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sexta-feira, 1 de abril de 2022

Biografia de José Cardoso Pires


             José Augusto Neves Cardoso Pires, filho de António Neves, oficial da Marinha, e de Maria Sofia Cardoso Pires Neves, nasceu a 2 de outubro de 1925 na aldeia de Peso, distrito de Castelo Branco. Com poucos mesos de vida, veio para Lisboa, tendo passado a sua infância e adolescência no n.º 7 da Rua Carlos José Barreiros, em Arroios, e frequentou o primeiro ciclo do ensino básico (antiga escola primária) no n.º 14, no Largo do Leão. Os estudos secundários foram realizados no Liceu Camões, onde se inclinou para o estudo das matemáticas, embora se tenha estreado num jornal com um pequeno texto intitulado “As Aventuras do Mosquito Zigue-Zague”.

            Em 1943, publicou um pequeno ensaio (“Loti, o Sonhador”) e começou a estudar Matemáticas Superiores na Faculdade de Ciências de Lisboa. Enquanto estudava, foi experimentando diversas profissões, alternadas com períodos de desemprego. Essas experiências permitiram-lhe o convívio com todos os tipos de pessoas, incluindo artistas da sua geração, como, por exemplo, Luís Pacheco, Mário Cesariny, Júlio Pomar e Dias Coelho.

            Em 1945, abandonou a faculdade e alistou-se na Marinha Mercante como piloto sem curso, experiência que lhe foi muito útil para a escrita do conto “Salão de Vintém”, incluído na antologia Bloco, publicada em 1946.

            No ano seguinte, cumpriu o serviço militar em Vendas Novas e na Figueira da Foz, seguindo-se o exercício de diversas atividades: agente de vendas, correspondente de Inglês, intérprete de uma companhia de aviação, etc. Entre 1949 e 1953, foi redator e chefe de redação da revista Eva, publicou as obras Caminheiros e Outros Contos e Histórias de Amor (que foi apreendida pela PIDE, que deteve igualmente o escritor, propondo-lhe a edição de uma edição mutilada da obra ou a sua apreensão, opção que Cardoso Pires preferiu), bem como o conto “Week-end”.

            Em 1953, o seu irmão faleceu num acidente com um avião militar. Posteriormente, dedicou-lhe O livro O Hóspede de Job, um protesto contra a chamada Guerra Fria. Nesse ano ainda, dirigiu as Edições Fólio e, em 1954, foi feita a primeira tradução de um texto de Cardoso Pires em Inglaterra, concretamente o conto “The Outsiders” (Os Caminheiros, em português).

            Em 1957, dirigiu a coleção “Teatro de Vanguarda”, das Edições Fólio. O ano seguinte foi bastante preenchido: publicou O Anjo Ancorado, participou no Congresso Mundial da Paz, realizado em Estocolmo, e assistiu ao Ciclo do Espetáculo Coletivo na ex-RDA.

            Em 1959, fez um estudo sobre Roger Vailland (in O Jogo da Cabra Cega) e fez estágio na revista Epoca, em Milão.

            Em 1960, fundou e dirigiu a revista Almanaque e integrou a representação portuguesa no Congresso de Crítica da Universidade do Recife. Entretanto, viu os escaparates a primeira edição de O Render dos Heróis.

            Em 1961, Cardoso Pires foi eleito membro da direção da Sociedade Portuguesa de Escritores pela lista presidida pro Jaime Cortesão. No ano seguinte, iniciou a atividade de copy-writer de publicidade, reestruturou a “Gazeta Musical e de Todas as Artes” e foi delegado no Congresso Internacional de Escritores, em Florença, onde foi eleito vice-presidente da delegação portuguesa da Comunitá Eoropea degli Scrittori.

            Em 1963, participou clandestinamente no Encontro dos Escritores Peninsulares, em Barcelona, editou O Hóspede de Job, que será a primeira edição estrangeira de um romance do autor em Itália. O mesmo livro receberá o Prémio de Novelística Camilo Castelo Branco e o Prémio dos suplementos literários em 1964.

            Em 1965, estreou O Render dos Heróis no teatro Império, em Lisboa. No ano seguinte, juntamente com figuras como Alçada Baptista, João Bénard da Costa, Lindley Cintra, Joel Serrão e José Augusto França, entre outros, fez parte do núcleo português da Association Internationale pour la Liberté de la Culture, que irá atuar como resistência cultural à repressão vivida na época na Península Ibérica.

            Em 1967, fundou e orientou o magazine de artes e letras do Jornal do Fundão& Etc – e publicou uma série de crónicas semanais no Diário Popular, denominadas “Os Lugares Comuns”. Seguiu-se a publicação de uma das obras principais da sua carreira literária – O Delfim –, em 1968, altura em que dirigia o suplemento literário (nova fase) do Diário Popular.

            Em 1969, lançou o suplemento A Mosca e, a convite da Universidade de Londres, lecionou Literatura Portuguesa e Brasileira no King’s College, de onde enviava crónicas para o Diário de Lisboa durante o ano de 1970. Regressou a Portugal no ano seguinte, tendo colaborado pontualmente na BBC, e deu início ao folhetim O Burro em Pé e participou nas comemorações do Cinquentenário do PEN Club, que tiveram lugar em Dublin.

            Em 1972, publicou o estudo “Técnica do Golpe da Censura” simultaneamente em Paris e Londres. A versão original só será publicada depois do 25 de Abril. Enquanto isso, na Assembleia Nacional estalou a polémica em torno do texto Dinossauro Excelentíssimo.

            Em 1974, por ocasião do aniversário do Jornal do Fundão, o Diário de Lisboa escreveu o seguinte sobre o escritor: “Um romancista, José Cardoso Pires, um poeta, Eugénio de Andrade, e um escultor, Cargaleiro, foram exaustivamente analisados e proclamados como testemunhas de um certo tempo português.” (29.01.1974). Em maio, foi designado Diretor-Adjunto do Diário de Lisboa e, em outubro, foi nomeado Vereador da Câmara Municipal de Lisboa e Presidente da Comissão Cultural do Município.

            Em 1975, marcou presença na Conferência Internacional da Independência de Porto Rico e no 25.º Festival da Cidade de Berlim e foi o representante português na Reunião de Helsínquia do Bureau da Presidência do Conselho Mundial da Paz.

            Em 1976, foi movido o primeiro processo sobre a liberdade de expressão em democracia, no caso sobre o Diário de Lisboa, cujos responsáveis, Ruella Ramos e Cardoso Pires, responderam por ter denunciado a violência e os abusos praticados pela polícia de segurança. Por outro lado, integrou a delegação oficial dos escritores portugueses à Bienal do Livro de São Paulo e foi o delegado à reunião do PEN Club de Copenhaga contra a repressão cultural em Espanha e na América Latina.

            Em 1977, foi publicado E Agora José?, um livro de memórias que constitui um excelente exercício sobre a escrita, seguido, em 1979, de O Burro em Pé.

            A década de 80 do século passado foi decisiva para a divulgação de José Cardoso Pires, concretamente com as obras Corpo-delito na Sala de Espelhos, em 1980, Balada da Praia dos Cães, em 1982, consagrado com o Grande Prémio de Novela da Sociedade Portuguesa de Autores e passado à tela pelo cineasta José Fonseca e Costa. Em 1987, saiu outro dos seus grandes livros – Alexandra Alpha – e, em 1988, A República dos Corvos.

            Nos anos seguintes, enfrentou vários problemas de saúde e só voltou a publicar em 1997, especificamente a obra De Profundis, Valsa Lenta, o relato de um tempo sem memória, após ter sido acometido de um AVC. Os seus últimos textos foram Lisboa – Livro de Bordo e Viagem à Ilha de Satanás.

            José Cardoso Pires faleceu a 26 de outubro de 1998, em Lisboa.

sábado, 7 de setembro de 2019

Biografia de Shakespeare

1. Primeiros anos de vida

            Shakespeare nasceu em 1564 em Stratford-upon-Avon, uma pequena cidade no meio do campo inglês. O seu pai, John Shakespeare, era uma espécie de alpinista social. Ele fez um bom casamento quando desposou Mary Arden, filha de um fazendeiro abastado, e em 1568 fez campanha com sucesso pelo cargo de alto oficial de justiça de Stratford, o equivalente a um prefeito moderno. Embora não haja registo da escolaridade de William, John quase certamente enviou o seu filho para a escola pública local, onde teria estudado literatura e retórica latina. As peças de Shakespeare indicam que conhecia grego e latim. Os escritores Séneca e Ovídio podem ter causado uma impressão particularmente forte em William. A peça que o lançou, Tito Andronico, vai buscar pontos da trama a ambos os escritores, e o seu primeiro trabalho publicado, o longo poema “Vénus e Adónis”, reconta um episódio das épicas metamorfoses de Ovídio. Quando Shakespeare começou a ganhar dinheiro com esses sucessos, uma das suas primeiras grandes despesas foi na aquisição de um brasão de armas para o seu pai, o que deu a John Shakespeare o direito a chamar-se "cavalheiro".

2. Casamento

            Quando tinha dezoito anos, Shakespeare casou-se com Anne Hathaway, de 26 anos. Eles talvez se tenham apressado em se casar porque Anne estava grávida – a sua primeira filha, Susanna, nasceu apenas seis meses após o casamento. Noivas grávidas não eram incomuns, no entanto, e nada de concreto é conhecido sobre o relacionamento de William e Anne. Shakespeare passou a vida profissional em Londres, deixando a sua família em casa, em Stratford, onde investiu em imóveis, e é provável que lá tenha voltado com frequência. Como Anne era quase uma década mais velha que Shakespeare, alguns críticos sugerem que ela era a origem do interesse particular dele pelas personagens femininas mais velhas e mais experientes que o habitual protagonista romântico. Muitas das suas personagens mais complexas são esposas e mães. Em Gertrude (Hamlet) e Cleópatra (António e Cleópatra), Shakespeare demonstrou profunda simpatia pela sexualidade das mulheres que não estavam mais na fase de solteiras. Noutras peças, ele explorou o modo como a ambição de uma esposa como Lady Macbeth (Macbeth) ou de uma mãe como Volumnia (Coriolano) pode moldar o curso da vida de um marido ou filho.

3. Primeiros trabalhos

            Após o casamento de Shakespeare, não há registo da sua vida até 1592, quando o dramaturgo Robert Greene publicou uma observação sarcástica sobre um "corvo arrivista", uma "shake-scene" que "supõe que é capaz de um verso em branco grandiloquente como o melhor de vocês.”. Nesta altura, Shakespeare estava em Londres, escrevendo as suas primeiras peças. Greene pensou que ele era um "arrivista" porque, ao contrário de Greene e da maioria dos outros dramaturgos da sua época, Shakespeare não tinha formação universitária, embora tivesse amigos entre os "University Wits", como esses dramaturgos educados eram conhecidos. Uma das suas primeiras peças, Henrique VI, Parte I, provavelmente foi escrita em colaboração com Thomas Nashe, um satirista político que em 1597 coescreveu uma peça tão controversa que os seus atores foram presos. Shakespeare também pode ter colaborado com Christopher Marlowe, um dramaturgo brilhante e possível espião que foi assassinado quando uma luta deflagrou numa taberna. A luta terminou com o projeto, que era chamado “acerto de contas” em inglês elizabetano. Em As You Like It (1599), Shakespeare prestou homenagem ao legado de Marlowe como escritor: "Quando os versos de um homem não podem ser entendidos [...], atinge um homem mais morto do que um grande acerto de contas numa pequena sala".
            O teatro era uma indústria de má reputação quando Shakespeare estava a começar, e os atores e os escritores faziam parte do submundo de Londres. Henrique IV, Partes I e II (1597-8), capturam a diversão e o humor das tabernas e bordéis de Londres. Com a sua esposa em casa, em Stratford, Shakespeare pode ter-se sentido livre para ceder ao que a cidade tinha a oferecer. A busca de mulheres pelos jovens é um dos principais temas das suas primeiras peças. Entre 1593 e 1595, Shakespeare escreveu três comédias sobre homens jovens que desenvolvem longos e trabalhosos esforços para assegurar as parceiras que escolheram: The Taming of the Shrew, Two Gentlemen of Verona e Love’s Labour’s Lost. Durante esse período, ele também escreveu Romeu e Julieta, que começa com a “perseguição” de Romeu à filha de um inimigo e se tornou a história mais famosa de amor jovem já escrita. Shakespeare também pode ter perseguido homens jovens. Há alguma evidência nos sonetos e nas intensas amizades masculinas de peças como O Mercador de Veneza e Noite de Reis, de que Shakespeare era o que chamaríamos de bissexual.

