Português

quinta-feira, 12 de março de 2020

A crítica social nas obras e autores do programa do ensino secundário


Manual Encontros 12, Porto Editora

Camas nos hospitais


COVID-19: doentes testam positivo no privado depois de recusados na Linha SNS24

     A nossa saúde e a nossa vida, por extensão, estão entregues a gente para a qual escasseiam os adjetivos.

     Há doentes (já identificados como portadores do coronavírus) que só foram detetados por iniciativa própria e cujos diagnósticos só foram feitos depois de os pacientes terem decidido fazer os testes nas instituições de saúde privadas, pagando do seu bolso os exames.
     Alguns deles ligaram para a linha SNS24 a explicar que tinham elevadas suspeitas de estarem contaminados, por causa de determinados sintomas e de terem estado ausentes de Portugal em férias. No entanto, os técnicos que os atenderam explicaram-lhes que não seriam eleitos para testagem e a parte deles nem sequer foi sugerida a quarentena.

     Atente-se no depoimento de uma dessas pessoas: «Liguei para a Linha de saúde, mas disseram-me que o caso não era de risco e garantiram que eu podia fazer a vida normal, incluindo os meus filhos.». Nestas circunstâncias, desconfiadas de que poderão estar infetadas, acabam por agir por conta própria.

segunda-feira, 9 de março de 2020

COVID-19: Escolas de Lousada e Felgueiras encerradas

     Todas as escolhas dos concelhos de Felgueiras e Lousada passam a estar encerradas devido ao foco do novo coronavírus, responsável pela doença COVID-19, naqueles concelhos do distrito do Porto.
     Outros espaços públicos como ginásios, bibliotecas, piscinas e espaços culturais serão também encerrados por orientações das autoridades de saúde.

domingo, 8 de março de 2020

Análise do capítulo XLIV de Viagens na Minha Terra


Contextualização do capítulo

A carta de Carlos a Joaninha, datada de 1843, ocupa vários capítulos (XLIV-XLVIII) e é lida pela narrador-viajante e cronista da obra, em 1843, quando a recebe das mãos de Frei Dinis, que reencontra ao passar pelo vale de Santarém de regresso a Lisboa.
A carta é, sem simultâneo, uma carta-punhal e um texto autobiográfico e memorialístico, e evoca a tragédia familiar, que termina na mor, física ou moral, de todos os intervenientes.


Estrutura do capítulo XLIV

1.ª parte (linha 1 – “Olha o que será o resto!”): Considerações gerais sobre o passado e a personalidade de Carlos.

2.ª parte (“Tu não ignoras…” – “e não guardei verdade a ninguém.”): Análise da situação da família e dos erros cometidos.

3.ª parte (“Mas espera, ouve…” – Exílio de Carlos em Inglaterra e a sua devoção às três filhas da família que o acolhe.


Mudança de narrador e narratário

Narrador: Carlos autodiegético (1.ª pessoa), com uma dimensão de relato autobiográfico.

Narratário: Joaninha (2.ª pessoa).


Retrato de Carlos

▪ Carlos mostra confusão emocional («confunde-se, perde-se-me esta cabeça nos desvarios do coração.»), algum desespero («Eu estou perdido.») e sentimento de culpa.

Carlos perdeu a sua pureza e o seu idealismo quando integrou a vida em sociedade e aceitou as suas convenções.

Possui uma grande ânsia de viver («excessos»), mas, em simultâneo, sente uma grande frustração existencial por não ser quem sonhou.

Quando se refere ao passado familiar, Carlos mostra-se:
» amargurado («e imaginei-a poluída de um enorme crime…»);
» enraivecido e revoltado («não o podia ver, hoje que sei o que ele me é… Deus me perdoe, que ainda o posso ver menos!»);
» ressentido («… ainda o posso ver menos!») e incapaz de perdoar («… eu, como lhe hei de perdoar eu…»).

No amor, Carlos é uma figura volúvel, egoísta e mentirosa (mente às mulheres que o amam).

Afirma-se «perdido», por duas razões: a sua natureza incorrigível → energia em excesso e coração demasiado ardente; a perda da sua integridade pessoal e da sua honestidade, passando a reger-se pelas convenções, pelos interesses e pelas manhas sociais, o que o deixa profundamente angustiado e a sensação de que falhou.

Duvida que Joaninha o compreenda, pois é mulher, e ele acredita que as mulheres, como são diferentes dos homens, jamais entenderão os seus excessos. No entanto, conta-lhe a verdade, destruindo-lhe as ilusões, para que ela, conhecedora da verdade da natureza masculina, se prepare para as armadilhas do amor/coração.

