Português: Vida de Sá de Miranda

terça-feira, 9 de abril de 2019

Vida de Sá de Miranda

            Filho de um cónego de Coimbra de cepa fidalga, Francisco de Sá de Miranda nasceu nesta cidade, em 1481(?). Estudou Gramática, Retórica e Humanidades na Escola de Santa Cruz e frequentou depois a Universidade, ao tempo estabelecida em Lisboa, onde fez o curso de Leis, passando de aluno aplicado a professor considerado.
            Frequentou nessa altura a Corte, datando-se de então a sua amizade com Bernardim Ribeiro. Para o Paço, compôs cantigas, vilancetes e esparsas, ao gosto dos poetas do século XV.
            Tendo-lhe falecido o pai, empreendeu, em 1521, uma viagem a Itália. Graças a uma suposta parente abastada, Vitória Colona, marquesa de Pescara e amiga de Miguel Ângelo, teve o ensejo de conhecer e conviver com algumas personalidades do Renascimento italiano – Bembo, Sannazzaro, Sadoletto, Ariosto –, apreciando muito a estética literária que todos os humanistas cultivavam com entusiasmo.
            No regresso a Portugal, em 1526, de passagem por Espanha, terá conhecido os poetas em voga, Boscán e Garcilaso, afadigados em introduzir a estética clássica no seu país.
            Em 1627, lançou-se na composição de uma comédia em prosa, à imitação de Plauto, Os Estrangeiros, numa época em que Gil Vicente estava no auge da sua actividade e prestígio. A Fábula do Mondego, a écloga Alexo e alguns sonetos são talvez as primeiras expressões portuguesas conhecidas do novo estilo.
            Casado antes de maio de 1530 com D. Briolanja de Azevedo, da melhor fidalguia minhota, beneficiou da Comenda das Duas Igrejas, que o rei lhe concedeu. É na Quinta das Duas Igrejas, junto ao rio Neiva, que compõe quase toda a sua obra, em novos moldes, por influência da estética italiana.
            O resto da sua vida passou-a na Quinta da Tapada, entregue ao amanho da terra e ao cultivo das letras, alheado da corte, mas mantendo convivência epistolar com uma roda de admiradores, entre eles Pêro de Andrade Caminha, D. Francisco de Sá de Meneses, D. Manuel de Portugal e mais tarde Diogo Bernardes, Jorge de Montemor e António Ferreira. Aí lhe chegaram os pedidos insistentes da Corte, sobretudo do príncipe D. João, pai de D. Sebastião, para que lhe enviasse as suas composições, o que o levou a refundi-las.
            Os últimos anos foram amargurados por vários lutos: primeiro, a morte do filho em 1553; depois, a do príncipe D. João, a da sua mulher e a de D. João III.
            Muito atento ao que se passava no seu país, as últimas composições estão repletas de comentários sociais e moralistas, bem amargos e pessimistas.
            Sabe-se que em maio de 1558 ainda era vivo, mas já então bastante enfermo, e deve ter falecido pouco depois.
            Nos séculos XVI e XVII foi o poeta mais admirado depois de Luís de Camões. A consagração do novo estilo em Portugal ficou a dever-se em grande parte a Sá de Miranda, secundado por uma plêiade de discípulos.
            Todavia, a consagração das suas inovações teve de vencer grandes resistências, de que se queixou, mas foi animado nessa campanha pelos jovens admiradores e pelo conhecimento da obra de Garcilaso.


A. J. Saraiva & Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa

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