Português

domingo, 17 de abril de 2016

sexta-feira, 11 de março de 2016

Estudo sobre a indisciplina

     O sítio ComRegras divulgou um estudo sobre a indisciplina que apresenta dados muito interessantes sobre a evolução da (in)disciplina nas nossas escolas.
     É um estudo (muito) parcelar, mas não deixa de ter uma grande relevância pelos elementos que revela. Curioso é que esta tarefa deveria caber ao MEC, pois é quem dispõe de 'todos' os dados sobre as escolas e agrupamentos do país.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Dois milhões de 'pageviews'


'Oscar' para ENNIO MORRICONE


     Não foi por Once upon a time in the West, obviamente, mas serve para ilustrar a excecional obra do maestro italiano no que a bandas sonoras diz respeito.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Distinção entre complemento oblíquo e modificador do grupo verbal

1. Complemento oblíquo
● É essencial, por isso não pode ser eliminado, visto que a frase perde o seu sentido.
- A Maria habita em Lisboa.
- * A Maria habita.
● É exigido (pedido) pelo verbo, constituindo com ele uma unidade e ocupando, normalmente, um lugar fixo na frase.
- * A Maria em Lisboa habita.
● Faz parte do predicado.
- A Maria habita em Lisboa.
predicado
● Não pode ser substituído pelo pronomes pessoais lhe e o.
- A Maria habita em Lisboa.
- * A Maria habita-o.
- * A Maria mora-lhe.
● Não é possível interrogá-lo e obter o verbo como resposta.
- A Maria habita em Lisboa.
- Que faz a Maria em Lisboa?
- * Habita.

2. Modificador do grupo verbal
● Pode ser eliminado, sem que a frase fique incompleta.
- Em 1984, Carlos Lopes ganhou a medalha de ouro em Los Angeles.
- Carlos Lopes ganhou a medalha de ouro.
● Não é exigido pelo verbo, mas acrescenta informações acessórias (de tempo, lugar, modo, causa, fim).
- Em 1984, Carlos Lopes ganhou a medalha de ouro em Los Angeles.
ideia de tempo                                                    ideia de lugar
● Faz parte do predicado.
● Não tem lugar fixo na frase, pelo que pode surgir separado do predicado.
● É possível interrogá-lo (Que fez sujeito + modificador?), obtendo o verbo como resposta.
- Que fez Carlos Lopes em 1988?
- Ganhou a medalha de ouro.
- Que fez Carlos Lopes em Los Angeles?
- Ganhou a medalha de ouro.


Distinção entre modificador do grupo verbal e da frase


● O modificador do grupo verbal pode ocorrer com a estrutura É + modificador do GV + que + sujeito + GV.
- Ele chegou de Marte ontem.
- Foi ontem que ele chegou.
- A Maria casa no sábado.
- É no sábado que a Maria casa.

● O modificador da frase não suporta tal construção.
- Lamentavelmente, Jorge Jesus é um bronco.
- * É lamentavelmente que Jorge Jesus é um bronco.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Análise da cantiga "Pois nossas madres vam a San Simon"

· Pré-abordagem do texto: distinção entre autor e eu lírico, entre ouvinte e destinatário.
            O autor é aquele que escreve o texto, o eu lírico ou sujeito poético é a entidade que se expressa no texto. Ouvinte é aquele que lê / ouve o texto, destinatário é aquele a quem o texto é dirigido.


· Assunto: o sujeito poético (a donzela) convida as amigas a bailarem em San Simon de Val de Prados para atrair os amigos, enquanto as mães, que aquelas acompanham numa romaria, acendem velas e fazem promessas.


· Tema: o amor, metaforizado pelo baile e interligado à religiosidade do homem medieval.


· Estrutura interna

Personagens:    Mães                              Donzelas                             Amigos
ß                                       ß                                         ß
                        "candeas queimar"     "bailaremos i"                     "por cousir"

Atitudes  ® cumprir promessas ¾¾® divertir-se, bailar ¾® divertir-se e observar
e rezar                                    e encontrar-se com      as donzelas
                                                                        os amigos
                                   ¯                                                       ¯                          ¯
                        objetivo religioso                                      objetivos profanos


· Caráter narrativo:
. ação ® ida de um grupo de donzelas, acompanhadas pelas suas mães, a uma romaria, que funciona como pretexto para dançarem e se ²mostrarem² aos seus amigos;

. personagens e sua caracterização:
- donzelas  -  temperamento juvenil:
- traquinas;
- sedutoras ("Nossos amigos iram por cousir / como bailamos..."), sensuais e provocantes (“en cós”);
- matreiras;
- irreverentes em relação à atitude das mães e à religião (refrão);
- irónicas;
- orgulhosas e exibicionistas da sua beleza física;
- alegres;
- entusiasmadas;
- garridas e felizes;
- belas (“fremosas”, “de bom parecer”);
- sensuais e provocantes ("en cós");

. motivações das personagens:
- amigos:
. apreciar a beleza e a graciosidade das meninas;
. escolher um par amoroso (“iran por cousir”);
- mães: peregrinação e devoção;
- donzelas: bailar diante dos namorados para os seduzir, daí dançarem “en cós”, isto é, sem manto, de modo a que as suas formas feminis possam ser apreciadas por eles;

. relação entre as donzelas e os amigos: cumplicidade e confidência, visível nos versos iniciais da 2.ª estrofe;

. espaço ® "San Simon de Val de Prados" (Galiza), local da romaria / peregrinação;

. tempo ® presente, com ideia de futuridade.

