Português: José de Alencar
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sábado, 22 de outubro de 2022

Análise do capítulo XXVIII de Iracema


     Dá-se a explicitação do que já se vinha adivinhando. No capítulo anterior, as conclusões eram tiradas a partir de indícios; aqui são casos concretos. Iracema não acusa Martim; fala com ele e expressa-lhe o que sente, mas não o acusa. Ela tem consciência da dualidade de Martim, quando refere a "virgem loura", que há já muito tempo não aparecia. Ele tem ainda um caráter de prenúncio da fatalidade que se aproxima e nela se adivinha a disponibilidade para o sacrifício maior, que é a sua morte. Apesar de tudo, ela quer evitar a culpa e o remorso de Martim e aceita tudo como acontecimentos naturais, sem intervenção dele. Aceita os sacrifícios como algo que deve fazer, mas nele já se adivinha um sentimento de culpa, pois não consegue responder a Iracema e apenas a beija.

Análise do capítulo XXVII de Iracema


     Dá-se o regresso de Martim, que procura viver de novo um período de felicidade muito efémero. Ele possui um conceito diferente de amor e amizade: são instrumentos e não um fim. Vive em função do passado e do futuro (saudade e esperança de rever o que deixou) e não em função do amor e amizade presentes. Nele, o mais importante não é o amor nem a amizade, mas sim a ausência, solidão e daí a necessidade que ele tem de se afastar. Isto é irónico, porque ele não reconhece os sacrifícios que o amigo e a esposa fizeram, adotando uma atitude de indiferença.
    O fim é muito simbólico: prenúncio do desfecho trágico da história; fim da felicidade de Iracema e Martim.

sábado, 15 de outubro de 2022

Análise do capítulo XXVI de Iracema


     Poti e Martim partem sem avisar Iracema, embora lhe deixem um sinal, que é muito importante, porque é em função dele que se vai processar toda a vida de Iracema, que espera, ansiosa, a chegada do seu esposo.
    Mas também importante neste capítulo é o regresso da jandaia, que simboliza a infelicidade de Iracema, que se começa a fazer sentir  mais nítida e forte; pode este regresso ainda ser visto como um retorno ao tempo em que ela não tinha preocupações. Apesar de Iracema sentir saudades da sua pátria, não se arrepende da sua decisão. Dá-se uma caracterização positiva e idealizada da jovem, que mantém sempre a mesma dedicação. Embora consiga um período de felicidade completa, ele é breve porque os sacrifícios que tem de fazer não compensam e ela começa a sentir-se só. A felicidade é quebrada pela dualidade de Martim entre a saudade da pátria e o desejo.

Análise do capítulo XXV de Iracema


     Aqui tudo se altera: é o princípio do fim. Iracema e Martim começam a afastar-se e não haverá mais qualquer hipótese de aproximação. Um dos aspetos que transmite essa mudança é o emudecer do canto da jovem índia. Toda a saudade que Martim sentia volta com um ímpeto, após a visão das naus, e não consegue escondê-lo de Iracema, que o sente a afastar-se cada vez mais. Entre este capítulo e o anterior há um grande contraste.

Análise do capítulo XXIV de Iracema


     Trata-se de um capítulo descritivo do processo de indianização de Martim: pintura e vestimenta de índio. Esta pode ser uma atitude resultante de uma aproximação espiritual a Poti e não apenas física.
    Estamos na presença de um capítulo em que se transmite uma imagem de completa felicidade, como no anterior. Isto acontece porque Iracema e Poti sentem Martim mais próximo deles. Ela sente que ele está dentro do seu universo e está feliz, porque não precisou desligar-se totalmente da sua cultura, mas foi Martim que foi ao encontro dela. Porém, será que esta aproximação de Martim não passa apenas de uma capa?

