Português

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Análise de "O Mostrengo"

. Assunto: Chegados ao Cabo das Tormentas, os portugueses encontram um monstro voador, o «mostrengo», que pretende atemorizá-los para que não prossigam a viagem. Porém, o marinheiro português (o «homem do leme»), embora de início o receie e hesite, enfrenta-o, neutralizando-o, pois está imbuído da vontade de um rei  e de um povo que não abdica da sua missão.


2. Título

1.º) A palavra «mostrengo» é derivada por sufixação («monstro + engo»). O sufixo «-engo», de origem germânica, tem um valor pejorativo. «Mostrengo» significa, assim, «ente fantástico, geralmente considerado perigoso e assustador, dotado de uma configuração fora do normal e desagradável» (in manual Entre Margens 12).

2.º) Por outro lado, «mostrengo» está relacionado com o verbo «mostrar». Neste sentido, «mostrengo» é aquele que mostra o que não é ainda conhecido.


3. Retrato do «mostrengo»:
. situa-se no desconhecido, na lonjura, no local que se julgava ser o fim («está no fim do mar / Na noite de breu…») – vv. 1-2), ligado a um tom de mistério, de enigma;
. é o senhor dos mares e dos seus segredos: «Nas minhas cavernas que não desvendo, / Meus tetos negros do fim do mundo» (vv. 6-7) ‑ o mar é apresentado fechado no sentido de espaço e sem fim no sentido da profundidade, indiciando mistério; por outro lado, representa o desconhecido («Nas minhas cavernas que não desvendo»; «fim do mundo»);
. tem um aspeto semelhante ao de um morcego:
‑ voa (v. 2) – notar a intenção de exprimir a voz do morcego e o seu nervosismo, por ver os seus domínios ameaçados, através da musicalidade de sons como /u/, /ô/, /ê/, /i/, /a/;
‑ chia;
‑ habita cavernas e tetos negros;
‑ roça nas velas da nau;
‑ vê as quilhas de alto (v. 11);
‑ é imundo e grosso ‑ tem um aspeto medonho, horrível (v. 13);
. é ameaçador e arrogante (as suas falas);
. defende os seus domínios perante a ousadia dos portugueses, que ousam invadir e desvendar esses domínios;
. tem atitudes intimidatórias, ameaçadoras, aterrorizadoras, de força e poder:
‑ os movimentos circulares que tece em roda da nau (vv. 3, 4, 12, 13, 25) parecem querer «asfixiar» os portugueses;
‑ roça nas velas;
‑ chia;
‑ etc.
. tem poder sobre o mar: «o que só eu posso» (v. 14);
. identifica-se com o mar tenebroso e desconhecido: «moro onde nunca ninguém me visse / E escorro os medos do mar sem fundo» (vv. 15-16) ‑ notar a expressividade do verbo «escorrer», sugerindo que o «mostrengo» simboliza o mar, bem como a aliteração em /m/ e o pretérito imperfeito do conjuntivo «visse», sugerindo o desejo do «mostrengo» em continuar desconhecido;
. sente-se desafiado;
. infunde medo e terror;
. manifesta revolta, indignação e desejo de vingança perante a ousadia dos portugueses («Quem é que ousou entrar…», «Escorro os medos do mar sem fundo…»);
. os argumentos de autoridade que evoca têm como objetivo infundir nos marinheiros o medo e levá-los a retroceder, a desistir da sua viagem;
. na 3.ª estrofe, apaga-se e já não fala, facto que denota o triunfo dos marinheiros. De facto, à medida que o poema vai avançando, o «mostrengo» perde força, acabando por se anular.


. Retrato do marinheiro:
. 1.ª resposta:                        - pelo tom aterrador das suas palavras;
‑ medroso / receoso        - pelas atitudes intimidatórias;
‑ intimidado                   - pelo ambiente sinistro que o rodeia;
‑ treme e fala em simultâneo;
‑ invoca a autoridade de que foi investido: «El-Rei D. João segundo!» (v. 9);
‑ é o agente, o representante do rei e, na pessoa do soberano, todo o povo português.
. 2.ª resposta:
‑ mostra um crescendo de coragem e valentia, pois se, na 1.ª estrofe, fala a tremer, nesta fala depois de tremer.
. 3.ª fala do marinheiro ‑ clímax da tensão dramática:
‑ as suas atitudes contraditórias [desprender (desistência) e prender as mãos ao leme, tremer e deixar de tremer] revelam ainda certa dúvida, insegurança, hesitação e receio;
‑ de facto, o marinheiro está dividido interiormente entre o terror e a coragem, acabando por vencer esta última;
‑ consciencializa-se de que ali não se representa a si mesmo («Aqui ao leme sou mais do que eu« ‑ v. 22), mas a vontade do rei e do seu povo, e enfrenta o «mostrengo», vencendo e prosseguindo a sua missão, uma atitude que revela coragem, convicção, força e determinação.
         Estas reações do marinheiro ao discurso do «mostrengo» mostram que há uma espécie de gradação ascendente nas suas atitudes que contrasta com as do monstro. De facto, se, da primeira vez que lhe respondeu, se mostrou medroso e timorato («disse, tremendo, isto é, falou e tremeu ao mesmo tempo, e apenas respondeu «El-rei D. João Segundo» ‑ vv. 8-9), da segunda vez, embora tenha dado a mesma resposta, já se nota uma evolução, pois os dois atos estão dissociados (tremeu, depois deixou de tremer e falou, o que revela um ganho de coragem); da terceira vez, o marinheiro ainda se sentiu tentado a erguer as mãos do leme, a desistir da sua missão, mas logo tomou consciência do que estava em causa ‑ o seu rei e o seu povo: «E disse ao fim de tremer três vezes» (v. 21). É o recuperar definitivo da coragem, o assumir das responsabilidades de que se encontra investido: o tremer deixou de interferir com a sua fala.


