O espaço onde decorre a cena
representada é quase completamente ocupado pelas figuras humanas, que parecem
não caber nos limites da tela, uma sensação que é acentuada pelas barras que se
veem em fundo, muito próximas, e pela envergadura do homem.
As figuras humanas são, no fundo,
seres confinados ao espaço que sobra, uma família pobre constituída por marido,
esposa e filho. O homem é um trabalhador da construção civil, o que torna mais
absurda a sua situação naquele espaço onde não cabe, ele que constrói o espaço
para os outros. É forte, tem mãos grandes e fortes de trabalhador, mas o que
ganha não é suficiente para levar uma vida que traga alegria e felicidade à
família. O seu rosto é anguloso, quase duro, e digno. A seu lado, a mulher, que
lhe trouxe o almoço ao local de trabalha, olha-o com ternura e tristeza em
simultâneo. Está sentada num tijolo e tem um filho ao colo. A criança, muito pequena,
parece triste. Seja qual for a sua situação económica e social, parece haver
grande união e intimidade entre os três.
A pintura, por outro lado, é áspera,
como áspera é a vida dos trabalhadores e daquela família. As coras frias
predominam, exceto no caso da figura feminina. Ela enverga um xaile vermelho
vivo, o que significa que traz vida ao marido. Este vermelho, combinado com o
verde da saia, confere harmonia e evoca a bandeira de Portugal. Por seu turno,
o homem está vestido com tons claros, quase brancos, e, apesar da aspereza da
pintura, parece irradiar uma certa luz que, conjugada com a sua força, faz dele
uma espécie de herói em potência.
Esta conceção do trabalhador como
herói é uma das características centrais do Neorrealismo, que sustentava que a
arte deveria estar ao lado da luta dos trabalhadores proletários pela sua
libertação.
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