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segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Carta a Adolfo Casais Monteiro sobre a génese dos heterónimos


Carta a Adolfo Casais Monteiro

1. A partir da leitura da carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, complete o esquema apresentado.

Heterónimos
Fernando Pessoa
Alberto Caeiro
Ricardo Reis
Álvaro de Campos
Nascimento
(local e data)
. 1888
. Lisboa
.
.
. morreu em
.
.
.
.
Formação académica
. Durban High School
. Frequência do Curso Superior de Letras de Lisboa
.
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.
.
.
.
Profissão
. Tradutor
. Escritor
.
.
.
Características físicas
. Estatura média
. Cabelo preto
. Bigode
. 1, 73 m (mede menos 2 cm do que Álvaro de Campos)
.
.
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.
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.
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.
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.
Características da escrita
. Escreve bem o inglês e o português
.
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.
Obra
. Mensagem
. Escritos diversos
.
.
.
Surgimento
. Poesia e escritos diversos
.
.


.

2. Assinale as opções verdadeiras (V) ou falsas, de acordo com o texto.
a) Fernando Pessoa afirma na carta que a tendência para criar seres imaginários começou na infância. _____
b) O mundo ficcionado é radicalmente diferente do mundo real. _____
c) Com o passar do tempo, os amigos inventados desapareceram todos da memória do seu criador. _____
d) Pessoa não tem a certeza absoluta de que foi em 1912 que esboçou Ricardo Reis. _____
e) Na noite em que afirma ter criado os três heterónimos, Pessoa não conseguiu escrever em seu próprio nome. _____
f) Os heterónimos foram criados em relação uns com os outros. _____
g) Alberto Caeiro impôs-se naturalmente como Mestre do seu criador. _____
h) Álvaro de Campos foi uma criação inspirada em Ricardo Reis. _____
i) Segundo Fernando Pessoa, ainda prevalece a sensação de autonomização dos heterónimos que sentiu quando os criou. _____
j) Fernando Pessoa inventou uma fisionomia e uma biografia para cada um dos heterónimos. _____
k) Fernando Pessoa explica ser sempre racional a vontade que o leva a escrever em nome de um ou outro heterónimo. _____
l) Bernardo Soares é um semi-heterónimo que, segundo Pessoa, tem semelhanças com Alberto Caeiro e com o próprio Pessoa. _____
m) Pessoa afirma que lhe é mais fácil escrever poesia do que prosa, em nome dos heterónimos. _____

2.1. Corrija as afirmações falsas.

sábado, 9 de novembro de 2019

Os vícios dos peixes em particular

Capítulo V

Peixe
Roncador
Repreensões
. É pequeno, mas quer parecer grande, por isso ronca muito.
Argumentação
. Quer parecer maior e mais importante do que aquilo que é;
. quando tem de agir, acobarda-se.
Exemplos - Confirmação
. S. Pedro: afirmou estar disposto a morrer por Cristo, mas negou-o; prometeu ficar acordado e vigilante, mas adormeceu durante a vigia;
. Golias: soldado gigante filisteu, que muito se gabava da sua invencibilidade, mas foi vencido por um pequeno pastor, David, com um cajado e uma funda;
. Caifás: roncava de saber;
. Pilatos: roncava de poder.
Castigo
. Deus abate e humilha os que roncam.
Alegoria
. Presunção, arrogância, soberba e orgulho.
Provérbio
. “Presunção e água benta, cada um toma a que quer.”
. “As obras falam, as palavras calam.”
Atualidade/
Anacronismo
. Atualidade: figuras públicas, políticos…
Contraste com S. António
. “o verdadeiro conselho é calar, e imitar a S. António”;
. tinha muito saber e poder, mas não se vangloriava disso.

Peixe
Pegador
Repreensões
. Pequeno, pega-se ao maior;
. vive do maior de forma parasitária.
Argumentação
. Vive como parasita, alimentando-se e fazendo-se carregar pelo peixe maior;
. se algum dos peixes maiores morre, o pegador morre com ele.
Semelhanças com os homens
. Aprendeu o seu estilo de vida com os homens, nomeadamente os portugueses;
. os mais inteligentes despegam-se dos peixes maiores e continuam a sua vida; os mais ignorantes têm o mesmo fim dos maiores.
Exemplos - Confirmação
. Bajuladores dos poderosos, como o vice-rei ou o governador;
. Herodes: quando morreu, morreram com ele todos os seus pegadores;
. Tubarão: tem os seus pegadores que, quando morre, morrem com ele;
. Pegadores de Deus (David e S. António);
. Adão e Eva: comeram o fruto proibido e conduziram todos os humanos à mortalidade.
Alegoria
. Parasitismo, oportunismo e preguiça.
Provérbio
. “Anda meio mundo a enganar outro.”
. “Amigo disfarçado, amigo dobrado.”
Atualidade/
Anacronismo
. Atualidade: comitivas políticas; “amigos interesseiros; cargos políticos ou administrativos…
Contraste com S. António
. “António também se fez Menor, para se pegar mais a Deus” = Santo António “pegou-se” a Cristo, seguindo as suas palavras, a sua doutrina.

