Português: O Fantasma de Canterville
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quarta-feira, 19 de junho de 2024

Vida e Obra de Oscar Wilde

    Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde, um ícone literário irlandês dono de uma vida intensa, rica em experiências e caracterizada pelo talento, nasceu a 16 de outubro de 1854, em Dublin, Irlanda. O seu pai, Sir William Wilde, foi um médico aclamado(cirurgião de ouvidos e oftalmologista), nomeado cavaleiro pelo seu trabalho como consultor médico nos censos irlandeses. Mais tarde, fundou o Hospital Oftalmológico St. Mark, inteiramente às suas custas, para atender os pobres da cidade. Além disso, publicou obras sobre arqueologis, folclore e o escritor Jonathan Swift. Por seu turno, a mãe de Wilde, Jane Francesca Elgee, que escreveu sob o pseudónimo de Speranza, foi uma poeta revolucionária (este intimamente ligada à Rebelião dos Jovens Irlandeses de 1848) e uma autoridade em mitologia e folclore celta, aclamada pela tradução para inglês de Sidonia, a Feiticeira, uma obra da autoria de Wilhelm Meinhold que influenciou posteriormente o filho.
    Desde cedo, Oscar Wilde revelou-se uma criança curiosa, inteligente e estudiosa. Depois de ter frequentado a Portora Royal School, em Enniskillen, entre 1864 e 1871, onde se apaixonou pelos estudos clássicos e alcançou o prémio de melhor aluno nos dois últimos anos de frequência, bem como o segundo prémio em desenho no último, recebeu a bolsa Royal School para estudar no Trinity College, Em Dublin, onde permaneceu entre 1871 e 1874. No final do primeiro ano, portanto em 1872, obteve o primeiro posto no exame da escola sobre clássicos e foi premiado com uma bolsa de estudos, a maior homenagem concedida a alunos de graduação. Após a sua formatura em 1874, Wilde recebeu a Medalha de Ouro de Berkeley para o melhor aluno do Trinity College na disciplina de grego. Seguiu-se, entre 1874 e 1878, a Magdalen College, em Oxford, onde foi contemplado com a bolsa Demyship para estudos adicionais. Em Oxford, Wilde continuou a destacar-se pelo seu brilhantismo enquanto aluno, mas também como poeta, ao encetar as suas primeiras tentativas de escrita criativa. Em 1878, ano da sua formatura, um seu poema, intitulado “Ravenna”, granjeou-lhe o Prémio Newdigate de melhor composição de versos em inglês por um estudante de Oxford.
    Depois de se formar em Oxford, Oscar Wilde mudou-se para Londres, indo morar com o seu amigo Frank Miles, um retratista popular entre a alta sociedade londrina. Na capital inglesa, continuou a escrever poesia e começou a estabelecer-se nos círculos sociais e artísticos graças à sua inteligência e à sua extravagância. Rapidamente, o periódico ilustrado Punch, famoso pelo seu humor satírico e pelas caricaturas e desenhos animados, fez de Wilde o objeto satírico do seu antagonismo aos estetas por causa da sua alegada escassa devoção masculina à arte. Na sua ópera cómica, intitulada Patience, Gilbert e Sullivan basearam parcialmente a personagem Bunthorne, um “poeta carnal”, em Oscar Wilde. Em 1881, este publicou, a expensas próprias, o livro Poemas, uma coletânea que recebeu elogios moderados por parte da crítica, mas que o estabeleceu como um escritor promissor. No ano seguinte, em 1882, viajou para Nova Iorque, para participar numa turnê de palestras pelos Estados Unidos, que o levou também ao Canadá. No total, em cerca de nove meses, terá proferido 140 palestras. Quando aportou em Nova Iorque, terá declarado, nos serviços da alfândega, nada mais ter a declarar além da sua genialidade. Durante a sua estada no continente americano, Wilde foi hostilizado pela imprensa local, por causa das suas poses lânguidas e dos seus trajes, entre os quais se destacavam a jaqueta de veludo, as calças até aos joelhos e as meias de seda preta. Em simultâneo, contactou com algumas das principais figuras norte-americanas ligadas à literatura, como, por exemplo, Henry Longfellow e Walt Whitman.
    Concluída a viagem por terras do tio Sam, Wilde regressou a Inglaterra e, de imediato, deu início a novo ciclo de conferências pelo país e pela Irlanda, o qual se estendeu até 1884. Este conjunto de palestras, bem como a poesia que ia produzindo, permitiu-lhe estabelecer-se como um dos principais defensores do “aesthetic mmovement”, uma teoria de arte e literatura que enfatizava a busca da beleza por si mesma, em vez de promover qualquer ponto de vista político ou social.
