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quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Análise do poema "Massacre de São Tomé", de Agostinho Neto


           Este poema, constituído por trinta e um versos brancos, distribuídos por cinco estrofes, alude a um massacre ocorrido em 1953 na ilha de São Tomé e Príncipe, mais conhecido por massacre de Batepá, e que consistiu na chacina de centenas de são-tomenses pela administração colonial e fazendeiros. O massacre ocorreu na localidade do distrito de Mé Zóchi (chamada Batepá). Estes acontecimentos foram a consequência das relações laborais e sociais no sistema colonial, que distinguia os fôrros – grupo etno-cultural dominante em São Tomé não sujeito ao estatuto de indigenato – dos trabalhadores contratados oriundos de Angola, Moçambique e Cabo Verde. Estes últimos eram considerados inferiores e levados para as ilhas para trabalhar nas roças de cacau e café, tarefas que os fôrros se recusavam a fazer por as considerarem incompatíveis com o seu estatuto.

            Esta tensão acumulada entre os vários segmentos da população do arquipélago e o facto de, nos anos 50, a mão de obra ter diminuído – dado que tinha sido proibida a sua importação de Angola, que necessitava dessa força de trabalho – levou ao extremar dessas tensões entre a administração colonial e as populações de S. Tomé. O massacre constitui, assim, o culminar desse processo que envolveu vários micro processos de repressão e de violência nos meses imediatamente anteriores a 3 de fevereiro de 1953.

            Na noite de 1 para 2 de fevereiro desse ano, um soldado do Corpo de Polícia Indígena, de apelido Amaral, foi morto durante uma rusga noturna na localidade de Caixão Grande. No dia seguinte – 2 –, Zé Mulato, alcunha do enfermeiro José Joaquim, que também desempenhava as funções de verdugo às ordens do governador da ilha, Carlos Gorgulho, chegou a Trindade na companhia de um grupo de homens. Como retaliação pela morte do soldado Amaral, assassinaram um nativo, na rua, o que fez com que a população da localidade se refugiasse no mato. Todos aqueles que não conseguiram fugir foram presos. Enquanto isso, os homens às ordens de Zé Mulato, armados com espingardas e pistolas, disparavam indiscriminadamente sobre as pessoas e incendiavam casas e lojas. Pouco depois, juntaram-se-lhes os colonos brancos, armadas, fazendo-se transportar em jipes, sempre em grupo. As perseguições e as prisões aumentaram consideravelmente e a violência propagou-se às povoações de Batepá, Madalena, Santo Amaro e Uba Flor. A partir de 3 de fevereiro, e pelo menos até ao dia 8, os arredores e a vila de Trindade foram quase totalmente destruídos.

            Em suma, o massacre consistiu em vários atos de violência – assassinatos, violações, casa incendiadas –, prisões em massa, o desterro para o campo de trabalho forçado em Fernão Dias, onde se previa a construção de um cais acostável, além de torturas em cadeira elétrica e exílio para a ilha do Príncipe de alguns dos mais destacados membros da elite são-tomense e roubos de terrenos que pertenciam aos fôrros. O massacre foi mais intenso entre os dias 3 e 7 de fevereiro de 1953, mas prolongou-se durante vários meses.

            Pra, é a isto que se refere o título do poema. A dedicatória à poetisa e amiga Alda Graça refere-se a Alda Espírito Santo, uma são-tomense, uma jovem à altura dos acontecimentos, mais tarde escritora e ativista política, que, em fevereiro de 1953, escreveu uma carta a alguns amigos, na qual descreveu os acontecimentos como uma “matança em série, uma loucura coletiva da parte da quase totalidade da população branca, que cumpriu ordens do governador e seus acólitos”. Nessa longa carta, Alda Espírito Santo contou também que o povo são-tomense era explorado e oprimido pelo governador Gorgulho, nomeadamente através de rusgas noturnas e sequestros para trabalhar nas obras públicas sem ou com escassa remuneração, submetidos a castigos corporais.

            Todo o poema está revestido de palavras que refletem dor, violência e morte, mas também, em simultâneo, por palavras de esperança. Logo nos primeiros versos, encontramos um quadro trágico e sepulcral, quando o sujeito poético afirma que o mar devolveu os cadáveres “envolvidos em flores brancas de espumas”. As flores brancas são, frequentemente, usadas em velórios, só que, neste caso, não houve nenhum funeral, pois os mortos devolvidos pelo mar não receberam uma celebração formal e com dignidade, por isso as flores são feitas das espumas das águas do mar, podendo ser um reflexo da resposta da Natureza aos assassinatos dos africanos. Além das “flores brancas de espumas”, os corpos estavam envolvidos pelo “ódio incontido das feras sobre sangues coagulados de morte”, o que evidencia a violência com que foram mortos. O sal das águas do oceano e os possíveis espancamentos deram origem à coagulação do sangue e as “feras” simbolizariam os assassinos que causaram as fraturas e levaram à morte das pessoas.