Peixe
Voador
Repreensões
. Usa os seus dotes naturais para se exibir;
. é peixe, mas também quer ser ave;
. possui grandes barbatanas e salta para fora da água como se voasse.
Argumentação
. Sendo peixe, quer ser ave;
. por isso, sofre os perigos dos dois elementos, o que o leva à morte.
Exemplos - Confirmação
. Simão Mago: ambicionava subir ao céu, fingindo ser filho de Deus, avisou toda a gente de Roma para que o admirassem e voou muito alto, mas caiu e morreu perante o olhar de todos;
. Ícaro: voou com asas de cera, mas foi demasiadamente ambicioso e aproximou-se do Sol; a cera derreteu e ele caiu no mar, morrendo.
Alegoria
. Ambição, vaidade, ostentação, presunção.
Provérbio
. “Quem tudo quer tudo perde”.
. “Quanto mais alto se sobe, maior é a queda.”
Atualidade/
Anacronismo
. Atualidade: pessoas que não olham a meios para atingir os fins; pessoas que vivem acima das suas posses…
Contraste com S. António
. “Não estendeu as asas para subir, encolheu-as para descer.”
. Foram-lhe dadas duas asas (a sabedoria natural e o poder da palavra), mas ele usou-as com humildade e comedimento e não com vaidade e ambição.

Peixe
Polvo
Repreensões
. Usa as suas defesas para trair as suas presas.
Argumentação
. Parece brando inofensivo;
. no entanto, ataca as suas vítimas de forma traiçoeira e sem escrúpulos.
Exemplos - Confirmação
. Judas, o símbolo da traição entre os homens, é menos traidor do que o polvo;
. Camaleão: muda de cor por «gala», por solenidade; é um artifício de defesa;
. Proteu: metamorfoseia-se por defesa, para escapar dos que o perseguem
Alegoria
. Traição, falsidade.
Provérbio
. “Trair e comer é só começar.”
. “Obra de vilão, deitar pedra e esconder a mão.”
Atualidade/
Anacronismo
. Todos os que parecem honestos e de confiança, mas são falsos.
Contraste com S. António
. “Mas ponde os olhos em António vosso Pregador, e vereis nele o mais puro exemplar da candura, da sinceridade, e da verdade, onde nunca houve dolo, fingimento ou engano.”


Chumbos


Análise do capítulo VI do Sermão de Santo António aos Peixes

PERORAÇÃO


Última advertência aos peixes: a sua exclusão dos sacrifícios consagrados a Deus.

§  Razões: nos sacrifícios rituais, só podem ser sacrificados animais vivos e os peixes chegariam mortos ao altar, «... e cousa morta não quer Deus que se lhe ofereça, nem chegue aos seus altares...».

§  Comparação peixes / homens: tal como os peixes os homens chegam ao altar mortos, ou seja, em pecado mortal crítica aos cristãos, acusados de desrespeitarem Deus.

§  Lado positivo da questão: «... melhor é não chegar ao sacrifício, que chegar morto...».


Autocrítica: auto-retrato do Padre Vieira como pecador
§  Melhor fora ser como os peixes e não tomar Deus nas suas mãos, no altar, porque não consegue cumprir verdadeiramente a sua missão de pregador.

§  Exemplo dos peixes:
Eu
. «falo»
. «lembro-me»
. «discorro»
. «quero»
não cumpre a missão que Deus lhe confiou, que é servir a Deus

Peixes
. não ofendem a Deus com palavras
. nem com a memória
. nem com o entendimento
. nem com a vontade
cumprem o destino que Deus lhes reservou, que é servir o Homem
ß
Conclusão a condição irracional dos peixes é preferível à sua racionalidade.


Hino de louvor a Deus: «Louvai, peixes, a Deus, os grandes e os pequenos...»
‑ «porque vos criou em tanto número
‑ que vos distinguiu em tantas espécies;
‑ que vos vestiu de tanta variedade e formosura;
‑ que vos habilitou de todos os instrumentos necessários para a vida;
‑ que vos deu um elemento tão largo e tão puro;
‑ que, vindo a este mundo, viveu entre nós, e chamou para si aqueles que convosco e de vós viviam;
‑ que vos sustenta;
‑ que vos conserva;
‑ que vos multiplica;
‑ enfim, servindo e sustentando ao homem, que é o fim para que vos criou.»