. Atmosfera tenebrosa e medonha:
. Ambiente:
‑ Sensações visuais, que carregam o ambiente de tons tenebrosos:
- «noite de breu»;
- tetos negros»;
- «trevas do fim do mundo»;
- «as quilhas que vejo»;
‑ Sensações auditivas, que acentuam a horribilidade do quadro:
- «voou três vezes a chiar»;
- «as quilhas que ouço»;
. Personagem: «mostrengo» e não «monstro»;
. Atitudes e os movimentos circulares, sitiantes e ameaçadores do «mostrengo»:
‑ «À roda da nau voou três vezes»;
‑ «Voou três vezes a chiar»;
‑ «onde me roço»;
‑ «Três vezes rodou imundo e grosso».
. Relação eu (o «mostrengo») / tu (o marinheiro), criadora de um clima de sem cerimónia e agressividade entre os interlocutores;
. Abundância de formas verbais que sugerem movimento: «ergue», «voou», «tremer», «rodou», «ata»;
. Localização espácio-temporal:
‑ «à roda da nau»;
‑ «no fim do mar»;
‑ «nas minhas cavernas que não desvendo, / Meus tetos negros do fim do mundo!»;
‑ «onde nunca ninguém me visse»;
‑ « mar sem fundo».


. Simbolismo das personagens:

. O mostrengo simboliza   ‑ o mar desconhecido
‑ os segredos ocultos
‑ o medo dos navegadores que enfrentam o desconhecido
‑ os perigos que tiveram de enfrentar

. O homem do leme
‑ simboliza a coragem e a ousadia do povo português;
‑ é o herói mítico, símbolo do seu povo e que, por isso, passa de herói individual a coletivo, com uma missão a cumprir.


. Tom dramático do poema
. Alternância discurso direto / discurso direto.
. Grande tensão entre as duas personagens ao longo do diálogo e ao longo de todo o texto:
- o mistério que rodeia o «mostrengo»;
- o mistério patenteado pelo número 3;
- expressões carregadas de mistério e terror;
- as formas verbais que traduzem movimentos súbitos, violentos.
. Ambiente de terror:
- a linguagem visualista;
- as atitudes do «mostrengo»;
- a localização espácio-temporal.
. Os recursos estilístico-poéticos:
- a função expressiva / emotiva;
- as exclamações e interrogações;
- a reiteração;
- as metáforas;
- o refrão.
. O contraste entre o «mostrengo» e o marinheiro: o crescendo de irascibilidade do monstro e o seu progressivo apagamento, o crescendo de coragem do marinheiro, que culmina na sua última fala, quando se compenetra de que representa o povo português e de que tem de prosseguir a sua empresa.
. O drama interior do marinheiro, dividido entre o terror e a coragem.


. Tom épico do poema
. Verso decassílabo.
. Harmonia imitativa.
. Aliterações.
. Sons fechados e nasais.
. O espírito cavaleiresco de exaltação patriótica já existe n’Os Lusíadas: o marinheiro representa todo um povo que deseja conquistar o mar e que não se deixa vergar pelo monstro, símbolo dos medos e perigos do mar.
. A luta desigual, heroica, entre o monstro aparentemente invencível que é o mar e a insistência, a coragem heroica dos portugueses. Estamos, portanto, no mundo dos heróis.


. Intertextualidade: o Mostrengo e o Adamastor

Mostrengo
Adamastor
SEMELHANÇAS
. Conteúdo épico semelhante: de um lado, a forma invencível do mar; do outro, a vontade férrea e a coragem de um marinheiro que representa a forma de um povo que quer o mar.
. Objetivo dos textos: tornar os Portugueses heróis, pela sua coragem, valentia e determinação.
. Simbologia: personificação dos perigos e do receio do mar desconhecido.
. Localização: ambos os textos se situam no centro das respetivas obras, funcionando como eixos estruturantes.
DIFERENÇAS
. Retrato: figura animalesca, semelhante a u morcego, voa.
. Retrato: figura terrena humana de enormes proporções e de aspeto medonho (Adamastor).
. Aterroriza sobretudo pelo aspeto repugnante.
. Aterroriza pelas proporções gigantescas e pela forma estranha.
. É vencido pela determinação e pela coragem do marinheiro.
. É vencido pelos males de amor.
. O texto é mais épico-dramático, pois centra a emoção sobretudo na pessoa do homem do leme, que evoluciona do medo para a coragem e ousadia.
. O caráter épico dilui-se no lirismo da segunda parte do episódio, em que o gigante conta a sua história de amor e se considera um herói frustrado.
. É um ser que provoca medo e repugnância.
. É uma personificação que provoca medo.
. O terror e a repugnância que suscita vão diminuindo à medida que cresce a força, a coragem e a determinação do homem do leme, cuja heroicidade, na última fala, obnubila o monstro.
. É o Adamastor que se declara um herói vencido pelo amor. A tensão dramática dilui-se bastante, visto que a tensão emocional é transposta do marinheiro para o gigante.
. Expressão caraterizadora: «imundo e grosso».
. Expressão caraterizadora: «horrendo e grosso».
. Maior verosimilhança: a colocação do homem do leme ao serviço de D. João II, pois foi neste reinado que se ultrapassou o Cabo das Tormentas.
. O interlocutor do gigante é Vasco da Gama, ao serviço do rei D. Manuel.
. Texto mais curto, logo mais denso e simbolista, sendo mais importante o que se sugere do que o que se afirma claramente.
. Texto mais extenso e menos denso.


. Conceitos de herói e heroísmo: quer este poema, quer o episódio do Adamastor revelam o espírito aventureiro, a intrepidez e a audácia do povo português.
         Por outro lado, o heroísmo do poema decorre da capacidade de o ser humano dominar e vencer o próprio medo, exemplificada pelo marinheiro.