4. O encerramento dos teatros

            Os teatros de Londres foram fechados de 1593 a 1594 por ordem do Conselho Privado, que era constituído pelos principais conselheiros da rainha e governavam em seu nome. O Conselho fechou os teatros porque houve um surto de peste em Londres. Os "players" da cidade voltaram à vida que levavam antes de poderem montar teatros. Eles fizeram uma turné pela Inglaterra com os seus adereços e roupas arrumados em carroças, para que pudessem montar um palco em todas as cidades pelas quais passassem. Shakespeare também aproveitou a oportunidade para ganhar dinheiro. Foi durante o encerramento dos cinemas que ele publicou os seus dois longos poemas narrativos, “Vénus e Adónis” e “A Violação de Lucrécia”. O primeiro, em particular, foi um best-seller e pode ter sido o trabalho pelo qual Shakespeare foi mais conhecido durante a sua vida. É provável que ele tenha escrito muitos dos seus sonetos também nesse período.

5. Os homens de Lorde Chamberlain

            O primeiro teatro permanente de Londres foi estabelecido na década de 1570 e, na de 1590, o teatro profissional era um grande negócio. Durante o encerramento dos teatros, algumas empresas faliram e, quando foram reabertos em 1594, Shakespeare começou a escrever exclusivamente para uma nova empresa, os Homens de Lord Chamberlain, da qual era acionista. Os Homens de Lord Chamberlain incluíam Richard Burbage, que foi considerado o maior ator da sua época. Burbage foi quase certamente o primeiro ator a interpretar todos os papéis principais de Shakespeare, de Romeu a Lear. Os Homens de Lord Chamberlain rapidamente se tornaram a companhia de teatro mais popular de Londres. Shakespeare era rico e famoso e comprou uma mansão em Stratford. Em 1599, os Homens de Lord Chamberlain construíram o seu próprio teatro, o Globe, na margem sul do Tamisa. Mais tarde naquele ano, Shakespeare escreveu Henrique V, que abre pedindo ao público que imagine “os campos férteis da França” amontoados dentro do novo teatro, “este O de madeira”. Henrique V conta a história do príncipe Harry, divertido, que passou Henrique IV Partes I e II descansando em tabernas. Agora ele é rei e começa a sentir o peso do mundo sobre os seus ombros.

6. Tragédias

            Dois anos após o nascimento da filha de Shakespeare, Susanna, Anne Hathaway deu à luz gémeos, Hamnet e Judith, nomes que foram buscar provavelmente a um casal de amigos de Stratford. Onze anos depois, em 1596, Hamnet Shakespeare morreu. O pai de Shakespeare, John, faleceu por sua vez alguns anos depois, em 1601. Embora não tenhamos registo do efeito que essas mortes tiveram no dramaturgo, há uma mudança significativa nos seus escritos durante esses anos. Até esse ponto, Shakespeare era famoso como escritor de histórias e comédias. Tinha escrito apenas duas tragédias. De 1599 a 1606, no entanto, produziu uma série de tragédias, incluindo todas as peças trágicas pelas quais é mais famoso hoje. O luto e a perda emergem como temas principais. Hamlet (escrito por volta de 1600) vive da dor de um filho por seu pai. O Rei Lear (por volta de 1605) culmina na dor feroz e meio louca de Lear por sua filha. Macbeth (por volta de 1606) depende do assassinato dos filhos de outra personagem por um Macbeth sem filhos.
            Shakespeare continuou a escrever comédias também durante esse período, mas mesmo elas são coloridas pela dor. Em A Décima Segunda Noite (escrita por volta de 1601), uma irmã gémea chora o seu irmão. Medida por Medida (1604) refere-se às tentativas de uma jovem de poupar o irmão à pena de morte. Medida por Medida, Tudo Está Bem Quando Acaba Bem (por volta de 1601) e Troilus and Cressida (1602) são peças tão sombrias que alguns leitores argumentam que não são realmente comédias e preferem chamá-las de "peças de problemas". Na sua tristeza, Shakespeare pode ter-se sentido amargo com a sua riqueza e sucesso. Timon of Athens (1605) e Coriolano (1607) são obras sobre personagens ricas e poderosas que viram as costas à sociedade e se tornam exilados amargurados.

7. Últimas peças e anos finais

            Em 1607, a filha mais velha de Shakespeare, Susanna, casou-se com John Hall, um médico de Stratford, e, em 1608, o dramaturgo tornou-se avô. Essa experiência pode ter sido tão afetante quanto a perda do seu filho, porque os seus textos mudam novamente durante essa época. Entre 1608 e 1612, Shakespeare escreveu quatro peças: Péricles, Cymbeline, The Winter's Tale e A Tempestade, sobre velhos poderosos e cansados cujo sofrimento e mau comportamento são redimidos por suas filhas adoráveis. Nestas peças finais, a magia é possível. Coisas maravilhosas e inesperadas acontecem às personagens que menos o merecem. Os críticos mais tarde chamaram a essas obras peças finais, porque são mais complicadas do que as suas comédias anteriores, e misturam temas sérios da mortalidade com cenas alegres. A Tempestade, a última peça que Shakespeare escreveu sozinho, é frequentemente vista como a sua despedida do palco. A personagem principal da peça, Próspero, termina a mesma voltando-se para o público. Ele renuncia aos seus poderes mágicos e pede perdão por qualquer dano que tenha causado: "Como você seria perdoado por crimes / deixe a sua indulgência libertar-me".
            Depois de escrever A Tempestade, Shakespeare contratou um aprendiz, o dramaturgo John Fletcher, que continuaria sendo seu sucessor como escritor de King's Men. Juntos, Shakespeare e Fletcher escreveram Henrique VIII, Os Dois Nobres Reis, e uma terceira peça, Cardenio, da qual não restam cópias. Shakespeare aposentou-se da escrita em 1613. Nessa época, voltou para Stratford e continuou a cuidar dos seus interesses comerciais e da sua família até morrer em 1616. A causa da sua morte é desconhecida, mas os historiadores marcam a data como 23 de abril, convenientemente a mesma data do seu aniversário. Shakespeare foi enterrado na mesma igreja paroquial de Stratford, onde havia sido batizado 52 anos antes. Sete anos depois, dois atores de The King's Men publicaram 36 peças de Shakespeare numa coleção que passou a ser conhecida como o Primeiro Fólio. Este volume dividiu as peças em três categorias: comédias, tragédias e peças de história, e continua a ser a principal fonte do trabalho do autor de Romeu e Julieta.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Biografia de Agustina Bessa-Luís

            Agustina Bessa-Luís nasceu a 15 de outubro de 1922, em Vila Meã, concelho de Amarante. Apenas com seis anos de idade, entrega-se com prazer à leitura de As Mil e Uma Noites, obra que lhe despertou curiosidade.
            Depois dos estudos da Escola Primária, frequentou o colégio das Doroteias, na Póvoa de Varzim, lendo apaixonadamente a Bíblia, sobretudo o Velho Testamento. Passou as férias e parte da adolescência no Douro, em Godim. Aos dezasseis anos, disse para si: «Também escreverei um livro; em breve escrevo um livro.»
            Em entrevista ao Jornal de Notícias, em 1955, dirá: "Num Inverno monótono duma província magnífica de mais para ser justamente interpretado aos dezasseis anos, ou se namora um primo, ou se come demasiado, ou se escreve um romance. Foi uma longa história esse primeiro idílio com as letras. Chovia muito num pátio, a água das caleiras batia nas folhas das hidrângeas, que brilhavam como faróis do outro lado da janela. O outro lado da janela e a chuva são para todo o espírito criador uma oportunidade – eu aproveitei-a rigorosamente, escrevi um romance.»
            E escreveu mesmo o primeiro romance ainda não publicado. Continua a ler apaixonadamente autores portugueses e estrangeiros.
            Em 1945, casa com Alberto de Oliveira Luís e vai viver para Coimbra, onde o marido estuda direito na Faculdade de Direito, mostrando-se muito interessado pela literatura e pela arte. Em 1946, nasce a filha, Laura Mónica, que virá a tirar o curso de pintura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto.
            Concluído o curso de Direito, o casal fixa-se, em definitivo, no Porto, onde ainda reside. O Porto está presente em muitos dos seus romances, assim como Coimbra em dois, o que comprova uma personalidade muito atenta ao meio que a rodeia.
            Tem um intenso convívio literário com vários escritores e artistas. Viaja por vários países, colabora em muitos encontros internacionais, ganha inúmeros prémios literários, escreve para a televisão, é condecorada, em 1980, pelo Presidente da República, no dia de Portugal, com o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada.
            Continua a publicar quase anualmente um ou mais romances e biografias, sendo já bastante extensa a sua obra.
            Faleceu a 3 de junho de 2019, na cidade do Porto.


