Português

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Vida e obra de Aldous Huxley

            Aldous Huxley nasceu em Surrey, Inglaterra, a 26 de julho de 1894, filho de uma ilustre família profundamente enraizada na tradição literária e científica da Inglaterra. O pai de Huxley, Leonard Huxley, era filho de Thomas Henry Huxley, um conhecido biólogo que ganhou o apelido de "O buldogue de Darwin" por defender as ideias evolucionárias de Charles Darwin. Sua mãe, Julia Arnold, estava relacionada com o importante poeta e ensaísta do século XIX Matthew Arnold.
            Criado numa família de cientistas, escritores e professores (o seu pai era escritor e professor e a sua mãe professora), Huxley recebeu uma excelente educação, primeiro em casa, depois em Eton, que lhe proporcionou o acesso a diversas áreas do conhecimento. Aldous era um estudante ávido e, durante a sua vida, foi um renomado generalista, um intelectual que tinha dominado o uso da língua inglesa, mas também era informado sobre desenvolvimentos de ponta na ciência e noutros campos. Embora grande parte da sua compreensão científica fosse superficial – ele era facilmente convencido de descobertas que permaneciam um pouco à margem da ciência dominante –, a sua educação na interseção entre ciência e literatura permitiu-lhe integrar descobertas científicas atuais em seus romances e ensaios de uma forma que poucos outros escritores de seu tempo foram capazes de fazer.
            Além da sua educação, outra grande influência na vida e na escrita de Huxley foi uma doença ocular contraída na sua adolescência que o deixou quase cego. Quando adolescente, Huxley sonhava tornar-se médico, mas a degeneração da visão impedia que ele seguisse essa carreira. Por outro lado, os problemas visuais restringiram severamente as atividades que ele poderia realizar. Por causa da sua quase cegueira, dependia fortemente da sua primeira esposa, Maria, para cuidar dele. Como é compreensível, a cegueira e a visão são dois motivos que perpassam grande parte da sua escrita.
            Depois de se formar em Oxford, em 1916, Huxley começou a construir um nome para si mesmo escrevendo artigos satíricos sobre a classe alta britânica. Embora esses escritos fossem habilidosos e lhe trouxessem uma audiência e um nome literário, eles foram geralmente considerados como oferecendo pouca profundidade além das suas críticas leves aos comportamentos sociais. Huxley continuou a escrever prolificamente, trabalhando como ensaísta e jornalista e publicando quatro volumes de poesia antes de começar a trabalhar em romances. Sem desistir dos seus outros escritos, tendo começado em 1921, Huxley produziu uma série de romances a um ritmo surpreendente: Crome Yellow (Férias em Crome) foi publicado em 1921, seguido por Antic Hay em 1923, Those Barren Leaves em 1925 e Point Counter Point em 1928. Nesses anos, Huxley abandonou as suas primeiras sátiras e ficou mais interessado em escrever sobre assuntos com um conteúdo filosófico e ético mais profundo. Grande parte do seu trabalho lida com o conflito entre os interesses do indivíduo e da sociedade, focando muitas vezes o problema da autorrealização no contexto da responsabilidade social. Esses temas atingiram o seu auge na obra Admirável mundo novo, publicado em 1932. Neste livro, imaginou um futuro fictício em que o livre arbítrio e a individualidade foram sacrificados em deferência à completa estabilidade social.
            Admirável mundo novo constituiu um passo numa nova direção para Huxley, combinando a sua habilidade para a sátira com o seu fascínio com a ciência para criar um mundo distópico (anti-utópico), no qual um governo totalitário controlava a sociedade pelo uso da ciência e tecnologia. Através da exploração das armadilhas de ligar ciência, tecnologia e política, e do seu argumento de que tal ligação provavelmente reduzirá a individualidade humana, Brave New World lida com temas semelhantes ao famoso romance de George Orwell, 1984. Orwell escreveu o seu romance em 1949, após as consequências trágicas da ação dos governos totalitários na Segunda Guerra Mundial, e durante a Guerra Fria e a corrida ao armamento que tão poderosamente sublinharam o papel da tecnologia no mundo moderno. Sucede que Huxley antecipou todos esses desenvolvimentos: Hitler chegou ao poder na Alemanha um ano depois da publicação de Admirável mundo novo; a Segunda Guerra Mundial iniciou-se seis anos depois; a bomba atômica foi lançada treze anos depois da sua publicação, dando início à Guerra Fria e ao que o presidente Eisenhower apelidou de uma formação assustadora do “complexo industrial-militar”. O romance de Huxley parece, em muitos aspetos, profetizar os principais temas e lutas que dominaram a vida e o debate na segunda metade do século XX, e continuam a dominá-lo no vigésimo primeiro.
            No final dos anos 40, Huxley começou a experimentar drogas alucinógenas como o LSD e a mescalina. Por outro lado, manteve um interesse em fenómenos ocultos, como hipnotismo, sessões e outras atividades que se situam na fronteira entre a ciência e o misticismo. As experiências de Huxley com drogas levaram-no a escrever vários livros que tiveram profundas influências na contracultura dos anos sessenta. A obra que escreveu sobre as suas experiências com a mescalina, The Doors of Perception, influenciou um jovem chamado Jim Morrison e os seus amigos, que deram o nome The Doors à banda musical que formaram. (A frase "as portas da perceção" provém de um poema de William Blake chamado “O Casamento do Céu e do Inferno”.) Na sua última grande obra, Island, publicada em 1962, Huxley descreve uma utopia chamada Pala que serve como um contraste para sua visão anterior de distopia. Um aspeto central da cultura ideal de Pala é o uso de uma droga alucinógena chamada "moksha", que fornece um contexto interessante para ver soma, a droga no Admirável mundo novo que constitui uma ferramenta do estado totalitário.
            Aldous Huxley morreu a 22 de novembro de 1963, em Los Angeles.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

