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terça-feira, 7 de setembro de 2021

Capítulo XII de A Sibila

             Inicia-se neste capítulo a terceira e última fase de Quina, coincidente com a adoção de Custódio como uma espécie de filho.
 
 
            1. O apogeu de Quina no poder material e espiritual:

            "Eis aqui a senhora Joaquina Augusta, da casa da Vessada, a quem o seu acréscimo de propriedades e riquezas em rendosos dinheiros conferia já o título de dona. Tinha cinquenta e oito anos, mantinha-se com uma esbelteza de rapariga, se bem que um tanto corcovada e de cabeleira totalmente branca. Estava ela no apogeu das suas faculdades de administradora, de discernimento e de vivacidade. (...) Estava perfeita no seu cargo de sibila...". (pp. 134-135)

 
 
            2. A vulnerabilidade de Quina
 
            Quina recebe em sua casa Emílio, aliás Custódio, uma espécie de filho adotivo, e começa a revelar os primeiros sinais de fraqueza e vulnerabilidade: "Mas não passava duma mulherzinha inteiramente ignara, tola e vulnerável de coração, no dia em que aceitou em sua casa aquela criança e incondicionalmente a adotou". (p. 135)
 
 
            3. A sabedoria popular: as diligências de Quina para conseguir que o menino fale, embora defeituosamente. (p. 135)

            Por outro lado, na página 138, a narradora fez referência à tendência popular para atribuir e conservar alcunhas: "Estava ela [Custódio] registada com o nome de Emílio, mas, como todas as crianças antes do batismo são chamadas Custódios pelo povo, aos quatro anos designavam-no apenas como tal, e nunca o reconheceram com outro nome".

 
 
            4. Custódio
 
                        4.1. Caracterização
 
            Era "um belo menino" que quase não falava (era "belfo"), filho do escudeiro da Condessa de Monteros e duma prostituta. Falecida Elisa Aida, o escudeiro entrou ao serviço de Quina. Um dia, desapareceu e Quina ficou com a criança. (pp. 138-139)
 
 
                        4.2. A importância de Custódio para Quina   -   o despertar da ternura: "Nunca ninguém a considerara tão única, tão imprescindível, tão suprema". (p. 140)

            De facto, a entrada de Custódio na sua vida vai operar nela uma grande mudança, despertando-lhe toda a sua recalcada capacidade de ternura humana: "Tinha-se operado nela uma estranha mudança. (...) Tinha ganho talvez em suavidade e simpatia, mas, de facto, alguma coisa do seu carácter se constrangera até se estiolar.". (p. 140)

 
 
                        4.3. Retrato de Custódio (segundo Germa – pp. 141-142)

- "belo e fatal"

- "quase adolescente"

-"graças dum efebo um tanto selvagem":

. "no expectante do gesto"

. "no movimento da cabeça (...) ingénuo"

- lábio vulgar e espesso demais

- fronte saliente e obtusa

- cabelos curtos

- olhos azuis, baços

 
 
            5. Luta entre Germa e o pai
 
            Abel mostra-se muito preocupado e inquieto com a mudança de Quina, que acolhera Custódio, lhe dedicava toda a sua ternura e podia elegê-lo como seu herdeiro, deixando-lhe a fortuna. Abel sempre sonhara com o dote da irmã solteirona para a filha, Germa, e constatava agora o perigo que constituía a intromissão de Custódio. Germana não se identifica com esta mentalidade calculista burguesa, tem uma diferente visão do mundo e da vida, fruto da sua formação intelectual temperada pelos contactos com o campo e a conceção de vida rural, simbolizados pela casa da Vessada. (p. 142)
 
 
            6. Germa adulta
 
            A memória e o fascínio da Vessada fazem regressar Germa, só que depara com a mudança de Quina e acaba por se sentir a mais. Assim, a Vessada assume as formas de um "paraíso perdido" (pp. 143-145). Contrastando com a sua rápida evolução em criança, Germa, já mulher, manifesta uma certa estagnação mental: "Germa era uma mulher, agora; porém, essa maturidade que se exprime nas criaturas por um estacionamento mental, a súmula de perceções acerca da sociedade e da natureza que regem até à morte o homem, sem que o seu espírito experimente mais ima instigação de curiosidade, de interesse, de reparo, de conclusão nova, isso ela não adquirira". (p. 142)
 
 
            7. A sabedoria popular e a verosimilhança (pp. 143-144).
 
 
            8. Nova focalização de Custódio por Germa
 
            Este novo retrato revela-nos um ser insociável e tímido, donde se destaca a sua animalidade irracional, a violência e a crueldade (a caça às rãs) e o isolamento (pp. 147-148).