terça-feira, 9 de julho de 2019

Vida do Padre António Vieira

            António Vieira foi uma personalidade multifacetada: o insigne orador, que mereceu o título de “O Crisóstomo Português”; o conselheiro real e diplomata a quem D. João IV gabava a “lábia”; o missionário imbuído de profunda religiosidade; o “Payassu” (“O Padre Grande”), como o alcunharam os Índios.
            António Vieira nasceu em Lisboa, em 6 de fevereiro de 1608, numa casa da Rua dos Cónegos, situada perto da Sé, e morreu na Baía em 18 de julho de 1697.
            A sua ascendência é bastante modesta. Filho primogénito de Cristóvão Vieira Ravasco, natural de Santarém (embora de origem alentejana), e de Maria de Azevedo, natural de Lisboa, era neto de uma mestiça pelo lado paterno. Tanto o avô como o pai tinham sido criados dos Condes de Unhão. O pai, escrivão das devassas dos pecados públicos num tribunal em Lisboa, servira na Armada antes do casamento. Em 1614 (tinha então Vieira seis anos), Ravasco, nomeado para o cargo de escrivão na Relação da Baía, partiu com a família para o Brasil.
            Vieira iniciou o curso de Humanidades, como aluno externo, no Colégio dos Jesuítas na Baía. Neste início de aprendizagem escolar, o jovem não se teria revelado um aluno excepcional. Só mais tarde é que os seus dotes, realmente notáveis, vieram à superfície quando, mercê de uma inspiração providencial, se teria produzido na sua mente o fenómeno que ficou conhecido como o célebre «estalo de Vieira».
            Um testemunho escrito por ele próprio revela-nos que o prenúncio da sua vocação religiosa se manifestou na tarde de 11 de março de 1623 ao escutar uma pregação do Padre Manuel do Couto, durante a qual este sacerdote deu uma vívida descrição dos castigos infernais que, porventura, aguardariam os pecadores renitentes.
            Na noite de 5 de maio desse mesmo ano, Vieira, que contava então 15 anos, tomou a resolução de se evadir da casa dos pais para o Colégio dos Jesuítas, onde foi acolhido com regozijo. Logo no dia seguinte iniciou o noviciado, árduo treino de dois anos pelo qual se pretendia que a individualidade de todo e qualquer aprendiz a sacerdote, sujeita a um conjunto de regras inexoráveis, se fosse esfumando numa estrita disciplina tendente a uma submissão total, tecida de humildade e modéstia.
            Animado de sincero e entusiasta espírito missionário aquando da sua transferência para a aldeia indígena do Espírito Santo, situada a sete léguas da Baía, logo se empenhou em aprender a fundo o tupi-guarani, ou seja, a língua geral do Brasil (instrumento então imprescindível para a comunicação dos catequistas e comerciantes com os Índios), bem como o quimbundo, língua utilizada com os escravos negros provenientes de Angola.
            Após o período estipulado para o noviciado, António Vieira fez os primeiros votos de obediência, pobreza e castidade, renunciando à efemeridade dos prazeres terrenos.
            Em setembro de 1826, graças aos seus predicados estilísticos que já então se iam afirmando, foi incumbido de redigir em latim a Carta Ânua que a Província costumava enviar ao Geral da Companhia. Nesse relatório anual, além de estarem patentes as qualidades de latinista de escol (fruto da sua formação cultural no colégio jesuítico), é também de salientar, pelo interesse histórico de que se reveste, a descrição do ataque holandês de que foi vítima a cidade da Baía, bem como da capitulação do opressor nos anos agitados de 1624 e 1625.
            Talvez no final de 1626, ou no início de 1627, começou a ensinar Retórica no Colégio de Marim, cidade aprazível situada junto ao mar, mais tarde denominada «Olinda a Bela», devido à sua situação e clima privilegiados. Aí permaneceu e exerceu o magistério durante três anos, findos os quais rogou aos seus superiores que o deixassem devotar-se à tarefa missionária, prescindindo por isso do estudo de Filosofia e Teologia. A Companhia, porém, tinha intenções bem diversas a seu respeito e logo lhe impôs o imediato regresso à Baía para ali encetar os estudos filosóficos. Ordenado padre em dezembro de 1634, Vieira continuou a sua obra de missionário, percorrendo, durante cinco anos, as aldeias baianas mais longínquas, onde procurava instilar os benefícios da civilização na mente do indígena ignaro.
            A par das actividades desenvolvidas para a conversão do gentio, que denunciavam uma perceção muito aguda dos problemas sociais, despontavam já em Vieira as virtudes oratórias reveladoras do pregador que iria seduzir os auditórios de Lisboa e Roma. A 16 de abril de 1638, sob o comando de Maurício de Nassau, os Holandeses, sequiosos de poder, tentaram novo ataque à cidade da Baía que opôs resistência e conseguiu expulsar o inimigo. Atento aos acontecimentos, Vieira interveio através da palavra, suporte de uma dialéctica ágil e sagaz. Nos dois sermões que então proferiu, vibrantes de entusiasmo pelo triunfo obtido, pressentia-se o tom profético que iria nortear toda a sua acção.
            A notícia da libertação de Portugal da tutela castelhana, após a revolução de 1 de dezembro de 1640, só chegou a Salvador em fevereiro do ano seguinte. Acompanhando D. Fernando de Mascarenhas, filho do vice-rei, Vieira foi enviado a Lisboa, tendo por incumbência apresentar saudações ao novo rei, D. João IV.
            Novos caminhos se ofereciam agora ao jesuíta. O monarca, confiado na lucidez deste homem e na sua extraordinária sensibilidade aos negócios de Estado, designou-o seu conselheiro particular e nomeou-o pregador régio. A 1 de janeiro de 1642 Vieira proferiu o Sermão dos Bons Anos, na Capela Real. As palavras exaltadas do apaixonado patriota incendiaram os ânimos e incutiram neles o desejo ardente da luta contra Castela. Aproveitando os fumos do Sebastianismo que ainda pairavam nos ares, Vieira projetaria em D. João IV os sonhos de grandeza de uma pátria à espera do rei predestinado. Contudo, para que a Restauração se consolidasse, era indispensável lançar mão dos recursos dos judeus portugueses expatriados e dos cristãos-novos radicados em Portugal. Vieira dirigiu, nesse sentido, diversas petições ao monarca, entre elas o regresso dos hebreus ao reino e o abrandamento dos processos implacáveis do Santo Ofício. Homem de rara visão, procurava o jesuíta com estas medidas atrair o capital necessário para a criação de companhias de comércio na Índia e no Brasil.
            Ia começar para Vieira uma intensa actividade diplomática. Os anos de 1646 a 1650 vão vê-lo atarefado em missões políticas em França, Holanda e Itália.
            Como embaixador, Vieira não alcançou o sucesso que outros êxitos anteriores tinham feito prever. De todas as tentativas saldou-se apenas a criação da Companhia de Comércio para o Brasil, em 1649. Se suscitara admiradores, havia também semeado muitos inimigos. Acusado de sugestionar o monarca num assunto de divisão das províncias, que competia à Sociedade, chegou a ser ameaçado de expulsão da Companhia de Jesus pelo próprio Geral, que não acatava o facto de um seu membro ter atentado contra as duras normas de disciplina jesuítica.
            Desiludido, partiu em novembro de 1652 para S. Luís de Maranhão, com o propósito de aí reatar as actividades missionárias.
            O Índio era, nessa época, a vítima apetecida dos colonos que o sujeitavam impiedosamente a um regime de escravidão semelhante ao do negro. Considerados escravos por direito de conquista, proporcionavam os naturais uma mão-de-obra excepcionalmente barata e irresistível à cobiça dos governadores. A defesa da liberdade do indígena empreendida pela Companhia de Jesus constituía um evidente obstáculo aos desígnios do branco ambicioso e cruel, empenhado apenas em avolumar os rendimentos com o metal reluzente à custa do sacrifício e, muitas vezes, da vida de vítimas indefesas, «peças indispensáveis de uma máquina produtora de riqueza.
            Com o arrebatamento que o caracterizava, Vieira lançou-se em arriscadas expedições. Tinha imposto a si próprio a tarefa de proteger os Ameríndios, catequizá-los, criar aldeias para os recolher, defendê-los das garras vorazes dos colonos brancos. Espírito desprendido dos bens materiais, prescindiu do ordenado que lhe era conferido na qualidade de pregador régio para com ele subsidiar a obra. A provisão de 17 de outubro de 1653, favorável à causa da liberdade dos Índios, suscitou o imediato desagrado entre os colonos que teimavam em não reconhecer aos jesuítas outros direitos que não fossem os de ordem espiritual.
            Na solidão do denso Amazonas, Vieira ia retomando, nos poucos momentos de lazer que a piedosa faina lhe concedia, a leitura de textos sagrados. Mergulhado no sonho utópico do Quinto Império, que aflorara nas páginas da sua História do Futuro, lançava-se na criação de outros escritos proféticos que iriam, mais tarde, causar-lhe amargos dissabores por parte do Santo Ofício.
            Em novembro de 1654, Vieira chegava a Portugal, após uma curta estada nos Açores, e regressava pouco depois ao Brasil.
            Com o falecimento de D. João IV em 1656, o jesuíta perdia não só o protetor de todos os momentos, cuja indulgência lhe evitara a expulsão da Companhia em 1649, como também o prestígio disfrutado nos meandros da corte. Em setembro de 1661, após uma revolta dos habitantes do Maranhão, foi forçado a recolher-se ao Pará e pouco depois preso e enviado para Portugal. Sem brilho, amargurado, aparentemente vencido, foi o único jesuíta a quem em, 1663, o rei negou autorização para voltar ao Brasil: «... excepto o Padre António Vieira, por não convir ao meu serviço que volte àquele Estado».
            António Vieira veio encontrar um país vacilante cujos destinos, ardilosamente enredados pelo astucioso Conde de Castelo Melhor, se anteviam pouco promissores. Só, desamparado e contrário à causa de Afonso VI, o jesuíta estava agora inteiramente à mercê do santo Ofício. Invocando as Esperanças de Portugal, escrito que Vieira dirigira ao Bispo do Japão e onde profetizava a ressurreição de D. João IV, obreiro do Quinto Império português no mundo, o Tribunal apressou-se a exercer sobre ele as inevitáveis represálias. As suas atitudes intransigentes face ao problema dos judeus foram também habilmente exploradas.
            Após o desterro no Porto e julgamentos humilhantes, a Inquisição encerrou-o num cárcere frio e húmido de Coimbra a 1 de outubro de 1665. É então que se entrega com todo o afinco à sua Defesa perante o Tribunal do Santo Ofício.
            A sentença foi proferida em dezembro de 1667. Condenado à reclusão e sem a possibilidade de pregar, restava-lhe a companhia da Bíblia e do breviário. Tolhido o movimento mas liberto o espírito, Vieira aproveitou o silêncio do cativeiro para se devotar às suas congeminações quiméricas.
            No ano seguinte, D. Afonso VI foi deposto pelas Cortes. A nova regência, confiada ao irmão, trouxe como consequência a absolvição de Vieira. Descoroçoado, porém, perante a situação desfavorável criada na corte pelos seus inúmeros inimigos, e também pela ostensiva indiferença de D. Pedro II, partiu para Itália em 1669 em missão da Companhia. Em Roma aguardava-o o sucesso. Nomeado pregador e confessor da rainha Cristina da Suécia, lançava do púlpito poderosos torrenciais de eloquência às massas aturdidas de admiração. O problema dos Cristãos-Novos continuava a merecer-lhe o entusiástico empenho de sempre. Colaborou em Notícias Recônditas do Modo de Proceder da Inquisição, relato das injustiças e crueldades aplicadas às vítimas do Santo Ofício em Portugal, que causou grande escândalo em toda a Europa. Conseguiu então que o Papa Clemente X emitisse um Breve em outubro de 1674, pelo qual ficaram suspensos os processos inquisitoriais em Portugal. D. Pedro II, despeitado porém pela imposição papal, que prescindia deste modo da prévia consulta régia, e por outro lado receoso da reacção popular que fanaticamente mais uma vez se iria insurgir contra os Cristãos-Novos, apressou-se a pronunciar-se contra toda e qualquer reforma em benefício da «gente da nação».
            Também o seu plano para a fundação de uma Companhia Mercantil para a Índia (à semelhança da Companhia Geral do Comércio do Brasil), na qual a maior parte do capital seria proveniente de cristãos-novos, sob condição de insenção de fisco, esbarrou contra a tenaz oposição do reino. Foi então que os Judeus, desiludidos com a marcha dos acontecimentos, renunciaram ao «perdão geral» que antes tinham solicitado ao Papa, limitando-se por ora a um mero pedido de mudança de métodos do Santo Ofício português. Nessa altura escreveu Vieira o Desengano Católico sobre a Causa de Nação Hebreia.
            Durante a estadia de cerca de seis meses em Roma lutou ainda debalde pela revisão do seu processo. Em contrapartida, quando em 1675 regressou à pátria por ordem expressa de D. Pedro II, levava com ele um Breve do Pontífice que lhe dava a reconfortante garantia de jamais vir a ficar sob a alçada da voraz inquisição portuguesa.
            Foram de sofrimento os últimos anos que passou em Portugal, num ambiente mesquinho que nada mudara e em que triunfavam apenas os malabaristas da intriga, da calúnia e da intolerância. A pretexto de problemas de saúde, Vieira regressou para sempre ao Brasil em 1681.
            Na Quinta do Tanque, perto do Colégio da Baía, encontrou a paz e a serenidade que lhe permitiram dedicar-se à paciente tarefa de reconstituição dos seus Sermões, já antes iniciada em Lisboa com o aparecimento em 1679 do primeiro volume. Nomeado aos 80 anos Visitador das missões pelo Geral da Companhia, foi nessa altura residir para o Colégio da Baía. Após o mandato, regressou em 1691 à Quinta do Tanque, onde decorreram os derradeiros anos da sua vida, entre os manuscritos dos Sermões que ia enviando para o prelo, e a elaboração da Clavis Prophetarum que não chegou a concluir.
            A correspondência com os amigos que deixara em Portugal (na qual figura uma circular de despedida enviada em 1694) proporcionava-lhe ainda a ilusão de contacto com os problemas da sua pátria, à qual dedicou sempre um amor inalterável feito de ternura, desalento, desesperança e revolta.
            Entretanto, o lutador que havia em si continuava a imiscuir-se nos mais variados problemas locais. Mais uma vez teve ensejo de intervir na eterna questão de direito à liberdade que reivindicava para os Índios, quando os paulistas os reclamavam para a exploração das minas de ouro.
            De resto, a Aventura que constituiu toda a vida do Padre António Vieira reservara-lhe ainda o duro vexame de acusação do assassinato do Alcaide-mor (ocorrido em 1683 na Baía), de conivência com o seu irmão Bernardo Vieira Ravasco, então Secretário de Estado. O processo só terminou passados quatro anos, com a absolvição de ambos os acusados.
            Não obstante a extrema idade e a invalidez que lhe sobreveio após uma queda, guardou até ao termo da sua vida a frescura de espírito, a rara lucidez, o domínio, enfim, da palavra e do pensamento que sempre o caracterizaram.
            Morreu com a idade avançada de 89 anos em julho de 1697 no Colégio da Baía, e com ele uma arte inimitável patenteada sobretudo nos seus célebres Sermões.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Vida de António Ferreira

