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terça-feira, 28 de setembro de 2021

A guerra de Troia

             Durante séculos, muitos estudiosos acreditavam que a Guerra de Troia e os seus intervenientes eram uma criação da imaginação grega. No entanto, no final do século XIX, um arqueólogo chamado Heinrich Schliemann declarou que tinha descoberto os vestígios de Troia. As ruínas que ele descobriu situam-se a algumas dezenas de quilómetros da costa do mar Egeu, no noroeste da Turquia, um local que se encaixa nas descrições geográficas que Homero fez da cidade de Troia na Ilíada. Das várias camadas encontradas no local, uma delas, correspondendo aproximadamente ao ponto na história em que teria ocorrido a queda de Troia, mostra evidências de incêndio e destruição consistentes com a descrição da Ilíada. Embora a maioria dos estudiosos aceite a cidade descoberta por Schliemann com o local da antiga cidade de Troia, muitos outros mantêm-se céticos sobre se a guerra de Troia que serve de pano de fundo ao poema épico de Homero realmente aconteceu. No entanto, muitos estudiosos admitem a existência de algum fundo de verdade na história contada na Ilíada.

            Acredita-se que a Guerra de Troia terá tido lugar no século XIII a.C. O interesse por ela na época de Homero, cerca de 400 anos depois. As cidades-estado gregas eram muito independentes e estavam perpetuamente em guerra umas com as outras, no entanto o poeta descreve o exército aqueu como originário de mais de 150 locais diferentes de toda a Grécia continental e do Peloponeso. Certas evidências arqueológicas encontradas na antiga cidade que se acredita ser Troia apoiam a sua destruição na guerra por volta de 1250 a.C.

            Crê-se que a cidade de Troia se localizaria no noroeste da Ásia Menor, perto da foz do Helesponto, atualmente Dardanelos, na atual Turquia, o que fazia com que os troianos vivessem separados da Grécia pelo Mar Egeu. No entanto, a cultura grega disseminou-se por grande parte do oeste da Ásia Menor na época de Homero, que os descreve como adoradores dos mesmos deuses e vivendo de acordo com os mesmos valores dos gregos contra os quais lutavam.

            A origem da Guerra de Troia radica no rapto de Helena por parte do príncipe troiano Páris, contudo os estudiosos especulam que o conflito teria mais a ver com uma disputa sobre rotas comerciais e a localização estratégia da cidade no Helesponto.

A questão da autoria dos Poemas Homéricos

             A questão homérica designa o problema da autoria dos Poemas Homéricos.

            Se os gregos antigos acreditavam piamente na existência de Homero (a mais antiga referência ao poeta foi encontrada num fragmento de Calino, do século VII a.C., que o dá como autor de uma Tebaida), no entanto, já na época alexandrina houve quem afirmasse que a Ilíada tinha um autor e a Odisseia outro.

            As dificuldades de estabelecimento da autoria das obras são muitas. A primeira tem a ver com a linguagem, onde há formas de diversas épocas e elementos de quatro dialetos diferentes (iónico, eólico, arcado-cipriota e ático). Outra questão prende-se com a arqueologia, não havendo concordância entre estratos linguísticos e estratos arqueológicos. Um exemplo disto tema ver com o elmo de presas de javali, ornamento dos guerreiros micénicos, que aparece no Canto X da Ilíada, mais conhecido como Doloneia, que linguisticamente é dos mais recentes.

            A data da composição dos textos oferece igualmente grandes dificuldades, visto que os poemas decorrem na época micénica, com heróis micénicos e ignoram a invasão dórica (a única referência aos Dórios é a da Odisseia, num passo bastante suspeito; em relação aos heróis, nomes como Aias, Akhilleus, Glaukos, Hektor, eram frequentes entre os Micénicos). Daqui o ter-se-lhes atribuído, inicialmente, uma data muito recuada, ideia que tem vindo a ser modificada graças a investigações recentes.

            Relativamente à questão literária, o estudioso norte-americano Milman Parry, partindo da observação direta dos processos de composição de bardos da antiga Jugoslávia, concluiu que os Poemas Homéricos assentavam numa técnica de improvisação oral, que explicaria as repetições e pequenas incongruências da narrativa: as obras repetem frequentemente epítetos e até versos inteiros, porque eram obra de improvisação oral, que necessitam de ter pontos de apoio, frases armazenadas, que deem tempo de pensar no verso seguinte, enquanto se vai cantando o anterior. Assim, por exemplo, quando o poeta quer dizer que o dia nasceu, tem já preparado um verso como este: [p. 52] [«Quando surgiu a Aurora de dedos róseos, filha da manhã»]. Se quiser introduzir em discurso direto a resposta de um herói, pode dizer o seguinte: [p. 52 – 2.ª] [«Em resposta disse-lhe o poderoso Agamémnon»]. Se o interlocutor for Aquiles, basta substituir o segundo hemistíquio: [p. 53] [«Em resposta disse-lhe Aquiles de pés velozes»]. Ou pode conservar este segundo hemistíquio e variar o primeiro: [p. 53 – 2.ª] [«Franzindo o sobrolho, disse-lhe Aquiles de pés velozes»].