Análise do capítulo XXIII de Iracema


     Ocorre a descrição das atividades diárias de Martim, Poti e Iracema, que se sentia feliz, porque tinha o seu amado junto de si e porque se afastara da tribo inimiga de seu povo: a jovem ocupava-se da colheita dos frutos; os dois homens da caça e da pesca.
    Iracema fica grávida e cumpre um ritual do seu povo, cingindo a cintura, o colo e os seios de flores de maniva, símbolo da fecundidade. Transmite-se uma imagem de felicidade. Mais uma vez a fala de Poti é reflexo da sua sabedoria e da importância que se atribui ao índio. O seu discurso é muito sábio, prezando o valor da fidelidade, amizade e coragem. Pode ainda entender-se como acusação a Martim. Ele sabe da dualidade deste e acusa-o da sua injustiça, pois agora tem tudo para ser feliz: amigo, esposa e filho. Embora Martim se mostre feliz, nós podemos perguntar se essa felicidade será verdadeira.

Análise do capítulo XXII de Iracema


     Terminada a viagem, teve lugar a instalação num lugar caracterizado como calmo. Há uma constante referência a elementos da natureza, costumes, tradição e história da tribo, através da voz de Poti. Ele refere ainda um avô e vai visitá-lo juntamente com os seus amigos.
    Também aqui encontramos presságios, que, aliás, são constantes ao longo do romance. A imagem do "gavião branco junto da narceja" mostra a sobreposição de uma raça sobre a outra. Se no aspeto da força são os brancos que se sobrepõem, no aspeto ideológico é o índio. Esta imagem diz respeito à opressão do branco sobre o índio. Sendo estas as últimas palavras do velho antes de morrer, ganham um poder premonitório.

Análise do capítulo XXI de Iracema


     Este capítulo começa pela descrição da natureza e dos costumes da viagem. Esta acontece, porque Martim sente que Iracema se devia afastar daqueles que eram inimigos do seu povo, para não estar tão triste. Mas progressivamente Martim começa a afastar-se de Iracema e Poti; sente necessidade de estar só, o que é reflexo da sua dualidade: saudade da pátria e amor por Iracema. Esta sabe o que se passa, apesar de ele se calar na sua presença.

Análise do capítulo XX de Iracema


     Temos uma descrição da natureza, dos sítios por onde passavam e da vida do dia a dia e dos seus costumes. Iracema continua com o seu coração dilacerado pelo conflito entre a dor motivada pelo afastamento da sua tribo e o amor por Martim, que tudo compensa e que a há de perder. Esta situação de dependência é perigosa, sobretudo quando o herói é um herói romântico, que não sabe o que quer. As imagens que caracterizam Iracema ligam-se à terra, enquanto as de Martim se ligam ao mar, que representa a sua saudade e anseio. Iracema sente a alegria com que Martim revê a praia e, ao mesmo tempo, sente toda a fatalidade que irá cair sobre ela.
    Se até ao capítulo XV, houve um progresso de união entre ambos, a partir do momento em que essa união se concretiza, inicia-se um processo inverso de separação que se começa a evidenciar aqui.

Análise do capítulo XIX de Iracema


     Este é o capítulo mais simbólico. Poti oferece o seu cão a Martim como elemento de ligação entre ambos e este abraça a jatobá, a árvore que viu nascer Poti, como forma de cimentar essa amizade. São dois elementos simbólicos da fidelidade.
    É também curiosa a imagem que nos é dada de Iracema: é uma imagem muito poética, suave e dotada de uma certa melancolia. Ela aparece sempre descrita como um elemento pequeno: uma ave. Se o jatobá e o cão constituem elementos simbólicos da amizade entre Martim e Poti, Iracema aparece como um terceiro membro desse triângulo. Há uma justaposição da amizade de Martim por Poti à fidelidade que o liga agora a Iracema.