            Na segunda estrofe, o sujeito poético apresenta símbolos de devastação, como, por exemplo, o corvo e o chacal, ambos animais que surgem em cena após uma grande matança, como sucedeu neste massacre. As praias estão cheias de corvos e chacais com fome e sede dos cadáveres que jazem na areia. É possível associar o corvo e o chacal aos portugueses, ou aos próprios assassinos, tendo em conta que o corvo é uma ave carnívora que é considerada benfazeja pelos portugueses, enquanto o chacal, também ele um mamífero carnívoro, mas que em sentido figurado significa uma pessoa que explora os mais desfavorecidos, é apresentado como um animal, que mais do que estar à espera de alimento, representará os próprios exploradores ou assassinos. O pleonasmo “fomes animalescas de carnes esmagadas na areia” pode ter uma dupla interpretação. Por um lado, enfatiza a fome dos corvos e dos chacais e a grande devastação que é visível na praia. Por outro lado, o adjetivo “animalesco” é usado para designar um comportamento animal por parte de um ser humano, neste caso, a fome pela ruína, pelo sangue e pela carne que foi esmagado, isto é, pelo corpo violentado.

            Ainda na segunda estrofe, refere-se que os corpos estão na areia “[…] da terra queimada pelo terror das idades / escravizadas em cadeias”, o que permite deduzir que o sujeito poético se refere aos períodos de escravidão vividos pelo continente africano. A terra designada “queimada pelo terror das idades”, é apelidada posteriormente “terra verde”. O verde é o símbolo da esperança, neste caso da esperança ligada às crianças, que assim a designam: “as crianças ainda chamam verde de esperança”. Deste modo, as crianças constituem o símbolo da pureza, mas, sobretudo, do futuro, por isso nomeiam a terra queimada através de uma expressão que remete para algo positivo: a esperança, o alimento essencial para alimentar a luta pela independência e pelo consequente fim da exploração pelos europeus.

            De seguida, o sujeito poético afirma que os corpos “se embeberam de vergonha e sal”, recuperando a ideia do sangue coagulado, dado que a coagulação do sangue ocorre em contacto com o sal. No caso do poema, ela foi espoletada pelo sal das águas do mar. A vergonha será proveniente da humilhação que sofreram. Por outro lado, as águas ensanguentadas de desejos e fraquezas refletem o paradoxo entre o forte e o fraco: o desejo é o combustível da luta e a fraqueza decorre da tortura física e da humilhação a que foram sujeitos.

            Na quarta estrofe, o sujeito lírico afirma que “nos olhos em fogo / ora sangue ora vida ora morte / enterramos vitoriosamente os nossos mortos”, associando os olhos à memória, visto que os mortos foram enterrados nos olhos, isto é, na visão, como se fossem guardados num arquivo. Se tivermos em conta que o fogo é um elemento simbólico que pode representar a ideia de purificação e o entusiasmo, os olhos em fogo podem aludir a olhos que purificam e a olhos entusiasmados, interpretação confirmada pelo verso “enterramos vitoriosamente os nossos mortos”, visto que, apesar de terem sido humilhados e torturados até à morte, não podem ser considerados derrotados: “reconhecemos a razão do sacrifício dos homens / pelo amor / e pela harmonia / e pela nossa liberdade / mesmo ante a morte pela força das horas / nas águas ensanguentadas / derrotas acumuladas para a vitória”. Assim sendo, a morte não equivale à derrota, antes pelo contrário: pode apontar para a vitória. A ausência de pontuação no verso “ora sangue ora vida ora morte”, da penúltima estrofe, sugere a ideia de um tempo que não cessa, que é cíclico. Por outro lado, a expressão “ora sangue” remete para o nascimento e para a morte; “ora vida”, para o ciclo da existência; “ora morte”, para a luta e o fim dessa existência.

            Na última estrofe, o sujeito poético afirma que, para o povo são-tomense, aquela terra verde “será também a ilha do amor”, remetendo novamente para a ideia da esperança e da vida, apesar de todas as tragédias que lá sucederam.

            Em suma, este poema põe em confronto colonizado e colonizador, enfatizando o esmagamento e a opressão de que o primeiro é vítima e apontando para a tentativa permanente de se reerguer, não obstante a violência que sofre por causa da fusão de culturas.

            Olhando para si mesmo como sujeito, o homem africano busca uma identidade e passa a refletir e a agir como uma figura atuante no que diz respeito à sua cultura: o poeta é visto como alguém que tem a missão de criar a consciência da sua raça. Neste poema, a função do mar enquanto elemento que devolve ou expele para a terra africana a violência indicia, em simultâneo, o desvelar da violência que ele engoliu (ou seja, expõe-na) e a tentativa de analisar os traumas causados pela redescoberta da sua identidade, que primeiro nega o mar e, gradualmente, reconhece o seu papel fundamental no ocultar e resgatar de memórias.

 
Fonte:
- SILVA, Lediane Moreira, O Mar de Memórias na Poesia de Agostinho Neto.
- Jornal Observador.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Fernão Lopes, o pai da História Portuguesa e a Crónica de D. João I


Análise do poema "Confiança", de Agostinho Neto


             Este poema é caracterizado pela irregularidade formal: vinte versos brancos e de métrica irregular, distribuídos por uma quintilha, um dístico, três tercetos e uma quadra. Há autores que sugerem que a forma livre da composição poética simboliza a constituição da identidade do angolano, que não segue um padrão, mas que está a ser construída e questionada.

