, fenómeno esse, sim, digno do maior espanto e respeito. Ali, no meio da praça, o próprio Professor Asclépio começando por ver-se assolado, dos pés para a cabeça, por uma densa sombra negra, acabou, primeiro por ficar negro como um tição, e logo depois, num estalar de dedos, por desaparecer como se por magia. Esfumando-se, nem mais nem menos. Um “Ahhhhhhhhhh” de espanto ainda maior que o antecedente varreu a praça. Claro está, foi de novo um corrupio a lembrar o de 1919 e, como setenta e duas horas antes vaticinara no seu discurso o Doutor Asclépio, mesmo se brincando, o Padre Santinho não teve mãos a medir.
Com o tempo o povo e as autoridades aceitaram o sucedido. Explicações, houve quem as tentasse, mas sem sucesso. A Dr.ª Catarata, coitada, acabou os seus dias num hospital psiquiátrico e os políticos logo, logo aproveitaram para encomendar mais uma estatuazita. Sempre daria para mais uma tesourada e alguns aplausos que devidamente contabilizados poderiam ajudar nas eleições. A coisa fez-se, sob assinatura de um escultor da terra que de forma curiosa e interessante trabalhou a sua homenagem ao extinto ou eclipsado Professor Asclépio. No sítio exato onde se esvanecera surgiu, passados alguns meses, uma estátua negra, de formas arredondadas, que tinha a particularidade de à luz do Sol escurecer e à noite, como se por magia, emanar uma estranha luz. A conselho do velho Tio Lupino, que já passara os cem anos, podia ler-se, em epitáfio, lembrando famosa sentença de Hermes: “Grande milagre, ó Asclépio, é o homem”.
 
Pedro Teixeira Neves, “Asclépio, o ‘Caçador de Eclipses’”, in Mealibra


Ligações:
    👉 Questionário.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Benfica vence a Supertaça de futebol feminino


 

Análise de "O Almoço do Trolha", de Júlio Pomar


             Este quadro é da autoria de Júlio Pomar e foi pintado em 1947, sendo considerado um dos marcos fundamentais da pintura neorrealista em Portugal.

            O espaço onde decorre a cena representada é quase completamente ocupado pelas figuras humanas, que parecem não caber nos limites da tela, uma sensação que é acentuada pelas barras que se veem em fundo, muito próximas, e pela envergadura do homem.

            As figuras humanas são, no fundo, seres confinados ao espaço que sobra, uma família pobre constituída por marido, esposa e filho. O homem é um trabalhador da construção civil, o que torna mais absurda a sua situação naquele espaço onde não cabe, ele que constrói o espaço para os outros. É forte, tem mãos grandes e fortes de trabalhador, mas o que ganha não é suficiente para levar uma vida que traga alegria e felicidade à família. O seu rosto é anguloso, quase duro, e digno. A seu lado, a mulher, que lhe trouxe o almoço ao local de trabalha, olha-o com ternura e tristeza em simultâneo. Está sentada num tijolo e tem um filho ao colo. A criança, muito pequena, parece triste. Seja qual for a sua situação económica e social, parece haver grande união e intimidade entre os três.

            A pintura, por outro lado, é áspera, como áspera é a vida dos trabalhadores e daquela família. As coras frias predominam, exceto no caso da figura feminina. Ela enverga um xaile vermelho vivo, o que significa que traz vida ao marido. Este vermelho, combinado com o verde da saia, confere harmonia e evoca a bandeira de Portugal. Por seu turno, o homem está vestido com tons claros, quase brancos, e, apesar da aspereza da pintura, parece irradiar uma certa luz que, conjugada com a sua força, faz dele uma espécie de herói em potência.

            Esta conceção do trabalhador como herói é uma das características centrais do Neorrealismo, que sustentava que a arte deveria estar ao lado da luta dos trabalhadores proletários pela sua libertação.

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Análise do quadro "Intervenção Romântica"

            O quadro Intervenção Romântica é da autoria do pintor surrealista português António Pedro (1909 – 1966) e foi pintado em 1940, em plena Segunda Guerra Mundial.

            Na pintura, vemos uma paisagem surreal, desolada, quase lunar, mas contendo algo de orgânico, concretamente uma mão e um corpo de mulher sem cabeça, em vez de árvores, paisagem essa que é palco de várias cenas.

            Em primeiro plano, à direita, quatro soldados matam-se uns aos outros pelas costas, configurando uma situação que funciona como denúncia do absurdo da guerra. Ao fundo, outro par de soldados funciona como demonstração da generalização da guerra. Ainda em primeiro plano, mas à esquerda, uma mulher vestida de branco – a cor que simboliza a paz – parece voar e mergulhar nas raízes da árvore-mulher. Atrás, num plano mais elevado, uma outra figura feminina, nua sobre um cavalo, transporta uma bandeira branca, a bandeira da paz. A olhar para ela, um homem que voa com a cabeça nas mãos – é um autorretrato do pintor.