    Em 29 de maio de 1884, Oscar Wilde desposou Constance Llloyd, uma mulher de famílias ricas filha de um proeminente advogado irlandês. Desse matrimónio resultaram dois frutos, Ciryl, nascido em 1885, e Vyvyan, em 1886. Um ano após o enlace, foi convidado para dirigir Lady’s World, uma revista inglesa, entre 1887 e 1889, depois de ter sido revisor da Pall Mall Gazette. Durante esses dois anos, revitalizou a revista, expandindo os assuntos que abordava e, consequentemente, o público alvo, nomeadamente focando não só o que as mulheres vestiam, como também as suas ideias e sentimentos, sobre diversas matérias, como a literatura, a arte e a vida moderna. Não obstante, deveria ser uma publicação que também os homens pudessem ler com prazer.
    A partir de 1888, enquanto ainda dirigia a Lady’s World, Oscar Wilde iniciou um período de fervilhante criatividade e escrita, durante o qual deu à luz grande parte das suas obras literárias. Assim, nesse mesmo ano, publicou O Príncipe Feliz e Outros Contos, uma coletânea de histórias infantis. Em 1891, publicou Intentions, uma coletânea de ensaios em que defendia os princípios do esteticismo, e, de seguida, O Retrato de Dorian Gray, tida como a sua obra-prima (publicada na Lippincott’s Magazine, em 1890, e em forma de livro, revisto e acrescentado de seis capítulos, em 1899), na qual o protagonista, Doriam Gray,um jovem belo, deseja (e consegue) que o seu retrato envelheça enquanto ele permanece jovem e leva uma vida de pecado e prazer, e o escritor mistura elementos sobrenaturais típicos do romance gótico com o decadentismo francês. A obra foi recebida com violentas críticas, que a acusavam de imoralidade, apesar do seu desfecho de acordo com a moral coincidente com o castigo do Mal.
    Em 1891, foram ainda publicadas outras duas obras: Crime e Outras Histórias de Lord Arthur Savile e Uma Casa de Romãs. Em fevereiro de 1892, estreou a sua peça O Leque de Lady Windermere, um texto que obteve enorme sucesso e popularidade, bem como a aclamação da crítica. Em 1893, saíram Salomé e Uma Mulher sem Importância e, sucessivamente, O Marido Ideal (1895) e A Importância de se chamar Ernesto (1895), a sua peça mais famosa.
    Neste período em que desfrutava de enorme popularidade e sucesso literário, Oscar Wilde iniciou uma relação amorosa com um jovem chamado Alfred Douglas. Em 18 de janeiro de 1895, o pai do rapaz, o marquês de Queensberry, ao tomar conhecimento do caso, acusou o escritor de ser um sodomita. Apesar de a homossexualidade de Wilde ser um segredo aberto, instado por Alfred, processou o marquês por difamação, uma decisão que arruinou a sua vida. De facto, o caso fracassou, pois as evidências foram contra si e o escritor desistiu do processo. Incentivado pelos seus amigos a fugir para França, Wilde recusou, o que levou à sua prisão e julgamento, durante o qual testemunhou de forma brilhante, porém o júri ficou num impasse e não chegou a qualquer conclusão. O julgamento teve início em março de 1895 e neste o marquês de Queensberry e os seus advogados apresentaram provas da homossexualidade de Oscar Wilde, concretamente passagens das suas obras literárias e cartas de amor endereçadas a Alfred Douglas. Foram estes dados que levaram à rejeição do caso de difamação e à sua condenação e prisão sob a acusação de “indecência grosseira”. Assim, em 25 de maio de 1895, Oscar Wilde foi sentenciado a dois anos de prisão e trabalhos forçados. A maior parte do seu encarceramento foi cumprida na prisão de Reading, a partir da qual escreveu uma longa carta a Alfred repleta de recriminações contra o jovem por o ter incentivado a levar uma vida de dissipação e a distraí-lo da criação literária.
    Oscar Wilde foi libertado da prisão em maio de 1987, fisicamente frágil e de saúde debilitada e emocionalmente exausto e falido. Partiu rapidamente para Paris, na tentativa de se regenerar como escritor, e aí viveu em hotéis baratos e apartamentos de amigos, tendo mantido um breve encontro com Alfred. Durante esse período, escreveu muito pouco, tendo-se destacado unicamente um poema completado em 1898 sobre o tempo passado na prisão – The Ballad of Reading Gaol –, no qual denunciava as condições precárias e desumanas da prisão. Não obstante os seus problemas financeiros, Wilde manteve-se alegre e foi visitado por amigos leais como Max Beerbohm e Robert Ross.
    Oscar Wilde morreu, vítima de meningite aguda causada por uma infeção no ouvido, em 30 de novembro de 1900, aos 46 anos. Nos momentos que antecederam a sua morte, foi acolhido no seio da Igreja Católica Romana, que há muito admirava.