. Recursos poético-estilísticos

1. Nível fónico
. Estrofes: três estrofes de 9 versos, finalizadas por um refrão.
. Irregularidade:
‑ métrica:
. versos decassílabos;
. versos hexassílabos no refrão;
. outros versos de metro mais curto (6, 8, 9);
‑ rimática:
. esquema rimático: aabaacdcd;
. emparelhada e cruzada, sendo cada terceiro verso das três estrofes um verso branco;
. consoante («mar» / «voar»);
. rica («mar» / «voar») e pobre («chiar» / «entrar»);
. aguda («mar» / «voar») e grave («desvendo» / «tremendo»).
. Ritmo livre, adaptado à emoção patente no poema.
. Refrão: predominam os sons nasais e fechados (ão, un), conferindo ao poema um tom pesado e sombrio. Por outro lado, nele ressoa a força, a vontade férrea inerentes à figura do rei D. João II, e acentua a lealdade inabalável do marinheiro à vontade do rei.
. Harmonia imitativa (onomatopeia) produzida pela repetição dos sons /v/, /s/, /ch/, /r/, /z/ (aliterações), que sugerem o ruído do voo do «mostrengo».
. Aliteração em /m/ no verso 15.
. Ocorrência de outros sons nasais (em) e fechados (ê, ô), que emprestam ao poema o referido tom sombrio, de gravidade, de mau presságio.
. Transporte: vv. 1-2, 5-6, 24-25.

2. Nível morfossintático
. Abundância de formas verbais que sugerem movimentos incontroláveis, violentos, de terror e que emprestam ao poema grande dinamismo. Os tempos verbais predominantes são o pretérito perfeito, predominante na parte narrativa, e o presente do indicativo, usado quase exclusivamente no diálogo entre o «mostrengo» e o marinheiro, contribuindo para a grande força e vivacidade do poema, para o seu valor universal e para o tom épico que culmina na última fala do marinheiro.
. Juntamente com as formas verbais, a abundância de nomes traduz a sucessão incontrolável e dramática dos acontecimentos.
. Os adjetivos são quase inexistentes: «negros», «imundo» e «grosso» (traduzem a noção de mistério e terror).
. Tipos de frase:
‑ declarativo: narração e parte do discurso do «homem do leme»;
‑ interrogativo: discurso do «mostrengo»;
‑ exclamativo: discurso do marinheiro.
. Funções da linguagem: emotiva, fática e apelativa.
. Inversão, assumindo por vezes a violência do hipérbato:
«três vezes rodou imundo e grosso»;
«três vezes do leme as mãos ergueu»;
«E mais que o mostrengo que me a alma teme
  E roda nas trevas do fim do mundo,
  Manda a vontade, que me ata ao leme,
  De El-Rei D. João Segundo!».
. Alternância entre a subordinação e a coordenação (sindética ou assindética), sendo de salientar a frequência da conjunção coordenativa /e/ (polissíndeto).
. Anáfora: «de quem (…) / De quem…» (vv. 10-11); «Três vezes (…) / Três vezes (…) / Três vezes (…)» (vv. 13, 19 e 20).

3. Nível semântico
. Metáforas / imagens:
- «nas minhas cavernas que não desvendo»;
- «meus tetos negros do fim do mundo»: estas duas primeiras sugerem o mistério impenetrável de um local desconhecido e medonho;
- «E escorro os medos»: sugere a ideia de terror, proveniente de algo que constitui uma fonte perene de medo;
‑ «a vontade que me ata ao leme»: expressa a missão do marinheiro, ligada fatalmente à vontade do seu rei e do seu povo.
. Exclamações e interrogações: traduzem a emotividade, quer do «mostrengo» quer do marinheiro.
. A personificação de um ser desconhecido, o «mostrengo» voador, que chia, vê, ouve e fala ameaçadora e aterradoramente, e que corporiza todos os perigos da navegação em mares desconhecidos.
. Reiteração do número 3 e seus múltiplos, um número cabalístico relacionado com as ciências ocultas que remete para um triângulo sagrado, presente em muitas religiões, como a tríade da religião egípcia, a tríade romana, a tríade dos cristãos (Pai, Filho e Espírito Santo); em suma, assume as conotações de um triângulo ou ciclo que se fecha (= perfeição), contribuindo para conferir ao poema um sentido oculto e esotérico:
‑ três estrofes;
‑ cada estrofe tem 9 versos (3 X 3);
‑ o refrão tem 6 sílabas (2 X 3);
‑ o «mostrengo» e o marinheiro falam três vezes cada;
‑ o marinheiro tremeu três vezes, ergueu as mãos do leme três vezes e três vezes as reprendeu ao leme.
. Linguagem visualista para sugerir o ambiente de terror e mistério, fazendo-se apelo às sensações visuais e auditivas.

Análise do poema "O Quinto Império"

