Filho de um cónego de Coimbra de
cepa fidalga, Francisco de Sá de Miranda nasceu nesta cidade, em 1481(?).
Estudou Gramática, Retórica e Humanidades na Escola de Santa Cruz e frequentou
depois a Universidade, ao tempo estabelecida em Lisboa, onde fez o curso de
Leis, passando de aluno aplicado a professor considerado.
Frequentou nessa altura a Corte,
datando-se de então a sua amizade com Bernardim Ribeiro. Para o Paço, compôs
cantigas, vilancetes e esparsas, ao gosto dos poetas do século XV.
Tendo-lhe falecido o pai,
empreendeu, em 1521, uma viagem a Itália. Graças a uma suposta parente
abastada, Vitória Colona, marquesa de Pescara e amiga de Miguel Ângelo, teve o
ensejo de conhecer e conviver com algumas personalidades do Renascimento
italiano – Bembo, Sannazzaro, Sadoletto, Ariosto –, apreciando muito a estética
literária que todos os humanistas cultivavam com entusiasmo.
No regresso a Portugal, em 1526, de
passagem por Espanha, terá conhecido os poetas em voga, Boscán e Garcilaso,
afadigados em introduzir a estética clássica no seu país.
Em 1627, lançou-se na composição de
uma comédia em prosa, à imitação de Plauto, Os
Estrangeiros, numa época em que Gil Vicente estava no auge da sua actividade
e prestígio. A Fábula do Mondego, a
écloga Alexo e alguns sonetos são
talvez as primeiras expressões portuguesas conhecidas do novo estilo.
Casado antes de maio de 1530 com D.
Briolanja de Azevedo, da melhor fidalguia minhota, beneficiou da Comenda das
Duas Igrejas, que o rei lhe concedeu. É na Quinta das Duas Igrejas, junto ao
rio Neiva, que compõe quase toda a sua obra, em novos moldes, por influência da
estética italiana.
O
resto da sua vida passou-a na Quinta da Tapada, entregue ao amanho da terra e
ao cultivo das letras, alheado da corte, mas mantendo convivência epistolar com
uma roda de admiradores, entre eles Pêro de Andrade Caminha, D. Francisco de Sá
de Meneses, D. Manuel de Portugal e mais tarde Diogo Bernardes, Jorge de Montemor
e António Ferreira. Aí lhe chegaram os pedidos insistentes da Corte, sobretudo
do príncipe D. João, pai de D. Sebastião, para que lhe enviasse as suas
composições, o que o levou a refundi-las.
Os últimos anos foram amargurados
por vários lutos: primeiro, a morte do filho em 1553; depois, a do príncipe D.
João, a da sua mulher e a de D. João III.
Muito atento ao que se passava no
seu país, as últimas composições estão repletas de comentários sociais e
moralistas, bem amargos e pessimistas.
Sabe-se que em maio de 1558 ainda
era vivo, mas já então bastante enfermo, e deve ter falecido pouco depois.
Nos séculos XVI e XVII foi o poeta
mais admirado depois de Luís de Camões. A consagração do novo estilo em
Portugal ficou a dever-se em grande parte a Sá de Miranda, secundado por uma plêiade
de discípulos.
Todavia, a consagração das suas
inovações teve de vencer grandes resistências, de que se queixou, mas foi
animado nessa campanha pelos jovens admiradores e pelo conhecimento da obra de
Garcilaso.
A. J. Saraiva & Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa
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