         Nasceu em 1528, em Lisboa, filho de Martim Ferreira e de Mexia Fróis Varela. O pai era escrivão de fazenda de D. Jorge de Lencastre, Duque de Coimbra.
         Na sua educação conviveu com os filhos de D. Jorge de Lencastre e com pessoas de grande relevância nobiliárquica, administrativa e literária. Frequentou em Coimbra o curso de Humanidades e Leis e doutorou-se em Cânones. Foi temporariamente professor nesta Universidade.
         A frequência da Universidade deu-se na época áurea do Humanismo Bordalês, em que pontificaram os Gouveia (André, Marcial, Diogo Júlio), Diogo de Teive, João da Costa, António Mendes, Jorge Buchanan, Arnaldo Fabrício, Guilherme de Guérente, Nicolau Grouchy, Elias Vinet.
         Parece ter-se enamorado em Coimbra por uma senhora de família nobre de apelido Serra, que evocará veladamente em algumas poesias. Em 1557 casou com D. Maria Pimentel, senhora de Torres Novas, que morreu no terceiro ano de casamento, que primeiro cantou e depois chorou muito sentidamente: «Com que mágoa (ó Amor) com que tristeza / Viste cerrar aqueles tão fermosos / Olhos, onde vivias, poderosos / De abrandar com sua vista a mor dureza!».
         Voltou a casar em 1564, com D. Maria Leite, de Cabeceiras de Basto, de quem teve dois filhos. Também ela foi evocada nos seus textos.
         Em 1567 foi nomeado Desembargador da Relação de Lisboa. Em 1569, apenas com 41 anos, morre em Lisboa vitimado pela peste, deixando dois filhos, um dos quais (Miguel Leite Ferreira) lhe publicará, em 1598, a obra em Poemas Lusitanos.

terça-feira, 9 de abril de 2019

Vida de Sá de Miranda

            Filho de um cónego de Coimbra de cepa fidalga, Francisco de Sá de Miranda nasceu nesta cidade, em 1481(?). Estudou Gramática, Retórica e Humanidades na Escola de Santa Cruz e frequentou depois a Universidade, ao tempo estabelecida em Lisboa, onde fez o curso de Leis, passando de aluno aplicado a professor considerado.
            Frequentou nessa altura a Corte, datando-se de então a sua amizade com Bernardim Ribeiro. Para o Paço, compôs cantigas, vilancetes e esparsas, ao gosto dos poetas do século XV.
            Tendo-lhe falecido o pai, empreendeu, em 1521, uma viagem a Itália. Graças a uma suposta parente abastada, Vitória Colona, marquesa de Pescara e amiga de Miguel Ângelo, teve o ensejo de conhecer e conviver com algumas personalidades do Renascimento italiano – Bembo, Sannazzaro, Sadoletto, Ariosto –, apreciando muito a estética literária que todos os humanistas cultivavam com entusiasmo.
            No regresso a Portugal, em 1526, de passagem por Espanha, terá conhecido os poetas em voga, Boscán e Garcilaso, afadigados em introduzir a estética clássica no seu país.
            Em 1627, lançou-se na composição de uma comédia em prosa, à imitação de Plauto, Os Estrangeiros, numa época em que Gil Vicente estava no auge da sua actividade e prestígio. A Fábula do Mondego, a écloga Alexo e alguns sonetos são talvez as primeiras expressões portuguesas conhecidas do novo estilo.
            Casado antes de maio de 1530 com D. Briolanja de Azevedo, da melhor fidalguia minhota, beneficiou da Comenda das Duas Igrejas, que o rei lhe concedeu. É na Quinta das Duas Igrejas, junto ao rio Neiva, que compõe quase toda a sua obra, em novos moldes, por influência da estética italiana.
            O resto da sua vida passou-a na Quinta da Tapada, entregue ao amanho da terra e ao cultivo das letras, alheado da corte, mas mantendo convivência epistolar com uma roda de admiradores, entre eles Pêro de Andrade Caminha, D. Francisco de Sá de Meneses, D. Manuel de Portugal e mais tarde Diogo Bernardes, Jorge de Montemor e António Ferreira. Aí lhe chegaram os pedidos insistentes da Corte, sobretudo do príncipe D. João, pai de D. Sebastião, para que lhe enviasse as suas composições, o que o levou a refundi-las.
            Os últimos anos foram amargurados por vários lutos: primeiro, a morte do filho em 1553; depois, a do príncipe D. João, a da sua mulher e a de D. João III.
            Muito atento ao que se passava no seu país, as últimas composições estão repletas de comentários sociais e moralistas, bem amargos e pessimistas.
            Sabe-se que em maio de 1558 ainda era vivo, mas já então bastante enfermo, e deve ter falecido pouco depois.
            Nos séculos XVI e XVII foi o poeta mais admirado depois de Luís de Camões. A consagração do novo estilo em Portugal ficou a dever-se em grande parte a Sá de Miranda, secundado por uma plêiade de discípulos.
            Todavia, a consagração das suas inovações teve de vencer grandes resistências, de que se queixou, mas foi animado nessa campanha pelos jovens admiradores e pelo conhecimento da obra de Garcilaso.


A. J. Saraiva & Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Cronobiografia de José Saramago

1922

Nasce a 16 de Novembro na Rua da Alagoa de Azinhaga (Ribatejo, Golegã, Portugal) no seio de uma família de camponeses. Os seus pais são José de Sousa, jornaleiro, e Maria de Jesus, doméstica.

1924

Muda-se para Lisboa com a família, onde o pai irá trabalhar na Polícia de Segurança Pública.

Em Dezembro morre o seu irmão Francisco, com quatro anos de idade.

1929

Aquando da sua inscrição na escola primária da Rua Martens Ferrão descobre-se que um funcionário do Registo Civil da Golegã incluiu como apelido na sua certidão de nascimento a alcunha familiar, Saramago. Desta forma, torna-se no primeiro Saramago da família Sousa. Se assim não tivesse acontecido, o seu nome seria José de Sousa.

1930

Muda-se para a escola primária do Largo do Leão.

Durante estes anos e os seguintes a família Sousa tem uma vida difícil, morando em quartos alugados e em várias ruas de Lisboa: Quinta do Perna-de-Pau, Rua E (hoje Rua Luís Monteiro), Rua Carrilho Videira, Rua dos Cavaleiros, Rua Padre Sena Freitas.

1932

Matricula-se no Liceu Gil Vicente, onde inicia estudos secundários, frequentando dois cursos (liceal e técnico).

1935

A falta de recursos económicos da família obriga-o a transferir-se para a Escola Industrial de Afonso Domingues, onde estudará até 1940.

Durante toda a infância e adolescência passa longos períodos na Azinhaga com os avós maternos.

1936

O primeiro livro que possui é-lhe oferecido pela mãe: A Toutinegra do Moinho, de Émile de Richebourg.

1938

A família Sousa passa a viver num andar só para ela na Rua Carlos Ribeiro, n.º 15, no Bairro da Penha de França.

1940

Conclui os estudos de Serralharia Mecânica no Escola Industrial de Afonso Domingues. Consegue o seu primeiro emprego como serralheiro mecânico nas oficinas dos Hospitais Civis de Lisboa.

À noite frequenta a biblioteca municipal do Palácio das Galveias, «lendo ao acaso de encontros e de catálogos, sem orientação, sem ninguém que me aconselhasse, com o mesmo assombro criador do navegante que vai inventando cada lugar que descobre», nas palavras do próprio Saramago.

1942

Passa a ocupar um lugar nos serviços administrativos dos Hospitais Civis de Lisboa.

1943

Trabalha na Caixa de Abono de Família do Pessoal da Indústria de Cerâmica, de onde foi afastado em 1949 em consequência do seu apoio à campanha eleitoral de Norton de Matos, o candidato da oposição à Presidência da República.

1944

Casa-se com a pintora Ilda Reis.

1947

Publica Terra do Pecado, o seu primeiro romance, intitulado inicialmente A Viúva.

Nasce a sua filha, Violante.

Até 1953 e durante a segunda metade dos anos cinquenta escreve numerosos poemas, contos – alguns dos quais são publicados em revistas e jornais – e esboça a redação de pelo menos quatro romances, dos quais apenas conclui um.

1948

Morre o seu avô, Jerónimo Melrinho.

1950

Começa a trabalhar na Caixa de Previdência do Pessoal da Companhia Previdente, fazendo cálculos de subsídios e de pensões, graças à mediação do seu antigo professor Jorge O´Neil.

1953

Termina Clarabóia, romance inédito, com que encerra uma série de infrutíferas tentativas narrativas que aborda sob títulos como O Mel e o Fel, Os Emparedados e Rua.

1955

A convite de Nataniel Costa enceta colaboração com a editora Estúdios Cor, no sector de produção. O seu nome começa a ser conhecido no campo da literatura e da cultura. Inicia a sua atividade como tradutor, cifrada em mais de sessenta títulos, até meados da década de oitenta. Na segunda metade da década de cinquenta traduz cerca de dezasseis livros, entre eles de autores como Colette e Tolstoi.

1959

Abandona a Companhia Previdente para trabalhar exclusivamente na editora Estúdios Cor.

1964

Em 13 de Maio morre o seu pai, no Hospital dos Capuchos, aos sessenta e oito anos de idade.

1966

É editado o seu primeiro livro de poesia, Os Poemas Possíveis.

Ao longo desta década continua a sua atividade de tradutor, se bem que com mais moderação. Traduz, entre outros, Colette, Cassou, Audisio, Maupassant e Bonnard.

1967-1968

Colabora como crítico literário na revista Seara Nova. Nesta condição, escreve sobre vinte e três livros de ficção, entre eles títulos de Jorge de Sena, Agustina Bessa-Luís, Júlio Moreira, Alice Sampaio, Augusto Abelaira, Urbano Tavares Rodrigues, José Cardoso Pires, Rentes Carvalho, Nelson de Matos, Manuel Campos Pereira…

Publica crónicas no jornal A Capital, nas secções «Rua Acima, Rua Abaixo» e «Deste Mundo e do Outro».

1969

Filia-se no Partido Comunista Português.

Faz a sua primeira viagem ao estrangeiro (Paris).

Continua a publicar crónicas jornalísticas n’A Capital, na secção «Deste Mundo e do Outro».

1970

Divorcia-se de Ilda Reis.

Muda-se para Lisboa, depois de viver doze anos na Parede.

Inicia uma relação com a escritora Isabel da Nóbrega, que durará até 1986.

Publica o livro de poemas Provavelmente Alegria.

1971

Deixa a editora Estúdios Cor.

Sob o título Deste Mundo e do Outro, reúne as crónicas publicadas no jornal A Capital (1968-1969), cujo suplemento «A Semana» coordenou.

Continua a publicar crónicas nos jornais A Capital e Jornal do Fundão, na secção Deste Mundo e do Outro.