            O poema está escrito na primeira pessoa do singular (“fui”, “me”, “mim”, etc.), o que nos permite entender que o «eu» poético representa a voz do povo angolano.

            A quintilha inicial introduz o sentimento de não-pertencimento e apresenta o oceano como o responsável pela separação de si: “O oceano separou-me de mim / enquanto me fui esquecendo nos séculos”. Estes versos sugerem, desde logo, a ideia de cisão do sujeito lírico com a identidade, comum ao povo africano, visto que, a partir do contacto com a cultura europeia, as suas tradições são reprimidas, passando a um não-pertencimento, a um entre-lugar, a um não pertencer a isto nem àquilo. De facto, o negro não faz parte da primeira cultura (a de origem) nem da segunda (a estrangeira, a europeia). Isto é fomentado pelo mar / oceano, o agente da transição de culturas e da transformação do negro colonizado num ser híbrido, dado que o coloca em contacto com a cultura do colonizador. Para o angolano, o mar é um elemento negativo, causador de dor e sofrimento, pois foi através dele que veio o colonizador e que, posteriormente à chegada deste, partiram muitos africanos rumo à escravatura e ao trabalho de contrato (sem haver a previsão e a certeza do retorno). Além disso, foi no mar que ocorreram muitas mortes durante estas viagens. Assim sendo, o oceano é apresentado como aquilo que rompe com o conhecido e como a divisória entre o velho e o novo.

            A noção de passado e presente, de passagem do tempo é visível no uso de termos como “século” (v. 2), “presente” (v. 3), “tempo” (v. 5) e “história” (v. 6). Neste contexto, é importante observar a ideia de que o «eu» poético se foi esquecendo de si mesmo nos séculos, ou seja, foi perdendo a sua identidade ao longo do tempo, por causa do contacto com o europeu e, sobretudo, ao facto de ter sido explorado pelo colonizador. Por outro lado, afirma que, no presente, está a reunir em si o espaço e a condensar o tempo, remetendo para esse terceiro ser que resultou da fusão entre a cultura africana e a cultura europeia. Essa ideia de união é traduzida pelo verbo «reunir», que significa “unir de novo”, ou seja, o que existe no presente é a reunião de tempos distintos, isto é, a junção do que havia em África e do novo trazido pelo europeu.

            A ambiguidade em torno da identidade do «eu» é reforçada na segunda estrofe: “Na minha história / existe o paradoxo do homem disperso”. Estes dois versos reforçam e reafirmam a necessidade presente de reunir o que há em si.

            O terceto seguinte é dominado pela figura do paradoxo, nomeadamente entre «sorrisos» e «dor», representando a situação do negro que é explorado e trabalha para a construção da riqueza europeia: “Enquanto o sorriso brilhava / no canto de dor / e as mãos construíam mundos maravilhosos”. O negro sofre (“dor”) enquanto é explorado e trabalha para a alegria (“o sorriso”) e a riqueza do europeu (“as mãos construíam mundos maravilhosos”).

            A quarta estrofe introduz um exemplo concreto dos sofrimentos a que o africano estava sujeito, nomeadamente através da descrição de atos de violência física (“John foi linchado”, “o irmão chicoteado”) e social (“a mulher amordaçada”, “o filho continuou ignorante”). Atente-se no nome escolhido para uma das figuras do exemplo: “John”, um vocábulo de origem inglesa, atribuído a um homem africano de um país colonizado por Portugal. Isto representa a noção de transposição cultural, reforçando-se, assim, a ideia de repressão e de afastamento da cultura nativa, original. Por outro lado, a figura do chicote (“o irmão chicoteado nas costas nuas”) simboliza o sistema colonial, que dele se socorria para castigar violentamente o negro e o tornar obediente, submisso e servil. A “mulher amordaçada” representa a ausência de liberdade, a ausência de voz na sociedade por parte da mulher, bem como a forma como era privada de participar nas atividades culturais de raiz do colonizado. Quanto ao filho, simboliza a perpetuação da situação no futuro: a ausência de conhecimento da sua origem, de quem é no presente e a educação para o trabalho braçal, perpetuando o que é o presente e a vida dos pais e avós.

            Os dois tercetos finais afirmam que, a partir do drama (“E do drama intenso”) e da vida intensa de trabalho (“vida imensa e útil”), ressalta a importância do negro para constituição da sociedade como um todo (“As minhas mãos colocaram pedras / nos alicerces do mundo”), principalmente das suas riquezas, pelo que ele também tem direito ao alimento: “mereço meu pedaço de pão”, pão esse que simboliza o sustento, a riqueza, a vida. É neste âmbito que poderemos refletir sobre o título do poema (“Confiança”), que remete exatamente para essa ideia de ter direito ao sustento e à vida, para crença do «eu» segundo a qual tem os seus direitos, tem esperança firme no futuro, que decorre da convicção do valor que tem enquanto pessoa.