O regresso à escola na Inglaterra


Patrick Blower, Inglaterra

 

O regresso à escola na Alemanha


Valdir Tomicek, Alemanha

Questionário sobre o capítulo XI da Crónica de D. João I

 1. Leia o capítulo XI da Crónica de D. João I.
 
1.1. Cada uma das afirmações apresentadas representa um momento do texto. Ordene-os de acordo com o sentido do texto.
a. O Mestre junta-se ao povo e despede-se da multidão.
b. Os populares juntam-se a Álvaro Pais e perguntam uns aos outros quem quer matar o Mestre.
c. O Mestre é informado do perigo que o bispo de Lisboa corre.
d. Obedecendo ao que tinha sido previamente combinado, o pajem cavalga pelas ruas, espalhando o boato de que estão a matar o Mestre.
e. A multidão dirige-se ao Paço para salvar o Mestre, pretendendo incendiá-lo.
f. O Mestre surge à janela e tranquiliza a multidão.
g. A perturbação e inquietação do povo aumenta e os partidários do Mestre começam a preocupar-se com o que poderá acontecer.
h. A multidão fica feliz por o ver são e salvo, mas continua a acreditar que a rainha o tencionava assassinar.
i. O povo acredita que o Mestre corre perigo, o que faz crescer a sua fúria.
j. A multidão vai aumentando e já não cabe nas ruas.
 
2. Explicite o papel desempenhado pelo pajem no desenrolar dos acontecimentos.
 
3. Explicite o papel que Álvaro Pais desempenha no ajuntamento da população de Lisboa.
 
4. Transcreva as expressões que, nos primeiros quatro parágrafos do texto, mostram que estamos perante uma ação previamente combinada.
 
4.1. Demonstre que se pode considerar que a história está a ser contada ao contrário do que está a acontecer.
 
5. Indique o motivo que leva a população da cidade de Lisboa a juntar-se.
 
7. A gente da cidade, enquanto personagem coletiva, é uma das protagonistas do capítulo.
 
7.1. Trace o seu retrato, isto é, caracterize-o, completando o texto seguinte.

 

                O povo desempenha um papel muito importante neste capítulo: ____________ {defender o Mestre / atacar o palácio da rainha / matar o conde Andeiro}. Trata-se de uma personagem ___________________ {individual / coletiva / figurante} que constitui o escudo defensor do Mestre para o assassínio do conde Andeiro, para sustentar o ato e suportar as suas consequências.

                Inicialmente, o povo (a “arraia-miúda”) mostra-se ________________ (“As gentes que esto ouviam saíam aa rua para ver que cousa era.”), indignado, revoltado e agressivo (“__________________________”), determinado, unido, solidário e disponível (“________________________”, “_______________________”). De facto, age como um todo e acorre aos Paços para acudir ao Mestre com intuitos de vingança (“________________________________________________”). Aí chegado, mostra-se ____________________ e agitado (“dizendo que as britassem para entrar dentro”), num crescendo de __________ (“cada vez se acendia mais”), visível nos atos de violência que se propõem cometer para invadir o Paço: ________________________ e ______________________________, atos esses que evidenciam toda a sua ______________________, ausência de reflexão e descontrole __________, típicos de quem age ___________________. As tentativas de o acalmar não diminuem a sua ____________ (“mas isto nom queria nenhum crer”).

