Português

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Tempo histórico de "A Aia"

    A ação decorre na Idade Média, numa época em que coabitavam reis, príncipes e escravos em palácios:

“Era uma vez um rei”;

“bela e robusta escrava”;

“o palácio surpreendido”.

Tempo da história / cronológico do conto "A Aia"

 
O conto abre com a fórmula “Era uma vez”, característica dos contos tradicionais populares. A ausência de referência a datas que permitem localizar, de modo preciso, a ação no tempo sugere a indeterminação do tempo e serve a moralidade do conto: “Era uma vez” remete para um tempo indeterminado e para a intemporalidade da história narrada.

 
A esmagadora maioria dos acontecimentos ocorre à noite:

a morte do rei numa batalha: “A Lua cheia que o vira marchar […] e da morte do rei trespassado…”;

o nascimento do principezinho e do escravo: “Ambos tinham nascido na mesma noite de verão.”;

a invasão do palácio pelo tio bastardo e pelas suas tropas, na tentativa de matar o principezinho e subir ao trono: “Ora, uma noite de silêncio e escuridão […] mais que sentiu, um curto rumor de ferro e de briga, longe, à entrada dos vergéis reais…”;

a troca das crianças de berço: “Então, rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço de marfim, atirou-o para o pobre berço de verga – e tirando o seu filho do berço servil, entre beijos desesperados, deitou-o no berço real…”;

as mortes do escravozinho, do tio do príncipe e da sua horda: “O bastardo morrera! […] ele e vinte da sua horda.”; “O corpozinho tenro do príncipe lá ficara também envolto num manto, já frio, roxo ainda das mãos ferozes que o tinham esganado!...”;

etc.

 
Por seu turno, a morte da aia ocorre de madrugada: “Era lá, nesse céu fresco de madrugada…”.


Síntese das personagens do conto "A Aia"

    Podemos agrupar as personagens deste conto em dois conjuntos: o do Bem, constituído pelo rei, rainha, aia, principezinho, pequeno escravo, capitão das guardas, etc., e o do Mal, formado pelo tio do pequeno príncipe e pela sua horda.

    Por outro lado, as personagens são todas anónimas, isto é, não têm nome próprio, à semelhança do que sucede nos contos tradicionais populares, sendo designadas pela sua condição social (o rei, a rainha, a aia, o príncipe, etc.) e pelas suas características psicológicas (“homem de rapina”, “mãe ditosa”, “mãe dolorosa”), o que aponta para a intemporalidade da mensagem do texto.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Um Natal chocante

Glenn McCoy

Análise do poema "Quando não estás a olhar é o mundo», de Manuel Gusmão


                                               Quando não estás a olhar é o mundo

 que te olha. Nunca saberás o que vê.

 Obscuramente imaginas que testemunhará

 por ti, mas ignoras de todo - e que importa? -

 onde, a que propósito e perante quem.


    O poema, uma quintilha, é da autoria de Manuel Gusmão, um poeta, ensaísta e professor português, nascido em 1945, em Évora, e falecido a 9 de novembro de 2023, em Lisboa, e faz parte da obra A Terceira Mão, publicada em 1997.
    O curto poema reflete sobre a relação entre o «tu» e o mundo. Essa relação é dialética e estabelecida através do olhar, verificando-se uma alternância entre os papéis de observador e observado. Aparentemente, é o «tu» quem contempla o mundo, porém, quando desvia o seu olhar, é este que passa a observá-lo, o que sugere uma certa curiosidade ou vigilância sobre aquele: a realidade existe para além da...