            Face ao exposto, podemos concluir que existe um contraste entre os elementos masculinos, violentos, escuros, e os femininos, claros, simbolicamente associados à paz. O pintor, elemento masculino, direcionado para os soldados, inverte a sua posição, violentamente, opta por outro rumo, olhando para a mulher-paz.

            Ao centro, no plano superior, um pássaro gigante segura uma chave enorme nas patas, provavelmente a chave do conhecimento, que decifra o enigma do futuro da Humanidade num mundo assolado pela guerra.

            No que diz respeito às cores e à luz, as tonalidades dominantes são os castanhos dourados da paisagem. O céu, arroxeado, com tonalidades plúmbeas e amareladas, está carregado, denso. Ao longo de um clarão de luz – o clarão das bombas? Tudo isto, conjugado com o contraste claro-escuro, confere um intenso dramatismo à pintura.

            Por último, o título da pintura – Intervenção Romântica – remete para o único par que nela existe, isto é, o pintor que olha para a mulher da bandeira branca. Esse olhar desvia o artista do universo masculino e guerreiro e aproxima-o do universo feminino e pacífico. 

Análise do quadro "O nascimento de Vénus"


             “O Nascimento de Vénus” é uma obra de Sandro Botticelli, um dos mais conhecidos quadros do Renascimento italiano.

            A pintura revela uma das características do Renascimento e do Classicismo: o gosto pelos temas da mitologia clássica, visto que o tema é mitológico: o nascimento de Vénus, a deusa romana do amor e da beleza.

            No centro do quadro, está representada a deusa, nua, nascendo, como consta do mito, do oceano. De pele muito clara, lembrando o mármore puro das estátuas gregas e romanas antigas, os cabelos longos e dourados (ao gosto de Petrarca), manifesta uma postura suave, doce, bondosa, pudica e triste, com um olhar que irradia luz, mas que, em simultâneo, é distante, de deusa inacessível. Toda a figura está inundada de luz. É a encarnação do ideal de beleza renascentista.

            Do lado direito, encontramos uma ninfa, representação da primavera, que recebe a deusa, oferecendo-lhe um manto. O seu vestido ondulante imprime um suave movimento ao quadro e o seu gesto, em diagonal, é simétrico ao lado esquerdo da pintura, onde um par amoroso (o vento Zéfiro e a sua esposa Clóris) voa e impele a deusa para a costa. À volta, rosas – as flores de Vénus que, tal como o dourado das laranjeiras à direita – e os tons suaves de todo o ambiente, contribuem para dar a impressão de que toda a natureza está a ser tocada pela beleza e suavidade de Vénus.

A escola do século XIX em imagens – V


Albert Anker, Exame escolar (1862)

     Revisitando Albert Anker, deparamo-nos com o testemunho de uma realidade praticamente extinta na escola atual: o tradicional exame da 4.ª classe. Perante um punhado de examinadores – professores, inspetores, diretores escolares – os petizes de ambos os sexos devem demonstrar a sua aptidão académica.

    Numa escola suíça, vemos a tradicional sala com carteiras de bancos corridos, onde os alunos se acotovelam, à excepção do que está a ser examinado e do pequeno grupo dos que aguardam a sua vez – estes ficam de pé, à frente dos restantes, face ao examinador.

    Entre nós, o “exame da 4.ª classe” manteve-se até 1974, tendo sido abolido após a Revolução de Abril, tendo sido brevemente ressuscitado durante o ministério de Nuno Crato, embora em moldes diferentes, tanto do modelo do Estado Novo, como daquele que vemos nesta imagem. A verdade é que os tempos mudam, e tanto os objetivos e finalidades do ensino básico como a evolução das teorias e práticas pedagógicas acabaram por desaconselhar este tipo de avaliações formais, banidas na generalidade dos países.

Fonte: escolapt

Características da obra de Mário de Carvalho no conto «Corpos incompletos»

  • O gosto pelo fantástico: a atribuição de vida a estátuas e bustos de Lisboa.

  • As situações de quase absurdo: estátuas e bustos assumem capacidades, comportamentos, sentimentos e estados próprios dos seres humanos.

  • Fina ironia: «Mas lembrou-se, ao fim dumas horas, de que era um rei enérgico.».

  • O domínio da língua portuguesa: adjetivação expressiva («subtil rugido», «a pronúncia sábia e feroz», «esbaforido», «olhares rancorosos», «muito domésticos»); diminutivos («saltinhos», «alegretes», «ceguinha»); recursos estilísticos diversos (ironia, etc.).
  • A inventiva vocabular: «maçadoria», «sopesou», «fitando», «revoada de clipocloques», «desacompanhados», «convergência objetiva», «parangonas».