    Uma vida em síntese:

. Nome: Oscar Wilde.

. Data de nascimento: 16 de outubro de 1854.

. Cidade natal: Dublin.

. País natal: Irlanda.

. Género: masculino.

. Obras principais: O Retrato de Dorian Gray, A Importância de se chamar Ernesto.

. Géneros literários: poesia, ficção e teatro.

. Data de falecimento: 30 de novembro de 1900.

. Local de morte: Paris.

. País: França.

 

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Contexto de O Fantasma de Canterville

    A ação de O Fantasma de Canterville decorre em plena época vitoriana. Nesse tempo, o império britânico continuava a usufruir de grande poder, porém, em contramão, o poder tradicional da monarquia em Inglaterra estava em contração, perante a ascensão do poder parlamentar, cujos representantes eram eleitos democraticamente.
    Durante o reinado da rainha Vitória, a Inglaterra transitou para uma monarquia constitucional, um sistema em que a monarquia operava sob mandatos estabelecidos por uma constituição. A partir de 1832, o Parlamento inglês começou a aprovar uma série de leis de reforma que, entre outras coisas, conferiam direito de voto a um número crescente de cidadãos, de tal modo que, na época em que O Fantasma de Canterville foi publicado, meio século depois, o número de homens britânicos que podiam votar tinha passado de quinhentos mil para mais de cinco milhões. Quanto às mulheres, só teriam direito de voto a partir de 1918 e apenas se fossem proprietárias de imóveis com mais de trinta anos. Com esta alteração na estrutura do poder, proporcionado ao homem comum, e a subsequente ascensão da classe média, a aristocracia – juntamente com o seu poder e riqueza – começou a diminuir. É neste momento social e político crucial que a família norte-americana Otis, no conto, decide comprar uma propriedade que pertencera durante seculos a aristocratas.
    Convém não esquecer que a obra foi publicada e provavelmente ambientada por volta de 1887. A ação desenrola-se em Canterville Chase, uma antiga mansão fictícia algures na Inglaterra, anteriormente pertença da família Canterville. A mansão localiza-se na zona rural do país. A propriedade contém um grande parque, no qual o Sr. Otis permite que grupos de ciganos acampem ocasionalmente e, como Sir Simon refere a Virgínia, possui igualmente uma floresta de pinheiros e um cemitério de família. A certa altura, quando Virgínia desaparece, o Sr. Otis e o jovem namorado da rapariga tem de cavalgar quilómetros para chegar à estação de caminho de ferro, o que evidencia a distância a que a propriedade distava de qualquer vilarejo.
    Por outro lado, Canterville Chase tem pelo menos trezentos anos, conclusão a que se pode chegar a partir da informação de Lady Eleanore Canterville foi assassinada em 1575 e que a casa é assombrada desde 1584. Tal como sucede com várias outras propriedades ancestrais em Inglaterra, Canterville Chase possui armaduras antigas, vitrais com brasões de família e uma sala secreta com um esqueleto.