Análise do poema "Partida para o Contrato", de Agostinho Neto


           O poema “Partida para o contrato”, de 1945, aborda o tema da despedida e a dor que causa aos entes queridos. É constituído por vinte e três versos livres, sem rima e de métrica irregular, distribuídos por um monóstico, três dísticos, uma sextilha, uma sétima e um terceto.

            O título, “Partida para o Contrato”, aponta desde logo para a temática da partida, da viagem, através do mar, de alguém, neste caso para o contrato, que consistia numa espécie de trabalho semiescravo, a que muitos colonizados se sujeitavam por não haver outras formas de sustento durante o período de colonização.

            A primeira estrofe, um dístico, remete desde logo para o sofrimento vivido durante uma despedida, sofrimento esse refletido pelo rosto da pessoa, tanto da que parte como das que ficam De facto, o rosto reflete o estado de espírito (“retrata a alma”), caracterizado (“Amarfanhada”) pelo sofrimento. Atente-se na expressividade do particípio adjetival «amarfanhada». O verbo «amarfanhar» significa “criar vincos ou pregas”, “amarrotar”, “amachucar”, o que significa que, de facto, os rostos daquelas pessoas patenteavam marcas físicas do sofrimento que sentiam.

            A segunda estrofe identifica a pessoa que parte (Manuel), o momento/tempo em que sucede (“Nesta hora de pranto / Vespertina e ensanguentada”), o local para onde se dirige (a ilha de São Tomé), o espaço da travessia (o mar) e quem deixa para trás, possivelmente a mulher amada (“Manuel / o seu amor”).

            A terceira estrofe, um monóstico, é constituída por uma interrogação (“Até quando?”), que traduz a voz da mulher que fica à espera de Manuel, magoada, desamparada, sem qualquer noção de quando ele regressará ou se regressará.

            A estrofe seguinte situa-nos numa praia, caracterizada pelo horizonte, pelo sol e pelo barco que se afogam no mar. A presença do sol, um elemento que indica luz, luminosidade e calor, e da embarcação, o veículo que transporta Manuel, que indica movimento e que representa deslocamento, formam a visão que a mulher tem daquele momento: a sensação de que se está a afogar com a despedida e de que a sua dúvida, a sua interrogação, não terá resposta. Por outro lado, a presença da forma verbal «afogam» indicia a presença da morte: os barcos naufragam e os que neles viajam correm o risco de se afogar, de morrer. Perante este panorama, o «eu» poético, ao aludir à presença da noite e/ou da escuridão, enfatiza a tristeza e o sofrimento da mulher (“escurecendo / o céu escurecendo a terra / e a alma da mulher”).

            O terceto que se segue é todo dominado pela cor negra: “Não há luz / não há estrelas no céu escuro / Tudo na terra é sombra”. O mesmo sucede nos dois dísticos que encerram o poema: “Negrura / Só negrura…”. Ora, esta ausência de luz é muito significativa, pois sugere que não há alegria na vida daquela mulher, nem sabedoria ou conhecimento (“não há norte na alma da mulher”). A pessoa que não tem norte é alguém que está sem rumo, que perdeu a direção ou o caminho, que está confuso e inseguro. Assim se sente a mulher sem o seu amado Manuel. Apenas resta a cor negra, que sintetiza o sentido de ser negro como aquele que sofre. A repetição de palavras que remetem para a ideia de escuridão enfatiza a tristeza da mulher e a dúvida que sente se o tornará a ver, que se espalham com as ondas do mar, levando as certezas e a alegria.

            O «eu» poético coloca-se, no poema, como observador privilegiado da cena da partida e dos efeitos que a mesma acarreta para a mulher. Ora, este tópico constitui um traço identitário dos africanos, neste caso expresso através da descrição dos sentimentos de uma mulher apaixonada, que traduz o sentimento coletivo experimentado por todos aqueles que tiveram de passar por um momento ou uma situação análoga. Note-se, por outro lado, que o mar simboliza um espaço de dor, de separação (já era assim, por exemplo, nas cantigas de amigo), de incerteza e a linha que divide o que é familiar e o que é estrangeiro.

            Aquele que assiste à partida e que fica está inundado de dúvidas acerca do futuro e encara o mar como elemento de rutura, algo que lhe «rouba» aquilo que lhe é precioso. Para quem parte, o mar assume igualmente contornos de dor e de ausência de certezas em relação ao que será o futuro. Deste modo, o mar configura um elemento que agride o angolano e o traumatiza, ou seja, é um inimigo.

domingo, 23 de outubro de 2022

Na aula (XLIV): unidades confusas

     O miligrama é uma unidade de peso que representa a milésima parte do metro.

Marta T.

Análise do poema "A Mãe d'Água", de Gonçalves Dias


     Mãe d'Água é uma figura mitológica, um elemento do indianismo e do Romantismo, que valorização do elemento indígena.
    O poema está dividido em várias partes, marcadas por uma diferença de metro e ritmo. Temos uma descrição da mãe d'água, que é um elemento indígena, sob dois pontos de vista:
        => O do menino, como um ponto de vista positivo: é uma bela moça e boa. Ele fala dela num tom carinhoso e é vista como uma menina.
        => O ponto de vista da mãe, que é negativo: considera a mãe d'água uma sombra. Aconselha o filho a não a fitar, para não se deixar enganar.
    A descrição da mãe d'água é feita quase sempre através de comparações:
        - com elementos da natureza brasileira;
        - com elementos neoclássicos, que predominam através dela ser um elemento da natureza brasileira.