1972

Publica numerosas crónicas no Jornal do Fundão.

Trabalha como editorialista no Diário de Lisboa.

Nasce a sua primeira neta, Ana.

1973

Continua como editorialista no Diário de Lisboa.

Publica O Embargo.

Dá à estampa A Bagagem do Viajante, segundo volume das crónicas jornalísticas publicadas nos jornais diários A Capital e Jornal do Fundão (1971-1972).

Dirige o suplemento literário do Diário de Lisboa.

1974

Colabora com a revista Arquitectura.

Após a Revolução do 25 de Abril coordena uma equipa do Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis (FAOJ), sob dependência do Ministério da Educação.

Colabora como assessor do Ministério da Comunicação Social.

Edita o seu primeiro volume de crónicas políticas, As Opiniões Que o DL Teve, onde colige os editoriais que publicou anonimamente no Diário de Lisboa em 1972 e 1973.

1975

Publica no Diário de Notícias o «Primeiro e Segundo Poema dos Mortos».

É nomeado diretor-adjunto do Diário de Notícias. Acusado de radicalismo marxista, vive um tumultuoso momento de crise, paralelo à evolução política moderada da Revolução, que o afasta do jornal, sem sequer receber apoio do seu partido.

Ao ficar desempregado no 25 de Novembro, decide não procurar outro trabalho e dedicar-se exclusivamente à escrita e à tradução. Os seus únicos rendimentos provêm das traduções, e intensifica esta atividade, a partir deste ano, vertendo para português, entre 1976 e 1979, cerca de vinte e sete obras, muitas delas de carácter político: Frémontier, Jivkov, Moskovichov, Pramov, Grisnoni, Poulantzas, Bayer, Hegel, Romain…

Faz parte do Movimento Unitário de Trabalhadores Intelectuais para a Defesa da Revolução (MUTI).

Publica o livro de poemas O Ano de 1993.

1976

Faz uma recompilação das crónicas escritas no Diário de Notícias, que publica com o título Apontamentos.

Em Dezembro publica o romance Manual de Pintura e Caligrafia.

1977

No início do ano transfere-se durante uns meses para Lavre, Montemor-o-Novo, onde convive com trabalhadores da Unidade Coletiva de Produção Boa Esperança, com o objetivo de preparar o seu romance Levantado do Chão , que será publicado no ano de 1980.

1978

Publica Objecto Quase (contos).

1979

Publica a peça de teatro A Noite, que recebe o Prémio da Associação Portuguesa de Críticos.

Publica-se Poética dos Cinco Sentidos, livro de contos em que vários autores escrevem sobre os sentidos. A colaboração de José Saramago intitula-se O Ouvido.

O Círculo de Leitores encarrega-o de escrever um livro de viagens sobre Portugal.

1980

Surge Levantado do Chão, que marca o início do estilo saramaguiano. É-lhe atribuído o Prémio Cidade de Lisboa.

Publica a peça de teatro Que Farei com Este Livro?, representada nesse ano no Teatro de Almada. Entre esta data e 1985 traduz cerca de dez títulos de vários autores: Bautista, Honoré, Jivkov, Duby, Hikmet…

1981

É publicada Viagem a Portugal.

1982

Em Agosto morre a sua mãe, Maria da Piedade, aos 81 anos.

Publica Memorial do Convento, que o consagra internacionalmente.

Dá à estampa a segunda edição, revista e corrigida, de Provavelmente Alegria.

1983

Atribuição a Memorial do Convento do Prémio Pen Club 1983 e do Prémio Literário Município de Lisboa.

1984

Publica O Ano da Morte de Ricardo Reis.

Preside à Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores.

Nasce o seu neto, Tiago.

1985

É nomeado Comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada pelo Presidente da República, Mário Soares.

Prémio Pen Club 1985 pelo título O Ano da Morte de Ricardo Reis.

Prémio da Crítica 1985, pela Associação Portuguesa de Críticos.

1986

Termina a relação com Isabel da Nóbrega.

Publica A Jangada de Pedra.

Prémio Dom Dinis (Fundação Casa de Mateus) 1986, pela obra O Ano da Morte de Ricardo Reis.

Começa a escrever as crónicas «A Letra da Tabuleta» no JL (Jornal de Letras, Artes e Ideias).

Conhece Pilar del Río.

1987

Publica peça de teatro A Segunda Vida de Francisco de Assis, levada à cena posteriormente no Teatro Aberto.

Recebe o Prémio Grinzane-Cavour (Alba, Itália) 1987 atribuído a O Ano da Morte de Ricardo Reis.

1988

Casa-se com a jornalista Pilar del Río.

1989

Publica História do Cerco de Lisboa.

1990

Estreia no Teatro Alla Scalla de Milão a ópera Blimunda, com libreto do músico italiano Azio Corghi baseado no romance Memorial do Convento.

1991

Publica O Evangelho Segundo Jesus Cristo, obra galardoada com o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores e com o Prémio Brancatti (Zafferana, Itália).

É nomeado Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Turim e Sevilha.

O governo francês concede-lhe o título de Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras.

A Lello Editores publica a sua obra completa em três tomos.

1992

O governo português veta a candidatura de O Evangelho Segundo Jesus Cristo ao Prémio Literário Europeu.

Em Itália, recebe o Prémio Internacional Ennio Flaiano (Pescara, Itália) atribuído ao romance Levantado do Chão.

É-lhe concedido o Prémio Literário Internacional Mondello (Palermo, Itália).

1993

Transfere a sua residência para Lanzarote.

Publica a sua quarta peça de teatro, In Nomine Dei, que é distinguida com o Grande Prémio de Teatro da Associação Portuguesa de Escritores.

Torna-se membro do Parlamento Internacional de Escritores, com sede em Estrasburgo.

Atribuição do The Independent Foreign Fiction Award (Inglaterra) a O Ano da Morte de Ricardo Reis (tradução inglesa).

Recebe o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores.

Estreia no teatro de Münster (Alemanha) da ópera Divara, com música de Azio Corghi e libreto baseado na peça In Nomine Dei.

1994

Publica-se o primeiro volume de Cadernos de Lanzarote.

Ingressa na Academia Universal das Culturas (Paris).

Ingressa na Academia Argentina de Letras.

Ingressa no Patronato de Honra da Fundação César Manrique (Lanzarote).

É nomeado Presidente Honorário da Sociedade Portuguesa de Autores.

1995

Publica Ensaio sobre a Cegueira.

Publica o segundo volume de Cadernos de Lanzarote.

É-lhe atribuído o Prémio Camões.

É nomeado Doutor Honoris Causa pela Universidade de Manchester (Inglaterra).

Estreia de A Morte de Lázaro, com música de Azio Corghi e libreto baseado nas obras In Nomine Dei, O Evangelho Segundo Jesus Cristo e Memorial do Convento.

Recebe o Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.

1996

Viaja para o Brasil a fim de receber o Prémio Camões.

Publica o terceiro volume de Cadernos de Lanzarote.

1997

Sai o quarto volume de Cadernos de Lanzarote.

Publica o romance Todos os Nomes.

É nomeado Filho Adoptivo de Lanzarote.

Publica o Conto da Ilha Desconhecida.

Doutor Honoris Causa, Universidade de Castilha-la-Mancha (Espanha).

1998

Recebe o Prémio Nobel da Literatura «… pela sua capacidade de tornar compreensível uma realidade fugidia, com parábolas sustentadas pela imaginação, pela compaixão e pela ironia», segundo a Academia Sueca.

Sai o quinto volume de Cadernos de Lanzarote.

É-lhe atribuído o Prémio Scanno/Universidade G. D’Annunzi pelo livro Objecto Quase.

1999

Publica Folhas Políticas.

É nomeado Filho Adoptivo de Tías (Lanzarote).

Visita e permanece durante alguns dias no México, com os Zapatistas.

Doutor Honoris Causa, Universidade de Évora (Portugal).

Doutor Honoris Causa, Universidade de Nottingham (Inglaterra).

Doutor Honoris Causa, Universidade de Porto Alegre (Brasil).

Doutor Honoris Causa, Universidade de Minas Gerais (Brasil).

Doutor Honoris Causa, Universidade de Santa Catarina (Brasil)

Doutor Honoris Causa, Universidade de Rio de Janeiro (Brasil).

Doutor Honoris Causa, Universidade de Massachusetts (EUA).

Doutor Honoris Causa, Universidade de Las Palmas de Gran Canaria (Espanha).

Doutor Honoris Causa, Universidade Pontifícia de Valência (Espanha).

Doutor Honoris Causa, Universidade de Rio Grande do Sul (Brasil).

Doutor Honoris Causa, Universidade de Fluminense (Brasil).

Doutor Honoris Causa, Universidade de Michel de Montaigne (França).

2000

Publica A Caverna.

Recebe a Medalha de Ouro que lhe é outorgada pelo Governo de Canárias.

Doutor Honoris Causa, Universidade de Salamanca (Espanha).

Doutor Honoris Causa, Universidade de Santiago do Chile (Chile).

Doutor Honoris Causa, Universidade do Uruguai (Uruguai).

2001

Publica A Maior Flor do Mundo.

Recebe o Prémio Canárias Internacional concedido pelo Governo de Canárias.

Doutor Honoris Causa, Universidade de Granada (Espanha).

Doutor Honoris Causa, Universidade Carlos III (Espanha).

Doutor Honoris Causa, Universidade de Roma (Itália).

2002

Publica O Homem Duplicado.

Doutor Honoris Causa, Universidade de Stranieri de Siena (Itália).

2003

Doutor Honoris Causa, Universidade Autónoma do México (México).

Doutor Honoris Causa, Universidade de Tabasco (México).

Doutor Honoris Causa, Universidade de Buenos Aires (Argentina).

2004

Publica Ensaio sobre a Lucidez.

Doutor Honoris Causa, Universidade Charles de Gaulle (França).

Doutor Honoris Causa, Universidade de Alicante (Espanha).

Doutor Honoris Causa, Universidade de Coimbra (Portugal).

Doutor Honoris Causa, Universidade de Brasília (Brasil).

2005

Publica Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido.

Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido é traduzido para italiano.

Doutor Honoris Causa, Universidade de Edmonton (Canadá).

Doutor Honoris Causa, Universidade Nacional de El Salvador (El Salvador).

Doutor Honoris Causa, Universidade Nacional de São José da Costa Rica (Costa Rica).

Em fins de Julho a Companhia de Teatro O Bando estreia uma adaptação teatral de Ensaio sobre a Cegueira no Teatro da Trindade. A dramaturgia e a encenação são de João Brites.

Doutor Honoris Causa, Universidade de Estocolmo (Suécia).

Compra uma casa em Lisboa, no Bairro do Arco do Cego, que a partir de finais de Outubro lhe servirá de residência durante as suas permanências na capital.

Publica As Intermitências da Morte. No Teatro Nacional de São Carlos tem lugar uma iniciativa inédita: a apresentação conjunta das edições portuguesa, brasileira, catalã, italiana e espanhola (de Espanha e da América falante do castelhano), com leituras de excertos da obra em todas estas línguas, num ato de homenagem à diversidade cultural. A edição foi impressa em papel «amigo das florestas», por acordo entre José Saramago, editores e a Greenpeace. A música de Bach foi o fundo musical do evento.

2006

É nomeado Filho Predileto da Província de Granada.

Em fevereiro começa a escrever As Pequenas Memórias, concluindo o livro em Agosto. Trata-se de um projeto concebido e amadurecido durante mais de vinte anos.

No Verão inaugura-se a biblioteca de sua casa em Tías, Lanzarote, numa festa cultural com a bailarina María Pagés e os cantores Luis Pastor e Pasión Vega, e à qual assistem numerosos amigos de Espanha e de Portugal.

Publica As Pequenas Memórias. O lançamento é feito na Azinhaga, coincidindo com a passagem do seu 84.º aniversário.

É-lhe atribuído o Prémio Dolores Ibarruri.

Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Dublin no Bloomsday (Irlanda).

Em Guadalajara, México, procede-se à leitura teatral de As Intermitências da Morte com Gael Diaz Bernal.

Petras, Gracia: Concerto A Maior Flor do Mundo.

Lisboa: estreia de Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido, no Teatro Nacional de São Carlos.

Milão: estreia no Teatro Alla Scalla de Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido.

2007

A 17 de janeiro Luís Pastor apresenta o CD Nesta Esquina do Tempo, em que são musicados poemas de Saramago.

A 3 de fevereiro são apresentadas As Pequenas Memórias em Tías, Lanzarote.

Em fevereiro começa a escrever A Viagem do Elefante. Até maio escreve cerca de quarenta páginas, mas depressa o interrompe por problemas de saúde. Só voltará a pegar-lhe em fevereiro de 2008.

A 28 de fevereiro é nomeado Filho Predileto da Andaluzia.

A 7 de março é levado à cena, em Nova Iorque, o seu romance Ensaio sobre a Cegueira, pela mão do diretor artístico da Godlight Theater Company.

A 15 de março é nomeado Doutor Honoris Causa pela Universidade Autónoma de Madrid.

A 20 de março apresenta-se na Corunha La flor más grande del mundo, uma curta-metragem de animação baseada no conto de Saramago A Maior Flor do Mundo, realizada por Juan Pablo Etcheverry e com música de Emilio Aragón.

Em março estreia-se em Helsínquia Baltasar e Blimunda, espetáculo musical realizado sobre textos do Memorial do Convento e música de Domenico Scarlatti. Na obra, criada e dirigida por Lisbeth Landefort, intervêm, além de uma voz recitante, a cravista Elina Mustonen, a soprano Sirkka Lampimäki e a bailarina Lili Dahlberg. O espetáculo estrear-se-á em Madrid a 16 de novembro, para celebrar o 85.º aniversário do escritor; em Lisboa, a 18 de novembro; em Lanzarote, a 13 de janeiro de 2008.

Em abril termina o texto «As Sete Palavras do Homem» [«Las siete palabras del hombre»]. É uma encomenda de Jordi Savall para acompanhar a sua gravação da versão orquestral de As Sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz de Joseph Haydn, à frente da orquestra Le Concert des Nations. O texto de Saramago reproduz-se no folheto que acompanha o CD. As Sete Palavras de Cristo na Cruz é uma partitura encomendada ao compositor vienense pela Hermandad da Santa Cueva de Cádiz, em 1785. Constitui um desafio, pois tratava-se de criar um «oratório sem palavras», em sete movimentos lentos (sonatas), que servissem de contraponto musical às palavras lidas dos evangelhos.

Em junho começa a escrever A Viagem do Elefante, que interromperá em Outubro por motivo de uma doença grave. Saramago explicaria a origem do romance: «Foi há uns dez anos, em Salzburgo. Num restaurante chamado precisamente O Elefante, vi um friso de pequenas esculturas que representavam a caminhada de um elefante desde Lisboa até Viena.» Numa folha de agradecimentos, no início do livro, o autor precisa as circunstâncias que favoreceram o nascimento da obra, a propósito de um jantar no referido restaurante, depois de proferir uma conferência na Universidade de Salzburgo: «Foi necessário que os ignotos fados se tivessem situado na cidade de Mozart para que este escritor pudesse perguntar: «Que figuras são essas?» As figuras eram umas pequenas esculturas de madeira postas em fila, e a primeira delas, da direita para a esquerda, era a Torre de Belém em Lisboa. A seguir vinham representações de vários edifícios e monumentos europeus que manifestamente anunciavam um itinerário. Disseram-me que se tratava da viagem de um elefante que, no século XVI, exatamente em 1551, sendo rei D. João III, foi levado desde Lisboa até Viena. Pressenti que aí podia haver uma história…»

Em junho cria a Fundação José Saramago, não apenas com o objetivo de promover a conservação, o estudo e o conhecimento da sua obra mas também de intervir social e culturalmente, de impulsionar ações a favor do ambiente e de contribuir para a promoção ativa dos direitos humanos. Numa declaração de princípios assinada a 29 de junho de 2007 por José Saramago, dirigida aos patronos da sua Fundação, expõe como suas vontades:

«a ) Que a Fundação José Saramago assuma, nas suas atividades, como norma de conduta, tanto na letra como no espírito, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada em Nova Iorque no dia 10 de Dezembro de 1948; b) Que todas as ações da Fundação José Saramago sejam orientadas à luz deste documento que, embora longe da perfeição, é, ainda assim, para quem se decidir a aplicá-lo nas diversas práticas e necessidades da vida, como uma bússola, a qual, mesmo não sabendo traçar o caminho, sempre aponta o Norte; c) Que à Fundação José Saramago mereçam atenção particular os problemas do meio ambiente e do aquecimento global do planeta, os quais atingiram níveis de tal gravidade que já ameaçam escapar às intervenções corretivas que começam a esboçar-se no mundo.» E conclui: «Bem sei que, por si só, a Fundação José Saramago não poderá resolver nenhum destes problemas, mas deverá trabalhar como se para isso tivesse nascido. Como se vê, não vos peço muito, peço-vos tudo.»

A 15 de julho é publicada uma entrevista de João Céu e Silva no Diário de Notícias, em que Saramago declara que, no seu entender, Portugal acabará por se integrar administrativamente, embora não culturalmente, na Espanha: «Não deixaríamos de falar português, não deixaríamos de escrever na nossa língua e certamente com dez milhões de habitante teríamos tudo a ganhar em desenvolvimento nesse tipo de aproximação e de integração territorial, administrativa e estrutural.» E sugere que a Espanha provavelmente deveria mudar de nome, passando a chamar-se Ibéria: «Se Espanha ofende os nossos brios, era uma questão a negociar.» As suas palavras têm grande ressonância polémica na Península Ibérica e geram um grande debate público.

Em Cartagena das Índias, Colômbia, intervém perante um fórum de líderes da América organizado pela Fundación Carolina, para falar da necessidade da emergência do mundo indígena na América. «O outro lado da lua» foi o título da sua intervenção.

A 16 de julho, em Castril (Granada, Espanha), numa renovação de votos, volta a contrair matrimónio com Pilar del Río, num ato simbólico de homenagem à mãe de Pilar, meses após a sua morte. Nessa noite Paco Ibañez dá um recital emocionante na praça da aldeia em memória de Carmen, mãe de 15 filhos, da mãe de Saramago, Maria da Piedade, e também da sua própria mãe, uma corajosa exilada que não se rendeu.

O realizador de cinema Fernando Meirelles trabalha na adaptação cinematográfica do Ensaio sobre a Cegueira.

Em Setembro recebe o Prémio Save the Children pela sua contribuição na defesa dos direitos da infância, juntamente com Graça Machel, Jane Fonda e Anne Sophie Mutter.

Em outubro viaja para a Argentina, para assistir à reunião do júri do Prémio Clarín de romance e visitar o Memorial aos desaparecidos da ditadura com as Mães e as Avós de Maio, que iam falando dos nomes dos seus filhos como se os nomes fossem pessoas. Saramago acariciou as pessoas, embora fosse em cadeira de rodas. Regressa a Espanha muito debilitado por uma pneumonia, tendo que ingressar num hospital de Madrid.

A 23 de novembro a Fundação César Manrique (Lanzarote) inaugura uma grande exposição, comissariada por Fernando Gómez Aguilera, dedicada à sua vida e à sua obra literária, intitulada José Saramago. A Consistência dos Sonhos. Além de inéditos descobertos durante o período preparatório da mostra, reúne abundantes manuscritos, primeiras edições, material documental, agendas pessoais, jornais e revistas, cadernos de notas, obras e documentos audiovisuais, traduções, num total de mais de um milhar de documentos. Ao ato, que congrega autoridades nacionais e amigos de vários países, Saramago desloca-se em cadeira de rodas e expressa o seu agradecimento e a sua emoção: «Não sabia que tinha trabalhado tanto.»

Depois de treze anos de afrontas e coincidindo com o 25.º aniversário da primeira edição de Memorial do Convento, a Câmara Municipal de Mafra concede-lhe a Medalha de Ouro Municipal. Saramago aceita a distinção «em nome do povo de Mafra».

Em dezembro representa-se no Centro Andaluz de Teatro (CAT), em Sevilha, a sua peça de teatro In Nomine Dei uma crítica da intolerância e do fanatismo religiosos, encenada por José Carlos Plaza e produzida pelo próprio CAT.

Representação da peça Que Farei com Este Livro? pela Companhia de Teatro de Almada em Almada (Portugal).

A 9 de dezembro a curta-metragem de animação La flor más grande del mundo (realização de Juan Pablo Etcheverry sobre o conto de José Saramago A Maior Flor do Mundo) ganhou o prémio de melhor filme de animação no Anchorage International Film Festival no Alaska.

A 18 de dezembro dá entrada num hospital de Lanzarote, acometido por uma pneumonia que evoluirá, com complicações, ao ponto de pôr a sua vida em risco. Estará hospitalizado um mês e três dias.

2008

No dia 13 de janeiro encerra, na Fundação César Manrique (Lanzarote), a Exposição José Saramago. A Consistência dos Sonhos.

A 22 de janeiro tem alta hospitalar e regressa a casa.

No dia seguinte a abandonar o hospital, retoma a escrita de A Viagem do Elefante, interrompida pela doença. Os dois primeiros dias dedica-os à correção do que já estava escrito em cerca de quarenta páginas e no terceiro já avança na história. Numa entrevista publicada em outubro de 2008, no Brasil, comentará: «É sabido que passei por uma doença muito grave. Tive que interromper a escrita do livro [A Viagem do Elefante]. Internaram-me num hospital, mas vinte e quatro horas depois de regressar a casa já estava sentado a escrever. Entre finais de fevereiro e agosto, não parei. Pode concluir-se que retomei os meus hábitos de sempre: disciplina, trabalho regular e um pouco de obstinação.» Um mês mais tarde insistiria: «Comecei o livro em fevereiro de 2007, e até maio escrevi cerca de 40 páginas. Não avancei porque a minha saúde piorou. Mas, como já me havia decidido por um certo tipo de narrativa, não se produziu nenhuma alteração no estilo […] É como se houvesse outro que escrevesse por mim.»

Em fevereiro, foi nomeada a curta-metragem de animação La flor más grande del mundo (realização de Juan Pablo Etcheverry sobre o conto de José Saramago A Maior Flor do Mundo) para a edição dos Prémios Goya 2008 da Academia das Artes e Ciências Cinematográficas de Espanha. Com estas distinções, A Maior Flor do Mundo consegue outro grande êxito na sua passagem pelos festivais VII edição dos Premios Mestre Mateo (Academia Galega do Audiovisual) ou 17.º Tokyo Global Environmental Film Festival.

A 28 de fevereiro a Fundação José Saramago é reconhecida oficialmente pelo governo português, com publicação no Diário da República desse dia.

A 1 de março inauguram-se as atividades da Fundação José Saramago em Lanzarote com um encontro na biblioteca entre Saramago e María Kodama para falar de Borges. A mesma atividade será organizada em Lisboa pela sua Fundação a 20 de junho, subordinada ao título «E se falássemos de Borges?».

Primeiros ateliers com escolas no auditório da Fundação José Saramago em Lisboa (Portugal) a propósito da curta-metragem de animação A Maior Flor do Mundo, disponível em DVD em versão bilingue.

A 15 de março, homenagem a José Saramago (Teatro Nacional Dona Maria II / Companhia de Teatro de Almada mesa-redonda «O Teatro em José Saramago» e descerramento de uma placa de homenagem ao escritor) no TNDM II em Lisboa (Portugal).