Proibido ser ignorante!


Intenção persuasiva e exemplaridade do Sermão de Santo António

1. Persuasão

O que significa persuadir?

            Persuadir significa convencer, mover, aconselhar.

Como se persuade alguém?

            Para persuadir alguém, é necessário que o discurso seja fundamentado em exemplos reconhecidos como válidos e verdadeiros e que o orador capte a atenção e o interesse do auditório durante a pregação.

O Sermão de Santo António (aos Peixes) é um texto com intenção persuasiva?

            O padre António Vieira, ao proferir o sermão, procura alertar os seus ouvintes para a necessidade e importância de alterar comportamentos incorretos, persuadindo-os a adotarem outros mais adequados e corretos.

Como se concretiza a intenção persuasiva no sermão?

            Para persuadir o seu auditório, o padre António Vieira socorre-se de diversas estratégias:
Inclusão de citações bíblicas, bastas vezes em latim;
Recurso a excertos da Bíblia;
Relato de episódios da vida de santos, nomeadamente de Santo António, e doutores da Igreja (por exemplo, Santo Ambrósio);
Exposição das características e dos comportamentos dos peixes;
Recurso à sabedoria popular e a provérbios;
Referência a figuras e acontecimentos da mitologia clássica;
Alusão à própria experiência de vida;
Uso de recursos expressivos, como a alegoria, a metáfora, a comparação, a apóstrofe, a interrogação retórica, etc.

Como se articulam as estratégias de persuasão do padre António Vieira com as características da oratória?

            A persuasão articula-se com os três objetivos da eloquência: delectare (captar a atenção e agradar ao auditório), docere (transmitir ensinamentos) e movere (fazer refletir o auditório, no sentido de mudar o seu comportamento).


2. Exemplaridade

Relação entre os exemplos dos peixes, a intenção persuasiva e a exemplaridade

            A apresentação do exemplo dos peixes, sejam os seus louvores sejam as suas repreensões, cumpre a intensão persuasiva do pregador, visto que se pretende com ele persuadir os homens a mudarem o seu comportamento.
            Assim,
. pretende-se que os homens adotem as virtudes dos peixes louvados, paralelas às ações de Santo António:
* aceitação da doutrina divina (Peixe de Tobias);
* moderação e refreamento de apetites (Rémora);
* arrependimento e mudança (Torpedo);
* distinção entre o Bem e o Mal, o Céu e o Inferno (Quatro-olhos);
. por outro lado, pretende-se que os mesmos homens abandonem a prática dos vícios exemplificados nos peixes:
* a presunção, a arrogância, a gabarolice e a soberba (Roncadores);
* o parasitismo e o oportunismo (Pegadores);
* a presunção, a vaidade, a ostentação e a ambição (Voadores);
* a falsidade e a traição (Polvo).
            Assim sendo, a caracterização dos peixes e os seus comportamentos e atitudes adquirem um valor de exemplaridade, isto é, estes animais servem de exemplo a seguir pelos homens nas suas virtudes, bem como de exemplo a evitar no caso dos vícios.

A exemplaridade no Sermão de Santo António

            O orador deve ser uma figura exemplar, um modelo de virtudes e de cumprimento dos preceitos cristãos. O padre António Vieira enquadrava-se neste perfil e procurou, neste sermão, exercer a sua função de «sal» e cativar o auditório com o seu talento e a sua integridade moral. No entanto, quer Santo António em Itália (Arimino) quer o padre Vieira no Brasil (S. Luís do Maranhão) encontram obstáculos ao cumprimento da sua missão evangelizadora, pois os ouvintes não se querem converter.

O exemplo de Santo António

            Tal como Santo António em Itália, o padre Vieira encontra obstáculos à sua pregação no Brasil, por isso decide adotar o seu exemplo, anunciado logo no Exórdio, e mudar de auditório, deixando os homens e pregando aos peixes.
            Por outro lado, o santo, as suas virtudes e a sua conduta irrepreensível constituem um exemplo humano, presente em todos os capítulos do Sermão, através de referências que permitem ao padre Vieira identificar-se com ele em virtude e na ação, tornando-se assim um modelo a seguir pelos homens seus contemporâneos.


Bibliografia:
. Andreia Sousa e Regina Carvalho, Arrumar ideias, Areal Editores (adaptado)


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