II:
    O menino lembra-se dos conselhos da mãe e turva a água para obedecer à mãe, porque ele só a podia ver na água límpida. Mas logo se arrepende de ter feito desaparecer uma imagem tão bela e é repreendido pela mãe. Mas o clima que fica é o da sua tristeza.

III:
    Mãe d'água torna a aparecer e é descrita com um vocabulário clássico que remete para a Idade Média: harpa, luzeiros. É uma descrição feita em termos especiais, porque estamos perante um poema indianista e sobre uma figura mitológica índia e, como tal, era de esperar que o vocabulário fosse brasileiro. Prevalece a ideia de luz, que envolve a mãe d'água. Ela exerce um poder de fascínio sobre o menino e, quanto mais dela se aproxima, mais se afasta da mãe, de quem ouve a voz ao longe.

IV:
    Esta parte do poema é cortada por uma estrofe, que marca a oposição entre o encantamento e a voz da mãe, da qual se afasta cada vez mais. Esta estrofe vai ainda reforçar mais a ideia de encantamento.
    Continuo o uso de vocabulário medieval: donzela angelical, luz, cristal. A luz e a riqueza cega captam a atenção. A mãe d'água consegue captar a atenção do menino através de um discurso que o leva a desejar coisas que não tinha e que ela lhe podia dar.

V:
    O menino acede à sedução, apesar da mãe o tentar dos perigos.


Conclusões:

        => Toma uma figura da mitologia indígena, o que torna o poema indianista.

        => A descrição da mãe d'água é essencialmente romântica. Assim, o poema, além de indianista, é romântico:
                - descrição e recurso à mitologia;
                - prevalência de um ambiente luminoso;
                - vocabulário medieval, tom de diálogo coloquial;
                - uso de diversos ritmos e metros.
    Se, em todo o poema, o motivo é indianista, o modo como se constrói e trata esse motivo é romântico. Pode concluir-se que o Romantismo brasileiro surge como faceta do Romantismo universal. Gonçalves Dias é um romântico, embora tenha poemas indianistas e de caráter urbano, mas sempre de índole romântica.

Análise do poema "Juca Pirama", de Gonçalves Dias


     O título do poema está em tupi e pode traduzir-se por "o que há de ser morto, o que é digno de ser morto".
    O poema está dividido em 10 cantos. O objetivo deste poema épico é cantar os feitos heroicos de um povo. Gonçalves Dias vai cantar a valentia e dignidade do índio, tanto dos timbiras como dos tupis. Vários são os aspetos que nos remetem para o tom épico: vocabulário, divisão em cantos, começar a narração "in medias res".

I:
    Descrição de uma paisagem, onde se inserem as personagens, com o uso de um vocabulário muito arcádico, que é o reflexo da formação neoclássica do poeta, diferente do tom melodioso com que nos deparamos em Iracema.
    Temos depois a descrição dos timbiras, com a apresentação imediata da ação: está em prática um ritual, mas nada nos é dito sobre os antecedentes dessa ação. Temos também a apresentação do herói, que é um "índio infeliz" (3.ª estrofe). Toda a ação é rápida e dá-nos a preparação de um ritual que culminaria com a morte de um guerreiro.
    Outro aspeto que ressalta, desde logo, ao olhar é a abundância de metros e ritmos diferentes em cada canto. Por outro lado, a escolha de um título em tupi pode significar a afirmação do nacionalismo.
    O canto começa com a descrição da paisagem natural e humana; o herói só aparece na quarta estrofe, seguindo-se a preparação do ritual.

II:
    Descrição da atitude do guerreiro: não chora nem se queixa e o único indício de temor é o que está estampado no seu rosto, Temos um apelo à coragem e à força na morte, porque "Além dos Andes" há a recompensa, ou seja, quanto mais forte fosse o homem, mais hipóteses teria de viver essa nova vida além dos Andes.
    Temos uma mudança de ritmo, verso e estrutura, o que é mais uma característica romântica que neoclássica.

III:
    Novamente, podemos observar uma mudança de ritmo. É uma espécie de intervalo após a penetração no íntimo do índio. Agora é preciso voltar à ação. No fim, temos a interpelação do índio, convidado a identificar-se e defender-se.

IV:
    É a parte mais conhecida do poema, marcada por um tom forte. O guerreiro identifica-se como pertencendo a uma tribo tupi do norte.
    Temos a referência a uma traição: morte de um amigo que teria tido origem numa traição. O pai do guerreiro quer morrer, mas o filho procura uma solução para o salvar. Conta como caiu prisioneiro e o resto do poema é um apelo ou mesmo um pedido de vida. Pede que o deixem viver, enquanto o pai for vivo, que depois se apresentará como escravo.