            A romaria aparece-nos, nesta composição, no seu duplo aspecto: lúdico e religioso (como as romarias actuais).


· Classificação

            . Cantiga de amigo: composição poética do género lírico, cujo sujeito é uma donzela do povo que exprime a sua vida amorosa, os seus sentimentos, em relação ao amigo, duma forma simples, num ambiente rural ou familiar.

a) Quanto ao tema: romaria (cantiga em que há referência explícita a uma peregrinação religiosa) e bailia (cantiga em que há referências ao baile).

b) Quanto à forma: cantiga de refrão (dístico).


· Características orais / populares da cantiga:
            -» tema (ida à romaria);
            -» forma (linguagem repetitiva e refrão).


· Recursos estilísticos e linguísticos

1.º) Nível fónico
                        3 coblas (quadra + refrão dístico)
. Estrofes        isomórficas: 4 + 2 versos;
singulares: as rimas mudam de estrofe para estrofe;
isométricas: mesmo número de sílabas métricas.
. Métrica        ® versos decassílabos;
                        ® acentos dominantes: 4.ª e 10.ª sílabas.
esquema rimático: ABBACC / DEEDCC / FGGFCC;
tipo: interpolada e emparelhada;
natureza: masculina ou aguda ("Simion" / "enton");
. Rima    qualidade: consoante ("Simion" / "enton");
rica ("Simion" / "enton") e pobre ("queimar" / "andar");
refrão: monórrimo.
. Ritmo binário, apropriado ao canto e à dança.
. Aliterações: "candeas queimar"; "queimem candeas, por nós e por si"; em v e b (vv. 14-15).
. Transporte: vv. 1-2, 3-4, 4-5, 7-8, 8-9, 10-11, 13-14, 14-15, 16-17.
                        dístico;
. Refrão          monórrimo;
profundamente irónico, estabelecendo o contraste entre os objectivos/comportamento das donzelas e das mães: à devoção destas contrapõem-se a alegria e o entusiasmo das donzelas por verem os seus amigos.
alternância de sons abertos e fechados;
. Musicalidade    predomínio de sons agudos;
aliterações suaves;
alternância de monossílabos e polissílabos.
. Assonância: alternância ô, á, ó, i.

            Em síntese, as características fónicas adaptam-se à expressão de uma mensagem alegre, num texto destinado a ser cantado e dançado.


2.º) Nível morfossintáctico
. Substantivos: madres, San Simon, Val de Prados, candeas, meninhas, amigos, cós, moças, parecer constituem um vocabulário popular e conferem ao poema um tom ou colorido epocal;
                               parecer: é vulgar, na poesia trovadoresca, o uso do infinitivo "parecer" como substantivo: o "bon parecer" das moças, ou seja, a sua beleza;
                               meninhas: as donzelas das cantigas de amigo.
. Adjectivos: fremosas, bom são adjectivos ligados ao "bon parecer" das donzelas. Os substantivos e os adjectivos têm como objectivo vincar e exaltar a beleza das donzelas, o fulcro e a razão do amor. Se o trovador coloca o texto na boca da donzela, a verdade é que esta é uma forma de o trovador exprimir, indirectamente, a sua admiração e o seu amor pela mulher;
                          fremosas, bon parecer: elegantes, formosas, que despertam o amor (intenção: vincar a beleza das donzelas).
. Pronomes: nossas, nós, si, nossos, eles, elas, todos, e os
. Advérbios: i, lá, enton, ant', alá, mui, conferem à cantiga um tom popular.
. Verbos: o uso dos modos e tempos verbais confere à cantiga cor epocal.
                        Logo no primeiro verso utiliza-se o presente "vam" com o valor de futuro ("irão"), porque se pretende apresentar o facto como certo: as donzelas vão, ou seja, estão já a ir. É esta certeza que dá às moças a oportunidade de irem à romaria, de aí dançarem e serem observadas, e consequentemente atraírem, pelos amigos (ex.: o emprego do futuro "iran", andaremos nós bailando"). Porém, como as donzelas anteviam essa hipótese futura como uma certeza presente, surge de novo o presente com valor de futuro, na terceira estrofe ("bailamos", "podem veer"). Atente-se ainda no valor exortativo do modo conjuntivo: "punhemos d'andar", "queimem", e da perifrástica ("punhemos d'andar") a sugerir o movimento.
            De notar ainda que quer os verbos quer os substantivos traduzem acção e objectividade.
. Frases       - tipo: declarativo;
                   - construção oracional ® hipotaxe
                                                        ® parataxe (o predomínio da parataxe – coordenação - sobre a hipotaxe (subordinação) é também uma marca de linguagem popular e arcai a:
® hipotaxe:        "Pois nossas madres vam a San Simon"; "pois que alá vam", "pois que lá querem ir". Note-se a expressividade especial da primeira oração causal a preceder a subordinante e a iniciar a cantiga: é permitida a folia, porque as mães vão à romaria;
® parataxe:        "e elas entom / queimem candeas por nós e por si";
                            "e nós, meninhas, bailaremos i";
                            "e andaremos nós, fremosas em cós";
                            "e podem veer bailar moças de mui bem parecer".
. Polissíndeto: "e elas enton queimem", "e nós meninhas bailaremis i", para salientar a sucessão de ações interdependentes.
. Poliptoto: a variação de formas do verbo "bailar" ("bailaremos", "bailando", "bailamos", "bailar"), evidenciando a ação principal - o divertimento das donzelas.
. Paralelismo semântico (repetição das mesmas ideias através de palavras diferentes) entre as duas últimas estrofes acentua a diferente mundividência das meninas e das mães.
. Paralelismo estrutural (em todo o texto) reflecte o carácter primitivo e espontâneo do lirismo trovadores.