            Por outro lado, os nomes dos heróis com os seus atributos ocupam metade do verso (do começo até à cesura, ou desta até ao fim) ou mesmo um inteiro, como é o caso deste: [p. 53 – 3.ª] [«o herói Atrida, Agamémnon de vasto poder»]. Estes epítetos ajudam a caracterizar o herói e a destacar uma qualidade sua, que naquele momento tem relevância especial. Por exemplo, o verso 12 do Canto I da Ilíada acabado de transcrever, evoca o poder do Rei de Micenas, na ocasião em que vai deixar explodir a sua cólera sobre a assembleia. Os epítetos de Aquiles acentuam a sua superioridade física. E assim sucessivamente.

            Outro aspeto prende-se com a historicidade da Ilíada. O estudioso alemão Schliemann fez uma série de escavações na colina de Hissarlik (na atual Turquia) e encontrou sete cidades sobrepostas, a que Dörpfeld, seu adjunto, acrescentou duas. Inicialmente, supôs que a mais antiga seria a homérica, mas acabaram por se inclinar mais para a Troia VI, onde encontraram restos de cerâmica idênticos aos de Micenas e Tirinto.

            O investigador Blegen demonstrou que Troia VI era uma cidade rica, que sucumbiu após um terramoto, seguindo-se-lhe, sem solução de continuidade nem de cultura, Troia VIIa, que termina num violento incêndio. A Troia VIII apresenta solução de cultura, enquanto a IX é muito tardia. A queda de Troia VIIa teria ocorrido depois dos meados do século XIII, talvez cerca de 1230 a.C., o que distaria poucos decénios da data tradicional da guerra de Troia (1184, segundo Eratóstenes).

            Deste modo, é lícito concluir que a Ilíada funde a opulência da Troia VI com a destruição da Troia VIIa. Com aquela tinha-se iniciado uma civilização diferente da anterior, introduzindo o cavalo (note-se que os troianos constituem o único povo que Homero caracteriza como «domadores de cavalos»), por exemplo, civilização essa que seria continuada pela VIIa.

            A decifração de textos hititas e dados arqueológicos vieram comprovar estas hipóteses. Por exemplo, os textos hititas contêm referências ao ataque dos Ahhiyawa, posteriormente identificados com os Aqueus, a Millawanda, provavelmente Mileto, a Wilusa e Tarwisa, que seriam, respetivamente, Ílion e Troia (note-se que a Ilíada não apresenta uma distinção entre Troia e Ílion, supondo o estudioso alemão Bergen que a primeira designaria primitivamente a região e a segunda a cidade). Este acontecimento teria tido lugar no século XIII a.C., coincidindo com a época do grande poderio de Micenas e anterior à queda de Pilos.

            Estas teses não são, todavia, unânimes. Assim, há estudiosos que destacam a reconstituição diferente que se fez nos últimos tempos da geografia política do império hitita e a sua cronologia. Outros contrariam a identificação dos Ahhiyawa com os Aqueus, afirmando inclusive que nem sequer pertenceriam à zona micénica, mas antes à Trácia; além disso, o seu tempo não seria o século XIII a.C., mas os começos do império hitita. Por outro lado, a vinda dos Povos do Mar, mencionada em textos egípcios, não teria constituído um movimento simultâneo, no qual se inscreveria a guerra de Troia, mas uma sucessão de destruições que teriam ocorrido ao longo de vários anos. O próprio fundamento de alguns epítetos de Troia e dos troianos é igualmente negado, em detrimento da tese que os considera como simples remodelação tardia, à semelhança do que sucedeu com os epítetos dos Aqueus.

