Hirsham
B. Otis, um ministro americano, muda-se com a família para Inglaterra, onde acaba
de comprar uma velha propriedade – Canterville Chase – que pertencia há séculos
aos Canterville, uma velha família inglesa aristocrática. Porém, a aquisição
não está isenta de problemas, visto que o próprio Lorde Canterville adverte o
Sr. Otis para não a comprar, afirmando que é assombrada pelo fantasma do seu
antepassado, Sir Simon, desde o século XVI. No entanto, o americano, que diz
vir de um país moderno demais para acreditar em fantasmas, não crê na história
e declara que esta não passa de uma superstição europeia.
Algumas
semanas depois, em julho, o Sr. Otis e a família, composta pela esposa – a Sr.
Otis – e pelos quatro filhos – Washington, Virgínia e os gémeos – mudam-se para
a casa. A viagem entre a estação de caminho de ferro e a propriedade é demorada
e, à medida que se aproximam dela, acontecem alguns fenómenos estranhos,
levando a que aquela bela noite de verão se torne desagradável, com o céu
coberto de nuvens e algumas gotas grossas de chuva a caírem. À chegada, a
família é recebida pela Sr. Umney, a governanta. Na biblioteca, deparam com uma
mancha de sangue no chão, junto à lareira. Questionada, a governanta informa-os
que a mancha não pode ser removida e que se tornou uma atração turística, pois
está ali desde que Sir Simon assassinou a esposa três séculos atrás, mais
concretamente desde 1575. O marido assassino desapareceu pouco tempo depois do
crime e, embora o seu corpo nunca tenha sido encontrado, o seu fantasma
assombra Canterville Chase desde essa época.
A
família reage ao relato da Sr. Umney com a mesma descrença que o Sr. Otis
evidenciou inicialmente quando Lorde Canterville lhe falou pela primeira vez no
espectro. Washington, o filho mais velho do casal, não se impressiona com a
mancha e rapidamente a elimina, usando produtos de limpeza modernos.
No dia
seguinte, contudo, a mancha reaparece, facto que se repete todas as manhãs,
apesar da sua diligente e diária remoção por parte de Washington.
Estranhamente, a mancha muda constantemente de cor. Assim, a família começa a
acreditar na existência do fantasma, mas sem nunca revelar medo. Certa noite, o
espectro aparece: o Sr. Otis ouve-o passar diante do seu quarto e oferece-se-lhe
algo para lubrificar as correntes que lhe prendem os membros, o Lubrificante
Tammany Rising Sun, de modo a parar o rangido produzido por aquelas e permitir
que a família durma em paz. O fantasma, cuja aparição tinha como objetivo
assustar os Otis, fica indignado, quebra a garrafa do lubrificante e prossegue
o seu caminho, porém, logo de seguida, é abordado pelos gémeos, que lhe atiram
um travesseiro à cara. Sir Simon esconde-se no seu esconderijo secreto, uma
câmara escondida numa ala da casa, completamente chocado e escandalizado. Para
se acalmar, recorda o seu maior sucesso, a maneira como aterrorizou a família
Canterville e os seus amigos, deleitando-se com os sustos que infligiu a
diversos aristocratas ingleses do passado. Essa memória deixa-o mais confuso e
intrigado sobre a reação daquela família estrangeira e jura a si mesmo
vingar-se dela.
Durante
alguns dias, Sir Simon limita-se a fazer a mancha reaparecer todas as manhãs e
mantém-se afastado da família, enquanto magica uma forma de a assustar. Assim,
decide vestir a sua velha armadura e passear-se pela casa com ela. Uma noite,
espera que os Otis adormeçam, para pôr em prática o seu plano, no entanto acaba
por despertar a atenção da família quando deixa cair a armadura enquanto a
tenta vestir. Rapidamente, vê-se rodeado pelos Otis e os gémeos atacam-no com
as suas zarabatanas de brincar, enquanto o pai lhe aponta uma arma verdadeira, como
se o espectro fosse um simples ladrão. Sir Simon tenta ainda assustá-los com o
seu riso maléfico, contudo a Sr. Otis, pensando que está doente, surpreende-o
sugerindo-lhe que tome um remédio para a indigestão. Todas estas humilhações
deixam-no doente, pelo que ele se retira para o seu esconderijo e nele
permanece durante algum tempo, para recuperar a coragem e restaurar a saúde.
A
terceira tentativa de intimidação é a mais elaborada de todas: decide vestir o
seu traje mais assustador e oferecer um tratamento individual a cada membro da
família, à exceção de Virgínia, pois esta nunca o insultou e é naturalmente
gentil. No entanto, a família tem outros planos e, quando ele se prepara para
lançar o seu ataque, envergando o traje mais assustador, complementado por uma
velha adaga enferrujada, depara, no corredor, com um espectro aterrorizador
montado pelos Otis (um fantasma falso constituído por uma vassoura, um lençol e
um nabo oco), que o assusta terrivelmente. O pobre Sir Simon esconde-se
novamente e não ousa regressar para observar melhor esse outro fantasma antes
de amanhecer. Quando, finalmente, o faz, descobre que não passava de um mero
boneco criado pelos gémeos para troçar dele.