A 29 de março o ministro da Cultura de Portugal, José António Pinto Ribeiro, visita Saramago em Lanzarote.
Em abril viaja até Lisboa, onde no dia 23 se inaugura, com a presença do primeiro-ministro do seu país, a Exposição José Saramago. A Consistência dos Sonhos, organizada, na Galeria de Pintura do Rei D. Luís, no Palácio Nacional da Ajuda, pelo Ministério da Cultura português (Instituto dos Museus e Conservação IMC, Biblioteca Nacional de Portugal BNP e Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas DGLB). Durante a sua permanência de três meses em Lisboa, continua escrevendo A Viagem do Elefante.

A 26 de abril a curta-metragem de animação La flor más grande del mundo (realização de Juan Pablo Etcheverry sobre o conto de José Saramago A Maior Flor do Mundo) ganhou o prémio de melhor filme de animação no Festival Contraplano 08 em Segovia.

A 14 de maio, o Festival de Cinema de Cannes abre com o filme Blindness, uma adaptação do romance Ensaio sobre a Cegueira transposta para os ecrãs pelo realizador brasileiro Fernando Meirelles. Quatro dias mais tarde, Meirelles e os produtores do filme exibem-no em Lisboa num visionamento privado a que assiste José Saramago. Na capital lusa, o filme estreará em outubro. Apesar das suas reticências a que os seus romances sejam transpostos para cinema, Saramago sente-se satisfeito com o trabalho do cineasta: «O resultado da adaptação de Fernando Meirelles é mais que satisfatório. Considero-o mesmo brilhante. O essencial da história está ali, como seria de esperar, mas sobretudo encontrei, na narrativa cinematográfica, o mesmo espírito e o mesmo impulso humanístico que me levaram a escrever o livro.»

A 31 de maio inaugura-se uma extensão local da Fundação José Saramago em Azinhaga. Nesse mesmo dia, a sua aldeia natal gemina-se com os municípios de Tías (Lanzarote) e Castril (Granada), reunindo-se assim, simbolicamente, três municípios vinculados à história sentimental de Saramago. Homenagem a Pilar del Río com descerramento de placa toponímica em Azinhaga. Lançamento do livro Memórias da Terra de José Saramago Azinhaga, de José Henriques Dias, primeiro título editado pela Fundação José Saramago, em Azinhaga.

Realização de ateliers com escolas, a propósito da curta-metragem de animação A Maior Flor do Mundo, em Azinhaga (Ribatejo, Portugal), no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Criança.

Representação única da peça Que Farei com Este Livro? pela Companhia de Teatro de Almada no Teatro Municipal de Almada, em Almada (Portugal).

The Biggest Flower in the World (realização de Juan Pablo Etcheverry sobre o conto de José Saramago A Maior Flor do Mundo) vence o Prémio de Melhor Argumento no Chicago Short Film Festival (Festival de Curtas-Metragens de Chicago).

A 20 de junho, palestra-colóquio E Se Falássemos de Borges? com María Kodama e José Saramago na Biblioteca Nacional, em Lisboa.

Concerto executado pelo Quarteto Vianna da Motta, com interpretação do Quarteto n.º 9, op. 117, de D. Shostakovich na Galeria de Pintura do Rei D. Luís I no Palácio Nacional da Ajuda (Lisboa).

A 10 de julho a Fundação José Saramago realiza no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, uma homenagem a Jorge de Sena subordinada ao título «Jorge de Sena Um regresso», com a presença e participação do ministro da Cultura português, José António Pinto Ribeiro, e intervenções de José Saramago, Eduardo Lourenço, Vítor Aguiar e Silva, Jorge Fazenda Lourenço, António Mega Ferreira e Jorge Vaz de Carvalho, que procedeu à leitura de poemas do homenageado, acompanhado ao piano por António Rosado.

Curso Livre em torno da obra de José Saramago, organizado pelo IMC e pela DGLB no âmbito da exposição José Saramago. A Consistência dos Sonhos (10 e 11 de julho), na Galeria de Pintura do Rei D. Luís I, Palácio Nacional da Ajuda (Lisboa).

A 16 de julho, a Câmara Municipal de Lisboa aprova a cedência da Casa dos Bicos à Fundação José Saramago por um período de 10 anos para que ali se instale a sua sede. No dia seguinte é assinado o protocolo de cedência entre a Câmara e a Fundação.

A 18 de julho voa de Lisboa para Lanzarote.

Lançamento do sítio da Fundação José Saramago na Internet.

A 22 de agosto acaba na sua casa em Lanzarote A Viagem do Elefante. A obra parte de um episódio histórico localizado em 1551, a oferta de um elefante asiático por parte do rei D. João III de Portugal a seu primo, o arquiduque Maximiliano de Áustria. Saramago reinventa a viagem que, por terra e por mar, o paquiderme realiza desde Belém (Lisboa) a Viena. A ironia, o sarcasmo e o humor formam uma amálgama com a compaixão para oferecer, como o próprio autor assinalou, «uma metáfora da vida humana»: «O que me levou a este livro foi o destino do elefante, no sentido em que, depois de morrer, lhe cortaram as patas para as colocarem na entrada do palácio para porem nelas os guarda-chuvas, as bengalas e as sombrinhas. Sem esse destino, tão grotesco, tão absurdo, talvez não tivesse escrito o livro. Em qualquer caso, excluindo esse final, o livro é uma metáfora da vida humana.» Mas o alcance metafísico da narração não exclui a dimensão crítica da metáfora mediante a qual o escritor, amparado no seu célebre pessimismo, censura a estupidez do homem e investe duramente contra a Igreja, a nobreza e o estatuto militar, em suma, contra o poder, desmitificando as instituições para sublinhar o valor do marginal e do aparentemente menor, do ponto de vista histórico. Saramago assume uma posição cervantina e presta tributo à língua portuguesa, ao gosto pelo idioma e à invenção narrativa.

Em fins de agosto dá-se início ao blog da Fundação José Saramago.

Coincidindo com a festa anual (Seixal, Portugal) do jornal Avante!, o Partido Comunista Português presta-lhe uma homenagem.

A 15 de setembro inicia «O Caderno de Saramago» no blog da Fundação José Saramago, onde publicará regularmente os seus textos, por norma cinco artigos por semana.

A 22 de novembro viaja de Lisboa para o Brasil.

A 26 de novembro A Viagem do Elefante será apresentado, pela primeira vez, na Academia Brasileira das Letras, no Rio de Janeiro, e no dia seguinte, na Sesc Pinheiros, em São Paulo. A 3 de dezembro o mesmo sucederá no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. As edições portuguesa, brasileira, espanhola e catalã saem em simultâneo.

A 29 de novembro é inaugurada a Exposição José Saramago. A Consistência dos Sonhos no Instituto Tomie Ohtake de São Paulo.

A 1 de dezembro regressa a Lisboa.

Em coedição com a Fundação José Saramago, a Editorial Caminho imprime una edição especial limitada e numerada de A Viagem do Elefante, que inclui 15 ilustrações de Pedro Proença.

Edita-se e é apresentada uma edição especial de Levantado do Chão ilustrada por Armando Alves e coordenada por José da Cruz Santos, da editora Modo de Ler. O livro apresenta-se numa caixa com gravação e tem um prólogo de Pilar del Río.

A 5 de dezembro escreve, na sua casa de Lisboa, a primeira página do seu novo livro, obra que conclui no dia 16 de março em Lanzarote. Cinco dias antes anunciara no Brasil que começaria um novo livro.

A 10 de dezembro, coincidindo com o 10.º aniversário da atribuição do Prémio Nobel, a Fundação José Saramago realiza uma homenagem à literatura portuguesa na Casa do Alentejo em Lisboa, na qual 25 escritores, atores e jornalistas emprestam a sua voz a autores já desaparecidos. Saramago lê Fernando Namora. A Fundação distribui nesse dia na imprensa portuguesa um folheto com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a propósito do seu 60.º aniversário.

A 11 de dezembro, também na Casa do Alentejo, o juiz Baltasar Garzón, em colóquio com Saramago, explica o processo de Pinochet e os atos judiciais que se estão levando a cabo na América contra os crimes das ditaduras.

A 12 de dezembro inaugura em Lisboa, com María Kodama, o Memorial a Jorge Luis Borges.

A 16 de dezembro apresenta a edição espanhola de A Viagem do Elefante na Casa de América, Madrid.

A 28 de dezembro regressa a Lanzarote, depois de passar o Natal em Granada. Escreve para o blog a entrada «Cunhados», que reflete o que significa para ele, filho único, estar com tantos cunhados, os 14 irmãos e irmãs de Pilar e seus respetivos pares.

2009

Durante o mês de janeiro, dedica-se a escrever o seu novo livro.

No início de fevereiro participa numa homenagem a Jorge Sampaio, em Lisboa.

A 5 de fevereiro visita as obras de remodelação da Casa dos Bicos, futura sede da fundação que leva o seu nome.

A 1 de março estreia em Madrid o filme A ciegas, de Fernando Meirelles, adaptação cinematográfica de Ensaio sobre a Cegueira. Saramago participa, juntamente com Meirelles, na sua apresentação.

A 4 de março inaugura-se em Albacete (Espanha) a Casa da Cultura José Saramago, com a presença do ministro da Cultura espanhol.

A 16 de março, em Lanzarote, conclui o seu novo livro. A sua publicação só acontecerá no mês de Outubro.

A 26 de março encerra, em Arrecife de Lanzarote, as II Jornadas sobre Legalidade Urbanística, organizadas pelo presidente do município de Lanzarote.

A 5 de abril, dá entrada numa clínica de Lanzarote afetado por problemas de saúde. Permanece hospitalizado quinze dias.

A 13 de abril, abandona por umas horas a clínica para participar na mesa-redonda, «Experiência de Um Sequestro», organizada conjuntamente pela Fundação César Manrique e pela Fundação José Saramago, com o política colombiano Sigifredo López, primeiramente sequestrado e libertado oito anos depois pelas FARC. A 20 de Abril deixa o hospital.

A 16 de abril recebe em Granada (Espanha), juntamente com Dario Fo, o XI Prémio Caja Granada de Cooperación Internacional, nos atos preliminares do Hay Festival Alambra, em «reconhecimento do esforço e da dedicação de ambos na procura de uma maior justiça social no mundo». No valor de cinquenta mil euros, o dinheiro será utilizado para construir um Centro Cultural Sete Sóis Sete Luas na Ribeira Grande (Ilha de Santo Antão), em Cabo Verde. Saramago, ainda internado, não pode assistir à entrega do prémio e envia uma gravação.

A 23 de abril, coincidindo com o Dia Mundial do Livro, a Fundação José Saramago e a Editorial Caminho publicam conjuntamente O Caderno, uma compilação dos textos diários que Saramago, desde Setembro de 2008 até meados de março de 2009, foi publicando no seu blog O Caderno de Saramago, incorporado na página web da sua Fundação e difundido por internet. A sua primeira entrada a 17 de setembro , intitulada «Palavras para uma cidade», dedicou-a a Lisboa. Sobre os seus comentários confessou: «Disseram-me que tinham reservado para mim um espaço no blog [da Fundação José Saramago] e que tinha que escrever nele o que fosse, comentários, reflexões, simples opiniões sobre isto e aquilo, enfim, o que viesse ao caso.» A última entrada deste tomo, 15 de março, intitula-se «Presidenta» e é uma declaração de intenções do que quer que seja a Fundação e o papel de Pilar, sua mulher, na organização do trabalho atual e na projeção que venha a ter no futuro.

A 24, lançamento do livro Uma longa viagem com Saramago, da autoria de João Céu e Silva, publicado pela Porto Editora, e apresentado por Ricardo Araújo Pereira.

A 23 de maio, no município de Almada (Portugal), inaugura-se a Biblioteca Municipal José Saramago, integrada no complexo arquitetónico do Centro Cívico do Feijó. As instalações incorporam um grande mural de catorze mil azulejos criado por Querubim Lapa. Em começos de Junho de 2008 fez-se o anúncio da atribuição do nome do escritor à biblioteca, coincidindo com a visita do Prémio Nobel a Almada para assistir à representação da peça teatral Que Farei com Este Livro?, escrita por Saramago para a Companhia de Teatro de Almada e estreada em 1980.