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Enredo / Resumo da ação de O Fantasma dos Canterville

    Hirsham B. Otis, um ministro americano, muda-se com a família para Inglaterra, onde acaba de comprar uma velha propriedade – Canterville Chase – que pertencia há séculos aos Canterville, uma velha família inglesa aristocrática. Porém, a aquisição não está isenta de problemas, visto que o próprio Lorde Canterville adverte o Sr. Otis para não a comprar, afirmando que é assombrada pelo fantasma do seu antepassado, Sir Simon, desde o século XVI. No entanto, o americano, que diz vir de um país moderno demais para acreditar em fantasmas, não crê na história e declara que esta não passa de uma superstição europeia.
    Algumas semanas depois, em julho, o Sr. Otis e a família, composta pela esposa – a Sr. Otis – e pelos quatro filhos – Washington, Virgínia e os gémeos – mudam-se para a casa. A viagem entre a estação de caminho de ferro e a propriedade é demorada e, à medida que se aproximam dela, acontecem alguns fenómenos estranhos, levando a que aquela bela noite de verão se torne desagradável, com o céu coberto de nuvens e algumas gotas grossas de chuva a caírem. À chegada, a família é recebida pela Sr. Umney, a governanta. Na biblioteca, deparam com uma mancha de sangue no chão, junto à lareira. Questionada, a governanta informa-os que a mancha não pode ser removida e que se tornou uma atração turística, pois está ali desde que Sir Simon assassinou a esposa três séculos atrás, mais concretamente desde 1575. O marido assassino desapareceu pouco tempo depois do crime e, embora o seu corpo nunca tenha sido encontrado, o seu fantasma assombra Canterville Chase desde essa época.
    A família reage ao relato da Sr. Umney com a mesma descrença que o Sr. Otis evidenciou inicialmente quando Lorde Canterville lhe falou pela primeira vez no espectro. Washington, o filho mais velho do casal, não se impressiona com a mancha e rapidamente a elimina, usando produtos de limpeza modernos.
    No dia seguinte, contudo, a mancha reaparece, facto que se repete todas as manhãs, apesar da sua diligente e diária remoção por parte de Washington. Estranhamente, a mancha muda constantemente de cor. Assim, a família começa a acreditar na existência do fantasma, mas sem nunca revelar medo. Certa noite, o espectro aparece: o Sr. Otis ouve-o passar diante do seu quarto e oferece-se-lhe algo para lubrificar as correntes que lhe prendem os membros, o Lubrificante Tammany Rising Sun, de modo a parar o rangido produzido por aquelas e permitir que a família durma em paz. O fantasma, cuja aparição tinha como objetivo assustar os Otis, fica indignado, quebra a garrafa do lubrificante e prossegue o seu caminho, porém, logo de seguida, é abordado pelos gémeos, que lhe atiram um travesseiro à cara. Sir Simon esconde-se no seu esconderijo secreto, uma câmara escondida numa ala da casa, completamente chocado e escandalizado. Para se acalmar, recorda o seu maior sucesso, a maneira como aterrorizou a família Canterville e os seus amigos, deleitando-se com os sustos que infligiu a diversos aristocratas ingleses do passado. Essa memória deixa-o mais confuso e intrigado sobre a reação daquela família estrangeira e jura a si mesmo vingar-se dela.
    Durante alguns dias, Sir Simon limita-se a fazer a mancha reaparecer todas as manhãs e mantém-se afastado da família, enquanto magica uma forma de a assustar. Assim, decide vestir a sua velha armadura e passear-se pela casa com ela. Uma noite, espera que os Otis adormeçam, para pôr em prática o seu plano, no entanto acaba por despertar a atenção da família quando deixa cair a armadura enquanto a tenta vestir. Rapidamente, vê-se rodeado pelos Otis e os gémeos atacam-no com as suas zarabatanas de brincar, enquanto o pai lhe aponta uma arma verdadeira, como se o espectro fosse um simples ladrão. Sir Simon tenta ainda assustá-los com o seu riso maléfico, contudo a Sr. Otis, pensando que está doente, surpreende-o sugerindo-lhe que tome um remédio para a indigestão. Todas estas humilhações deixam-no doente, pelo que ele se retira para o seu esconderijo e nele permanece durante algum tempo, para recuperar a coragem e restaurar a saúde.
    A terceira tentativa de intimidação é a mais elaborada de todas: decide vestir o seu traje mais assustador e oferecer um tratamento individual a cada membro da família, à exceção de Virgínia, pois esta nunca o insultou e é naturalmente gentil. No entanto, a família tem outros planos e, quando ele se prepara para lançar o seu ataque, envergando o traje mais assustador, complementado por uma velha adaga enferrujada, depara, no corredor, com um espectro aterrorizador montado pelos Otis (um fantasma falso constituído por uma vassoura, um lençol e um nabo oco), que o assusta terrivelmente. O pobre Sir Simon esconde-se novamente e não ousa regressar para observar melhor esse outro fantasma antes de amanhecer. Quando, finalmente, o faz, descobre que não passava de um mero boneco criado pelos gémeos para troçar dele.