         Na 1.ª estrofe, o sujeito poético lamenta a sorte daqueles que vivem felizes. Ela inicia-se com a oposição «triste» / «contente»: na perspetiva do sujeito poético, a alegria do conformista é triste para ele mesmo, já que ignora o prazer que a aventura que se segue ao sonho lhe pode proporcionar em termos pessoais, e é triste para a sociedade de que faz parte pela razão de que sem ideais e sonhos e sem a ousadia de os tentar concretizar, a sociedade não evolui, estagna e torna-se decadente.
         O ato de sonhar acordado leva quem sonha a agir no sentido de buscar outra realidade através da libertação daquela (a rotineira e banal) que conhece, tal como aconteceu com Ícaro, que quis libertar-se da ilha de Creta, onde se encontrava prisioneiro, voando com as asas de penas e cera que os eu pai, Dédalo, construiu para ele. Foi o sonho que impulsionou Ícaro a voar, daí a referência ao «erguer da asa» no verso 3. O mito grego exemplifica o sonhador que ousa pôr em prática os sonhos, chegando a morrer por eles, como Ícaro.
         A referência à lareira onde arde «mais rubra a brasa» relaciona-se com antigos costumes romanos, já que era costume, sempre que os romanos mudavam de cidade, levar parte das brasas que ardiam nas lareiras das suas antigas casas para as novas, para manter viva a ligação à respetiva terra de origem. Assim, a brasa que arde mais intensamente («mais rubra») é um sinal de partida recusado por aquele que está «Contente com o seu lar» e que, portanto, não deseja a mudança.
         O oximoro que inicia a segunda estrofe retoma a ideia que inicia o poema, agora através de uma frase exclamativa que expressa o desdém do sujeito poético face à aceitação da rotina como se de uma atitude positiva se tratasse; deste modo, o sujeito poético desmistifica o conceito de «felicidade» aceite pela sociedade em geral e que assenta na valorização da vida ao nível mais rudimentar ‑ a vida instintiva ou «a lição da raiz». A lição que podemos retirar da raiz é simples: quem vive apenas por viver, sem sonhos e ideais («porque a vida dura» ‑ v. 7) é semelhante a uma raiz: vive como se estivesse sepultado. Os nomes «raiz« e «sepultura» associam-se ao imobilismo e à ausência de vida e de sonho. Por outro lado, a forma verbal «dura» (v. 7) remete para a existência enquanto mero passar do tempo. Assim, quem «Vive porque a vida dura» não a aproveita e limita-se a existir, a sobreviver. Esta aceitação da vida segundo os instintos conduz à morte do indivíduo porque a vida digna de ser vivida é a que é orientada pelos mitos, pelo sonho, pela loucura de sinal positivo (vide poema “D. Sebastião”), pela partida em direção a horizontes desconhecidos, pela vitória sobre o Mostrengo «porque quem passar além do Bojador / Tem que passar além da dor» (“Mar Português”), pela vontade de chegar «lá» custe o que custar, animado pela fé em Deus («Cheio de Deus, não temo o que virá» ‑ “D. Fernando”). O apego ao conforto do lar, ao espaço familiar, o medo do desconhecido, a fraqueza anímica conduzem à «sepultura», pois só a busca da plenitude confere imortalidade.
         Em suma, estamos perante duas posturas do ser humano, pautadas por traços diferenciados:
                   . mediocridade                          . movido pelo sonho, única forma de atingir
                   . conformismo                             a grandeza de alma («erguer da asa»)
                   . rotina                                     . insatisfação permanente
                   . banalidade                              . inquietação
                   . comodismo                              . visão para lá dos limites da condição /
                   . sem sonhos, projetos, ideais        / finitude humana
                   . apatia                                    . a vida só vale a pena ser vivida se
                   . vida sem sobressaltos                  seguirmos os nossos sonhos

         O tempo não pára e as «eras» ou tempos passados «somem», desaparecem e são substituídos por novos tempos, novas eras.
         No terceiro verso da terceira estrofe, um aforismo defende a insatisfação porque ela é o motor da mudança; quem se contenta com o que tem não sente necessidade de mudar, mas esses não são verdadeiramente «homens», porque o que distingue o ser humano dos outros seres é precisamente a capacidade de imaginar, sonhar, lutar por objetivos e ideais. Deste modo, o mundo avança com os descontentes e não com os acomodados. Note-se que este verso é chave, que ocupa a posição de centralidade (12 versos antes e 12 depois) e que remete para uma condição inerente ao próprio homem: o descontentamento. É esta insatisfação constante que faz o progresso, é o seu agente impulsionador. Nos dois versos finais desta estrofe, o sujeito poético deseja que a grandeza de alma domine / cale as «forças cegas» ou forças da natureza (aquilo que nos prende à terra, ao mundo da matéria), de modo a que o homem se liberte da prisão terrena e se vire para uma dimensão transcendente em busca da plenitude existencial.
         Na penúltima estrofe, o sujeito poético alude aos quatro impérios do «ser que sonhou» (Grécia, Roma, Cristandade, Europa), o qual assistirá ao renascimento da idade do ouro, mito grego segundo o qual a humanidade regressará a um tempo de pureza e de imortalidade que a chegada do Quinto Império vai proporcionar. Assim, «A terra será teatro / Do dia claro, que no atro / Da erma noite começou» (vv. 18 a 20), isto é, das trevas da noite deserta e esta escuridão dará lugar à luz ou verdade ou Quinto Império, que resplandecerá de paz e harmonia. Observe-se a antítese presente nos versos 19 e 20, que coloca em confronto o tempo passado e presente («… atro / Da erma noite…») e o tempo futuro («dia claro»), que se anuncia sob a égide espiritual dos portugueses. Depois dos «quatro / Tempos» (vv. 16-17), os quatro impérios considerados por Pessoa, chegará o Quinto Império. Observe-se igualmente a metáfora aí presente, que transmite a profecia de que o mundo assistirá («será teatro») ao nascimento de um novo império («Do dia claro»).
         Os quatro impérios anteriores morreram. Agora, é tempo de ser descontente do presente e perseguir o sonho de construção futura do Quinto Império, o império espiritual que nascerá da procura da verdade. É neste contexto que o sujeito poético interroga: «Quem vem viver a verdade / Que morreu D. Sebastião?». Esta interrogação anuncia o Quinto Império que, sucedendo-se aos quatro anteriores, deles diferirá pela natureza: será o império da «verdade», nascida com a morte de D. Sebastião.

         Relativamente à estrutura interna, sugerem-se duas divisões diferentes do poema:

. 1.ª parte (estrofes 1 e 2) ‑ O sujeito poético lamenta a sorte daqueles que vivem felizes com a mediocridade e faz a apologia do sonho como única forma de aceder a grandes feitos.