A sua partida do vale ficou a dever-se ao crime que manchou a casa paterna (a morte do seu suposto pai), ignorando que o verdadeiro era Frei Dinis.

Por outro lado, julgava que a avó tinha sido cúmplice do crime e, não o sendo, culpa-a de omissão e confessa que não consegue também perdoar o adultério da mãe.

Confessa a Joaninha que a amou, mas o seu coração não era inteiramente livre e mentiu-lhe (e a si próprio), ainda que involuntariamente, por isso não se considera merecedor do seu amor.


A carta como analepse e como digressão sobre o amor

2.1. A carta como analepse:
. escrita em maio de 1834 – lida em 1843:
- a juventude de Carlos;
- o exílio em Inglaterra;
- a relação com as três irmãs inglesas;
- regresso a Portugal.

2.2. A carta como digressão sobre o amor:
. o drama amoroso de Carlos:
- a sua paixão (correspondida por Laura);
- a impossibilidade dessa paixão (Laura é comprometida);
- a recordação de Joaninha;
- a aproximação a Júlia;
- a paixão por Georgina;
- a separação, com a partida para os Açores;
. a evolução do sentimento de Carlos;
- “Em breve eu amava perdidamente uma delas” (Laura);
- “… pois nesse mesmo instante distintamente me apareceu diante dos olhos de alma a única imagem que podia chamá-la do abismo: era a tua, Joana!”;
- “Júlia era parte de nós, era uma porção do nosso amor… E já as confundia ambas por tal modo no meu coração, que me surpreendia a não saber a qual queria mais.”;
- “Uma delas, jovem, ardente, apaixonada, quis tomar a empresa de me consolar. (…) Era Soledad. (…) Eu não amei Soledad.”;
. “… todo o passado me esqueceu assim que te vi. Amei-te.” (Joaninha).


Visão de Joaninha segundo Carlos

É generosa: «tens generosidade».

Não o compreende, por causa da sua natureza de mulher.

É jovem e inexperiente, vista como de outro tempo, que destoa no mundo moderno: «Tu és jovem e inexperiente, a tua alma está cheia de ilusões doces.»

Vive cheia de ilusões: «a tua alma está cheia de ilusões doces».

É uma vítima de ter amado um herói perseguido por um destino adverso: «Tu não compreendes isto, Joaninha, não me entendes decerto; e é difícil».


Visão de Carlos da mulher e da génese do amor

1. Visão romântica da mulher
» natureza diferente do homem: «… as mulheres não entendem os homens.»;
» é um «produto» social e natural que suscita admiração, desejo, amor: «Há três espécies de mulheres neste mundo: a mulher que se admira, a mulher que se deseja, a mulher que se ama.»;
» a mulher-anjo: «E era um anjo…».

2. A génese do amor
- a admiração
- a beleza
- o espírito «os dotes de alma e do corpo»
- a graça
- o amor romântico:
. é indefinível («O amor não está definido nem o pode ser nunca»);
. distingue-se do flirt, da admiração, do desejo.


Informações sobre o passado da família

A mãe de Carlos manteve uma relação adúltera com Frei Dinis.

Dessa relação nasceu Carlos.

A avó escondeu essa relação dos olhos do mundo.


A vida de Carlos em Inglaterra

No início, Carlos estranhou os hábitos da aristocracia inglesa, protegida e artificial, no entanto depressa se lhe moldou, revelando a maleabilidade do seu caráter.

Adaptou-se também à arte da sedução, aprendendo a flartar, de modo inconsequente, com as três irmãs. No seu caso, a emoção dominava a razão, e ele enganava-se a si mesmo, interiormente.


Carlos, o herói romântico: «Tenho energia demais, tenho poderes demais, no coração».

Carlos luta pelo ideário liberal, pela liberdade.

Temperalmente, é impulsivo, intenso, não admite injustiças nem afrontas.

Sentimentalmente, é um homem sensível, com alma de poeta, que se entrega ao amor de forma excessiva e se deixa dominar pelo coração, pelo sentimento, que coloca à frente da razão.