No mesmo dia 23, a curta-metragem de animação La flor más grande del mundo (realização de Juan Pablo Etcheverry sobre o conto de José Saramago A Maior Flor do Mundo) ganhou o prémio de melhor curta-metragem de ficção ou de animação no Festival Internacional de Cine Ecológico e Natureza de Canarias.

A Editora Einaudi, que habitualmente edita em Itália a obra de Saramago, recusa a publicação de O Caderno, pelas referências críticas dedicadas ao primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, proprietário da empresa editora no post «Berlusconi & Cia». A Einaudi justificou a sua decisão de não publicar o livro «porque, entre muitas outras coisas, no mesmo se diz que Berlusconi é um delinquente. Quer se trate dele ou de qualquer outro expoente político, de qualquer segmento ou partido, a Einaudi defende a liberdade de criticar, mas nega-se a fazer sua uma acusação que qualquer tribunal condenaria [&] A Einaudi é propriedade de Berlusconi. E seria grotesco que esta casa editora fosse levada a tribunal por difamação ao seu dono, com a certeza de que seria condenada». O Prémio Nobel, para além de recusar a prática da censura, comentou à imprensa: «A verdade é que a situação que foi criada poderia definir-se como pitoresca, não fosse o facto de um político acumular tanto poder que faz temer a qualidade da democracia.» E juntou: «Deve ser duro viver quando o poder político e o empresarial se reúnem. Não invejo a sorte dos italianos, mas no final depende da vontade dos eleitores manter este estado de coisas ou mudá-lo». Em declarações ao diário El País, precisou: «O que digo dele é mais ou menos o que todo o mundo pensa, à exceção dos seus votantes. Dizemos que a democracia é o melhor dos sistemas, e é certo. Mas a sua fragilidade é enorme. Quando aparece um senhor assim, que utiliza os piores métodos e consegue milhões de votos, o que acho estranho não é que se levantem vozes indignadas que protestem, mas que não se produza um movimento social de recusa pelo simples facto de que arruína o prestígio do seu país.»

A 23 de maio viaja para Lisboa.

A 31 de maio participa, em Azinhaga (Ribatejo, Portugal), na celebração do primeiro aniversário da extensão local da Fundação que leva o seu nome. Por tal motivo, inaugura-se uma estátua de bronze sua, de um metro e oitenta de altura, obra do artista Armando Ferreira, que o retrata sentado num banco público com um livro na mão aberto numa página que diz: «A aldeia chama-se Azinhaga.» A peça com a qual a aldeia natal do escritor o homenageia está instalada na praça da aldeia Largo da Praça, frente ao edifício da Fundação José Saramago. A escultura, impulsionada pelo presidente da Junta de Freguesia de Azinhaga, Vítor Guia, foi custeada por um grupo de leitores portugueses, cuja comissão foi coordenada por José Miguel Noras, membro do grupo «Mais Saramago».

A 3 de junho, sob a designação Narrar, recordar, participa num encontro com o escritor Manuel Rivas organizado em La Coruña pela Fundação Casares, a propósito da sexta edição dos «Diálogos Literários de Mariñán».

A 15 de junho, na Casa do Alentejo, a Fundação José Saramago promove uma jornada de estudo e de homenagem ao escritor português José Rodrigues Miguéis (1901-1980), intitulada «Vamos ouvir José Rodrigues Miguéis» e inserida no ciclo inaugurado um ano antes com Jorge de Sena. No ato, coordenado pelo Professor da Universidade de Brown (Boston) Onésimo Teotónio de Almeida, intervêm, além do próprio Saramago, os Professores David Brookshaw, Duarte Barcelos, José Albino Pereira e Teresa Martins Marques.

A 18 e 19 de junho realiza a rota portuguesa percorrida por Salomão em A Viagem do Elefante. Acompanhado pelos colaboradores da Fundação José Saramago e por alguns jornalistas, vai em autocarro desde Belém (Lisboa) até à fronteira em Figueira de Castelo Rodrigo, seguindo um itinerário cujos objetivos fundamentais são: Constância, Castelo Novo, Belmonte, Sortelha, Cidadelhe e Castelo Rodrigo.

A 25 de junho é apresentado em Lisboa O Caderno, livro em que se recolhem as entradas do autor publicadas, desde setembro de 2008, no blog da Fundação que leva o seu nome. O ato, transmitido em direto por internet e realizado numa das salas do Tiara Park Atlantic Hotel, em Lisboa, consistiu numa conversa do autor com os jovens jornalistas Isabel Coutinho e José Mário Silva, responsáveis por alguns dos mais lidos blogs culturais em Portugal.

A 28 de unho Saramago visita as obras da Fundação na Casa dos Bicos, acompanhado pelos arquitetos responsáveis pela remodelação, e declara-se satisfeito com o trabalho realizado.

A 9 de Julho, é nomeado Sócio Correspondente da Academia Brasileira de Letras.

De 15 a 18 de outubro, realiza-se a segunda edição de «Escritaria», uma iniciativa que traz a criação literária para as ruas de Penafiel, mobilizando os seus habitantes e quem visita a cidade por esses dias. A Fundação José Saramago colaborou na organização deste encontro que promete continuar a fazer de Penafiel um local de discussão e de partilha em torno dos livros e dos seus autores. O tema da edição de 2009 foi dedicado a José Saramago que aí se deslocou, participando diariamente em diversos eventos em torno da sua obra, tendo sido objeto de destaque na sessão de encerramento o seu romance mais recente, Caim.

A 21 tem lugar uma conferência de imprensa com José Saramago a propósito de Caim, promovida pela sua editora, Caminho, na sede das instalações do Grupo Leya em Lisboa.

No dia 30, lançamento de Caim na Fundação Caixa Geral de Depósitos – Culturgest, em Lisboa, com a presença do autor.

Apresentação de Caim em conferência de imprensa, no dia 3 de novembro, na Casa de América, em Madrid, com José Saramago, e editado pela sua editora espanhola, Alfaguara.

Nos dias 14 e 15, a curta-metragem A Maior Flor do Mundo, adaptada do conto infantil homónimo de José Saramago, dirigida por Juan Pablo Etcheverry (Continental Producciones), foi distinguida com o Prémio FNAC para a Melhor Curta-Metragem Espanhola por votação do público infantil (a mesma distinção foi atribuída a O Soldadinho de Chumbo, adaptação do conto infantil de H. C. Andersen dirigido por Virginia Curiá e Tomás Conde). Para além deste prémio, a banda sonora de A Maior Flor do Mundo, composta por Emilio Aragón, foi distinguida com o Prémio Amigos da Música de Badalona para a Melhor Música Original.

A 22, na sequência da proibição da entrada em Marrocos de Aminatu Haidar (defensora incondicional dos Direitos Humanos e destacada ativista pela independência do Sahara Ocidental), José Saramago escreve-lhe uma carta de solidariedade, já no decorrer da greve de fome encetada por Aminatu e que duraria 32 dias.

A 1 de dezembro, visita-a no aeroporto de Guacimeta em Lanzarote onde esta permanecia ainda em greve de fome.

2010

No dia 29 de janeiro, na sequência do sismo que abalou o Haiti, dá-se início a uma campanha de solidariedade para com o povo haitiano dando vida às palavras de José Saramago, a propósito da tragédia, “Porque todos temos uma obrigação”. Esta campanha traduziu-se no lançamento de uma edição especial do livro A Jangada de Pedra, cujas vendas reverteram integralmente a favor das vítimas do sismo, através Fundo de Emergência da Cruz Vermelha, e foi promovida pela Fundação José Saramago, Grupo Leya e Editorial Caminho.

No dia 5 de fevereiro, lançamento de Biografia de José Saramago, da autoria de João Marques Lopes e publicada em coedição pela Guerra e Paz e pelas Edições Pluma. Esta biografia não contou com a participação de José Saramago.

No dia 17, lançamento de O Caderno 2 com prefácio de Umberto Eco, uma compilação dos textos diários que José Saramago publicou no seu blog O Caderno de Saramago, desde Setembro de 2008 até Novembro de 2009.

A 3 de março, exibição do filme Embargo, de António Ferreira, adaptado do conto homónimo de José Saramago, incluído na obra Objeto Quase. O filme fez parte da seleção oficial do Festival Fanstaporto 2010.

Nos dias 14 e 15 de abril, Juan Gelman (poeta e jornalista argentino, Prémio Cervantes 2007) visita Lisboa. Do programa constou uma conferência de imprensa no Instituto Cervantes, uma Aula Aberta na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa, e uma sessão na Casa do Alentejo com leitura de poemas por Juan Gelman e Nuno Júdice, acompanhada de trechos musicais de Astor Piazzola, interpretados por Gonçalo Pescada. José Saramago interveio na sessão por videoconferência desde Lanzarote. O poeta e jornalista fez-se acompanhar pelo seu editor Alejandro Schnetzer, da editora Libros del Zorro Rojo que, a par da Fundação José Saramago, Embaixada da Argentina, Instituto Cervantes e Casa da América Latina, também promoveu esta visita.

No dia 3 de maio, na Sala José Saramago em Arrecife, no âmbito do ciclo “El Autor y Su Obra – Encuentros com creadores”, realizou-se um colóquio com Ángeles Mastretta (jornalistas e escritora mexicana) e Pilar del Río. O evento foi organizado pela Fundação César Manrique e pela Fundação José Saramago.

No dia 18 de junho, às 12h30m, José Saramago faleceu na sua casa em Lanzarote, acompanhado por sua família e amigos mais próximos.
Às 17h, na sala da Biblioteca da Fundação José Saramago, em Lanzarote, o seu corpo ficou em câmara-ardente até às 2h da madrugada, para que todos os que assim o desejassem lhe pudessem prestar uma última homenagem.
Em simultâneo, a Sala José Saramago da Fundação César Manrique em Arrecife (Lanzarote) recebia leitores anónimos para uma leitura espontânea de excertos de obras de José Saramago.

No dia 19 de junho, pelas 13h30m, o seu corpo regressou a Lisboa num avião do Estado Português, acompanhado pela família, pela Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, e por amigos íntimos. Posteriormente, o seu corpo ficou em câmara-ardente no Salão Nobre da Câmara Municipal de Lisboa onde até à meia-noite mais de 20 mil pessoas se deslocaram para lhe prestar homenagem.

No dia 20 de junho, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Lisboa, às 11h, realizou-se uma cerimónia, que contou com a presença do Primeiro-Ministro José Sócrates e com participação de António Costa, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral do Partido Comunista Português, Carlos Reis, em representação da Fundação José Saramago, Gabriela Canavilhas, Ministra da Cultura em representação do Governo Português, María Teresa de la Vega, Vice-Presidenta do Governo Espanhol, em representação do Governo Espanhol. A cerimónia foi encerrada pela violoncelista Irene Lima, que interpretou El Cant dels Ocells (O Canto dos Pássaros), de Pau Casals, e uma peça de Bach. Irene Lima envergou para esta ocasião o vestido vermelho que Pilar del Río usou na cerimónia de entrega do Prémio Nobel, em 1998, e que tinha escrita pelo seu punho (e posteriormente bordada) uma frase de O Evangelho segundo Jesus Cristo: “Olharei a tua sombra se não quiseres que te olhe a ti, Quero estar onde a minha sombra estiver, se lá é que estiverem os teus olhos.”.

Às 12h30m o seu corpo foi cremado no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa, onde foi recebido por uma imensa multidão que se despediu de José Saramago levantando livros, como ele levantou do chão uma obra que tanto nos tem enriquecido.



“Não nos pediste muito, damos-te tudo” (Fundação José Saramago)

Com base na investigação realizada por Fernando Gómez Aguilera para José Saramago: A Consistência dos Sonhos – Cronobiografia (Editorial Caminho, Lisboa, 2008)




Adaptado daqui: Fundação José Saramago.
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