V:
    A feição dramática é dada pela mudança de metro e rapidez do diálogo. O índio é solto e agradece o facto de os timbiras terem pena dele, mas estes consideram-no um cobarde, porque chorou. A única coisa que o acalma é a imagem do pai.
    A linguagem é precisa, ritmada e expressiva, para o que contribui a pontuação.

VI:
    Encontra o pai, que logo suspeita do que poderá ter acontecido ao filho, apesar de ser cego, por causa do odor da tinta, macieza das plumas, etc. O filho acaba por confirmar a suspeita do pai, que esperava que ele tivesse lutado e conseguido fugir. Todas as ilusões do velho começam a cair e, então, ele parte em direção ao lugar onde moravam os timbiras.

VII:
    O velho encontra a tribo índia e entrega-lhe o filho como prisioneiro, tentando assim compensar a cobardia anterior do filho, mas o chefe timbira recusa, porque ele havia chorado como cobarde.

VIII:
    Depois que o pai sabe o que se passou, lança uma maldição ao filho e recusa-se a aceitá-lo como tal, porque foi cobarde. De certo modo, ele não quer sujar a imagem de coragem da sua pessoa e da sua tribo. Ele desonrava a coragem de seu pai. Temos de novo o processo de acumulação de sintagmas.

IX:
    Dá-nos o retrato do velho, quando este ouve o grito de guerra do filho. Há um contraste entre a dor anterior e a alegria que agora sente: o filho, sozinho, resolve enfrentar a tribo, porque não aceita a maldição do pai, que agora chora de orgulho, mas com lágrimas que não desonram.

X:
    Tem a forma de gesta, de memória, dada por um certo caráter de lenda, que ficou passado algum tempo dos acontecimentos, e afirmação da veracidade do que aconteceu, característica do Romantismo.
    Também o ritmo, métrica e repetição de estrofes contribuem para esse caráter de gesta. O fim surge um pouco deslocado, devia vir no canto IX. É um modo inovador de acabar um poema, o que rompe com os cânones normais do poema épico.

Conclusões:

    1. Métrica e ritmo: o ritmo é ágil e de acordo com os momentos da narração: assim, quando descreve, temos um verso amplo com ritmo mais longo; nos momentos de ação é mais rápido. Isto permite uma representação musical e plástica. A linguagem precisa e rigorosa dá-lhe uma grande expressividade, apesar do equilíbrio que se verifica.
    Temos uma estrutura em movimento como se fosse um bailado. Toda a mudança do ritmo dá a ideia de movimento.

    2. Conteúdo: rotação psicológica, em que se alternam o pasmo e a exaltação. Esta alternância é dada pela própria estrutura melódica do texto, mudanças de ritmo sucessivos e escolha de vocabulário. No entanto, a rotação psicológica acaba por se fixar, no fim, num modelo de heroísmo.
    Temos ainda o recurso inesperado ao lamento do prisioneiro, que rompe a tensão monótona da bravura do tupi, porque a intenção do poema é mostrar o heroísmo do índio, o que se torna mais nítido porque se opõem duas situações contrastantes.
    Temos uma visão do índio como símbolo da sensibilidade e natureza brasileiras, como elemento lírico e como herói, no sentido idealista.

Análise do poema "O baile", de Gonçalves Dias


    O poeta, para tratar o motivo da saudade romântica, escolhe o ambiente de baile.
    Temos duas situações:
        => Descrição do ambiente, não exterior, mas interior do salão, marcado pelo brilho e aspetos sensoriais: odores, perfumes, música, etc. As personagens são concebidas em termos medievais: donzela e trovadores. Também os instrumentos são medievais, uma das principais características do Romantismo europeu: valorizar os elementos captados pelos sentimentos, música, multidão, festa, prazer, etc.
        => Solidão do poeta romântico. O sujeito da enunciação é romântico e a sua atitude é de contemplação e não de participação. Consegue fazer uma correspondência entre o que vê e o que se passa no íntimo de cada um e essa correspondência não existe: o exterior é de alegria e prazer e o interior de choro e aflição. Tudo isto causa no poeta grande tristeza e solidão. Tudo aquilo é falsidade, enquanto a morte é o que há de mais definitivo.
    Temos, neste tipo de poesia, três vetores importantes:
        => ritmo ágil e vigoroso;
        => métrica variada;
        => linguagem precisa.
    Estes três vetores dão uma enorme força à poesia de G. Dias e através deles se faz uma organização das sugestões do mundo exterior num sistema coerente de representações plásticas e musicais. Isto tem a ver com o apelo do aspeto sensorial. É uma poesia universal pelos temas, mas consegue ser particular pela expressão dos sentimentos: solidão, contemplação do mundo, apelo à eternidade e procura da verdade.

Análise do poema "Se se morre de amor!"