            A presença de elementos micénicos nos Poemas Homéricos não é igualmente consensual. Assim, durante muito tempo considerou-se serem micénicos as personagens e os seus epítetos, a riqueza de Micenas, a escassez do ferro, a noção de que ´'αναξ (soberano) é mais do que Βασιλεúς (rei), o fausto  dos funerais de Pátroclo (embora ele seja cremado, e não inumado, como era tradição micénica), a arquitetura dos palácios, nomeadamente a presença do mégaron e objetos como o elmo de presas de javali, a taça de Nestor, a espada cravejada de prata de Heitor, a técnica de incrustações e o escudo de Ájax. Todavia, alguns achados arqueológicos dos finais do século XX põem em dúvida esta noção. Por exemplo, foi encontrado na Heron de Lefkandi, situado na costa ocidental da Eubeia, um túmulo que continha as cinzas de um guerreiro, envoltas num manto, e, perto delas, o esqueleto da sua consorte, adornada com joias de ouro, e os cavalos – o que evidencia a coexistência do ritual da inumação com o da cremação e a riqueza do possuidor. Relativamente à arquitetura, as escavações de Zagora, há autores que defendem que os traços gerais dos palácios da Odisseia são, ao contrário do esperado, da Idade do Ferro, embora certos pormenores, como a existência de corredores e de canalizações, sejam micénicas.

            Nenhuma destas interpretações, porém, é decisiva ou inquestionável. O aparecimento lado a lado de práticas e objetos que se supunham pertencer a períodos distintos, como testemunham os achados de Lefkandi; a presença de escudos em 8 a par com os redondos, em pinturas de vasos; o modo como Hefestos trabalhou o escudo de Aquiles, forjando-o como se fosse de ferro, numa época do proto-geométrico ou geométrico, mas fazendo-lhe incrustações de ouro, prata e bronze, à maneira micénica, devem pôr-nos de sobreaviso sobre a interpretação histórica de uma obra que é essencialmente literária. No entanto, as teses que procuram explicar a presença de figuras ou objetos que são muitos séculos anteriores aos Poemas Homéricos não são muito convincentes. Micenas deixou de ser muito rica, e só a tradição oral contínua podia preservar essa memória, bem como os nomes de muitas cidades menores incluídas no Catálogo das Naus do Canto II da Ilíada.

 
PEREIRA, Maria Helena da Rocha, Estudos da História da Cultura Clássica, Fundação Calouste Gulbenkian, 1987.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Autárquicas 2021: Terra Queimada


 

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Autárquicas 2021: quem quer tomar um Ferromau?


 

Autárquicas 2021: o marido da Lara


 

Oceânia ou Oceania?

     A forma correta é a primeira: Oceânia.

    Estamos na presença de uma palavra esdrúxula, daí que seja acentuada na antepenúltima sílaba, de acordo com a regra da acentuação que estipula que todas as palavras esdrúxulas são acentuadas obrigatoriamente.

    Por outro lado, o acento usado é o circunflexo, visto que a vogal tónica (o a) é semifechada.

Autárquicas 2021: Movimento União, em força pela desunião


 

Autárquicas 2021: o cemitério é o futuro


 

Autárquicas 2021: a estabilidade instável


 

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Análise da cantiga "Ai madre, bem vos digo"

 Assunto
 
            A donzela, em ambiente familiar, confidencia à mãe que está zangada com o seu amigo, pois este mentiu-lhe, visto que faltou ao encontro marcado.
 
 
Tema: a desilusão amorosa.
 

 Personagens
 
▪ Sujeito poético: a donzela.
 
▪ Destinatário: a mãe.
 
▪ Papel da mãe: confidente e interlocutora da filha.
 
 

Estado de espírito da donzela













 
Retrato do amigo
▪ mentiroso
▪ falso
▪ incumpridor (v. 7) – não cumpriu o que prometeu
 
 
Estrutura interna
 
1.ª parte (1.ª cobla): Apresentação do espírito da donzela e do motivo que a justifica (a mentira do amigo).
 
2.ª parte (2.ª-4.ª coblas): Reiteração da causa do estado de espírito da donzela – a mentira e a falsidade do amigo –, agravada pelo facto de ter sido intencional.
 
 
Estrutura formal

▪ Quatro coblas constituídas por um dístico e um refrão monóstico.

▪ Rima emparelhada: aaR.

▪ Métrica: versos hexassílabos.

 
 
Classificação
 
Cantiga de amigo: o sujeito poético é feminino, uma donzela, que confidencia à mãe o seu estado de espírito.
 
Cantiga de refrão:
remete para o estado de espírito da donzela;
reforça e intensifica o seu estado emocional (a irritação e a raiva da donzela).
 
Cantiga de atafinda: o sentido de uma cobla prossegue / completa-se na seguinte.
 

Autárquicas 2021: prazeres sem fim


 

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