O autor
faz uma pausa na narrativa no momento em que White identifica o principal
suspeito, para, através de nova analepse, recuar à sua juventude com o objetivo
de esclarecer o modo como se tornou naquele indivíduo «presente». Este passo da
obra permite estabelecer um contraste entre o agente e Hale: aquele é um homem atento
ao papel que a lei pode desempenhar no controlo das paixões humanas, que está
comprometido com a justiça e com a proteção de uma comunidade ameaçada,
enquanto este é um sujeito dominado pela ganância e pelo sucesso material, que
norteia a sua vida e as suas ações. Por outro lado, esta passagem permite
destacar o modo como a natural ambição e a determinação facilmente descambam e
cedem à corrupção, processo exemplificado tanto por Hale como por J. Edgar
Hoover.
Porém,
como nada é simples, White descobre que a conspiração criminosa não se limita a
Hale, antes inclui a maioria, se não a totalidade, das figuras proeminentes da
comunidade local, que atacam a tribo osage de forma sistemática, socorrendo-se
de diferentes armas, nomeadamente de caráter jurídico, financeiro e até
governamental. Estamos, de facto, na presença de um grupo que se alimenta pelo
racismo e pela ganância sem limites. Além disso, tem um acesso fácil ao Poder.
Todo este caldinho resulta, em última análise, numa luta de classes e de uma
impedida de beneficiar da sua riqueza e ascender socialmente, ou simplesmente
de a usar para obter benefícios sociais ou políticos. Os Osage são obrigados a
pagar preços excessivos pelos produtos que compram ou por aquilo que pedem
emprestado. O exemplo mais eloquente é o de um funeral de um membro da tribo,
que custa vários milhares de dólares a mais do que o de uma pessoa de pele
branca. É verdade que os osage têm na sua posse os headrights, a base da
sua riqueza, porém as elites brancas encontram sempre forma de a desviar para a
sua posse.
Regressada
a narrativa ao presente da ação, isto é, ao ano de 1925, ela centra-se na
figura de William Smith, nomeadamente no conhecimento que possuiria, bem como no
modo como a sua morte teve impacto nos acontecimentos. Em simultâneo, o leitor
tem acesso à revelação de que os dois irmãos médicos – James e David Shoun –
são cúmplices na atividade criminosa, movendo-se pelo egoísmo e pela ambição e
não pela defesa da saúde e do bem-estar dos seus pacientes. No caso de Smith, o
autor dá conta da forma como ambos agiram nos momentos finais daquele, de modo
a apossarem-se dos direitos de Rita. Smith não era um indivíduo de boa índole,
pois agredia fisicamente Rita e já tinha sido casado com a irmã desta, Minnie,
porém fica claro que não está, de forma nenhuma, envolvido nos crimes. Na
verdade, foi o primeiro a suspeitar de que Lizzie talvez também tivesse sido
assassinada. Por outro lado, é evidente que a cor da pele das pessoas não condiciona
a sua exposição ao assassínio.
Neste
contexto, convém notar que os irmãos fornecem uma informação determinante para o
prosseguimento da investigação: admitem que Smith nomeou os seus dois principais
inimigos, a saber, William Hale e Ernest Burkhart, seu cunhado.