Análise do capítulo XVIII de Iracema


     Neste capítulo, dá-se a narração da luta entre os tabajaras e os pitiguaras, que saem vencedores. Iracema acompanha Martim como esposa, mas sofre com o conflito entre o que sente pelo guerreiro branco e o sentimento de traição à sua tribo que se começa a apoderar dele. É um espinho que nela começa a picar: "Os olhos de Iracema, estendidos pela floresta, viram o chão juncado de cadáveres de seus irmãos... Aquele sangue, que enrubescia a terra, era o mesmo sangue brioso que lhe ardia nas faces de vergonha." Isto ajuda a caracterizar mais uma vez Iracema como esposa fiel. Ela é valorizada pela sua coragem e pelo seu sentido de sacrifício.

Análise do capítulo XVII de Iracema


 Essa expectativa é quebrada neste capítulo. Iracema revela o que tinha acontecido e assume as consequências, isto é, o afastamento da sua tribo. Martim não sabe como reagir, mas os seus atos são sempre dirigidos pelo seu sentir. Em Martim, há que separar o nível emocional e o racional.
    A fala de Poti sobre o amor é importante, na medida em que pensa que o amor é como o cauim, etc. É uma imagem que corresponde a uma linguagem que não é típica do índio, é marcada pelo romantismo europeu.
    A imagem construída de Martim é feita segundo os moldes europeus idealizados. No final do capítulo, ele assume tudo o que aconteceu, a situação e a sua ligação com Iracema - o facto de a considerar como sua esposa.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Análise do capítulo XVI de Iracema


     Há uma descrição de todos os ritos dos guerreiros. A nível de estratégia narrativa, a parte descritiva do capítulo retarda a ação e há uma certa suspensão: espera-se que aconteça algo de importante.
    A seguir a esta descrição, Iracema vai ao encontro de Martim e fogem juntos. De facto, este é um capítulo de suspensão: funciona como um retardamento da ação, criando-se com as descrições uma expectativa no leitor.

Análise do capítulo XV de Iracema


    Este capítulo constitui o centro da obra, pela importância de que se reveste. No início, descreve-se um ambiente de calma, que se opõe ao sentimento interior das personagens. Há um adensar do trágico, algo de indomável que se cria.
    Se o início era de ambiente de calma, em todo o resto do capítulo há um adensar do trágico, até se atingir o clímax. Iracema, segundo as leis da sua tribo, não podia ser possuída por Martim e é nesse sentido que se adensa o trágico. Martim age inconscientemente; só o ato de Iracema é voluntário e consciente. A única forma de ele ser feliz com Iracema é no sonho e é por isso que ele pede a bebida.

Análise do capítulo XIV de Iracema


     Irapuã aproveita o facto de os outros estarem bêbados, para satisfazer os seus desejos de vingança. Um aspeto que caracteriza positivamente Martim é o reconhecimento do que Iracema faz por si. Por outro lado, ele começa a confiar mais nela e a aceitar os seus conselhos.

Análise do capítulo XIII de Iracema


     Dá-se o encontro de Iracema com Poti. Martim não consegue abarcar verdadeiramente a realidade; Iracema pensa sempre mais além que ele. É ela quem tem coragem e firmeza para tomar as iniciativas: caracterização positiva do elementos indígena.

    Temos nestes capítulos o adensar da intriga através de um conjunto de factos. Todas as descrições e factos têm uma função: são elementos funcionais, ou seja, estão em função da construção das personagens principais, da definição do seu caráter. As figuras melhor caracterizadas e a quem os factos se ligam são Iracema e Martim. A jovem é sempre caracterizada positivamente: corajosa, fiel, de vontade imutável. São estas qualidades que fazem com que o seu amor se mantenha uno e decidido, ao contrário de Martim, que se mostra indeciso. Ela sabe da existência da "virgem loura", mas não desiste do seu amor. Estes episódios mostram o seu comportamento positivo, que se distingue de Martim pela sua superioridade.
    Martim é o reflexo da duplicidade do herói romântico. Ele oscila entre o amor a Iracema e a saudade da pátria. E é esta oscilação que o vai caracterizar negativamente e colocar numa posição inferior a Iracema, principalmente quando esta tem perfeita consciência dessa dualidade. Martim apresenta frequentemente um comportamento orgulhoso e excessivo; chega mesmo a mostra desprezo quando Iracema o defende. É valente e corajoso, mas raramente o mostra no momento oportuno. Raramente entende o sacrifício que Iracema faz em prol do seu amor. Temos ainda de notar as diferenças entre ambos: raça, condição social, religião, tribo. Estas diferenças situam-nos em campos opostos. Isto vem valorizar o elemento indígena e idealizá-lo.