     Contrapõe o amor-sedução dos balões de baile, do qual não se morre, a um outro tipo de amor tão intenso, que pode levar à morte, porque tudo é imenso e definitivo. É um amor-paixão.
    Quando duas almas se encontram e ficam juntas, vivem num êxtase de felicidade; se se separam, morrem, porque a morte é a única coisa que pode compensar a separação. Há um tipo de amor que não conduz à morte e outro tão intenso que conduz à morte pela sua intensidade.
    Estes poemas são semelhantes e ambos têm um tema romântico e universal: amor e saudade.
    Gonçalves Dias, que estudou em Lisboa, segue os modelos portugueses de Garrett, nos poemas de amor e saudade, e de Herculano, nos livros e poemas religiosos. É um poeta essencialmente romântico, mas está muito vincado a uma forma neoclássica, a uma certa impregnação da cultura e sensibilidade neoclássica. Por isso, é equilibrado e contido e com marcas europeias a nível da linguagem.

Análise do poema "Ainda uma vez - Adeus!", de Gonçalves Dias

     É o poema mais expressivo da obra, onde reflete sobre os seus sentimentos.
    Houve obstáculos que provocaram o seu afastamento da amada. Ele ainda lutou, mas desistiu, porque a luta causaria escândalo. Prefere ser infeliz e ficar sozinho, mas salvar a honra da amada; prefere ser ele a sofrer e dar-lhe oportunidade a ela de tentar ser feliz, deixando-a casar-se. Mas foi tudo inútil, porque nem ela nem ele foram felizes e a culpa foi dele.
    Apela à compaixão dela, mas não ao amor ou saudade. É um tema universal, do amor marcado pela sensibilidade e dor.

Conclusões sobre Iracema


    1.  A abertura do romance é de caráter poético, o que se mantém ao longo de todo o romance, mas não num tom tão forte como nos primeiros capítulos. Esse tom poético caracteriza um determinado clima, como a referência a coisas objetivas, e caracteriza as personagens e seu discurso. Há quem considere que esta obra é o exemplar mais perfeito da prosa/do poema. Esse caráter poético é progressivamente substituído por um adensar da intriga, a partir da caracterização de Iracema e Martim. Iracema é corajosa, fiel, dedicada. A caracterização positiva de Iracema vai no sentido da idealização do índio. Pelo contrário, Martim é caracterizado por uma duplicidade e orgulho excessivo.

    2. Cor local: é uma característica romântica. Mas aqui ela é vaga e é-nos dada pelos atos das personagens e sua descrição: descrição do espaço; adivinhar o pensamento das personagens e uma certa fatalidade. Essa cor local é dada por uma expressão imagética e metafórica que aproxima o leitor do ambiente descrito.

    3. Retorno às origens: a origem do Brasil assenta numa simbiose do índio com o europeu. Do índio, o brasileiro recebeu a afetividade e sensualidade, dadas não de modo exótico, como acontecia no período colonial e no Barroco; do europeu, recebeu a saudade e a melancolia.

    4. Subjetividade: também é uma característica romântica. Como exemplo desta subjetividade temos o eterno conflito do herói entre o anseio e a norma. É esta caracterização negativa de Martim que vai provocar a idealização do índio, que surge pela imposição dos cânones românticos e pela própria visão de Alencar. Esta idealização está presente no discurso do narrador, discurso e descrição das personagens e da natureza que as envolve. Se o caráter do índio é idealizado, logo há um predomínio do elemento índio, embora na fundação do Brasil haja um predomínio do elemento europeu. O herói acaba por ser o índio. Há um autor que diz que é importante a referência ao índio, porque num país mestiço era preciso criar uma raça heroica e era necessário criar a dimensão de um tempo heroico.

    5. Natureza: a natureza está sempre presente para que se crie um ambiente verdadeiro: descrição da flora, fauna e costumes que podem aparecer como cenário ou símbolos. Esta ambiência é ainda dada pela linguagem e atitudes das personagens.

    6. O romance é também a expressão da nacionalidade, que resulta da simbiose de diversos fatores: escolha do momento histórico no passado; escolha de uma lenda da fundação do Ceará; uso de uma língua específica índia, expressão de uma cultura e de um ambiente; estrutura da narrativa organizada segundo uma visão índia de ver a vida; descrição da natureza, costumes e crenças e a valorização do índio. Porquê o índio e não o preto, por exemplo? É que o índio é livre, verdadeiramente americano, capaz de encarnar um mundo poético e heroico. Sendo livre e americano, afirma-se a nacionalidade de raízes legitimamente americanas; enquanto que o negro era escravo e não era filho da terra.

    7. Personagens e sua significação: o romance começa com um cenário equilibrado, de felicidade, em que surge um elemento que perturba de tal modo a paz inicial que dá origem a uma nova raça.
    O índio é valente, corajoso, hospitaleiro, dedicado tanto aos amigos (ex.: Poti) como ao amor (ex.: Iracema); tem ainda a capacidade de desvio. Eles têm regras que os regem, mas conseguem desviar-se delas, como acontece com Iracema, que assume esse desvio e perde. O índio perde sempre e a sua cultura é absorvida.
    O branco é marcado pela fé católica, pela honra que, por vezes, o faz oscilar; pela nobreza de sentimentos; pela força dos compromissos sociais e culturais e pela saudade, sempre presente.