Correção do questionário do conto "Corpos incompletos"


 1. O recurso estilístico é a personificação.

1.1. As expressões são as seguintes: «a estátua lia perfeitamente», «estado de deslumbramento», «ler e indignar-se», «deliberou manifestar-se».

2. Após o processo de restauro e limpeza, a estátua do marechal Saldanha verificou que a sua existência tinha melhorado, conseguir até ver, a grande distância, pormenores impossíveis a qualquer ser humano. Foi ao ler um conto de Pere Calders, que estava a ser lido dentro de um autocarro por um jovem, que decidiu manifestar-se por não concordar com o conteúdo da obra: afinal, as estátuas tinham vontade própria e alma, não eram apenas habitadas por personagens que saíam delas à noite.

3.1. O pressuposto apresentado é o conhecimento de que as estátuas de Lisboa comunicam com facilidade entre si.

3.2. O recurso estilístico é a ironia, a qual procura transportar os leitores para a ficção que está a desenhar-se. O universo fantástico deixa de estar apenas no domínio da narrativa e do narrador para ser partilhado pelos leitores.

4.1. O conector «Mas» veicula uma ideia de contraste, de oposição.

4.2. Apesar de todas as estátuas estarem desejosas de assumir movimento, aguardavam a reação do rei fundador, daquele a quem mais autoridade reconheciam.

4.3. Embora constitua um símbolo de força e coragem, a estátua de D. Afonso Henriques ponderou durante longo tempo («umas horas») a atitude a assumir, simplesmente por estar a considerar o peso do escudo, da espada e da malha de ferro. O narrador parece estar a querer caracterizá-lo, comicamente, como preguiçoso e comodista.

5.1. Quem deu o alarme foi o guarda Malaquias de Sousa, que rapidamente informou o sargento. Todos eles correram à janela para verem o que se passava, ficando, naturalmente, cheios de medo, considerando o sargento que a situação exigia decisões dos seus superiores. No largo, a multidão de estátuas mostrava-se ameaçadora, com espadas, pistolas, canhões... Até os leões estavam irrequietos. No fundo da manifestação, porém, encontravam-se as estátuas de Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco a conversar na presença da Nudez Forte da Verdade.

5.2.1. O recurso expressivo é a hipálage, que faz transitar o sentimento da personagem (nervosismo) para um objeto que ela carrega - a espada. Parece intensificar-se, desta forma, a possibilidade de violência se vivia.

6.1. O que provocou este «frémito» foi a concentração de bustos que quiseram também manifestar-se e avançavam pela Alameda de D. Afonso Henriques. A consequência imediata que o narrador identifica é a reação de um homem que comia um bife no restaurante Portugália, que liberta um «Ena pá!», apercebendo-se da agitação. No entanto, o ruído era tão intenso que houve quem ligasse para a polícia a protestar.

7. O diminutivo «saltinhos» destaca a pequenez dos pulos possíveis aos bustos, enquanto no adjetivo «alegretes» o sufixo com valor diminutivo transporta uma ideia de ironia face à atitude dos bustos.

8. As frases conferem ao texto mais um elemento de comicidade. O uso do presente na primeira frase («Alguns agentes ainda estão hoje...») remete exatamente para o insólito da situação e para a falta de respostas legislativas e regulamentares.

9. Apesar da gravidade da situação e dos acontecimentos, o ministro responsável acabou por assumir uma atitude de indiferença («deixem lá, isso passa»), como se não ouvisse aquilo que estavam a dizer-lhe. E respondeu apenas por estar farto de telefonemas, não pela gravidade da situação.

10. Cansadas de estarem no largo a olhar, sem sequer ter havido qualquer acontecimento, as estátuas, quando se aperceberam da chegada dos bustos, decidiram retirar-se, Os bustos, depois de umas assobiadelas, regressaram também aos seus pedestais.

11. A relação entre estátuas e bustos não era boa. Em primeiro lugar, as estátuas decidiram manifestar-se e não convocaram os bustos, acabando por ser estes a decidirem-se também  pela concentração, considerando que não seriam inferiores, apesar de não terem um corpo completo. Quando os bustos chegaram ao lugar da concentração, são as estátuas que decidem, numa atitude de superioridade, afastar-se com dignidade, não querendo misturas, como se a presença dos bustos fosse indigna. Repare-se que os bustos referidos são de poetas...