Capítulo XI de A Sibila

             1. A adolescência de Germa
 
            Aos treze anos, Germa entra num período de afirmação da personalidade e forte individualismo gerador de contestação e conflitos com a tia, a ponto de durante muito tempo não voltar à casa da Vessada: "Tinha então quase treze anos, e continuava bonita." (p. 122)
            "Foi o contraste de caracteres, a inadaptação, a perene batalha do seu espírito contra o ambiente, que amadureceu muito depressa Germa. Toda a gente, e igualmente Quina, lhe desagradavam. (...) Entrou depois no período esfuziante da adolescência, e durante muito tempo não voltou à casa da Vessada, que achava opressiva...". (p. 125)
 
            Dedica à tia um grande respeito. O convívio com Quina proporciona-lhe um perfeito conhecimento do ser humano.
 
 
            2. Morte de Elisa Aida
 
            A causa imediata da sua morte é uma queda, que lhe quebra uma perna. Gradualmente, a sua vida vai-se degradando, "afastando os amigos e aceitando a falência de certos hábitos" (p. 128), mantendo somente a amizade de Quina.
 
 
            3. Referência ao escudeiro de Elisa Aida: "bonito grumete loiro, com essa petulância (...). Além de filho, disseram-no seu amante". (p. 128)
            Quina recebe-o e acaba por conhecer a sua história: era casado com uma prostituta de quem teve um filho, "um menino de quatro anos, belo como um pastorinho de presépio, e que não falava ainda", mas que "não tinha qualquer significação para si" (p. 134). A prostituta morre, entretanto, e face à indiferença e desinteresse do pai relativamente à criança, Quina decide recebê-lo em sua casa.         

Poesia Trovadoresca Galego-Portuguesa

 

    Este é o primeiro episódio «a sério» do podcast «Que farei com este livro?», dedicado à Poesia Trovadoresca. Para ouvir o original, basta clicar na ligação [Ep. 1.1.].

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Autárquicas 2021: contra o cocó de cão votar, votar!


 

Antes de o ou antes do?

     Por regra, as preposições a, de, em e por contraem-se quando estão seguidas dos determinantes artigos definidos o, a, os, as.

        Ex.: O Benfica foi campeão antes do Belenenses.
                Jesus elogiou Cebolinha pelo seu golo.

    No entanto, quando na frase está presente uma forma verbal no modo infinitivo, a referida contração não ocorre, visto que o determinante artigo faz parte do sujeito da oração infinitiva.

        Exs.:
            O Benfica foi campeão antes de o Belenenses o ter conseguido.
            Jesus elogiou Cebolinha por o seu golo ter sido decisivo.

"Alugar" e "arrendar"

    Os verbos «alugar» e «arrendar» são sinónimos? Não.

    Quando se usa um e o outro?

    O verbo «alugar» usa-se quando nos referimos a bens imóveis:
        Ex.: Vou arrendar uma casa de férias em setembro.

    O verbo «arrendar» emprega-se quando nos referimos a bens móveis:
        Ex.: Vou alugar um carro quando me deslocar ao Brasil.

Autárquicas 2021: Chocolate Contradanças, o elevador


 

Autárquicas 2021: só custa a primeira vez


 

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Análise de "Serenata sintética", de Cassiano Ricardo

 
Serenata sintética
 
Rua
torta.
 
Lua
morta.
 
Tua
porta.
 
            O título deste poema de Cassiano Ricardo tem a ver com o facto de o texto se referir a vários elementos relacionados com uma serenata, como «lua», «rua», «porta», de modo sintético.
            Relativamente à forma, o poema é constituído por três dísticos; cada verso é composto por uma só palavra e por uma única sílaba métrica; por outro lado, não foi utilizado nenhum verbo, o que confere maior dinamismo à composição.
            Cada verso é constituído por um nome e um adjetivo ou determinante possessivo. O primeiro dístico, «rua torta», remete para uma rua sinuosa. Metaforicamente, «rua» pode remeter para caminho, passagem, destino, e «torta» como difícil, sinuosa, misteriosa, duvidosa. No verso três, o vocábulo «lua» não se refere apenas ao satélite natural da Terra, mas também ao complemento romântico de uma serenata; no quarto, «morta» significa sem vida. Assim sendo, o dístico «Lua morta» refere-se à ausência da lua, à noite sem luar, sem luz. Se a noite é escura, essa escuridão torna-a misteriosa. A terceira estrofe aponta o destino da serenata: a «tua porta». Que porta? A de casa ou a do coração? Ambas. Porém, não se sabe se ela se abrirá ou não para o seresteiro.
 