Análise do capítulo XII de Iracema


     Temos mais elementos que caracterizam positivamente Iracema, que arrisca tudo e todos para defender o seu guerreiro branco. Ouve-se um canto de gaivota, que ela desconhece por ser um elemento ausente do seu ambiente, mas Martim reconhece-o como sendo o grito de Poti, seu amigo pitiguara. Martim quer ir ao seu encontro, mas Iracema não o permite, porque pode ser apanhado por Irapuã e predispõe-se ela a ir em seu lugar. A boa vontade e sacrifício de Iracema estão bem patentes quando afirma: "Não queres tu que morra Iracema, e queres que ela te deixe morrer!"

domingo, 9 de outubro de 2022

Análise do capítulo XI de Iracema


     Os tabajaras partem para defender a Taba, mas não descobrem nenhum guerreiro pitiguara, o que leva Irapuã a pensar que tudo foi uma estratégia de Iracema e vai em direção à taba de Araquém para terminar o ajuste de contas. Ele chega a ser insolente com Pajé e vem o seu irmão Andira em seu auxílio. Mas só a intervenção mágica de Tupã consegue acalmar os ímpetos de Irapuã, o que aumenta o poder do Pajé. Essas intervenções mágicas e misteriosas têm uma importância muito firme no romance romântico.
    Depois de Martim estar salvo, tem de novo um comportamento orgulhoso, não querendo que uma mulher o defenda sempre, o que o caracteriza negativamente. Ele volta o rosto e Iracema pensa que teria sido ela que errou, ela que sempre tomou o seu partido, mesmo contra a sua gente. Martim desculpa-se dizendo que receia a voz de Tupã, mas ela sabe que não é bem isso, mas sim a dualidade que nele se manifesta. A sua atitude pode compreender-se, embora não seja recomendado o orgulho.

Análise do capítulo X de Iracema


     Martim parte e Iracema fica na tribo dos Tabajaras. Temos uma penetração na psicologia de Iracema, não por análise da própria, mas pela reação de ará. Há uma intensa ligação entre Iracema e a natureza, neste caso, uma ave. É por uma interpretação dos sentimentos da ave que se chega a uma possível interpretação dos sentimentos de Iracema.
    Num certo momento, Iracema ouve o grito de guerra de Caubi e parte em seu auxílio, encontrando-os rodeados por Irapuã e seus guerreiros. Mas, entretanto, ouve-se o grito de guerra dos pitiguaras. Caubi e a jovem defendem Martim. Mais uma vez temos a caracterização positiva de Iracema, defendendo o amado e a coragem deste, que não foge à luta com Irapuã, que parte em busca dos pitiguaras.

sábado, 17 de setembro de 2022

Análise do Capítulo IX de Iracema


     Este capítulo inicia-se com todos os preparativos que Iracema faz para a partida de Martim, o que é uma obrigação de hospitalidade.
    Como se vinha adivinhando, mostra-se a estreita ligação que se estabelece entre Martim e Iracema, o que se nota sobretudo no momento da despedida. A reação de ambos é semelhante.
    Há uma constante referência à tarde e à noite, que é reflexo do seu estado de espírito. A referência à noite surge como descrição do momento do dia, mas também pode ser prenúncio da fatalidade que se vai agravando progressivamente. A referência à noite tem, assim, três vertentes diferentes:
            » noite como elemento da natureza:
            » prenúncio de fatalidade;
            » reflexo de um estado de espírito.
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