Serenata sintética
Rua
torta.
Lua
morta.
Tua
porta.
O título deste poema de
Cassiano Ricardo tem a ver com o facto de o texto se referir a vários elementos
relacionados com uma serenata, como «lua», «rua», «porta», de modo sintético.
Relativamente à forma, o poema é
constituído por três dísticos; cada verso é composto por uma só palavra e por
uma única sílaba métrica; por outro lado, não foi utilizado nenhum verbo, o que
confere maior dinamismo à composição.
Cada verso é constituído por um nome
e um adjetivo ou determinante possessivo. O primeiro dístico, «rua torta»,
remete para uma rua sinuosa. Metaforicamente, «rua» pode remeter para caminho,
passagem, destino, e «torta» como difícil, sinuosa, misteriosa, duvidosa. No
verso três, o vocábulo «lua» não se refere apenas ao satélite natural da Terra,
mas também ao complemento romântico de uma serenata; no quarto, «morta»
significa sem vida. Assim sendo, o dístico «Lua morta» refere-se à ausência da
lua, à noite sem luar, sem luz. Se a noite é escura, essa escuridão torna-a
misteriosa. A terceira estrofe aponta o destino da serenata: a «tua porta». Que
porta? A de casa ou a do coração? Ambas. Porém, não se sabe se ela se abrirá ou
não para o seresteiro.
<3
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