Recursos expressivos

Metáfora:
- «sabia-a [à casa materna] manchada de um grande pecado, e imaginei-a poluída de um enorme crime»: os erros («pecado», «crime») cometidos por membros da família de Carlos a uma sujidade que conspurca aquele lar para dar conta de que a pureza inicial foi «manchada» e «poluída» pelos comportamentos ilícitos do pai, da mãe e da avó do protagonista;
- «afiz-me a vegetar docemente na branda atmosfera artificial daquela estufa sem perder a minha natureza de planta estrangeira.»: Carlos tinha confessado a Joaninha que a amava, no entanto, pela leitura da carta, declara que amava outra mulher e que ficara fascinado ainda por outras duas. Revela-se, assim, um marialva, egoísta e desonesto no amor, ou seja, um D. Juan.

Agrupamento de Escolas Manuel Teixeira Gomes encerrado devido ao COVID-19

sábado, 7 de março de 2020

Tema do conto George

O conto centra-se nas três idades da vida: a juventude, a maturidade e a velhice.

As três idades não são, porém, apresentadas no texto de forma linear, antes de acordo com a «viagem» empreendida com o narrador, a partir da sua memória.

Síntese das categorias da narrativa do conto George


“George”
A intriga
Intriga focalizada cinematograficamente, valorizando pormenores.
Regresso de uma artista de renome à vila do interior, onde nasceu, depois de 23 anos de ausência.
▪ Diálogo de mulheres que se cruzam:
» Confronto com a juventude: Gi e George.
» Confronto com a velhice: George e Georgina.
▪ Partida de George no comboio que a levará para longe da vila onde nasceu.
O tempo e a personagem principal
▪ Fusão de três tempos: as três idades da vida
» O presente – George: a pintora bem-sucedida de 45 anos.
» O passado – Gi: “a jovem frágil de dezoito anos”.
» O futuro – Georgina: “a velha” de 70 anos com os “cabelos pintados de acaju”.
▪ Afastamento progressivo da infância e aproximação da velhice:
» A infância está presente, no primeiro encontro (entre Gi e George).
» George e Gi movem-se lentamente, como a simbolizar a impossibilidade de George de ressuscitar o passado e de se despedir dele.
» O segundo encontro (entre George e Georgina) é marcado pela velocidade do comboio e pela sua marcha sem retorno, simbolizando a morte definitiva do passado e a aceleração da marcha do Tempo em direção à velhice.
O espaço
▪ Vila parada do interior                                            Regresso ao passado
» Casa da infância
» Ponto de confluência de lugares e de tempos
▪ Locais de passagem:                                               Visão de futuro
» Viagem de comboio
» As várias casas alugadas
» Amesterdão
» Estados Unidos
A protagonista
▪ George:
» Pintora consagrada de 45 anos, bem-sucedida num universo dominado pelo masculino.
– Características da personagem:
. Protótipo da mulher independente, profissionalmente realizada.
. Crença no poder imortalizador da arte.
. Acentuado egocentrismo.
. Consciência plena do envelhecimento e da solidão.
. Solidão combatida pela presença do dinheiro acumulado.

» O nome inusitado de uma figura feminina
– Abreviatura possível de Georgina
– Pseudónimo literário de duas conhecidas romancistas do século XIX
. Escritoras profissionais que viviam da escrita
. Pseudónimos masculinos, visando a aceitação da obra
> A francesa George Sand (1804-1880)
> A inglesa George Eliot (1819-1880)
– Evocação de uma elite intelectual e artística
. Escândalo das ligações sentimentais à margem das convenções
> Hábito de fumar em público
> Uso frequente de indumentária masculina
> Extravagantes cores dos cabelos de George
O narrador
▪ Focaliza, na terceira pessoa, os acontecimentos, conhece o passado e o mundo interior das personagens.
▪ Mistura a sua voz com os pensamentos da personagem principal e com as suas falhas de memória.
▪ Apresenta uma visão crítica e desprovida de autopiedade que a protagonista tem de si própria.
▪ Reproduz as «falas» de Gi e de Georgina em itálico.
A atualidade do conto
▪ A condição feminina:
» A situação (e o sucesso) profissional
» A independência económica
» O amor
▪ Reflexão sobre a Morte e sobre o Tempo.
▪ Mundividência invulgar e sensibilidade artística:
» Reflexão sobre a complexidade da natureza humana
» Reflexão sobre a constante (re)definição da complexidade humana
▪ Fusão da arte narrativa com diversas formas de arte
» Pintura
. Modigliani (1884-1920): pintor italiano
. Edvard Munch (1863-1944): pintor norueguês
» Cinema
» Fotografia