. 2.ª parte (estrofe 3) ‑ Reflexão sobre a passagem do tempo e sobre a condição indispensável para ser homem ‑ a insatisfação.

. 3.ª parte (estrofes 4 e 5) ‑ O sujeito poético anuncia, profeticamente, a chegada do Quinto Império.


. 1.ª parte (estrofes 1 a 3) ‑ Reflexão acerca da vivência humana e da importância do sonho.

. 2.ª parte (estrofes 4 e 5) ‑ Anúncio de uma nova época, de um novo império.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

A destruição da Educação


     Tendo em conta, de acordo com as notícias de hoje, que o MEC tem de cortar mais dois mil milhões de euros na área da Educação, é fácil concluir que, em 2014, Portugal, em matéria educativa, estará ao nível pré-democracia.

     É obra, senhor ministro Crato, é obra!

terça-feira, 9 de abril de 2013

'O olho do mundo'


O quadro que escolhi para o meu trabalho, foi o quadro Specchio Falso, pintado pelo autor René Magritte, no ano de 1928.Magritte nasceu em Lessines, Bélgica, no dia 21 de Novembro de 1898, a sua esposa cometeu suicídio por afogamento Em 1916, ingressou na Académie Royale des Beaux-Arts, em Bruxelas, onde estudou por dois anos. Foi durante esse período, que ele conheceu Georgette Berger, com quem se casou em 1922. Trabalhou em uma fábrica de papel de Parede, e foi designer de cartazes e anúncios até 1926, quando um contrato com a Galerie la Centaure, na capital belga, fez da pintura sua principal atividade. Nesse mesmo ano, Magritte produziu sua primeira pintura surrealista Magritte morreu a 15 de Agosto de 1967 (68 anos) em Bruxelas de câncer e foi enterrado no Cemitério Schaarbeek, em Bruxelas.Os seus quadros mais conhecidos são: La trahison des imagens, L'empire des lumiéres, Les fils de l'homme e Cici n'est pas un pomme.
No quadro em primeiro plano esta representado um olho humano "gigante” com as cores azul e branco a sobreporem-se, em primeiro plano também esta representada a pálpebra do olho em tons de castanho. No interior do olho este representado o céu, e as nuvens, que tem como objectivo simbolizar um olhar mais atento sobre o mundo em geral, ou seja, uma outra perspectiva do mundo, também faz parecer com que o mundo pareça um lugar magico, calmo, sossegado, bonito, o paraíso, onde todos os seres humanos e animais querem viver. O céu esta puro, ou seja, sem nuvens sem poluição, isso também quer dizer que o mundo, o céu é puro, limpo, sem nada a esconder. O facto de o céu ser azul representa simboliza a lealdade, a fidelidade, a personalidade e subtiliza. Simboliza também o ideal e o sonho.A parte de fora do olho que esta pintada a castanho tem como objectivo representar a terra, em que todos nos vivemos, quer simbolizar a corda ta Terra, que significa a maturidade, consciência e responsabilidade. Está ainda associada ao conforto, estabilidade, resistência e simplicidade, ou seja, a terra é como se fosse o lugar onde nós conseguimos alguma estabilidade, para a nossa vida. O título do quadro significa o espelho falso, porque ? Pelo facto de o mundo não ser tão bonito como parece no quadro, no quadro parece que o mundo é belo, magnifico, calmo, e na realidade isso não é verdade.
Eu escolhi este quadro pelo facto de apresentar uma perspectiva, embora seja falsa, mas uma perspectiva que todos, nos gostávamos de ter em relação ao mundo e de que fosse verdadeira. Outra das razões pelo facto de ter escolhido este quadro, foi pela pintura em si, que é bonita, interessante, misteriosa. As cores retratadas no quadro, têm significados que se adaptam bem ao que é a vida real, como por exemplo a cor azul é a cor do espirito e do pensamento, que simboliza a lealdade, a fidelidade, a personalidade e subtileza e também o ideal e o sonho que o ser humano possui. Castanho simboliza a consciência, responsabilidade, conforto, entre outros significados, isto é tudo o que a Terra nos dá, e isso esta representado no quadro pela cor da pálpebra do olho.


Bibliografia:
. http://www.artgalleryabc.com/netx90.html;
.  http://www.infopedia.pt/$rene-magritte;
. http://www.infoescola.com/biografias/rene-magritte/.