    Diminuído por mais uma humilhação, Sir Simon permanece no seu esconderijo e nem sequer se preocupa em fazer reaparecer a mancha de sangue. Limita-se a sair de vez em quando para continuar a assombrar a casa – e até começa a usar o óleo lubrificante para impedir que as correntes façam barulho e, assim, os gémeos as ouçam –, mas procura permanecer o mais discreto possível. No entanto, apesar desta nova postura, não consegue evitar as partidas preparadas por membros da família. Depois de escorregar num pedaço de manteiga deixado pelos gémeos, magica uma nova vingança: veste um disfarce que não usa há setenta anos – Reckless Rupert ou Headless Earl – e prepara-se para assustar a família, no entanto os gémeos estão prontos para ele. Assim, mal entra no cómodo dos miúdos, aciona uma armadilha que lhe prepararam e um balde de água colocado por cima da porta cai sobre si. Humilhado pela quarta vez, foge de novo para o seu quarto, simultaneamente assustado, derrotado e indignado. O impacto físico deste último fracasso é tão grande e ele fica tão debilitado que não sai da cama durante semanas e desiste de assustar a família para sempre.
    Como deixou de ver o fantasma, a família Otis acredita que desapareceu. Quando recebem a visita da família do jovem Duque de Cheshire, pretendente à mão de Virgínia, por quem está apaixonado, a qual já se cruzou com o espectro no passado, este decide visá-lo, contudo está com tanto medo dos gémeos que decide nada fazer.
    Alguns dias depois, Virgínia encontra o fantasma por acaso, que está tão desesperado que não lhe presta atenção. A jovem fica tocada pelo seu sofrimento e procura confortá-lo. Em simultâneo, repreende-o por ter assassinado a esposa e por ter roubado as suas tintas para renovar a mancha no chão da biblioteca (o que explica as mudanças de cor) e a impossibilitou de pintar o que desejava. Além disso, garante-lhe que os gémeos regressarão à escola no outono, o que lhe trará algum alívio. Sir Simon conta-lhe que os irmãos da sua esposa o puniram com a morte por inanição e que foi amaldiçoado a errar sem descanso por séculos. Acrescenta ainda que, de acordo com uma profecia, a sua maldição será quebrada pelas lágrimas e orações de uma jovem por si. Além disso, declara que os habitantes de Canterville Chase saberão que o seu martírio terá terminado quando a amendoeira da propriedade, há muito tempo estéril, florescer de novo. Como Virgínia é jovem e boa, Sir Simon acredita que ela será a rapariga predita pela profecia e pergunta-lhe se o irá ajudar. Ela, corajosamente, aceita rezar pelo descanso dele e ajudá-lo a escapar à maldição. Assim, segue o fantasma e os dois desaparecem numa área secreta da casa.
    Rapidamente, a família nota a ausência de Virgínia, fica preocupada e procura-a pela casa e pelo jardim. Como não a encontram, começam a desconfiar de um grupo de ciganos que tinha, com o seu consentimento, acampar na propriedade. Decidem, então, prosseguir as buscas no dia seguinte, porém, à meia-noite, quando todos estão prestes a retirar-se para os seus aposentos, ouve-se um barulho terrível na casa e Virgínia aparece por detrás de um painel no cimo da escada. A jovem está exausta e transporta consigo um estranho cofre contendo as joias com que Sir Simon a tinha presenteado. De seguida, conduz a família até a um esconderijo, onde Sir Simon foi morto de fome pelos seus cunhados e onde o seu corpo se encontra, acorrentado à parede com um prato de comida e um jarro de água colocados à sua frente, mas fora do seu alcance. Esta foi a forma encontrada pelos irmãos da sua esposa para vingarem o seu assassinato. Deste modo, o fantasma, com a ajuda de Virgínia, parece ter encontrado a paz, o que é confirmado quando os gémeos observam a amendoeira em flor.
    A família Canterville é notificada dos últimos acontecimentos e o corpo de Sir Simon é sepultado no pequeno cemitério. O Sr. Otis manifesta a vontade de devolver as joias dadas a Virgínia pelo fantasma, pois parecem ser muito valiosas, porém Lorde Canterville recusa, considerando o extraordinário serviço que a jovem prestou ao seu antepassado e que o fantasma fazia parte da venda / compra da casa.
    No final da obra, ficamos a saber que, muito tempo depois, Virgínia se casou com o Duque de Cheshire. Após a lua de mel, o casal presta homenagem a Sir Simon colocando flores no seu túmulo. O marido pergunta-lhe o que fez para libertar o fantasma, mas a jovem responde-lhe que prefere manter isso em segredo, decisão que o Duque aceita, certo do amor da esposa. Quanto às joias, Virgínia usa-as quando conhece a rainha de Inglaterra.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Resumo do capítulo I de "O Fantasma de Canterville"