Diminuído
por mais uma humilhação, Sir Simon permanece no seu esconderijo e nem sequer se
preocupa em fazer reaparecer a mancha de sangue. Limita-se a sair de vez em
quando para continuar a assombrar a casa – e até começa a usar o óleo
lubrificante para impedir que as correntes façam barulho e, assim, os gémeos as
ouçam –, mas procura permanecer o mais discreto possível. No entanto, apesar
desta nova postura, não consegue evitar as partidas preparadas por membros da
família. Depois de escorregar num pedaço de manteiga deixado pelos gémeos,
magica uma nova vingança: veste um disfarce que não usa há setenta anos – Reckless
Rupert ou Headless Earl – e prepara-se para assustar a família, no
entanto os gémeos estão prontos para ele. Assim, mal entra no cómodo dos
miúdos, aciona uma armadilha que lhe prepararam e um balde de água colocado por
cima da porta cai sobre si. Humilhado pela quarta vez, foge de novo para o seu
quarto, simultaneamente assustado, derrotado e indignado. O impacto físico
deste último fracasso é tão grande e ele fica tão debilitado que não sai da
cama durante semanas e desiste de assustar a família para sempre.
Como
deixou de ver o fantasma, a família Otis acredita que desapareceu. Quando
recebem a visita da família do jovem Duque de Cheshire, pretendente à mão de
Virgínia, por quem está apaixonado, a qual já se cruzou com o espectro no passado,
este decide visá-lo, contudo está com tanto medo dos gémeos que decide nada
fazer.
Alguns
dias depois, Virgínia encontra o fantasma por acaso, que está tão desesperado
que não lhe presta atenção. A jovem fica tocada pelo seu sofrimento e procura
confortá-lo. Em simultâneo, repreende-o por ter assassinado a esposa e por ter
roubado as suas tintas para renovar a mancha no chão da biblioteca (o que explica
as mudanças de cor) e a impossibilitou de pintar o que desejava. Além disso,
garante-lhe que os gémeos regressarão à escola no outono, o que lhe trará algum
alívio. Sir Simon conta-lhe que os irmãos da sua esposa o puniram com a morte
por inanição e que foi amaldiçoado a errar sem descanso por séculos. Acrescenta
ainda que, de acordo com uma profecia, a sua maldição será quebrada pelas
lágrimas e orações de uma jovem por si. Além disso, declara que os habitantes
de Canterville Chase saberão que o seu martírio terá terminado quando a
amendoeira da propriedade, há muito tempo estéril, florescer de novo. Como
Virgínia é jovem e boa, Sir Simon acredita que ela será a rapariga predita pela
profecia e pergunta-lhe se o irá ajudar. Ela, corajosamente, aceita rezar pelo
descanso dele e ajudá-lo a escapar à maldição. Assim, segue o fantasma e os
dois desaparecem numa área secreta da casa.
Rapidamente,
a família nota a ausência de Virgínia, fica preocupada e procura-a pela casa e
pelo jardim. Como não a encontram, começam a desconfiar de um grupo de ciganos
que tinha, com o seu consentimento, acampar na propriedade. Decidem, então,
prosseguir as buscas no dia seguinte, porém, à meia-noite, quando todos estão
prestes a retirar-se para os seus aposentos, ouve-se um barulho terrível na
casa e Virgínia aparece por detrás de um painel no cimo da escada. A jovem está
exausta e transporta consigo um estranho cofre contendo as joias com que Sir
Simon a tinha presenteado. De seguida, conduz a família até a um esconderijo,
onde Sir Simon foi morto de fome pelos seus cunhados e onde o seu corpo se
encontra, acorrentado à parede com um prato de comida e um jarro de água
colocados à sua frente, mas fora do seu alcance. Esta foi a forma encontrada pelos
irmãos da sua esposa para vingarem o seu assassinato. Deste modo, o fantasma,
com a ajuda de Virgínia, parece ter encontrado a paz, o que é confirmado quando
os gémeos observam a amendoeira em flor.
A família
Canterville é notificada dos últimos acontecimentos e o corpo de Sir Simon é
sepultado no pequeno cemitério. O Sr. Otis manifesta a vontade de devolver as
joias dadas a Virgínia pelo fantasma, pois parecem ser muito valiosas, porém
Lorde Canterville recusa, considerando o extraordinário serviço que a jovem
prestou ao seu antepassado e que o fantasma fazia parte da venda / compra da
casa.
No final
da obra, ficamos a saber que, muito tempo depois, Virgínia se casou com o Duque
de Cheshire. Após a lua de mel, o casal presta homenagem a Sir Simon colocando
flores no seu túmulo. O marido pergunta-lhe o que fez para libertar o fantasma,
mas a jovem responde-lhe que prefere manter isso em segredo, decisão que o
Duque aceita, certo do amor da esposa. Quanto às joias, Virgínia usa-as quando
conhece a rainha de Inglaterra.