A.S. 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Manuel

     A primeira personagem a ocupar a cena é Manuel, apresentado na didascália que «informa» sobre as personagens da peça como «o mais consciente dos populares», isto é, o mais esclarecido, traço que é confirmado na cena inicial, onde surge só (monólogo - «única personagem intensamente iluminada, ao centro e à frente do palco»), facto que lhe confere uma importância superior relativamente aos demais populares. Aí, fica claro que a personagem está plenamente consciente da situação que a rodeia, caracterizada pela miséria, pelo medo, pela ignorância, pela repressão, pelo autoritarismo.
     A nível económico-social, a sua indumentária denuncia, desde logo,a pobreza e a miséria, traços que são extensíveis ao resto da classe a que pertence: «Esta personagem está andrajosamente vestida». Por outro lado, a primeira fala, nomeadamente as interrogações, e as suas atitudes revelam a sua impotência para alterar a situação que vive, bem como desânimo e frustração, aliados a um certo conformismo e resignação, resultantes da incapacidade para alterar o status quo («Que posso eu fazer?»), elementos confirmados pela didascália situada na margem da página («A pergunta é acompanhada dum gesto que revela a impotência da personagem perante o problema em causa»). Este estado de espírito é confirmado pelas últimas palavras da personagem no seu monólogo («E enquanto eles andam para trás e para a frente, para a esquerda e para a direita, nós não passamos do mesmo sítio»), as quais esclarecem que o povo é incapaz de fazer algo de significativo para alterar a sua situação, que é imutável, como se pode verificar no início do ato II, paralelo ao do I, ao contrário da dos grupos sociais superiores, conforme é visível na afirmação atrás transcrita. E tudo isto se passa, não obstante a esperança inicial depositada no general Gomes Freire de Andrade.
     Por outro lado, esta fala inicial de Manuel deixa transparecer a noção de uma sociedade profundamente hierarquizada, na qual o povo não tem voz e está sujeito a sucessivos governos e à dependência de outros povos, factos que só acentuam a sua impotência («Vê-se a gente livre dos Franceses, e zás! cai na mão dos Ingleses! E agora? Se acabarmos com os Ingleses, ficamos na mão dos reis do Rossio...»). Neste passo, pela boca da personagem, Sttau Monteiro denuncia o sacrifício do orgulho nacional, vítima das invasões francesas, da opressão dos militares ingleses, representados na peça por Beresford, e da ausência do rei e da corte no Brasil, fugidos precisamente em resultado daquelas. Neste passo, está igualmente resumida a situação histórico-política de Portugal no início do século XIX ao referir-se às invasões francesas e à derrota dos franceses, à intervenção dos ingleses e à governação do país por uma Junta de Regência.
     Em suma, o monólogo inicial de Manuel é marcadamente crítico:
  • traduz o desagrado popular perante o domínio / governo inglês do país;
  • traduz o desagrado popular perante o regime absolutista (os «reis do Rossio»);
  • denuncia a estagnação social das camadas da sociedade mais desprotegias e a incapacidade de evolução;
  • revela a frustração, o desânimo e a impotência que dominam o povo.
     Atente-se, ainda, na posição assumida pela personagem nesta cena: «quase de costas para os espetadores». A intencionalidade é clara: através dela, da posição, Sttau Monteiro procura criar o efeito de distanciação com o público, de modo que este se concentre na ação da peça e não nas emoções da personagem.
     Manuel inicia o ato II, tal como o ato I, com novo monólogo caracterizado pela impotência, pelo desânimo, pelo abatimento e pela falta de esperança após a prisão do general, confirmando assim que ele / o povo não tem condições nem meios para confrontar o Poder e alterar a situação, ainda que a derradeira esperança acabara de ser enclausurada.
     Por outro lado, Manuel volta a confirmar a sua lucidez e clarividência ao afirmar que tem consciência de que o poder militar, representado pelos tambores («Sempre que há uma esperança os tambores abafam-lhe a voz...»), e o poder religioso, representado pelos sinos («Sempre que alguém grita os sinos tocam a rebate...») controlam qualquer tentativa de revolta. O povo vive, pois, oprimido pela força militar e pelo clero que, invocando a necessidade de obediência ao poder divino, mantém a classe amedrontada.
     De seguida, Manuel ensaia o desdobramento em duas personagens: o oprimido miserável que suplica uma esmola e o opressor, que humilha o primeiro com grande arrogância. Este facto acentua a ausência de liberdade, de dignidade humana, a opressão e a injustiça social, temas que perpassam a obra.

domingo, 7 de abril de 2013

Tipos de frase

                Na língua portuguesa, as frases, de acordo com a intenção comunicativa do falante, podem ser classificadas em quatro tipos: declarativo, interrogativo, exclamativo e imperativo.

                1. Frase de tipo declarativo

                A frase declarativa é aquela através da qual o falante enuncia um pensamento, referencia um acontecimento, faz uma asserção, uma afirmação / proposição (de polaridade positiva ou negativa) acerca de uma situação ou uma entidade do mundo real ou possível:
. Eu sou professor de Português.
. O Benfica goleou o Rio Ave.
                Surge associada aos atos ilocutórios assertivos e declarativos.
                No registo oral, a frase declarativa é caraterizada por uma entoação ascendente no seu início e descendente no final. No registo escrito, é assinalada, habitualmente, com ponto final.
                Diz-se que a frase declarativa é não marcada quando os elementos que a constituem obedecem à seguinte ordem: sujeito – verbo – complementos:
. Vi o jogo do Benfica pela televisão.
                Diz-se que é marcada quando não obedece àquela ordem:
. O jogo do Benfica, vi-o na televisão.


                2. Frase de tipo interrogativo

                A frase interrogativa é aquela através da qual o falante formula uma pergunta ou um pedido, visando obter uma informação (1) ou conduzir a uma ação (2):
(1) . Sabes que horas são?
(2) . Passas-me esse livro?
                Surge associada aos atos ilocutórios diretivos, visto que pretende obter uma resposta (verbal ou não verbal) por parte do interlocutor, isto é, leva-o a agir.

                Por outro lado, a frase interrogativa pode ser direta ou indireta.

2.1. Frase interrogativa direta: termina, na escrita, com ponto de interrogação; na oralidade, é caraterizada por uma entoação ascendente.
. A que horas começa o baile?

2.2. Frase interrogativa indireta:
‑ corresponde a uma oração subordinada substantiva completiva;
‑ termina, no registo escrito, com ponto final;
‑ é introduzida por verbos de inquirição como «perguntar», «questionar», «averiguar», «interrogar», «saber», «dizer», etc.;
‑ o verbo de inquirição é, habitualmente, seguido da conjunção completiva “se”:
. Ele perguntou-lhe a que horas começava o baile.
. Perguntou-lhe se sabia as horas.

                A frase interrogativa pode ainda classificar-se como total ou parcial, de acordo com a resposta que se pretende com a pergunta.

2.3. Frase interrogativa total:
‑ é aquela em que o falante pretende obter uma resposta afirmativa ou negativa, isto é, de tipo sim / não;
‑ não é introduzida por nenhum elemento interrogativo;
‑ as respostas podem ser constituídas apenas pelo verbo ou por advérbios;
‑ no registo oral, é marcada por uma entoação ascendente:
. A Madalena canta mal, não canta?
Sim. OU
Muitíssimo! OU
Pessimamente!