                Depois de ver D. João, o povo fica aliviado, mais _____________ e _____________ (“houveram gram prazer quando o virom”), virando então a sua fúria para a rainha e o conde, referindo-se-lhes de forma ______________ (“- Ó que mal fez! Pois que matou o traidor do Conde, que nom matou logo a aleivosa com ele!”), sempre empenhado na _________________________.

 
7.2. Transcreva três passagens textuais que evidenciem os sentimentos partilhados pelos populares durante o capítulo. Inicie a resposta da seguinte forma: «As personagens textuais que evidenciam os sentimentos partilhados pelos populares são as seguintes: …».
 
7.3. Apresente exemplos de comportamentos diferentes que certos grupos e indivíduos têm no meio dos populares.
 
8. Identifique os recursos expressivos presentes nas expressões seguintes e comente os respeitos efeitos de sentido.
 
8.1. “todos feitos duu coraçom” (linha 30).

8.2. “De cima nom minguava quem bradar que o Mestre era vivo, e o Conde Joam Fernandez morto;” (ll. 47 e 48).

 
9. Explicite a opinião do povo relativamente à rainha (linhas 55 a 73).
 
10. A figura do Mestre de Avis é central em todos os acontecimentos.
 
10.1. Caracterize esta personagem, comprovando que assume o comportamento de um chefe político. Para tal, complete o texto apresentado.
 

                D. João revela-se, neste capítulo, uma figura ____________________ {carismática / ineficiente / liderante}, determinada e __________________, mostrando-se à população para ter o seu apoio.

                Por outro lado, mostra-se afável e retribui o carinho do povo (“_________”), ________________ {ambicioso / afirmativo / altruísta} por não pretender lisonjas e _______________ no impulso de ir salvar o bispo de Lisboa.
                Por último, é de notar que D. João mantém uma conduta que _______ {é / não é} marcada por rasgos de caráter muito intensos nem grandes iniciativas. Adapta-se às circunstâncias, aceitando as orientações que lhe são dadas pelos seus ________________________ (“________”). No entanto, revela todo o seu carisma e a sua natureza de líder político quando a multidão o _________ e quando consegue __________ e fazê-la _________.
 
10.2. Identifique os sinais que indiciam que o Mestre de Avis será o chefe da resistência à ameaça castelhana.
 
10.3. Interprete as justificações apresentadas para a defesa do Mestre nas falas das linhas 17 e 18, 66-67, 78-79 e 85-86.
 
10.4. Retire do capítulo três excertos que sugiram uma curta predestinação e proteção divinas da figura do Mestre.
 
10.5. Caracterize a atitude do Mestre quando soube que o Bispo de Lisboa se encontrava em perigo.
 
12. Fernão Lopes, ao longo deste capítulo e de toda a crónica, apresenta-se como testemunha dos acontecimentos, possibilitando que o leitor vivencie a narração como espectador através do uso de recursos que lhe conferem vivacidade e dinamismo.
 
12.1. Preencha o quadro apresentado.
 

Recursos

Exemplos

Discurso direto

 

Frases exclamativas

 

Sensações visuais

 

Sensações auditivas

 

Verbos de ação/movimento

 

Verbos que sugerem sentimento

 

Advérbios expressivos

 

Pretérito imperfeito

 

Gerúndio

 

 
13. O narrador vai alternando entre o discurso direto e o indireto ao longo da narração.

 

13.1. Explicite o efeito produzido e a sua importância para a missão do cronista.

 

                A alternância entre as duas modalidades do discurso confere ………………………………………. {dramatismo / consequência / tranquilidade} e ………………………………………. {subjetividade / veracidade / alternância} ao que é narrado, visto que, através do discurso direto, temos acesso ……………………………………………. {ao “pulsar” efetivo / às falas “reais” / aos “sentimentos e emoções”} dos intervenientes. Desta forma, Fernão Lopes confere à sua narração ……………………………………………………… {poder / maior dinamismo / alternância de planos / confronto de pontos de vista} e cumpre a sua missão de relatar a ………………………… {ficção / irracionalidade / história / verdade} dos factos.

 
14. Foque a sua atenção no estilo da escrita cronística de Fernão Lopes.
 
14.1. Complete o quadro apresentado e estabeleça a associação entre os exemplos e a respetiva expressividade.

 

Exemplo textual

Recurso expressivo

 

Expressividade

 

1. “e assi como viúva que rei nom tinha, e como se lhe este ficara em logo de marido…”

.

 

A. Traduz a ansiedade da multidão em saber do Mestre.

 

2. “(…) veendo tam grande alvoroço como este, e que cada vez se acendia mais…”

.

 

B. Reforça o efeito visual da ação.

C. A comparação mostra, por um lado, a união do povo, da cidade, por causa do suposto perigo de vida que o Mestre corre; por outro, associa a cidade a uma rainha viúva que deseja casar-se com um novo marido – o Mestre de Avis, tudo fazendo para lhe salvar a vida.