Continuação da análise aqui: análise-de-quando-não-estás-a-olhar.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Análise do poema "O Colosso", de Sylvia Plath


     O poema foi publicado pela primeira vez na antologia homónima em 1960, que continha mais quarenta e quatro poemas. O título faz-nos lembrar dos famosos versos de Júlio César, de Shakespeare: “… homem, ele cavalga neste mundo estreito / como um colosso. (I, 2, 135-36.) Esta referência referir-se-á à lendária estátua de bronze de Apolo em Rodes.
    O tema do poema é o luto pelo pai. O sujeito poético compara o seu pai a uma enorme estátua, remanescente de um deus caído. Na verdade, o que importa para o «eu» não é a perda do corpo do pai, mas a perda da segurança psicológica que ele lhe facultava. O sujeito tenta recuperar a segurança perdida através do ato de cuidar da estátua caída. Tendo em conta a temática, o tom do poema é de perda e luto, bem como de pesar surpreso. O «eu» surpreende-se com a enormidade da ausência diante dela, cuja presença como fantasma, no entanto, nunca deixa de a provocar.
    O sujeito lírico está exausto em razão dos seus esforços contínuos para dar... [clicar para acessar à análise completa].

terça-feira, 7 de novembro de 2023

Caracterização do escravozinho


 

Tipos

Modos de caracterização

Direta

Indireta

Física

. “cabelo negro e crespo”

. “olhos que reluziam” – olhos brilhantes

. “corpozinho gordo”

 

Psicológica

. “alma livre e simples de escravo”

. “humildade ditosa”

. “indigência”

. nada tinha a recear

 

Social

. filho da escrava

. pobre – berço pobre e de verga

. escravo

  

Caracterização do principezinho



Tipos

Modos de caracterização

Direta

Indireta

Física

. “cabelo loiro e fino”

. “cabelos de ouro” – louro

. “olhos que reluziam” – olhos brilhantes

. “corpozinho tenro”

 

Psicológica

 

. frágil

. desamparado

Social

. príncipe

. filho do rei e da rainha

. nobre

 

 

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Informação-Prova - Exame de Português do 12.º Ano - 2024

Sem chaminé - André-Philippe Côté

André-Philippe Côté

Caracterização do tio bastardo


 

Tipos

Modos de caracterização

Direta

Indireta

Física

. “de face mais escura que a noite”

. “homem enorme”

. face flamejante”

 

Psicológica

. “depravado e bravio”

. “consumido de cobiças grosseiras” – ganancioso

. cruel e impiedoso

. “faminto do trono” – com sede do poder e de ocupar o trono do rei

. mau

. ambicioso

. selvagem e feroz (a comparação com lobos)

. cruel

. violento

. assassino

. oportunista

. cobarde

 

domingo, 5 de novembro de 2023

Caracterização da rainha de "A Aia"


 

Tipos

Modos de caracterização

Direta

Indireta

Física

. “desgrenhada” – quando, desesperada, entra na câmara dos bebés, pensando que o filho fora morto

 

Psicológica

. “solitária e triste”

. “chorosa”

. “desventurosa”

. “mãe ditosa”

. reações à morte do rei: choro (tristeza, dor, sofrimento, desespero):

como rainha: o reino fica sem governo forte;

como mulher: perde o marido, fica viúva;

como mãe: o filho fica desemparado e à mercê dos inimigos.

. carinhosa – “Quando a rainha, antes de adormecer, vinha beijar o principezinho…”

. preocupada, desesperada e desorientada – “…a rainha invadiu a câmara, entre as aias, gritando pelo seu filho.”

. desamparada – após a morte do rei

. reconhecida e grata à aia por ter trocado os bebés e salvado o seu filho

Social

. nobre – é rainha

 

 

Análise do poema "Árvores do Alentejo", de Florbela Espanca


    “Árvores do Alentejo” é um soneto da autoria de Florbela Espanca em versos decassílabos e de rima emparelhada e interpolada, de acordo com o esquema rimático ABBA, que faz parte da obra Charneca em Flor, publicada em 1931.
    Neste poema, Florbela Espanca alude à planície alentejana, que agoniza sob um sol escaldante, um «brasido» que anseia pela água regeneradora da vida, a «bênção de uma fonte». Todavia, no texto não são as árvores que, realmente, agonizam perante a aridez da charneca, mas, sim, o sujeito poético, uma figura que se eleva acima do horizonte e tenta amenizar tanto a sua dor como a da natureza, a quem se dirige em tom apelativo, por exemplo, no último terceto (Custódia Pereira, Do Sentimento em Florbela Espanca).
    O soneto abre com... [continuação da análise aqui: Árvores-do-Alentejo]
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