2.4. Frase interrogativa parcial:
‑ a interrogação incide apenas sobre um dos constituintes da frase;
‑ é iniciada por um elemento interrogativo (pronome, determinante, quantificador ou advérbio interrogativo);
‑ quando iniciada por um elemento interrogativo, apresenta ordem derivada ou inversa relativamente à ordem normal (S – V – C), podendo o elemento interrogativo ocorrer em diferentes posições:
. Quem marcou os golos do Benfica?
‑ O Cardozo e o Lima.
. Quantas namoradas tiveste ao longo da vida?
‑ Perdi-lhe a conta.
. Onde viste o futebol?
‑ No café.
. Viste o futebol onde?
‑ No café.
. Que respondeste à segunda pergunta do teste?
‑ Nada.

NOTA: Na segunda e na quinta frases, o elemento interrogativo desempenha a função sintática de complemento direto.


                3. Frase de tipo exclamativo

                A frase exclamativa é utilizada para exprimir emoções ou sentimentos, estados de espírito ou opiniões (entusiasmo, alegria, surpresa, tristeza, euforia, angústia, desespero, admiração, etc.).
                Surge associada aos atos ilocutórios expressivos.
                No registo escrito, termina por um ponto de exclamação, enquanto, na oralidade, é caraterizada por uma entoação de intensidade prolongada que pode recair sobre toda a frase ou apenas sobre um dos seus constituintes.
                Pode ser constituída por
. uma frase: És um anjo!
. uma expressão: Pobre de mim!
. uma só palavra (interjeição ou onomatopeia): Bravo!; Pam!

                À semelhança da frase interrogativa, também a exclamativa pode ser classificada em função do foco da exclamativa:

3.1. Frase exclamativa total: a exclamação incide sobre a totalidade da frase:
. Cumpri sempre o meu dever!

3.2. Frase exclamativa parcial: a exclamação recai sobre um dos elementos da frase:
. A tua namorada é liiiiiiiinda!

                Por outro lado, a frase exclamativa pode ser marcada de diversas formas:

1. Por elementos prosódicos:
Sofia, és um amor!
A paisagem duriense é fantástica!

2. Por expressões específicas:

i) Expressão «é que» ou semelhante:
Tu é que és tonta!

ii) Anteposição de um constituinte:
Que livro magnífico!
Muitos golos marca o Messi!
Linda figura fizeste no exame!
Tanta gente desgraçada que eu fiz!

iii) Conjunção condicional «se», seguida de verbo no modo conjuntivo:
Ainda se Miguel Relvas fosse inteligente!

iv) Advérbio «não» com valor expletivo, isto é, usado para reforçar uma afirmação:
Diz-me lá se o Relvas não fez um discurso patético!

v) Marcadores de quantidade ou grau:
A Kim Basinger era tão sensual!

                Frequentemente, a frase exclamativa pode apresentar características sintáticas que, juntamente com marcas prosódicas (como a intensidade), evidenciam algum constituinte da frase:

. Inversão do sujeito: Que bom é o pão que o Senhor nos dá!

. Expressões quantificadores no início da frase: Muitos livros lês tu!


4. Frase de tipo imperativo

                A frase imperativa é aquela através da qual o locutor expressa uma ordem, faz um pedido, dá um conselho, faz uma proibição, uma proposta, uma sugestão.
                Realiza frequentemente atos ilocutórios diretivos.
                Neste tipo de frases, os verbos encontram-se, maioritariamente, nos modos imperativo e conjuntivo, mas podem também surgir no modo indicativo e nas formas não finitas (gerúndio, infinitivo e particípio passado):
Fecha a janela, João!
Limpem o chão, meninos!
Calou!
Andando!
Calar!
Calado!
                No registo escrito, a frase imperativa termina, normalmente, com ponto de exclamação, enquanto, no registo oral, é caracterizada por uma entoação descendente.
                Além disso, contrariamente aos demais tipos, a frase imperativa ocorre apenas na forma ativa:
Fecha a janela, João!
Limpem o chão, meninos!

sexta-feira, 29 de março de 2013

As vantagens e desvantagens do 'Facebook'

     «Isto do Facebook é uma coisa porreira ! Sobretudo para os que conseguem ter muitos Amigos "virtuais". Passo a explicar: imaginemos que um cidadão mediano, como eu, está a ficar com o automóvel nas lonas (é quase o caso). Chega aqui, e pergunta: "quem é que me arranja um automóvel por um preço gentil, capaz de levar a minha carcaça às compras, trazendo-a para casa sem dano?". E logo aparece um Amigo, consciente e consciencioso, a dizer: "Tenho eu um carrinho para si, por um preço simpático". Imaginemos que um pagador de impostos , como eu, deseja deslumbrar um Amigo com uma refeição "acima de qualquer suspeita". Chega aqui e pergunta: "Onde é que se come a melhor posta mirandesa"? E logo, logo, aparece uma Amiga e diz: " No Restaurante tal, com uma óptima relação preço-qualidade". Imaginemos que um votante, chega aqui e pergunta: "Onde é que se arranja um Presidente da República que, finalmente, não nos envergonhe continuamente?". Bom, aí faz-se um longo, longo, longo silêncio e as respostas que chegam são todas reticentes, ratadas, cheias de hiatos. Conclusão: é muito mais fácil comprar um automóvel e comer uma sensacional posta mirandesa do que arranjar um PR que se cheire. Como diria La Palisse, né?»

Professor Amadeu Homem

quinta-feira, 28 de março de 2013

Semana Académica - Viseu 2013 - Cartaz


O analfabetismo funcional de um «dux veteranorum» e não só


     O exercício é simples: enumerar os erros de português que se podem encontrar nos escritos (?) dos dois representantes do ensino superior viseense: o presidente da Direção da Federação Académica e o «Dux Veteranorum».