3.º) Nível semântico
. Iteração (paralelismo vocabular): "nossas madres", "nossos amigos", "nossas madres", "nossos amigos", para realçar os intervenientes na romaria. Por outro lado, a repetição das palavras revela a situação de formação da língua, com um vocabulário ainda pouco desenvolvido.
. Ironia: "queimem candeas por nós e por si", deixando transparecer um tom de velhacaria, que deixa vincadas as diferentes atitudes das donzelas e das suas mães – elas vão para atraírem os amigos e não para rezar, o propósito das mães, as quais, já que fazem questão de ir à romaria (v. 16), assumirão os deveres das filhas.
. Metáfora: "candeas queimar" ¾¾ cumprir promessas ¾¾ religiosidade.
. Apóstrofe: "e nós, meninhas, bailaremos i".
. Metonímia: "queimem candeas" ® o efeito está em vez da causa, pois a expressão remete para "satisfaçam as promessas".
. Gradação na forma como são sugeridos os objectivos das meninas: bailar (1.ª estr.) ® perante os namorados (2.ª estr.) ® que vão para ver como elas bailam e são belas.
. Visualismo, sugeridos pelo verbo ver.


· Valor documental

            É quase sempre na romaria, junto do santuário, que a entrevista amorosa se realiza, é lá que as habilidades coreográficas, os vestidos novos se exibem. Como ainda hoje acontece frequentemente, a devoção pelo santo é inferior à obsessão amorosa.
            É de 53 o número de cantigas de romaria que nos restam hoje, número relativamente avultado, mas que muito maior seria se tivesse chegado até nós toda a produção trovadoresca e jogralesca. A nossa cantiga de peregrinação reveste formas variadas, que vão desde a forma simples e emotiva da prece pura até ao gracejo do tema, à deformação parodística. O primeiro tipo está representado na cantiga de Martim de Ginzo: a moça dispõe-se a ir à capela de Santa Cecília orar pelo amigo que foi para a guerra. A forma parodística é-nos dada por esta cantiga: devoção alegre e um pouco fingida, que encomendava às mães a parte séria da romaria e deixava às meninas o vagar de dançarem no adro, em cós, perante os namorados.
            De qualquer forma e qualquer que seja a variedade da cantiga de romaria, encontramos nela em geral entrelaçados dois motivos fundamentais: o motivo religioso, próximo ou distante, sincero ou travesso, e o motivo da ausência do namorado, que tinha ido lutar com os Mouros, em defesa da terra. Sob este aspecto, o lirismo galego-português é, como nenhum outro, a perfeita tradução poética duma realidade social.
            Por outro lado, a cantiga sugere o conflito intergeracional. De facto, as figuras possuem diferentes interesses, pertencem a gerações diferentes, apresentam percursos de vida igualmente diferentes, por isso assumem comportamentos distintos, no fundo, olhares e expectativas díspares relativamente ao mundo. Nos nossos dias, a situação não é diferente.


· Influências provençais:
Þ paralelismo rudimentar e imperfeito (o 4.º verso de todas as estrofes e o 1.º da segunda e terceira estrofes): a redução ou anulação total do paralelismo é influência das cantigas de amor, pois era de mestria a poesia provençal;
Þ o vocábulo "cós", que veio do provençal "cors", que, por sua vez, veio do latim "corpus".


· Valor simbólico do baile: convite ao amor (exposição das formas do corpo feminino), sedução e namoro.
            Na romaria, o ambiente profano de festa associa-se à música e à dança. As donzelas assumem, sem rodeios, que os amigos irão à romaria para as verem dançar, constituindo a dança / o baile a sua forma de afirmação de beleza e sedução.


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