    8. Três vetores são essenciais na criação de Iracema:
  • Necessidade de construir um poema, sabendo que na tradição literária, a forma poética é a forma por excelência de narrar as origens da nacionalidade.
  • Integração da língua índia, que se torna fundamental na construção da nacionalidade.
  • Intuito nacionalista: Alencar sente necessidade de se desenvolver uma literatura específica do Brasil, o que é também um dos itens do Romantismo.

sábado, 22 de outubro de 2022

Análise do capítulo XXXIII de Iracema


     Aqui termina a analepse, retomando os elementos do primeiro capítulo: jandaia, um homem - Martim -, uma criança e um cão. Martim volta ao Brasil quatro anos depois e funda a cidade do Ceará.
    Alencar, que se limita quase sempre a contar a história, vai deixando, por vezes, algumas pistas no ar.
    Em relação à predestinação da raça, refere-se à separação das tribos índias e à emigração, traço do caráter brasileiro. Essa predestinação é um dos elementos do Romantismo. Alencar contou, nesta obra, uma lenda que termina neste capítulo com a fundação da cidade do Ceará e com a cristianização do índio. É igualmente importante o nascimento do primeiro cearense: o filho de Iracema e Martim, com predomínio do elemento europeu. Uma prova disso é o facto de, no fim, a indianização do europeu ser substituída pela cristianização do índio, que é definitiva e concreta.
    Em relação a Iracema, no fim, Martim muda radicalmente: marca-o a saudade e a culpa. O fim do romance tem um caráter definitivo: "Tudo passa sobre a terra.", principalmente a alegria. Este final também pode ser entendido como um desabafo ou desalento do autor em relação a Martim, que teve na sua mão a hipótese de ser feliz e não a aproveitou. Este capítulo pode ainda ter outra interpretação, ao nível da ação dos portugueses: a incapacidade de tomar decisões concretas no momento certo e a inadaptação que caracterizam Martim, símbolo do domínio português.

Análise do capítulo XXXII de Iracema


     Iracema perdera de tal forma as suas energias que nem o encontro com o marido consegue reanimá-la. Estamos quase no término da intriga: Iracema morre, apesar da esperança que a reanimou com a chegada de Martim; fisicamente já não consegue recuperar.
    Martim, antes de chegar até Iracema, vem marcado pelo receio de encontrar no olhar de Iracema um sentimento de culpa. Ele sente medo de enfrentar a coragem e fidelidade dela. Apesar de a jovem nunca lhe atribuir qualquer culpa, ele sente-se culpado. Esta é a primeira preocupação que atinge o seu íntimo, só depois de lembrando se ela ou o filho estarão bem.
    A morte de Iracema é descrita em moldes românticos: morre nos braço da pessoa que ama (Martim). O capítulo termina com a justificação do topónimo Ceará: canto da jandaia.

Análise do capítulo XXXI de Iracema

     Caubi parte acedendo ao pedido da irmã, que não quer que ele assistia à tristeza que a invade. Porém, Caubi percebe a verdadeira razão do seu pedido.
     Temos ainda a descrição de todo o sofrimento que ela passa para alimentar o filho e do doloroso método que põe em prática para puxar o leite. Assim, além de estar só, sofre a dor de não poder alimentar i filho.

Análise do capítulo XXX de Iracema


     Relato do isolamento de Iracema e sua angústia. Nasce o filho de Iracema, que é fruto do seu sofrimento e dor.
    Ainda neste capítulo, aparece Caubi, que vem visitar a irmã e logo se apercebe da sua tristeza.

    Em Iracema, podemos ver a necessidade ou obrigação de escrever um romance nos moldes do Romantismo. Mas a obra tem um significado mais amplo: o Romantismo defendia o retorno às origens e o regresso ao início da nacionalidade. Na Europa, significava o regresso à Idade Média. No Brasil, não existia esse período. Assim, Iracema surge como símbolo da nacionalidade do Brasil. Na opinião de Alencar, isto fundamenta-se na simbiose do índio com o europeu. Sendo assim, o verdadeiro elemento brasileiro tinha características índias e portuguesas. Ou seja, há certos traços característicos do elemento brasileiro que são indígenas - capacidade de dedicação e coragem - e europeus - sentimento de saudade. Os sentimentos indígenas são sentidos num nível de intensidade muito elevado. A nacionalidade brasileira recebe elementos de ambas as culturas, com sobreposição de uma das partes: os elementos indígenas caracterizam um herói marcado pela fidelidade e coragem. Nessa origem, temos a oposição entre a sensibilidade que caracteriza Iracema e a racionalidade da "virgem loura". É essa sensualidade que vai caracterizar o elemento indígena.
    Mas, neste romance, há vários elementos românticos: a subjetividade, que faz parte do eterno conflito que marca o herói romântico - anseios e normas do europeu. Entre o índio e o europeu há uma recolha desequilibrada de elementos, porque, pelo menos a nível estrutural, há predomínio do elemento índio - fidelidade de Iracema e sabedoria de Poti - por imposição dos cânones românticos.
    Os objetivos de Alencar em relação a Iracema foram:
        - construção de uma alegoria, de algo simbólico da origem da nacionalidade;
        - construção de um romance que fosse ao mesmo tempo um poema. Esse caráter poético é marcado pela idealização do índio, da natureza, que é dada pelo discurso do narrador e pela descrição da natureza e das personagens.
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