     O exercício será realizado na caixa de comentários deste «post» e a data de conclusão do mesmo será o dia 5 de abril, pelas 23 horas e 59 minutos.

     Para não cansar ninguém neste início de período, ainda no rescaldo da «viagem das nossas vidas», basta apontar cinco erritos.

ADENDA:

1.º) A ideia é que apontem o erro em concreto e que depois o corrijam.

2.º) As respostas serão, entretanto, «escondidas», para evitar a «colagem». Quando o exercício estiver completo, voltarão a aparecer.

"Portugal em queda"

«Habituados como estamos às más notícias já nem reagimos quando surge mais uma. A notícia vinda das Nações Unidas devia ter provocado ondas de choque, mas deixou-nos indiferentes. No relatório que acaba de ser publicado, baseado em dados de 2012, Portugal caiu dois lugares no Índice de Desenvolvimento Humano, estando agora na modesta 43.ª posição, na cauda da primeira liga e quase a ser despromovido para a segunda. Essa queda soma-se às quedas dos anos anteriores: no relatório de 2011 tínhamos caído um lugar e no de 2010 tínhamos caído seis lugares. Já basta de tanto cair!

O referido índice classifica os países com base não apenas na riqueza, medida pelo PIB, mas também na saúde, medida pela esperança média de vida, e na educação, medida pelo número de anos na escola. Se o PIB português está dolorosamente a cair (segundo os cálculos das Nações Unidas, está a descer desde 2007, estando hoje abaixo do valor de 2000), o progresso na longevidade é apenas ligeiro (actualmente a esperança média de vida é de 79,7 anos) enquanto na escolaridade há estagnação (nuns confrangedores 7,7 anos de escolaridade média na população adulta). No global, e devido ao declínio económico, o nosso índice está desde o início desta década praticamente imóvel após décadas de crescimento. E, em contraste connosco, a maior parte dos países estão a desenvolver-se, alguns ultrapassando-nos. O relatório chama precisamente a atenção para a acentuada subida de numerosos países, principalmente do hemisfério sul. Em todo o mundo, os “campeões” da descida, em valor absoluto, são a Grécia e a Líbia, com Portugal logo a seguir, com quedas semelhantes às de Chipre, Barbados, Zimbabwe e Madagáscar. Repito para que conste: à escala planetária, em 186 países há apenas sete nações a descer e a portuguesa é uma delas.

Quem são os responsáveis? A principal culpa é, obviamente, dos maus governos que temos tido. Os professores Daron Acemoglu e James Robinson, do MIT e de Harvard respectivamente, no seu livro “Porque Falham as Nações” (Temas e Debates, 2013) informam-nos, com abundantes e eloquentes exemplos, que a falta de prosperidade dos países não tem a ver nem com a geografia nem com a cultura, mas sim com o funcionamento das instituições políticas. Os nossos “anos perdidos” no passado recente não eram uma fatalidade, atribuível à nossa situação no mundo ou à nossa particular tradição, mas sim uma consequência dos nossos erros políticos e económicos. Acrescem, claro, os erros alheios, pois a Europa não está bem: vão longe as expectativas de crescimento da Estratégia de Lisboa no ano 2000.

Os governos que elegemos nos últimos anos têm rostos. Independentemente das responsabilidades que não são poucas dos governos anteriores (António Guterres já assumiu uma quota parte), elas são de José Sócrates, que governou de 2005 a 2011, e de Pedro Passos Coelho, que governa desde 2011. O primeiro – os números não enganam – governou mal e o segundo – os números voltam a não enganar - está a governar mal. Não interessam nesta altura a não ser ao próprio as justificações de Sócrates em penosas prédicas televisivas. Ele já foi afastado por eleições de um modo claro. Uma vez que o governo anterior já foi mudado, resta-nos mudar o actual governo. As próximas eleições autárquicas vão ter uma leitura política nacional, ao revelar nas urnas a grande angústia das pessoas. E, como Passos Coelho já afirmou querer que se “lixem as eleições”, será provavelmente feita a sua vontade nas legislativas de 2015, que ele com grande antecedência já vê perdidas.

Poderá Passos Coelho fazer alguma coisa para evitar a sua queda, que decorre da queda do país? Sim, pode ainda mudar alguns dos seus ministros e secretários de estado. Não podendo alterar a troika externa, que nos manieta a todos, pode mexer nessa troikainterna que o assessora, formada pelo inefável Miguel Relvas, pelo desacreditado Vítor Gaspar e pelo desorientado Carlos Moedas. Sendo Passos Coelho político desde que nasceu, deveria saber que está a ser arrastado para  mais fundo pelos seus colaboradores mais próximos. Neste momento, os seus eleitores não estão com ele, o seu partido dificilmente está com ele (é público e notório que os “barões” não estão, multiplicando-se em comentários televisivos) e o seu parceiro de coligação só finge que está com ele (Paulo Portas, matreiro, deixa que os outros digam o que ele pensa).

E a oposição? Que diz António José Seguro? Se não há confiança no governo, menos há na oposição. O líder da oposição vê o país em queda, vê o governo em queda e nada mais lhe ocorre do que esperar que um e outro caiam mais. Não oferece solução nenhuma. Eleições agora para quê? Não esqueçamos, como mostram os dados das Nações Unidas, que a queda do país não é de hoje e que o maior partido da oposição é co-responsável por ela.»

Prof. Carlos Fiolhais, in Público de 27 de março de 2013

segunda-feira, 25 de março de 2013

Da inteligência

          Inteligências há poucas.
          Quase sempre as violências
          nascem das cabeças ocas
          por medo às inteligências.

                                                   António Aleixo

Viagens de finalistas


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