    Remete para a crise de sucessão ao trono, sugerindo o desgoverno e desproteção a que a cidade (mulher) ficava sujeita sem marido (sem rei), tal como acontece com as viúvas.

3. “que é do Mestre?”

.

 

4. “Mestre (…) Mestre”

.

5. “braadavom”, “arroido”, “alvoroço”

.

6. “vinham com feixes de lenha, outras traziam carqueija”

.

7. “pera sobir acima”

.

 

D. Sugere o crescimento do alvoroço e da inquietação da multidão, face às notícias sobre o perigo que o Mestre corria, à semelhança de um fogo que começa pequeno e toma proporções gigantescas.

8. “todos feitos dhu coraçom”

.

9. “Amigos, apacificae-vos.”

.

 

E. Representa a ansiedade da multidão em saber do Mestre.

 

10. “por lhe darem vida e escusar morte”

.

 

F. Sugere o visualismo da ação da multidão para entrar nos paços da rainha.

 

 

 

 

G. Torna a narração mais realista, “transportando” o leitor para o local dos acontecimentos, fazendo-o “ver” e “ouvir” o que se passou.

 

 

 

 

H. Realça-se a fusão entre todos os populares, como se fossem uma única e só pessoa.

 

 

 

 

I. Apela-se à população, chamando a sua atenção e expressando cumplicidade.

 

 

 

 

J. Sugere a complexidade da situação que se vivia.

 



15. Reflita sobre a (im)parcialidade de Fernão Lopes face às personagens individuais e coletivas envolvidas nos acontecimentos, considerando a informação do verbete apresentado.
 


. Questionário [link]

Síntese da cantiga de escárnio e maldizer

QUADRO
CANTIGAS DE ESCÁRNIO E MALDIZER

Origem

Cruzamento de influências provençais e peninsulares.

Sujeito

Masculino: o trovador ou o jogral.

Objeto

Sátira e crítica indireta (escárnio) ou direta (maldizer).

Características

. Crítica encoberta.
. Crítica direta.
. Temas satíricos.
. Retrato satírico da sociedade medieval.

Temas

. A cobardia dos cavaleiros.
. A corrupção e os desmandos do clero.
. A decadência da nobreza: a ambição e a pelintrice dos infanções.
. O escudeiro pelintra, mas fanfarrão e pretensioso.
. A ridicularização dos maus trovadores.
. A decadência da sociedade.
. A avareza dos reis.

Representação de afetos e emoções

A dimensão satírica

1. A paródia ao amor cortês:

. Estas cantigas são conhecidas como “escárnios de amor”, em que se procede a uma inversão dos códigos do amor cortês.

. Assim, são os trovadores parodiam, através da ironia, a cantiga de amor e os principais tópicos deste tipo de composição:

» o elogio da “senhor” como ser superior pela sua beleza, inteligência, bom senso, saber estar em sociedade (“Ai dona fea…”);

» o respeito e a submissão do trovador à dama;

» as convenções do amor cortês, como a exacerbação da «coita de amor» e o artificialismo da morte de amor (“Roi Queimado”)

. Constitui, por isso, um contragénero da cantiga de amor.

2. A crónica de costumes:

. A cantiga de escárnio e maldizer concretiza a crítica dos costumes, individual ou social, através da sátira de diversos comportamentos:

» os aspetos circunstanciais e anedóticos da vida da corte e da boémia jogralesca;

» as polémicas entre trovadores e jograis, nomeadamente a incompetência na arte de trovar;

» a denúncia da nobreza empobrecida e da sua miséria envergonhada, sobretudo a dos infanções;

» a falta de pagamento dos honorários dos jograis, ou a sua efetivação por meio de roupas e alimentos;

» acontecimentos históricos, políticos e militares, nomeadamente a cobardia e traição de alguns cavaleiros;

» a decadência generalizada dos costumes (a vida dissoluta do clero, os casamentos por conveniência, a prostituição, a exploração dos mais fracos, a injustiça,…).

Ambiente (espaços, protagonistas e circunstâncias)

Ambiente cortesão, palaciano.
 
• Crítica à vida social da época.

Classificação formal

. Cantigas de mestria.
. Cantigas de refrão;
. Presença de rima.
. Regularidade estrófica e métrica.

Linguagem e estilo

▪ Vocabulário sarcástico e humorístico.
▪ Trocadilhos (expressões com dois sentidos).
▪ Uso cómico do diminutivo e do aumentativo.
▪ Recursos expressivos: ironia, hipérbole, adjetivação, sarcasmo, …
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...