Análise de "Poética", de Cassiano Ricardo

 1.
Que é poesia?

Uma ilha cercada de palavras por todos os lados.

 

2.
Que é o poeta?

Um homem que trabalha o poema com o suor de se rosto.

Um homem que tem fome como qualquer outro homem.

 

            O tema do poema é o universo poético, mais concretamente a poesia e o poeta, como indicia o título do texto. De facto, este indica o assunto da composição, funcionando como uma espécie de verbete do qual o poema (as estrofes) representa as definições.

            Ambas as estrofes possuem uma estrutura semelhante: pergunta seguida de resposta. A primeira procura esclarecer o que é a poesia: “uma ilha cercada de palavras por todos os lados”. Uma ilha é uma porção de terra cercada por todos os lados de água. Na realidade, esta definição é incorreta, visto que essa extensão de terra é uma porção emersa de uma montanha submersa. Se fosse mesmo cercada por todos os lados, teria água acima e abaixo da extensão de terra, o que não é verdade. Seja como for, a definição apresentada de poesia enfatiza a importância da palavra: qualquer uma pode ser dotada de poeticidade.

            A segunda interrogação destina-se a saber o que é um poeta. Este é definido como um homem comum, que trabalha e tem necessidades (fome) como qualquer outro homem. Por outro lado, o poeta é um ser que vive do seu suor, do seu trabalho esforçado, e que precisa de se alimentar como qualquer outra pessoa. Ora, estas aproximações roubam um pouco o romantismo associado ao ofício de poeta, que necessita, como qualquer outro indivíduo, de possuir rendimentos para (sobre)viver.

 

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Resumo do Canto XVIII da Ilíada

             Aquiles pressente a morte de Pátroclo mesmo antes da chegada do mensageiro de Menelau. Ao tomar conhecimento de que os seus receios eram verdadeiros, Aquiles fica desesperado: chora, puxa os cabelos, bate com os punhos no chão, cobre o rosto de terra e grita, enraivecido, de tal maneira que Tétis o escuta e vem com as suas irmãs ninfas aquáticas do oceano ver o que tanto perturba o filho. Aquiles relata-lhe a desgraça que o atingiu e afirmará que se irá vingar de Heitor, não obstante o facto de ter consciência de que, ao fazê-lo, ao optar pela vida de guerreiro, estará a sentenciar a sua morte. Tétis lamenta que o filho tenha de morrer logo depois de Heitor e diz-lhe que não combata até ela voltar. A deusa do oceano pedirá a Hefesto que lhe faça uma nova armadura, já que a sua é usada agora pelo comandante dos Troianos.

            Enquanto isso, as tropas de Troia continuam a querer apossar-se do corpo de Pátroclo, mas Íris, a mando de Hera, diz a Aquiles que ele deve aparecer no campo de batalha, visto que só a sua presença atemorizará os inimigos e fá-los-á desistir do corpo de Pátroclo. Então, Aquiles sai da sua tenda e solta um grito tão forte que, de facto, causa a fuga dos Troianos. O corpo de Pátroclo é trazido para o acampamento aqueu e os eus companheiros choram-no, enquanto Aquiles jura que o seu amigo não será sepultado até que Heitor caia às suas mãos, embora ordene que as suas feridas sejam limpas para o preparar para o enterro.

            No acampamento troiano, Podidama, temendo as consequências do retorno de Aquiles, aconselha que as tropas regressam à cidade nessa noite, em vez de permanecerem acampados na planície. Todavia, Heitor considera esse gesto num ato cobarde, responde, orgulhosamente, que nunca fugirá de Aquiles e insiste em repetir o ataque do dia anterior. O seu plano é acolhido favoravelmente pelos seus companheiros, destituídos do seu juízo por Atenas.

            Enquanto isso, Tétis dirige-se à morada de Hefesto e pede-lhe que faça uma nova armadura para Aquiles. Grato por ela o ter auxiliado no passado, o deus do fogo forja uma armadura, um capacete, grevas e um escudo extraordinários com imagens de constelações, pastagens, crianças dançando, cidades humanas em relevo, paz e guerra, vida e morte.

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