Manual Palavras 12

O diálogo entre realidade, memória e imaginação

A metamorfose de George ao longo da vida

A complexidade da natureza humana no conto George

Este conto constitui uma profunda reflexão sobre a complexidade da natureza humana, centrada na figura de George: (sobre) o fracasso do amor, a separação, a dificuldade de atingir a realização profissional, a condição feminina, a efemérida da vida, a solidão, o vazio e a morte. Por outro lado, o conto compreende uma reflexão sobre a intemporalidade da arte e a imortalização do artista.
Através do desdobramento da protagonista, bem como pela duplicidade do seu nome (entre feminino e masculino), o conto possibilita uma reflexão sobre as diferentes fases da vida e sobre os caminhos que o ser humano trilha, uma vez por opção, outras por imposição das circunstâncias que o rodeiam.

Quando jovem, vivia inconformada com as limitações da conceção de vida que a família e a sociedade local lhe ofereciam, por isso decidiu partir, sozinha, para uma cidade e um país desconhecidos. O seu enorme desejo de liberdade e de independência, bem como a vontade de diversificar ao máximo as suas experiências de vida, levaram-na a alterar constantemente o seu aspeto físico, a viver os afetos e o amor com grande desprendimento e até superficialidade e a mudar frequentemente de local de residência. Além disso, vivia sempre em quartos alugados ou casas arrendadas mobiladas para que não se apegasse aos objetos. O desejo de ser livre e independente predominava. Apesar de conservar uma fotografia sua da juventude (de quando era Gi), prefere o esquecimento e não chora pelo passado.
Em suma, George tornou-se uma pintora de sucesso, famosa e rica. Perante a imagem (antecipada) da sua velhice e da solidão que a espera, mostra-se incomodada e arrogante, preferindo os pensamentos agradáveis e confiante de que o dinheiro constituirá a sua tábua de salvação.

Relacionado com esta questão estão os nomes da protagonista. De facto, a evolução da sua vida reflete a complexidade humana, também espelhada no nome. Assim, a abreviatura Gi, que constituía o tratamento carinhoso que lhe foi dado durante a infância e a juventude, está associada a uma fase de submissão aos ditames familiares e sociais. Já George, o nome correspondente ao presente, à vida adulta da protagonista, representa a rutura que ela pretendia, marcada pelo desejo de liberdade e independência. Note-se que o nome não é português, o que evidencia o cosmopolitismo que tanto procurava e sugere alguma ambiguidade relativa ao género (o nome é masculino), indiciado também pelo facto de o narrador se referir ao(s) seu(s) amor(es), sem especificar se se trata do género masculino ou feminino (excluindo a figura do primeiro namorado, Carlos). Georgina é o nome de registo da personagem, assumido pelo narrador quando ela imagina como será a sua velhice, numa atitude aparente de resignação, de assunção de uma identidade inteira e final.

Uma terceira questão respeitante ao problema da complexidade da natureza humana neste conto tem a ver com a falta de amor, tema recorrente na obra de Maria Judite de Carvalho.
No texto, por exemplo, George, em vez de amor, tem amores, isto é, relações frágeis e efémeras, passageiras, todas provisórias, como provisórias são as casas e as cidades onde mora.
Essa ausência de afeto e a solidão que afeta as personagens da obra da escritora – tanto homens como mulheres – têm como consequência, se não a morte, uma espécie de morte em vida, «uma existência desprovida de sentido que, ao longo dos anos que nas suas memórias se vão confundindo, se arrasta e pesa mais do que a própria morte.».
A vida, metaforicamente vista como uma viagem, é complexa, tanto na juventude como na velhice. Famosa além-fronteiras, George configura o protótipo da mulher independente e profissionalmente realizada, aparente sem razões para lamentar o passado e, ainda medos, recear o futuro. No entanto, esse medo assalta-a de forma imprevista e cruel no momento em que regressa à sua terra natal e que vai suscitar um confronto quer com o passado quer com o futuro.

quinta-feira, 5 de março de 2020

Símbolos do conto "George"

▪ A vila: o passado e o retorno à infância.

▪ A fotografia:
→ ligação ao passado;
→ fixação da juventude perdida;
→ imagem ideal da juventude intocada e dos sonhos por cumprir.

▪ O comboio: a marcha rápida para a velhice, a viagem do passado para o futuro.

▪ Os quadros de George: autorretratos; o sucesso profissional e financeiro.

▪ O pincel, as telas, as tintas: a máquina fotográfica e a fixação do momento.


Conto "George": as 3 idades da vida

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...