11.1. As estátuas e os bustos colocaram-se em posição contrária à que tinham anteriormente.

12. A imprensa, no dia seguinte, apesar de ter já títulos sobre a insegurança e o vandalismo, desconhecendo as verdadeiras razões dos acontecimentos, depressa os substituiu por algo que atrairia mais as atenções: «um jogador de bola agrediu a própria mão, ceguinha». Logo que possível, o poder político procurou legislar para que este tipo de manifestações não mais fosse possível, determinando que se prendessem com cabos de aço todas as estátuas e bustos, como se a solução para os problemas fosse «acorrentá-los». Os comentadores, formadores de opinião, criticaram a medida principalmente do ponto de vista financeiro: seria uma medida dispendiosa. Evitaria, porém, outros desassossegos, outras manifestações.

13. Não é possível precisar o momento exato do início das ações da estátua do marechal Saldanha, que ocorreu durante o dia, mas quando a manifestação começou efetivamente, após «umas horas» de ponderação da estátua de D. Afonso Henriques, «A noite já ia adiantada.». O decurso do cortejo e da concentração verificou-se durante a noite, sendo que «A manhã foi encontrar estátuas e bustos voltados para o lado oposto ao do costume». O dia seguinte trouxe novos acontecimentos; «nessa noite» outras notícias desviaram as atenções da manifestação das estátuas e dos bustos que, «um mês depois», tentaram repetir as suas ações.

14. No que diz respeito à ciência ou focalização, o narrador é predominantemente omnisciente («cá de longe, a estátua lia perfeitamente"; «D. Afonso Henriques sopesou os inconvenientes de acartar com o peso de escudo, espada e malha de ferro. Mas lembrou-se, ao fim dumas horas, de que era um rei enérgico.», apesar de, nalguns momentos, parecer apenas dedicar-se à focalização externa (como é o caso do momento em que assume o desconhecimento acerca do modo de comunicação das estátuas).

15. Os corpos dos protagonistas do conto são «corpos incompletos». O adjetivo «incompletos» pode remeter para o facto de as estátuas, como se refere no texto, serem apenas reproduções exteriores, «em corpo inteiro», do corpo humano, «(...) como se as estátuas fossem o invólucro ou repositório e não tivessem de próprio nem vontade nem alma», e os bustos serem, até no plano material/físico, corpos inacabados, «mutilados», embora compensassem essa deficiência com «mais concentração de espírito». Por outro lado, enquanto reprodução dos seres humanos e animais, no decorrer da ação do conto as estátuas procuram completar a inteireza daqueles, adotando capacidades e atitudes que lhes são próprias.


Ligações:
    👉 Texto do conto.
    👉 Questionário.

Questionário sobre o conto "Corpos incompletos"

 1. O conto está construído com base num recurso estilístico. Identifique-o.

    1.1. Transcreva dos dois primeiros parágrafos expressões que justifiquem a resposta anterior.

2. Apresente as circunstâncias que originaram os acontecimentos narrados e justifica a atitude da estátua do marechal Saldanha.

3. No terceiro parágrafo, o narrador apresenta um pressuposto partilhado pelos leitores.

    3.1. Identifique-o.

    3.2. Identifique o recurso estilístico presente e a sua importância no texto.

4. «Mas todas as estátuas de Lisboa aguardaram a pronúncia sábia e feroz do rei fundador, muito hirto, lá nas alturas do castelo.»

    4.1. Explique o valor do conector que inicia a frase.

    4.2. Justifique a atitude das estátuas.

    4.3. Caracterize a estátua de D. Afonso Henriques, tendo em conta os argumentos que pesaram na sua decisão.

5. Em cortejo, as estátuas dirigiram-se à Assembleia da República.

    5.1. Descreva a reação dos guardas e o ambiente que se verificava entre as estátuas.

    5.2. Atente na expressão «A espada de Saldanha muito nervosa».

        5.2.1. Identifique o recurso estilístico presente e refira a sua expressividade.

6. «... um frémito percorreu o arvoredo da Estefânia.»

    6.1. Indique o acontecimento que provocou este fenómeno e refira as suas consequências.

7. Refira o valor expressivo do uso dos diminutivos na frase «os bustos de Lisboa vieram todos avenida abaixo, aos saltinhos, muito alegretes.»

8. Explique a intencionalidade das duas últimas frases do quinto parágrafo.

9. Comente a atitude do poder político perante a situação.

10. Apresente por palavras suas a forma como terminou a manifestação.

11. Descreva, a partir de elementos textuais, a relação entre estátuas e bustos.

    11.1. Mencione a «convergência» que se verificou entre eles.

12. Comente as repercussões finais da manifestação de estátuas e bustos ao nível do papel da imprensa, da diretiva comunitária e da posição dos formadores de opinião.

13. Refira o tempo em que decorre a ação, transcrevendo as marcas que assinalam a sua progressão.

14. Classifique o narrador do texto quanto à ciência e justifique a sua resposta.

15. Explique o título do conto.


Ligações:
    👉 Texto do conto.
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