    Hirsham B. Otis, um ministro norte-americano, acaba de comprar a propriedade Canterville Chase a Lord Canterville, contrariando quem o avisa de que aquele local está assombrado e que, portanto, está a cometer um erro. Lord Canterville explica-lhe que a casa é o lar da família Canterville há várias gerações e informa-o que está totalmente mobilada, mas inclui também um fantasma que a assombra há três séculos, o que deixa os habitantes da propriedade muito desconfortáveis. Atualmente, esta ato pode parecer uma simples transação comercial, porém, na época, a aristocracia simplesmente não vendia as suas propriedades, o que mostra estarmos a entrar numa era de algumas mudanças. O dono da casa acrescenta que a duquesa viúva de Bolton teve um ataque de medo quando um esqueleto colocou as suas mãos no ombro da senhora enquanto ela se vestia e explica que outras pessoas viram o fantasma. No entanto, o Sr. Otis ri das crenças de Lord Canterville, afirmando que a sua família vem dos Estados Unidos, um país moderno onde ninguém acredita nessas coisas. Se existissem fantasmas, diz, o assunto seria tratado nos jornais e ele saberia disso, além de serem colocados em museus. Assim sendo, efetiva a compra da propriedade.
    Em julho, a família Otis (pai, mãe e quatro filhos) muda-se para Canterville Chase. Ao aproximarem-se da casa, alguns fenómenos sucedem: o céu fica subitamente coberto de nuvens, a atmosfera enche-se de uma quietude estranha, um grande bando de gralhas passa silenciosamente sobre as suas cabeças e algumas gotas grossas de chuva caem. Eles são recebidos à porta pela governanta, a Sr.ª Umney, que se apresenta envergando um vestido preto.
    Quando a família se prepara para tomar chá na biblioteca da nova residência, a Sr.ª Otis nota uma mancha vermelha no chão, junto à lareira. A Sr.ª Umney esclarece que se trata de uma mancha de sangue está ali há três séculos e que é uma verdadeira atração turística, já que marca o local onde Sir Simon de Canterville assassinou a sua esposa em 1575, e é impossível eliminá-la. A governanta acrescenta que o próprio Sir Simon desapareceu da casa em circunstâncias misteriosas e desconhecidas nove anos depois do crime, nunca o seu corpo tendo sido encontrado. O seu fantasma, porém, tem assombrado a moradia desde então.
    O filho mais velho, Washington, não  se mostra impressionado com a narrativa da Sr.ª Umney e procura, de imediato, remover a mancha de sangue do chão, usando o “Super Tira-nódoas Pinkerton e o Detergente Paragon”. A nódoa centenária desaparece, todavia de imediato um relâmpago ilumina a sala e a governanta desmaia. O casal dialoga sobre a forma como lidar com a senhora desmaiada, sugerindo o Sr. Otis que eles deduzam do seu salário o tempo despendido em desmaios, algo que ele crê ter como efeito acabar com esses achaques. Quando desperta, a mulher  avisa a família que coisas mas irão suceder, porém os Otis tranquilizam-na e a mulher vai deitar-se.

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